Vladimir Alexei
Desde que o Espiritismo cruzou o
Oceano e aportou no Brasil, ainda no final do século XIX, é possível encontrar
algum tipo de polêmica em sua divulgação. Basta lembrar que o movimento
espírita era dividido entre adeptos da “ciência” e da “religião” espírita. Não
há novidade nisso.
No século XXI, no entanto, o
movimento espírita brasileiro se depara com pessoas que teoricamente foram ou
são estudiosas da doutrina, utilizando o Espiritismo para a autopromoção,
contrariando as orientações doutrinárias e até evangélicas (Apóstolo Mateus, 10:8).
O aumento exponencial se deu a partir de congressos.
Surgiram grandes eventos
organizados por federativas (representantes da Federação nos Estados), pessoas
físicas e outras entidades ditas sem fins lucrativos, que distorceram o sentido
de um congresso para divulgação dos trabalhos produzidos pelos diversos
estudiosos existentes no país.
Os primeiros congressos e os
primeiros encontros de grandes proporções, no século XX, por exemplo, podem ser
analisados por seus “anais” que estão empoeirados em bibliotecas, evidenciando
como eram diferentes dos eventos atuais. As pautas visavam à apresentação de
estudos inovadores quanto à abordagem e a temática dos trabalhos doutrinários.
Esse tipo de evento acabou e deu lugar a megaeventos com estruturas
profissionais, e elegendo divulgadores que concordam com esse tipo de prática,
até porque alguns ganharam projeção profissional a partir desses eventos.
Outros confrades e confreiras
entendem que eventos menores, em que a cobrança seja para manter as despesas
produzidas pelo evento, fazem mais sentido. O tema é polêmico. A partir do
momento que existe cobrança e não seja para angariar fundos para uma instituição
de caridade, sem fins lucrativos, ou para auxiliar nas despesas de entidades
assistenciais, hospitalares e ambulatoriais, também sem fins lucrativos, talvez
não faça sentido realizar um congresso com essas proporções. Há quem pense
diferente e isso faz parte do processo, entretanto uma cobrança simbólica ou
não faz com que o evento não seja para todos.
A pandemia de Covid-19 freou,
por dois anos, esse movimento de eventos, mas parece que não aprenderam quase
nada com o que aconteceu, e os megaeventos voltaram. Antes, porém, com a
pandemia, os coachings espíritas ganharam bastante adeptos e milhares de
reais. O coaching espírita é aquele que vai "te ajudar a destravar
a vida”, utilizando uma retórica baseada em celebridades (encarnadas) que são
“sucesso” de mídia (ou sucesso financeiro).
“Liberte-se das prisões mentais:
saiba como gratuitamente” (é a “isca”: o “prato principal” é uma imersão ou uma
capacitação exclusiva).
“Você é ansioso? Tem insônia?
Toma remédio tarja preta? Deseja mudar de vida? Participe da imersão de 24
horas...”. Os exemplos se arrastam tanto quanto as condições de pagamento no
cartão de crédito.
Allan Kardec elaborou uma
pergunta aos Espíritos superiores na Questão 625, em O Livro dos Espíritos,
que não deixa dúvidas, apesar da brevidade da resposta: o Modelo e Guia da
humanidade é Jesus. Na tradução do professor Herculano Pires, consta
ainda a expressão “Vede Jesus”, reforçando o conceito, como observe Jesus, siga
Jesus, espelhe-se em Jesus, e Allan Kardec complementa:
“Jesus é para o homem o tipo
de perfeição moral a que pode aspirar a humanidade na Terra”.
Se os conselhos dos coachings
espíritas não orientam para seguir Jesus estudando a Doutrina Espírita, de
forma gratuita, é melhor abandonar tais práticas porque possivelmente o
que você procura não será encontrado aí.
Existem diversos caminhos que
uma pessoa pode escolher para se aperfeiçoar, encontrar o seu melhor, viver em
paz e harmonia consigo e com a sociedade da qual faz parte. No Espiritismo,
Allan Kardec indicou o caminho que foi estudar os ensinamentos trazidos pelos
Espíritos. É o “Projeto 1868”, que recomenda a criação de um “estabelecimento
central” para se estudar o Espiritismo. Esse estabelecimento central é a Casa
Espírita. Por isso as tarefas existentes em uma casa espírita são gratuitas.
O apóstolo Mateus em suas
anotações, capítulo 13, versículos de 24 a 30, relata a sabedoria do Cristo
quando propôs a parábola do Joio e do Trigo. “Dormindo os homens, veio
seu inimigo, e semeou o joio no meio do trigo, e retirou-se” (13:25).
Invigilantes, os homens dormem e permitem que as próprias fantasias e desejos
pelo caminho mais curto e rápido (“inimigo”) povoem seu pensamento de forma a
buscar respostas prontas, com aparente luminosidade, mas que não conseguem
manter-se ante o uso da razão.
Para conhecer o Budismo, por
exemplo, existem 13 passos, distribuídos em três partes, que funcionam como uma
“cartilha” para você aprofundar na essência filosófica daquela religião. Um dos
passos é o estudo! Estudar o Budismo, a vida de Sidarta Gautama, dentre outros (clique aqui)!
Por que para viver o Espiritismo seria diferente?
O filósofo Nietzsche não era
incentivador da religião. Aliás, foi um crítico feroz do Cristianismo praticado
pelos “procuradores de Deus” e não contra o Cristo. O filósofo, inclusive,
demonstrava conhecer sobre o assunto ao atribuir Paulo de Tarso como fundador
do Cristianismo. De fato, é algo que faz sentido, quando estudamos a história
do Cristianismo pela obra do historiador Paul Johnson, que inicia dizendo a
respeito da primeira conferência apostólica, ou “Concílio de Jerusalém”,
ocorrido provavelmente no ano de 49 d.C., quando Paulo saiu de Antioquia rumo a
Jerusalém. Invariavelmente, quem critica as práticas correntes é tachado de
obsidiado ou enfermo, e até “louco” como realmente Nietzsche terminou seus
dias. Mas se o que você faz está dentro dos preceitos doutrinários, não se
acanhe e nem tenha medo. Mantenha-se intimorato! O tempo dirá!
Durante milênios surgem
seguidores, sectários e aproveitadores que tentam levar alguma vantagem e
arrastam multidões com seu verbo fácil, escorado em mourões de madeira podre. É
válido reconhecer, porém, que há uma habilidade e uma capacidade de seduzir
muito grande e por isso, se você já fez sessões de coaching, não se
martirize e nem se diminua com sentimentos negativos. Se você foi atendido em
suas expectativas, vale a reflexão: “só aprende com o erro, quem corrige o
erro”!
Por fim, se você sentir
necessidade de algum tratamento, recorra ao passe, reuniões públicas e de
estudos nas Casas Espíritas, concomitantemente. Persevere, a despeito do que é
divulgado no movimento espírita: beba na fonte das obras Fundamentais
(produzidas por Allan Kardec) e obras subsidiárias (Léon Denis, Gabriel Delanne, Ernesto Bozzano, Camille Flammarion,
Carlos Imbassahy, Herculano Pires, Hermínio C. Miranda,
Deolindo Amorim, Lamartine Palhano Jr.,
Hernani Guimarães Andrade,
Chico Xavier). Em
paralelo, procure um profissional formado, com registro no conselho de classe,
para uma terapia em suas diversas modalidades! Seja feliz!
[1] O CONSOLADOR - Ano 16 - N° 784 - 7 de Agosto de 2022 -
http://www.oconsolador.com.br/ano16/784/principal.html
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