quarta-feira, 30 de novembro de 2016

O momento exato da reencarnação: sinais biomoleculares[1]



Ismael Gobbo[2]


A Volta ao Mundo Corporal: o Processo Reencarnatório foi o tema do primeiro painel do segundo dia do Medinesp, o congresso internacional da Associação Médico-Espírita, ocorrido de 7 a 9 de junho, em São Paulo (SP). Sérgio Felipe de Oliveira, mestre em Ciências pela USP, que realiza trabalhos para a Associação Médico-Espírita de São Paulo (AME-SP) e é diretor clínico do Pineal Mind, onde faz seus atendimentos e aplica suas pesquisas, abriu o painel, falando do momento exato da reencarnação (https://www.youtube.com/watch?v=Z44wcM3j5-E), seguido depois pela ginecologista e obstetra Cristiane Ribeiro Assis. Sobre o assunto, ele falou à Folha Espírita:
Folha EspíritaExistem preparativos para a reencarnação?
Sérgio Felipe de Oliveira – Os preparativos espirituais para a reencarnação são tratados de forma muito clara nos livros ditados pelo espírito André Luiz através da psicografia de Chico Xavier. A reencarnação, ou seja, o retorno do espírito a um novo corpo, é um fenômeno que não ocorre ao acaso, ao contrário, é cuidadosamente planejado. Podemos dizer que existem “obstetras” no mundo espiritual que preparam o processo reencarnatório. O espírito Emmanuel, também pela psicografia de Chico Xavier na obra “Pensamento e Vida”, um livro pequeno, mas de grande conteúdo, refere-se a esses preparativos como uma cartilha que se recebe antes de se escorregar para o berço.
FEComo o espírito sabe se está pronto para reencarnar? Há condições preestabelecidas para isso?
Sérgio Felipe – Consoante nos assevera a Doutrina Espírita, nem todos os espíritos têm plena consciência do processo reencarnatório, motivo pelo qual existem as chamadas reencarnações compulsórias, casos que se assemelham a uma internação psiquiátrica, quando o paciente violento e fora de si necessita ser tratado sob os cuidados de um hospital. São os casos de internação psiquiátrica nas condições de psicose, quando, quase sempre, ocorrem compulsoriamente. Nesta linha de raciocínio, diria que há espíritos que se encontram em determinado nível de sofrimento e comprometimento que somente numa encarnação compulsória poderiam alcançar algum nível de consciência de si e da sua situação. Entendemos que, fora esses casos pontuais, as encarnações são planejadas, e nascemos com alguma missão a ser realizada. Deus é econômico e não colocaria alguém no mundo se não tivesse alguma tarefa a cumprir, consigo próprio, com a família e com a sociedade.
FEO perispírito, ou corpo espiritual, passa por alguma modificação em seu estado antes de reencarnar?
Sérgio Felipe – Não resta dúvida de que passa, porque a lógica nos diz que o perispírito precisa adaptar-se à crosta terrestre, tendo em vista que há uma relação entre ele e a força gravitacional. Por exemplo, o espírito reencarnante precisa de uma etapa intermediária no que diz respeito à força gravitacional. Não é por acaso que o bebê fica mergulhado no líquido amniótico, que possibilita essa adequação entre a força gravitacional do mundo espiritual e a do mundo físico. Isso também ocorre com o cérebro dentro do líquido céfalo-raquidiano. A explicação para esse mecanismo providencial é que o líquido possibilita diminuir o empuxo gravitacional. Tanto isso é verdade que o desenvolvimento psíquico, que tem seus registros no perispírito, depende igualmente da força gravitacional. Por exemplo, o bebê precisa ser colocado no colo, ser ninado, aprende a engatinhar, pular e escorregar numa autêntica brincadeira com a força da gravidade. Allan Kardec fala sobre isso quando faz referência à necessidade de mudança no perispírito, quando o espírito precisa mudar de um mundo para outro. Há que se adaptar às peculiaridades de cada mundo.
 
FEPodemos dizer que os elementos que constituem o perispírito resultam de uma atração, em que cada espírito atrai partículas inerentes ao seu estado evolutivo?
Sérgio Felipe – Acho que é como se fosse uma sintonia, quando você liga o rádio em determinada estação e com ela se conecta para ouvir uma música, um noticiário ou outra coisa que queira. Acredito que o perispírito possa ser construído por algum tipo de espectro do eletromagnetismo, que deve funcionar similarmente ao mecanismo de sintonia, atraindo as partículas do meio onde é formado, segundo o grau evolutivo de cada indivíduo.
FENo livro Missionários da Luz, o espírito André Luiz descreve que no processo reencarnatório, para a formação do novo corpo, o perispírito se constitui no molde que atrai os elementos materiais fornecidos pela mãe à semelhança de um ímã. Qual a explicação para as anomalias físicas durante a formação do novo corpo?
Sérgio Felipe – Quando nós temos um envolvimento muito grave com o passado e a nossa consciência não se desliga desse passado no momento da reencarnação, a mente, voltada para o passado, não permite a sustentação da força suficiente para a formação perfeita do embrião. Então, os genes ficam sem o suporte que o espírito deve dar. Com isso, o indivíduo vem com sequelas, seja pela má-formação embrionária ou genética, seja pela interferência do espírito reencarnante – e ele frequentemente interfere – na genética herdada. Assim, as fortes ligações mentais arrastadas do passado, como remorsos, culpas, ódios, mágoas, dentre outras, impossibilitam ao espírito concentrar-se naquele momento e projetar suas energias para o devir, ou seja, o vir a ser, e, então, não sustenta o desenvolvimento genético com a perfeição que deveria sustentar. No entanto, e ao mesmo tempo, essa ligação com o passado pode ser necessária para sua recuperação.
FEÉ possível os encarnados detectarem o momento exato da reencarnação? Quais são os sinais biomoleculares que sinalizam esse momento?
Sérgio Felipe – Sim, perfeitamente. Uma nova vida se inicia no exato momento em que o espermatozoide beija a membrana do ovócito que a mulher produz a cada 28 dias. É nesse momento que o espírito assume o comando do novo corpo em formação, tendo o seu perispírito como molde organizador.
FEExiste algum equipamento, hoje, que pode detectar esses sinais biomoleculares?
Sérgio Felipe – Sim, e podemos destacar o microscópio eletrônico e o microscópio de luz.
FEHá pesquisas sobre esse assunto?
Sérgio Felipe – Esse exato instante já foi fotografado pela Ciência.
FEQuanto à Física, os seus avanços vêm ajudando a entender mais as questões do espírito?
Sérgio Felipe – Necessariamente, porque o espírito pensa e sente no mundo e só pensa e sente pela interação com o mundo. E o mundo que nos envolve é material, e a nossa comunicação de um para com o outro se dá através do som, que é matéria, pelo eletromagnetismo, a visão. Então, a compreensão da Física nos permite entender o meio no qual estamos submersos. É também uma forma de nos localizarmos do ponto de vista existencial e na transcendência. Emmanuel, na introdução do livro Nos Domínios da Mediunidade, de autoria do espírito André Luiz, pela psicografia de Chico Xavier, deixa evidente que os cientistas materialistas também são pesquisadores de Deus, porque, ao estudarem a estrutura íntima da matéria, descobrirão que a matéria, como a concebem, não existe e perderão o objeto de sua própria convicção.
FECom base no que expôs, como está enxergando o projeto de lei que tramita no Congresso Nacional buscando descriminalizar o aborto?
Sérgio Felipe – Acho que essa questão da descriminalização do aborto envolve uma percepção muito sutil da representação da vida. Só mesmo uma pessoa envolvida com a causa do bem entende o valor da vida em todas as suas condições. Quando a pessoa tem a sensibilidade de perceber que não pode pisar uma plantinha e estragar o jardim, ela toma cuidado. Assim, temos de entender que o nascituro, ou concepto, também é uma flor no jardim que nós não vamos pisar, porque ela é vida. Então, para dar esse valor essencial, a pessoa precisa estar muito envolvida com a bondade e o amor. Não é só uma questão de lógica, é uma percepção de sentimento. E a humanidade está vivendo uma situação hedonista, muito superficial. É difícil para a maioria das pessoas ter essa percepção, sobretudo nos países onde o aborto é permitido. Nos Estados Unidos, por exemplo, 30% das gestações são abortadas. Mas muitas pessoas, mesmo aquelas que abortaram, já admitem que cometeram algum atentado à vida.
FENão seria o caso de perguntar aos defensores do aborto se eles não estão contentes com suas vidas e a de seus entes queridos?
Sérgio Felipe – Temos muita gente trabalhando o assunto junto aos parlamentares. O que eu entendo é que o Brasil precisa de gente. Na Itália já não nascem pessoas suficientes. O Japão já tem a mesma população do Brasil. Veja a sua dimensão territorial. Então, no Brasil, cabe muita gente ainda. E qual seria a força de expressão de nosso país se não fossem as pessoas? Quem é que não sabe disso no mundo? Quando se fala em brasileiro, os estrangeiros já sorriem. Então por que não vamos deixar nascer mais brasileiros, se esta é a nossa riqueza?
FE - Novembro de 2007 - Edição número 399

terça-feira, 29 de novembro de 2016

ESPIRITISMO E OS SONHOS PREMONITÓRIOS[1]



Morel Felipe Wilkon


Muitas pessoas têm sonhos premonitórios. Sonham determinada coisa e essa coisa acontece – seja com ela mesma, seja envolvendo outras pessoas.
Como é que isso acontece? Como é que nós conseguimos prever, através de um sonho, uma coisa que ainda não aconteceu?
O sonho envolve estruturas da nossa mente que nós estamos longe de conhecer em sua plenitude. Nós conhecemos um pouco, seja através das explicações da psicanálise, a começar por Freud; seja através dos ensinamentos dos espíritos na literatura espírita; além da contribuição de outras correntes de pensamento – mas não podemos dar respostas prontas. Não existe uma causa única para os sonhos premonitórios.
O que são os sonhos para o Espiritismo?
Quando nós dormimos o nosso corpo físico repousa, porque ele precisa se recuperar, e nós nos desprendemos temporariamente do corpo físico. Isso é o que quase sempre acontece. O espírito que somos pode permanecer ligado ao corpo – isso ocorre, por exemplo, quando estamos muito cansados. Mas o normal é nos desprendermos do corpo físico. Podemos chamar isso de emancipação da alma.
Espiritismo e sonhos eróticos
O que nós fazemos quando nos emancipamos por ocasião do sono? André Luiz afirma que três em cada quatro pessoas vão em busca da satisfação dos seus interesses. Esses interesses quase sempre envolvem prazeres. Nos emancipamos e vamos imediatamente para regiões no plano espiritual em que encontramos espíritos afins e damos vazão aos nossos desejos. Há espíritos que se encontram para brigar, para tomar satisfações; há espíritos que vão satisfazer seus desejos mais íntimos, como sexo, drogas, comida. Uma pessoa pode parecer uma puritana em sociedade, mas, no seu íntimo, ela alimenta desejos sexuais inconfessáveis – quando se emancipa ela pode ir em busca da satisfação desses desejos. Uma pessoa que gosta muito de comer e faz regime pode se emancipar e ir em busca de comida. Pessoas que têm vícios, ou que estão tentando vencer esses vícios, como o cigarro, o álcool e outras drogas também – vão para onde podem satisfazer seus vícios.
Isso pode causar estranheza em algumas pessoas, afinal, o corpo físico não participa dessas aventuras – acontece que o vício está no espírito; a fraqueza não está no corpo, está no espírito; e o corpo dos desejos não é o corpo físico, é o corpo espiritual.
Espiritismo e sonho lúcido
Outras pessoas se emancipam e vão trabalhar, vão ajudar o próximo. Isso ainda é um pouco raro, mas, também, acontece com frequência. Também é comum participarmos de cursos, de encontros de estudo. Particularmente eu participo de cursos no plano espiritual com alguma frequência.
Mas tudo isso são atividades no plano espiritual. Eu mencionei, então, as pessoas que não se desligam do corpo físico, e aquelas que têm atividade real durante o período de sono físico.
Uma coisa que precisamos perceber – e isso é algo que qualquer pessoa pode provar por si mesma – é que nós temos vários níveis de consciência. Isso fica evidente quando nós temos uma atividade real durante o sono e agimos de maneira muito diferente do que costumamos agir quando em estado de vigília (quando acordados).
Quem consegue manter algum grau de lucidez durante o período de sono nota isso com mais clareza. Mas mesmo aqueles que não mantêm lucidez, aqueles que lembram de suas atividades apenas em forma de sonho – mesmo esses são capazes de notar que o seu comportamento no sonho é muito diferente do normal. Têm outros traços de caráter – às vezes a pessoa é normalmente tímida e durante o sonho é totalmente desinibida; ou a pessoa é normalmente medrosa e no sonho é muito corajosa, enfim.
Nós temos vários níveis de consciência. Esse nível de consciência que nós usamos aqui no nosso entendimento, é o nível mais superficial, ligado ao intelecto. Quando nos emancipamos por ocasião do sono, além de ficarmos ligados ao corpo físico ou de mantermos alguma atividade no plano espiritual, nós podemos simplesmente acessar um outro nível de consciência e com isso entrarmos num outro campo de percepções. Se nós temos alguma preocupação nós podemos acessar o nível de consciência ligado a essa preocupação.
Apenas um exemplo: amanhã você tem uma importante entrevista de emprego. Você sabe que grande parte dos seus projetos depende do resultado dessa entrevista. Você também sabe que não costuma se sair muito bem em entrevistas, você se sente inseguro. Muito provavelmente você vai sonhar com a entrevista. Isso não quer dizer que você se encontrou com o entrevistador no plano espiritual. O sonho foi elaborado por elementos da sua subconsciência – informações antigas sobre você, às quais você não tem acesso consciente, misturam-se ao seu medo e às suas informações atuais e o resultado é esse sonho.
A explicação mais comum que o Espiritismo oferece para os sonhos premonitórios é que eles são avisos de nossos mentores. Espíritos mais elevados nos avisam de coisas que estão prestes a acontecer. Mas como eles sabem disso? Independentemente de ser um aviso dos mentores ou de ser uma percepção nossa, precisamos entender como é possível prever o futuro.
O que sabemos é que quando dormimos nos libertamos parcialmente da influência do corpo físico. E isso faz muita diferença. Vivemos dentro de um corpo que nos oferece apenas algumas janelas de percepção, que são os cinco sentidos. Tudo o que conseguimos perceber do exterior, no plano físico, passa pelo filtro dos nossos cinco sentidos.
No corpo espiritual ainda estamos sujeitos aos mesmos sentidos, mas um pouco mais livres: nosso corpo espiritual nos permite ampliar o nosso campo de percepção. E com isso nós somos capazes de perceber coisas que estão prestes a acontecer. Percebemos influências que vão gerar determinados acontecimentos. Não há nada de extraordinário nisso.
Em qualquer área de atividade humana, se você tiver dados suficientes, você pode prever os acontecimentos que estão prestes a acontecer.
– Quem acompanha futebol e conhece perfeitamente um time percebe claramente quando esse time vai tomar um gol num contra-ataque, por exemplo – pois tem dados suficientes sobre esse time e sabe que a sua fragilidade é a recomposição da área defensiva;
– Quem tem um filho pequeno e leva esse filho na pracinha percebe quando o seu filho vai se machucar, pois tem dados suficientes para saber o que ele é capaz de fazer com segurança e quais os movimentos que ele ainda não domina.
Quem não conhece esse time e quem não conhece essa criança não são capazes de prever o que vai acontecer.
Nós podemos comparar o nosso estado quando acordados e quando estamos dormindo a esses dois casos: a pessoa que não tem informações sobre o time e sobre a criança e a pessoa que tem informações sobre o time e a criança.
Quando emancipados nós somos capazes (somos capazes; não é sempre que isso acontece) de ampliar consideravelmente o nosso campo de percepção. Tomamos contato com inúmeras informações do passado de que normalmente não nos lembramos, o que nos oferece mais dados para perceber os próximos acontecimentos, e tomamos contato com as influências que estão agindo nesse momento e o que elas irão desencadear se esse quadro não for alterado.
Não existe determinismo. O que existe é um conjunto de tendências muito bem organizadas que resultam numa programação. Mas as coisas podem mudar: se uma dessas tendências for alterada, o fato previsto programado pode não acontecer.
Há um outro fator que deve ser lembrado. Nossa mente é criadora. Nossa mente é o programa do espírito. A maneira como programamos a nossa mente é que determina o que experimentamos em nossa vida.
Há pessoas muito impressionáveis que retroalimentam seus medos. A pessoa tem muito medo e esse medo gera sonhos. Esses sonhos, por sua vez, provocam mais medo, pelo receio de que eles se realizem. Pode acontecer, por isso, de um sonho se concretizar por uma programação da mente. Evidentemente isso não é proposital, e quem passa por isso não percebe que ela mesma é a causadora dos seus males.
Fonte: Espirito Imortal




segunda-feira, 28 de novembro de 2016

Cairbar de Souza Schutel[1]

O Bandeirante do Espiritismo
(Rio de Janeiro, 22 de setembro de 1868 - Matão, 30 de janeiro de 1938)


Foi grande divulgador do Espiritismo. A sua missão na Terra foi das mais completas. Ele atuou no campo da imprensa escrita e falada, escreveu e publicou livros, proferiu palestras e conferências e, acima de tudo, soube exemplificar tudo aquilo que ensinava, pois, a caridade presidia sempre seus atos.
Aos 17 anos de idade trabalhou como prático de farmácia. Procurando emprego, ficou sabendo que em Matão não havia farmácia e nem outra infraestrutura, tratou logo de montar uma, denominando-a Farmácia Schutel.
Adentrou no campo da política, fez de Matão um município, assumiu a prefeitura em 28/05/1899. Inaugurou um programa de desenvolvimento, fazendo com que a cidade progredisse. Era um administrador na verdadeira acepção da palavra. Era humanitário, probo, patriota.
Suspirou em conhecer algo novo, o espiritismo, possuía um amigo que fazia algumas sessões, mas que estava desanimado com as solicitações dos espíritos: queriam lhe pedir missas. Mas Cairbar convenceu-o a realizar uma sessão para que ele pudesse conhecer. Seu amigo Calixto concordou e assim se comunicaram muitos espíritos e finalmente ocorreu uma importante e decisiva comunicação atribuída ao espírito de D. Pedro II, último imperador do Brasil. Tratava- se de mensagem de alto nível. Esse acontecimento fez com que Cairbar no dia seguinte solicitasse urgente O Evangelho Segundo o Espiritismo e O Livro dos Espíritos de Allan Kardec.
Aprofundou-se nos estudos, analisou e comparou com outras religiões. Ele fez dos ensinamentos da Doutrina Espírita a sua norma de conduta, compreendia que essa doutrina é a caridade em ação. Foram inumeráveis os atos humanísticos que o apóstolo de Matão praticou, tornando-se um paradigma para os espíritas do futuro. Ele tornou-se a personificação da caridade para todos que buscavam, sequiosos de esclarecimentos para a alma e de alívio para os problemas do corpo. Fundou em 15/07/1905 o “Centro Espírita Amantes da Pobreza”.
Foi perseguido pelo clero, mas não deixou-se abater, lutou para que seu Centro Espírita continuasse funcionando.
Cairbar Schutel era a caridade em ação. Em sua residência, na farmácia, no Centro Espírita, ou em outro lugar onde se achasse, praticava atos altruísticos sempre que necessários. Chegou a merecer o cognome de “pai da pobreza” ou “pai dos pobres de Matão“. O preceito cristão “amai ao vosso próximo como a vós mesmos” havia sido assimilado por ele em toda a sua plenitude. Sua inteligência era grande, mas maior era seu coração. Os próprios adversários do espiritismo não tinham coragem de atacá-lo, tão grande era a sua projeção moral. E a grandeza da sua dedicação fazia que o estimassem, cheios de respeito.
Lançou em 15/08/1905, o primeiro número do Jornal “O Clarim”, um cometimento arrojado na época. Abriu uma Editora onde passou a imprimir “O Clarim”, os próprios livros e de outros autores.
Em 15/02/1925 lançou a “Revista Internacional de Espiritismo”.
Em 1936 fez um programa radiofônico espírita pela Rádio Cultura de Araraquara, PRD-4. Agigantou-se e projetou- se como um dos mais lídimos missionários da Terceira Revelação.
São muitos os livros publicados:
·         “Espiritismo e Protestantismo (1911)”;
·         “Histeria e Fenômenos Psíquicos (1911)”;
·         “O Diabo e a Igreja (1914)”;
·         “Espiritismo para as Crianças (1918)”;
·         “Interpretação Sintética do Apocalipse (1918)”;
·         “Médiuns e Mediunidade (1923)”;
·         “Gênese da Alma (1924)”;
·         “Materialismo e Espiritismo (1925)”;
·         “Fatos Espíritas e as Forças X… (1926)”;
·         “Parábolas e Ensinos de Jesus (1928)”;
·         “O Espírito do Cristianismo (1930)”;
·         “A Vida no Outro Mundo (1932)”;
·         “Vida e Atos dos Apóstolos (1933)”;
·         “Livro de Preces (1936)”;
·         “Conferência Radiofônicas (1937)”, além de Cartas a esmo e uma obra intitulada: “O Batismo”.

Era homem de fé, contou um amigo o seguinte caso:
“Estando o Sr. Schutel atendendo a uma criança pobre, já com aspecto cadavérico, tal o estado de desidratação, pediu-me um vidro com água destilada e nele pingou gotas de homeopatia, entregando depois o vidro à mãe e dando-lhe instruções sobre a alimentação do bebê. Eu então perguntei ao Sr. Cairbar: — Mas esse remédio vai curar essa criança? E ele respondeu: Esse remédio vai ajudar muito, mas o que cura virá lá de cima, por isso, quando você manipular qualquer medicamento, tenha o pensamento voltado para o Pai celestial, pois é de lá que vem a cura”.
Divulgava o espiritismo e promovia intenso e persistente combate aos falsos cristãos.
Leopoldo Machado, em seu livro “Uma Grande Vida“, discorre a personalidade de Schutel:
— “Irradiava simpatias. Sua presença era um dínamo de animação e entusiasmo. Dir-se-ia que perto dele, amava-se o trabalho não pelo próprio trabalho, mas pelos exemplos de Cairbar; que se amava o sofrimento para imitá-lo. Amava-se a verdade e a sabedoria para segui-lo. É que ele, sempre animadoramente, dava, como os recursos materiais de que dispunha, o coração, a inteligência, mandava-se a seu contato. Os pobres sentiam-se menos pobres, perante seu grande amigo. Os ignorantes sempre tinham o que aprender. Os deserdados da sorte podiam contar com um inimigo. Os indecisos com a decisão firme, com exemplos fortes de perseverança e fé”.
Aos 69 anos já era conhecido como um dos mais respeitáveis espíritas do Brasil e internacionalmente.
Já acamado em 1938 e com muita confiança num espírito conhecido por “pai João”, e este havia-lhe assegurado que até o último Domingo de janeiro ele ficaria curado. O velho seareiro, no entanto, estava mais propenso a acreditar que a tal prometida cura seria o seu desenlace. E assim aconteceu.
O corpo do seareiro já estava na urna funerária, quando o Espírito Cairbar fez um médium sentir suas influências de modo muito mais intenso. Nova hesitação, mas o Espírito impeliu-o com veemência e de forma irresistível, e deste modo, diante de seu próprio corpo, o Espírito desencarnado teceu belíssima dissertação sobre a imortalidade da alma, deixando bem claro que a alma não se encerra no túmulo. A comunicação espiritual representou verdadeiro bálsamo suavizador para todos os presentes.
Cairbar colocava acima de tudo os superiores interesses da Doutrina Espírita, por isso chegou a dizer certa vez a José da Costa Filho, referindo-se aos seus bens materiais:
— “Se for preciso venderei tudo isto para dar continuidade ao trabalho de divulgação do Espiritismo”. Foi na realidade UMA GRANDE VIDA.


§  MACHADO, Leopoldo. Uma Grande Vida (1ª ed.). São Paulo: Editora O Clarim, 1980.
§  GODOY, Paulo Alves; LUCENA, Antônio. Personagens do Espiritismo (2ª ed.). São Paulo: Edições FEESP, 1990.
§  FONTE: BVEspirita


sábado, 26 de novembro de 2016

O Desligamento



Richard Simonetti
 

A desencarnação, a maneira como o Espírito, com seu revestimento perispiritual, deixa o corpo, é inacessível à Ciência da Terra, em seu estágio atual de desenvolvimento, porquanto ocorre na dimensão espiritual, que nenhum instrumento científico, por mais sofisticado, tem conseguido devassar.
Ficamos, portanto, circunscritos às informações dos Espíritos, que esbarram nas dificuldades impostas por nossas limitações (algo como explicar o funcionamento do sistema endócrino a uma criança), e pela ausência de similitude (elementos de comparação entre os fenômenos biológicos e os espirituais).
Sem entrar, portanto, em detalhes técnicos, poder-se-ia dizer que o desencarne começa pelas extremidades e vai se completando na medida em que são desligados os cordões fluídicos que prendem o Espírito ao corpo.
Sabe-se que o moribundo apresenta mãos e pés frios, um fenômeno circulatório, porquanto o coração enfraquecido não consegue bombear adequadamente o sangue. Mas é também um fenômeno de desligamento. Na medida em que este se desenvolve, as áreas correspondentes deixam de receber a energia vital que emana do Espírito e sustenta a organização física.
No desdobramento desse processo, quando é desligado o cordão fluídico que prende o Espírito ao corpo, à altura do coração, este perde a sustentação perispiritual e deixa de funcionar. Cessa, então, a circulação sanguínea e a morte se consuma em poucos minutos.
A medicina dispõe hoje de amplos recursos para reanimar o paciente quando o coração entra em colapso. A massagem cardíaca, o choque elétrico, a aplicação intracardíaca de adrenalina, têm salvado milhares de vidas, quando aplicados imediatamente, antes que se degenerem as células cerebrais por falta de oxigenação.
Tais socorros são eficientes quando se trata de mero problema funcional, como o enfarte, um estrangulamento da irrigação sanguínea em determinada área do coração, em virtude de trombo ou de estreitamento da artéria. O enfarte pode implicar em desencarne, mas nem sempre significa que chegou a hora da Morte, tanto que são frequentes os casos em que a assistência médica recupera o paciente.
Se, entretanto, a parada cardíaca for determinada pelo desligamento do cordão fluídico, nenhum médico, por mais hábil, nenhum recurso da Medicina, por mais eficiente, operará o prodígio de reanimá-lo. O processo se torna irreversível.
 

sexta-feira, 25 de novembro de 2016

CONSELHOS SOBRE A MEDIUNIDADE CURADORA[1]



(Paris, 12 de março de 1867, grupo Oesliens; Médium Sr. Desliens).
 

          Como vos foi dito muitas vezes, em diferentes instruções, a mediunidade curadora, com a ajuda da faculdade vidente, está chamada a desempenhar um grande papel no período atual da revelação. São os dois agentes que cooperam com maior força para a regeneração da Humanidade, e à fusão de todas as crenças em uma única crença, tolerante, progressiva, universal.

          Quando, recentemente, comuniquei-me em uma reunião da Sociedade, onde se me havia evocado, eu o disse e repito, todo o mundo possui, mais ou menos, a faculdade curadora, e se cada um quisesse se consagrar seriamente ao estudo desta faculdade, aqueles médiuns que se ignoram poderiam prestar serviços úteis aos seus irmãos em humanidade. O tempo não me permitiu então desenvolver todo o meu pensamento a este respeito; aproveitaria do vosso pedido para fazê-lo hoje.

          Em geral, aqueles que procuram a faculdade curadora têm por único desejo o restabelecimento da saúde material, de dar a liberdade de sua ação a tal órgão impedido em suas funções por uma causa material qualquer. Mas, sabei-o bem, aí está o menor dos serviços que esta faculdade está chamada a prestar, e não a conheceríeis senão em suas premissas e de maneira inteiramente rudimentar, se lhe assinalais este único papel... Não, a faculdade curadora tem uma missão mais nobre e mais extensa!... Se ela pode dar aos corpos o vigor da saúde, deve também dar às almas toda a pureza das quais sejam suscetíveis, e é somente neste caso que ela poderá ser chamada curativa no sentido absoluto da palavra.

          Foi-vos dito com frequência, e vossos instrutores não saberiam mais repeti-lo, o efeito aparentemente material, o sofrimento, tem quase constantemente uma causa mórbida e material, residindo no estado moral do Espírito. Se, pois, o médium curador ataca o corpo, ele não ataca senão o efeito, e a causa primeira do mal permanecendo, o efeito pode se reproduzir, seja sob sua forma primordial, seja sob qualquer aparência. Frequentemente, aí está uma das razões pelas qual tal doente, subitamente curado pela influência de um médium, reaparece com todos os seus acidentes, desde que a influência benfazeja se afaste, porque não fica nada, absolutamente nada para combater a causa mórbida.

          Para evitar esses retornos, é preciso que o remédio espiritual ataque o mal em sua base, como o fluido material o destrói em seus defeitos; é preciso, em uma palavra, tratar ao mesmo tempo o corpo e a alma. Para ser bom médium curador, é preciso que não só o corpo esteja apto a servir de canal aos fluidos materiais reparadores, mas é preciso ainda que o Espírito possua uma força moral que ele não pode adquirir senão pela sua própria melhoria.

          Para ser médium curador, é preciso, pois, para isto se preparar, não só pela prece, mas pela depuração de sua alma, a fim de tratar fisicamente o corpo por meios físicos, e de influenciar a alma pela força moral.

          Uma última reflexão. Aconselha-se-vos procurar de preferência os pobres que não têm outros recursos do que a caridade do hospital; eu não sou inteiramente desta opinião. Jesus dizia que o médico tem por missão cuidar dos doentes e não daqueles que estão saudáveis; lembrai-vos que em caso de saúde moral, ha doentes por toda a parte, e que o dever do médico é de ir por toda a parte onde seu socorro é necessário.
 

Abade Príncipe de Hohenlohe.
 

Revista Espírita – Outubro/1867 - Allan Kardec

quinta-feira, 24 de novembro de 2016

PLURALIDADE DOS MUNDOS HABITADOS[1]



Hugo Lapa
 

O Espiritismo declara a realidade da pluralidade dos mundos habitados. Isso significa simplesmente que no universo não existe desperdício de coisa alguma. Todos os mundos são habitados, seja por seres físicos ou seres não-físicos. Deus não poderia criar espaços no cosmos que fossem inúteis, que não servissem para coisa alguma. Dentro do modelo da perfeição divina, tudo possui a sua utilidade e tudo está em plena harmonia com o todo.
O Livro dos Espíritos afirma que, o homem, acreditando ser o único habitante inteligente do universo, só demonstra a sua arrogância diante da criação divina, a qual não compreende e por isso a reduz a sua simples pequenez. Os espíritos superiores afirmam que “há homens que se julgam superiores a tudo e imaginam que somente este pequeno globo tem o privilégio de ter seres racionais. Orgulho e vaidade! Acreditam que Deus criou o universo só para eles”.
 Os espíritos ensinam que os mundos são bastante diferentes em sua constituição, mas mesmo assim todos abrigam seres corpóreos ou incorpóreos, visíveis ou invisíveis, materiais ou puramente espirituais, dependendo do mundo e de sua enlevação espiritual. Os espíritos proclamam que as condições diversas dos mundos não é nenhum impedimento para que a vida possa neles brotar.
 O maior exemplo disso são os peixes que se adaptam ao meio aquático, e as aves que se adaptam ao meio aéreo. Cada qual vive num ambiente diferente, mas os órgãos estão plenamente adaptados ao meio em que vivem. Esse princípio de adaptação dos seres aos diversos ambientes dos mundos explica como há espíritos vivendo nos espaços mais inconcebíveis de se perceber o desenvolvimento da vida.
O ser humano atual supõe que o sol seja a única fonte de luz e calor que confere energia aos seres e permite o surgimento da vida. Mas os espíritos superiores advertem que não é assim. Há mundos onde são utilizadas energias diferentes da do sol. Mesmo em planetas onde o sol é visualizado apenas como uma estrela, de tão longe que está, há outras fontes de luz e calor, que na época foi chamada de “eletricidade”, mas hoje sabemos serem como energias cósmicas que existem em estado latente no espaço dos mais diferentes mundos.
Essa energia desconhecida gera calor, luz e irradia a energia necessária ao surgimento, desenvolvimento e a manutenção de qualquer forma de vida. Para aqueles que creem em vidas intraterrenas, essa energia seria a fonte também de luz e calor para os seres que vivem embaixo da terra, nos mundos subterrâneos.
A Pluralidade dos Mundos habitados é onde o Espiritismo e a Ufologia se encontram. Por esse motivo, os espíritas devem dar toda a atenção ao estudo da Ufologia, pois esta matéria revela aquilo que os espíritos superiores já haviam falado há mais de 150 anos: a verdade da existência de vida inteligente ou não fora da esfera terrestre e que essa vida pode, obviamente, nos visitar e futuramente manter um contato aberto conosco.




quarta-feira, 23 de novembro de 2016

Reencarnação: Ela se completa de fato aos sete anos![1]




A reencarnação segundo a etimologia da palavra significa o ingresso repetido num involucro físico ou carnal.
Então, pode-se dizer que reencarnação é o retorno da alma ou espírito à vida corpórea, num novo corpo físico. Em cada existência temos a oportunidade de ter novas experiências e de progredir com o objetivo de alcançar a perfeição, sendo assim, cada encarnação é um recomeço, uma nova oportunidade de reeducação espiritual.
A reencarnação não é uma criação do espiritismo. É um conhecimento milenar, vinda do oriente e de outras partes do mundo, alguns séculos antes de Jesus Cristo.
Quando o espiritismo trouxe novamente a ideia da reencarnação como um princípio, a reencarnação ganhou espaço dentro da ciência, e hoje temos diversas pesquisas extraordinárias desenvolvidas oficialmente dentro de universidades, por cientistas, anatomistas, sobre o tema, legitimadas com a descoberta científica do campo de vida, que é o responsável pela construção, organização de todo corpo físico.
Este campo de vida também é conhecido com o nome de períspirito, que faz a ligação do espirito ao corpo, e que acontece em regra geral na hora da fecundação. Mas o espirito também pode começar a se ligar antes, durante ou depois da fecundação.
Este é o motivo pelo qual o espiritismo é contra o aborto, pois a partir da ligação do espirito ao corpo, materializa-se o processo de reencarne.
Abortar não é somente um crime perante a lei dos homens e de Deus, mas também negar a oportunidade da reencarnação e, portanto da evolução, pois o espirito perderá a chance de uma nova existência corporal, tendo que esperar para recomeçá-la em outra oportunidade.
A forma do corpo é determinada pela característica hereditária do material genético dos genitores e seus antepassados, mas a construção e a organização do corpo físico são executadas pelo períspirito, que segue a ordem reencarnatória, num automatismo da natureza.
É neste processo de construção do corpo que pode se formar alguma deficiência física, caso exista alguma desarmonia em determinada região do períspirito, causada pelo impacto traumático construído durante a encarnação anterior. Assim sendo, agressões feitas a si mesmo como suicídio, acidentes, excessos de toda ordem, utilizações de drogas, entre outros, marcam o corpo físico com defeitos e doenças que deverão ser superados ao longo da encarnação.
A reencarnação e o inicio na vivencia corporal é composta por varias fases. André Luiz, no livro, Missionários da Luz, nos esclarece que: a reencarnação inicia-se na fecundação e se completa por volta dos sete anos de idade, já que é um processo e, portanto, não possui um ponto limite, uma fronteira a não ser seu início e seu fim. A prova disso é que a memoria extra cerebral, a maior lembrança de criança é até os 7 anos de idade.
Anete Guimarães medica e espírita, comenta em sua palestra sobre reencarnação (https://www.youtube.com/watch?v=lH-lYt0Mf9I), algumas fases de desenvolvimento do espirito e da criança, conforme abaixo:
Inicia-se no mundo espiritual a preparação do espirito que irá encarnar;
Após a fecundação, gravidez e do nascimento teremos o abaixo:
a.       De 0 a 6 meses de vida, o espirito fundamenta o seu “eu” e forma a base da sua personalidade. Neste período ele passa a maior parte do tempo dormindo, pois está se adaptando a sua nova encarnação. Esta fase é fundamental para o seu equilíbrio e se houver algum problema como: violência física, verbal ou rejeição, poderá surgir no futuro transtornos psicológicos de alta gravidade, pois ainda tem a consciência de sua vida adulta anterior e que irá influenciar muito no comportamento emocional do adulto.
b.       Entre 6 meses e 4 anos de vida, o espirito já começa a ter a consciência de sua nova vida atual, desenvolve o reconhecimento das pessoas que vivem ao seu redor. É comum a lembrança de suas experiências passadas e por isso às vezes são vistos como gênios. Eles têm intensa atividade cerebral e multiplicação de neurônios.
c.        De 4 a 7 anos de idade, começam a estabelecer as hierarquias, o julgamento de valores, as preferencias afetivas, a sua personalidade. Por isso é uma fase perfeita para sua educação moral e espiritual.
d.       Aos 7 anos o sistema orgânico (corpo) já está totalmente ligado ao espirito. Nesta fase se houver algum problema psicológico, emocional ou violência física, é considerado de baixa gravidade, pois a personalidade da criança em termos estruturais já estará formada.
Havendo desencarne durante a fase infantil, é importante compreender que a reencarnação e a Justiça Divina estão ligadas a este acontecimento. Não há nenhuma injustiça por se tratar de uma criança.
Dependendo da fase em que ocorre o desencarne, o espírito ao se desligar, vai ao mundo espiritual como adulto ou como criança, conforme abaixo:
a.       Ocorrendo o desencarne na fase de 0 a 4 anos o espírito retorna como adulto, levando consigo a consciência do encarne anterior, pois não perdeu totalmente a sua lucidez.
b.      Se ocorre após os 4 anos, o espirito retorna ao mundo espiritual como criança e completa as fases do seu desenvolvimento no mundo espiritual até retornar a fase da consciência adulta, podendo então prosseguir em sua caminhada rumo a evolução.
Por isso é um equivoco nos preocupamos mais em como falar com uma criança a partir dos 4 anos, quando na verdade deveríamos nos preocupar com ela desde a noticia da gravidez, pois até aos sete anos, o Espírito ainda se encontra em fase de adaptação para nova existência. Nessa etapa ainda não existe uma integração perfeita entre ele e a matéria orgânica. Suas recordações da existência anterior são, por isso, mais vivas, tornando-se mais suscetível de renovar o caráter e estabelecer um novo caminho nesta reencarnação.
Para concluir este assunto não podemos deixar de falar da justiça divina perante a reencarnação. Segundo Kardec no livro dos espíritos item 171, todos os Espíritos estão destinados à perfeição, e Deus lhes fornece os meios de alcançá-la pelas provações da vida corporal. Mas, na sua justiça, lhes permite cumprir, em novas existências, o que não puderam fazer, ou acabar, numa existência anterior.
Pensemos! Não estaria de acordo com a igualdade entre todos os seus filhos, nem com a justiça, nem com a bondade de Deus, condenar para sempre os que encontraram no próprio meio em que viveram, obstáculos ao seu melhoramento, independentemente de sua vontade. Se a sorte do homem estivesse irrevogavelmente fixada após a morte, Deus não teria pesado as ações de todos, numa única e mesma balança e não agiria com imparcialidade.
A doutrina da reencarnação, que consiste em admitir para o homem diversas existências sucessivas, é a única que corresponde à ideia que fazemos da justiça de Deus em relação aos homens que se acham numa condição moral inferior; a única que pode nos explicar o futuro e estabelecer esperança de um futuro melhor, porque nos oferece o meio de resgatar nossos erros por novas experiências educativas.
O homem que tem consciência de sua inferioridade encontra na doutrina da reencarnação uma esperança consoladora. Se acredita na justiça de Deus, não pode esperar achar-se, perante a eternidade, em pé de igualdade, com aqueles que agiram melhor do que ele. Contudo, o pensamento de que essa inferioridade não o exclui para sempre do bem supremo que conquistará mediante novos esforços o sustenta e lhe reanima a coragem.
Quem é que, no término de sua caminhada, não lamenta ter adquirido muito tarde uma experiência que não pode mais aproveitar? Porém, essa experiência tardia não está perdida; tirará proveito dela numa nova vida.

terça-feira, 22 de novembro de 2016

Erraticidade e fantasias espirituais[1]



Iso Jorge Teixeira[2]

Natureza da vida depois da morte

O Espiritismo é uma Doutrina consoladora por excelência, ele demonstra por fatos patentes a imortalidade da alma, a sua individualidade após a morte e a necessidade de reencarnação para o aperfeiçoamento, pois somos perfectíveis. Todos esses princípios estão resumidos nas questões 149, 150, 152, 166, 166-a, 166-b, 166-c e 223 de O Livro dos Espíritos de Allan Kardec.
 
Destino das Almas depois da Morte
Que acontece com a alma após a morte? A dos bons irão para o céu e a dos maus para o inferno? Haveria um purgatório, um lugar determinado para a ascensão ao céu ou como preparativo para a reencarnação daquelas almas necessitadas de purificação?…
Essas perguntas, exceto a primeira, seriam respondidas com um sim pela maioria dos religiosos brasileiros… Inclusive DANTE ALIGHIERI em sua A Divina Comédia, descreve minuciosamente INFERNO, PURGATÓRIO e CÉU, de maneira genial, embora com os ensinamentos e os conhecimentos “científicos” e míticos medievais e o não menos genial GUSTAVO DORÉ ilustrou magistralmente tal obra, a bico-de-pena.
Curiosamente, alguns confrades sincretizam tais conceitos de céu, inferno e purgatório e admitem coisas semelhantes àquelas descritas n’ A Divina Comédia – do obscurantismo medieval –dizendo que após a morte seremos encaminhados para um “Pronto – Socorro Espiritual” e daí, para “colônias espirituais”. No entanto, não é isso que está explícito e implícito na Doutrina dos Espíritos; por isso, julgamos importante tratar aqui da questão básica relativa à erraticidade e dos Espíritos errantes…
 
Que seremos ao desencarnarmos?
Estamos encarnados na Terra para provas e expiações, por isso somos, na esmagadora maioria, Espíritos inferiores. Ao desencarnarmos seremos, na quase totalidade, Espíritos errantes e isso está bem claro na resposta à questão 224 de O Livro dos Espíritos de ALLAN KARDEC, ou seja, nos intervalos das encarnações a alma é um “Espírito errante, que aspira a um novo destino e o espera”.
A erraticidade não é um sinal de inferioridade entre os Espíritos, pois estes ali existem em todos os graus (cf. resposta à questão 225, op.cit.), mas somente os Espíritos Puros não são errantes, pois seu estado é definitivo (cf. resposta à questão 226, op. cit.).
Enfim, Espíritos errantes são aqueles em trânsito, que esperam uma oportunidade de reencarnação em nosso planeta ou em outro… Embora possamos evoluir no estado errante – através do estudo do nosso passado e observando os lugares que percorrermos, ouvindo os homens esclarecidos e captando os conselhos dos espíritos mais elevados (cf. resposta à questão 227, op. cit.) –, é através da existência corpórea que pomos em prática as ideias adquiridas na erraticidade (resposta à questão 230 ‘in fine’).
Ora, há uma série de livros mediúnicos em que aparecem Espíritos, com falsa modéstia indisfarçável, que se dizem “imperfeitos” e que estariam “ajudando os irmãozinhos encarnados”, durante séculos na erraticidade. Como um deles, num Centro em que frequentamos, que dizia ser o “pai Joaquim”, que – após uma troca de ideias, preparatória, para uma sessão mediúnica –, dirigiu-se diretamente a nós, dizendo:
–– Dr., o Sr. tem preconceito contra os pretos – velhos?
Ao que respondemos, então:
–– É por não ter preconceito que não entendo porque o Sr. se intitula “pai Joaquim”!
Em seguida, ele fez uma longa explanação, aliás repetida em muitos Centros, de que a encarnação preferida dele foi a de um escravo, por isso se intitulava assim. E finalmente disse:
–– Estou aqui neste plano há mais de 300 anos, tenho muitas imperfeições, mas procuro ajudar os irmãozinhos encarnados.
Retrucamos, então:
–– Se está há tanto tempo aí, e com imperfeições, por que não reencarna?…
A seguir, ele (não sei se o Espírito ou o médium) mostrou-se desconcertado, hesitante, sem graça; tropeçou nas palavras e não trouxe nenhum ensinamento novo, somente frases – feitas…
Ou seja, determinados livros mediúnicos estão afastando cada vez mais as pessoas da Doutrina dos Espíritos, pois algumas excrescências doutrinárias são tidas como verdadeira Doutrina…
 
As chamadas “colônias espirituais” são de existência questionável
Há uma grande falha em nosso movimento espírita ao admitir que fiquemos, quase enclausurados em “colônias espirituais”, a receber conselhos de Espíritos, como se aí estivéssemos encarnados, como naquelas imagens de DORÉ sobre a Divina Comédia de DANTE… Até um tal “vale dos suicidas” é creditado como verdadeira Doutrina dos Espíritos!… Contudo, nas obras de KARDEC não há a menor referência nem às colônias espirituais nem ao vale dos suicidas. Seria uma omissão imperdoável da Espiritualidade Superior!
Acreditamos em que, ao desencarnarmos, a nova vida é eminentemente espiritual, nada de mundos especiais, “cópias aperfeiçoadas dos objetos da Terra”, como dizem alguns confrades. O mundo da erraticidade é um mundo de reflexão em que nos preparamos para uma nova encarnação, mas essa preparação não tem nada de material.
Alguns argumentam que aqueles Espíritos mais terra-a-terra não conseguiriam viver sem a matéria !!! Ora, se não conseguirem viver sem a matéria, ao desencarnarem não sairão daqui do orbe terrestre, é o que se infere do início da resposta à questão 232 de O Livro dos Espíritos, isto é:
“(…) Quando o Espírito deixou o corpo ainda não está completamente desligado da matéria e PERTENCE ao mundo em que viveu ou um mundo do mesmo grau (…)“– o destaque é nosso.
 
Espíritos superiores não podem reencarnar-se?
Nunca devemos esquecer-nos de que estamos rodeados de espíritos desencarnados, errantes, e são eles que nos dão boas ou más inspirações. Embora aqui na Terra predominem os maus espíritos, temos também Espíritos Superiores, em menor número, é o caso dos Espíritos – Guias de cada um de nós…
A propósito, é um sofisma afirmar-se que um Espírito Superior teria dificuldade de vir à Terra e seria impossível, em determinado caso, a sua reencarnação terrena; pois, argumentam, o seu fluido é muito diáfano para suportar os fluidos terrenos. Ora, o perispírito é extraído do planeta em que o indivíduo está encarnado (cf. questão 94, op. cit.) ou situado; obviamente, há variações individuais, mas a sua constituição é sempre a mesma para cada orbe.
A Doutrina dos Espíritos é bem clara neste aspecto, ela nos diz em relação aos Espíritos Superiores, os de segunda ordem: “Quando, por exceção, se encarnam na Terra, é para cumprir uma missão de progresso e, então, nos oferece o tipo de perfeição a que a humanidade pode aspirar neste mundo.” (cf. item 111, ‘in fine’, de O Livro dos Espíritos). Um exemplo maravilhoso deste caso foi a encarnação de JESUS (cf. questão 625 , op. cit.) e a este respeito disse KARDEC:
“Jesus é para o homem o tipo de perfeição moral a que pode aspirar a humanidade na Terra (…)” (cf. Comentário ab initio à questão 625, op. cit.).
Sabemos que o assunto é polêmico em relação a JESUS, pois alguns julgam-no um Espírito Puro, de primeira ordem e, por isso, não mais sujeito à encarnação. Mesmo admitindo que JESUS seja um Espírito Puro, qual a impossibilidade de sua encarnação ?… Em nosso modo de entender não há nenhuma impossibilidade, tanto assim que ele reencarnou de fato e há provas disso. Mas não entraremos nesta discussão, pois não é o escopo deste estudo.
Enfim, na erraticidade não existe céu, inferno nem purgatório, em lugares determinados; eles existem sim, na consciência individual. Muitas vezes esses Espíritos atraem-se por sintonia, mas, como Espíritos não são capazes de formar quadrilhas, como do Comando Vermelho, Terceiro Comando, aqui da Terra. São espíritos cujo “inferno” consiste – quando renitentes no mal –, em não poderem por em prática os seus maus pendores e isto está bem claro na resposta à questão 970, ‘in fine’, de O Livro dos Espíritos:
“Desejam todos os gozos e não podem satisfazê-los. É isso que os tortura”.
Muitos confrades temem os obsessores numa reunião mediúnica, alegando até que alguns são chefes de falanges infernais!… Mais importante que doutrinar o obsessor (o que é mais fácil) é levar o obsidiado a desprender-se da sintonia que o liga ao seu algoz, pois afinal de contas ambos são algozes - vítimas.
 
EPÍLOGO
O Céu, o Inferno, o Purgatório, as Colônias espirituais, são fantasias espirituais sem nenhuma sustentação científico – doutrinária, são elucubrações místicas de Espíritos ainda apegados à matéria e de algumas pessoas simplórias que não conseguem conceber o mundo espiritual sem materialidade.
Ao desencarnarmos na Terra, um planeta inferior, por melhores que sejamos não atingiremos , imediatamente, a condição de Espíritos Puros e por mais obstinados que sejamos no mal, não ficaremos eternamente nessa condição de “legionários infernais”, pois a Providência Divina nos dá o livre-arbítrio, propiciando-nos o arrependimento. A Lei Divina é Misericordiosa…




[2] CREMERJ:52-14472-7 - Psiquiatra. Livre-Docente de Psicopatologia e Psiquiatria da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).