quinta-feira, 31 de maio de 2018

O FIM DO MUNDO MORAL[1]


O Grito de Edvard Munch


Jane Maiolo

...sabendo Jesus que chegara sua hora de partir desse mundo para o Pai, tendo amado os seus próprios, que estavam no mundo, amou-os até o fim[2]”.

Em nenhum tempo, em nenhuma pátria, em nenhuma sociedade, a rogativa por amor, justiça, paz e fraternidade se fez tão intensa.
Vivemos tempos áridos num país, cuja a expectativa espiritual é supostamente tornar-se a “pátria do Evangelho”, clamamos por reajustes urgentes, por educação de qualidade e por uma filosofia ética e moral que nos liberte das crenças apequenadoras e pueris. Porém, essa filosofia se encontra entre os homens desde 1857, sob o título de Doutrina Espírita.
O Espiritismo é, ao mesmo tempo, uma ciência de observação e uma doutrina filosófica. Como ciência prática ele consiste nas relações que se estabelecem entre nós e os Espíritos; como filosofia, compreende todas as consequências morais que dimanam dessas mesmas relações[3]. Seu maior objetivo é dar ao homem a liberdade de consciência no uso perfeito de sua razão.
Como religião, Allan Kardec comenta na Revista Espírita do mês de dezembro de 1868, por ocasião do Discurso de Abertura da Sessão Anual Comemorativa dos Mortos, na Sociedade de Paris, em 01/11/1868, se o espiritismo seria uma religião? Ora, sim, sem dúvida, senhores. E explica que no sentido filosófico, o espiritismo é uma religião, e nós nos glorificamos por isto, porque é a doutrina que funda os elos da fraternidade e da comunhão de pensamentos, não sobre uma simples convenção, mas sobre bases mais sólidas: as mesmas leis da natureza[4]”.
Em tempos de ansiedades e volúpias mentais é necessário refletir que temos feito para que o espiritismo consiga aglutinar as forças colaborativas para as instâncias da ciência, da filosofia e da religião?
Quais têm sido as propostas educacionais para os espíritos reencarnantes nos dias atuais?
O livro A Gênese, publicado no ano de 1868, completou 150 anos em janeiro, traz-nos a informação sobre a nova geração que marcaria a era do progresso e se distinguiria pela inteligência, razão precoce e grande inclinação ao bem.
Será que o Codificador se enganou quanto a nova geração?
Será que os responsáveis pela educação libertadora da mente, têm negligenciado o efetivo papel na educação para a geração que desponta neste mundo de acelerados apelos à vida automatizada?
O episódio do “lava os pés” registrado por João consoante consta no capítulo 13, versículo 1, nos oferece pálido indicativo do trabalho edificado pelo Cristo junto aos discípulos diretos. Narra o evangelista: “... sabendo que chegaria a sua hora de partir deste mundo para o pai tendo amado os seus próprios que estavam no mundo amou-os até o fim[5].
Jesus contava com aqueles homens para a colaboração da divulgação de um novo princípio de vida, por isso mesmo, os educou, preparou e os amou até o fim. Não houve exclusão, nem reproche e sequer condenação. Independente de suas fraquezas, mazelas, equívocos, Jesus os amou até o fim.
Educar o espírito vai além dos valores efêmeros da contemporaneidade. Amou-os até o fim. Para o homem formado no pensamento cíclico do nascer, crescer e morrer, significa amou-os até a sua morte. Porém o sentido correto do amou-os até o fim ganha uma dimensão majestosa e plena. Amou-os até o fim, significa amou-os até as últimas consequências, não importando o desfecho daquela história.
Até o fim é, em primeiro lugar, até o final de uma etapa; até se concluírem todas as coisas; até completar todos os acordos. Significa ir até às últimas consequências; ao extremo da situação; levá-la a término de modo constante e perfeito.
Ao refletirmos no papel que estamos protagonizando, nesse momento da história, há de se avaliar o grau de nossa participação nesse movimento de transição dos valores.
Será que o codificador se enganou quanto a nova geração?
Quer os pais ou aqueloutros comprometidos com tal mister, será que a atual crise moral é fruto da negligência dos educadores?
De posse a mais de 160 anos de um roteiro regenerador ainda insistimos nos velhos hábitos e crenças, repetimos os princípios do homem instintivo e sensual?
O desânimo, a tristeza, a depressão e a ausência de intenções superiores avolumam nos variados meios sociais, haja vista o painel social, político e cultural da sociedade contemporânea.
A tristeza conduz à morte como afirmou Paulo de Tarso:
 “Porque a tristeza, segundo Deus, opera arrependimento para a salvação, da qual ninguém se arrepende; mas a tristeza do mundo opera a morte[6]”.
A afirmativa paulina foi chancelada pelos filósofos do século XVII e XIX, a saber, Baruch de Espinoza e Henri Bérgson, quando proclamam que o homem possui uma potência divina, intitulada Conatus[7], energia essa capaz de mantê-los conectados com a vida e com propósitos superiores, portando na falta dessa energia o homem entristece, definha, adoece e morre.
A tristeza é a causa primeira das enfermidades, portanto é necessário adotar o padrão comportamental do Cristo, edificando roteiros sublimes no coração e na mente para adquirirmos forças superiores de ação para gerirmos nossa administração, enquanto tutores dos reencarnantes da nova era, pois neles são assentados a esperança do mundo de regeneração.
Cultivar a potência divina em nós é revigorar nossas oportunidades de trabalho e de redenção.
A tarefa de amar até o fim é a tarefa confiada ao homem atento e que despertou para a grandeza do amor.
Amar até o fim é amar incondicionalmente até as últimas implicações do amor. A cada instante vivido na carne nos aproximamos da inevitável transposição para outras paragens na derradeira viagem rumo às regiões espirituais, em face dessa fatalidade inexorável, regulamento para a qual não há exceções, cabe refletirmos se estamos amando até as últimas consequências do amor.




[2] João 13 : 1.
[3] Kardec, Allan. O Que É O Espiritismo. Preâmbulo- 56ª. ed. -  1ª. imp. – Brasília: FEB, 2013.
[4] Kardec, Allan. Revista Espírita de dezembro de 1868
[5] João 13 : 1.
[6] 2 Coríntios 7 : 10
[7] Esforço; impulso, inclinação, tendência; cometimento.

quarta-feira, 30 de maio de 2018

Experiências de Quase Morte são mais reais que a realidade[1]



 Cientistas da Universidade de Liège, na França, demonstraram que os mecanismos neurológicos envolvidos nos fenômenos de Experiências de Quase Morte são vívidos demais para serem apenas imaginação ou sonhos.
O estudo mostrou que a percepção durante a Experiência de Quase Morte não só é mais vívida do que eventos imaginados, mas também mais vívida do que os eventos reais que a pessoa vivenciou.
Os resultados foram publicados na revista científica PLOS ONE.
Experiências de Quase Morte
Ver uma luz brilhante, atravessar um túnel, ter a sensação de estar em outra realidade, ou deixar o próprio corpo, vendo-se fora dele, são algumas das características do conhecido, mas pouco compreendido, fenômeno chamado Experiência de Quase Morte.
Sem instrumentos para avaliar esses eventos, muitos cientistas preferem colocá-los de lado, atribuindo-os a alucinações, defesas psicológicas ou produtos de disparos elétricos aleatórios do cérebro.
De fato, de um ponto de vista científico-experimental estrito, essas experiências são difíceis de estudar na medida em que ocorrem em condições incontroláveis, quase impossibilitando estudá-las em tempo real.
Assim, os cientistas da Universidade de Liège tentaram uma abordagem diferente.
Eles levantaram a hipótese de que, se as memórias da Experiência de Quase Morte fossem puros produtos da imaginação, suas fenomenologias características (por exemplo, detalhes sensoriais, emocionais, autorreferenciais etc.) deveriam ser muito semelhantes às das memórias imaginadas.
Inversamente, se a Experiência de Quase Morte for experimentada de um modo semelhante ao da realidade, as suas características deveriam estar mais próximas das memórias de eventos reais recentes.
Eles testaram essa hipótese em três grupos de voluntários ‒ um grupo de pessoas que viveram a Experiência de Quase Morte, um segundo grupo de pessoas que estiveram em coma, mas não relataram a experiência, e um grupo de pessoas saudáveis.
Um "quase" muito real
Os resultados foram surpreendentes.
Não apenas as memórias das Experiências de Quase Morte são diferentes das memórias imaginadas, como também elas apresentam características fenomenológicas típicas das memórias de eventos reais.
Mais do que isso, as características fenomenológicas das experiências de quase morte são mais numerosas do que aquelas das memórias de eventos reais.
Vários estudos têm analisado esses episódios, mas quase todos se agrupam em teorias de origem psicológica e de origem cerebral das experiências.
O problema, segundo Marie Thonnard e seus colegas, é que nenhuma dessas teorias é capaz de explicar inteiramente os fenômenos pesquisados.
Segundo a equipe, uma outra rota possível de entendimento pode ser explorada tentando ver os fenômenos psicológicos e fisiológicos como fatores associados, e não contraditórios.
O espírito que deixa momentaneamente o corpo, e depois retorna ‒ a explicação mais plausível para todos que não são cientistas ‒ ainda não é uma hipótese levada em consideração nos estudos porque os cientistas nunca encontraram provas materiais de que o espírito exista.
Ver neste blog: Começa o maior estudo já feito sobre Experiências de Quase-Morte, publicado em 19/08/2017.




terça-feira, 29 de maio de 2018

Pode o Espírito Recuar Diante da Prova?[1]


De duas uma: Recuar ou Avançar

Uma senhora de nossa amizade escreve-nos o seguinte:
Certo dia minha filha recebeu a seguinte comunicação espontânea de um Espírito, que começou assinando Euphrosine Bretel. Como tal nome não nos lembrasse de ninguém, perguntamos:
Quem és?
– Sou um pobre Espírito em sofrimento; necessito de preces. Dirijo-me a ti porque me conhecestes quando eu não passava de uma criança.
Fizemos um esforço para recordar e julguei lembrar que aquele nome de família era o de uma menina de nove a dez anos, que se achava no mesmo internato que minha filha e que adoecera pouco depois da chegada desta. Seu pai veio buscá-la de carro, e as crianças guardaram a lembrança daquela doente, toda embrulhada e lamentosa; morreu em casa. Desesperada, sua mãe logo a seguiu. O pai ficou cego de tanto chorar e morreu no mesmo ano. Tão logo imaginamos haver reconhecido o nome, o Espírito escreveu:
‒ Sou eu. Minha última existência devia ser uma prova terrível, mas recuei covardemente e desde então sofro sempre. Peço-te rogares a Deus que me conceda a graça de uma nova prova, à qual me submeterei, por mais dura que seja. Sou tão infeliz! Amo a meu pai e a minha mãe e eles me têm horror; fogem de mim e o meu castigo é o de buscá-los incessantemente, para me ver repelida. Vim a ti porque minha lembrança não se apagou inteiramente de tua memória e, dos que podem orar por mim, és a única que conhece o Espiritismo. Adeus! Não me esqueças; em breve nos veremos.
Minha filha então lhe perguntou, brincando:
Devo, pois, morrer dentro de pouco tempo? A isto o Espírito respondeu:
‒ Longo para vós, o tempo não tem medida para nós.
Verificamos depois que o prenome e o nome da família eram perfeitamente exatos.
 Pergunto, agora, se é possível a um Espírito encarnado recuar diante de uma prova já começada.
A esta pergunta respondemos: Sim. Os Espíritos recuam muitas vezes ante as provas que escolheram; não têm coragem de suportá-las e, até mesmo, de enfrentá-las, quando chegado o momento. Aí está a causa da maioria dos suicídios.
Recuam ainda quando se lastimam e se desesperam, perdendo, assim, os benefícios da prova. Eis por que o Espiritismo, dando a conhecer a causa, o objetivo e as consequências das tribulações da vida, dá, ao mesmo tempo, tantas consolações e tanta coragem, desviando o pensamento de abreviar os dias. Qual a filosofia que produziu tal resultado sobre os homens?


[1] Revista Espírita – Outubro/1862 – Allan Kardec

segunda-feira, 28 de maio de 2018

Hereward Carrington[1]

  1880-1958




Distinguido investigador psíquico britânico, autor de muitos livros importantes e populares sobre assuntos psíquicos. Seu interesse pelo assunto foi despertado aos 18 anos e seguiu uma linha anti espiritualista até que os Ensaios da Pesquisa Psíquica da Srta. X abalaram seu pessimismo. No ano de 1900, aos 19 anos, ingressou na Society for Psychical Research (SPR) e dedicou sua vida a esses estudos desde então. Ele logo se tornou conhecido por seu intelecto e erudição. Depois que o Dr. Hodgson morreu e o novo ASPR[2] foi estabelecido sob a liderança do Professor Hyslop, ele se tornou seu assistente e trabalhou nessa função até julho de 1908. 
Em nome da British SPR, e em companhia de Hon. Everard Feilding e W.W. Baggally, ele foi a Nápoles para investigar os fenômenos de Eusápia Paladino . Seu livro, "Eusápia Paladino e seus Fenômenos", resume suas experiências da seguinte forma: 
 "Minhas próprias sessões me convenceram enfim e conclusivamente que fenômenos genuínos realmente ocorrem, e, sendo esse o caso, a questão de sua interpretação surge naturalmente diante de mim. Eu acho que não é apenas a hipótese Espiritualista justificada como uma teoria de trabalho, mas é, de fato, o único capaz de explicar racionalmente os fatos ". 
Essa visão foi de certa forma reconsiderada após Eusápia Paladino, a seu convite, visitou a América em 1909 e foi exposta em Nova York. O registro oficial das sessões permaneceu na posse de Hereward Carrington inédito. Em suas Experiências Pessoais no Espiritismo, quatro anos depois, ele propôs a especulação de que os fenômenos eram essencialmente de origem biológica. Essa convicção não pôde ser quebrada pelas muitas sessões que ele teve com a Sra. Piper. 
Em 1921 ele foi o delegado americano no primeiro Congresso Internacional Psíquico em Copenhague. Em 1924, ele sentou-se no Comitê do Cientifica American para a investigação dos fenômenos do espiritismo. Ele participou de muitas sessões com Margear em Boston e considerou sua mediunidade genuína. Mas em 1932, após a descoberta do Sr. Dudley sobre a identidade das impressões digitais de Walter com as de um homem vivo (ver Crandon) e depois de ter feito uma investigação em Boston juntamente com o Sr. Arthur Goadby e a Sra. Carrington (então Marie Sweet Smith), ele se tornou menos positivo e afirmou no Boletim do Boston SPR:   "Certamente isso joga uma nuvem sobre todo o caso Margery". 
Em 1921, com um grupo interessado, fundou o American Psychical Institute and Laboratory. Estava em operação ativa por cerca de dois anos. Em 1933, sob sua direção e com a ajuda de sua esposa, foi reorganizado e incorporado sob o endereço 20, W. 58th Street, New York.
Carrington admite que a evidência para a sobrevivência é notavelmente forte quanto à existência de um mundo espiritual que ele sente, depois de quase 35 anos de investigação despreparados para dar um veredicto final. Resumindo suas próprias pesquisas em The Story of Psychic Science , 1930, ele diz: 
 "Eu posso dizer que nunca, em todo esse tempo, testemunhei qualquer fenômeno que tenha me parecido indubitavelmente espírita em caráter - embora, é claro, eu tenha visto muitos fenômenos inquestionavelmente supernormais. Ao mesmo tempo, eu compreendo muito bem que outros investigadores muito competentes viram e relataram manifestações muito mais impressionantes do que qualquer outra que tenha sido a minha sorte de testemunhar: e essas descobertas me impressionaram devidamente. Portanto, mantenho uma mente perfeitamente aberta sobre essa questão, continuando minhas investigações e provavelmente continue nesse estado de equilíbrio mental até que alguns fenômenos impressionantes e convincentes venham a balançar em uma direção ou na outra. " 
Parece como se os fenômenos impressionantes e convincentes tivessem acontecido com a visita da Sra. Eileen Garrett ao Instituto Psíquico Americano em 1933. Submetê-la a "testes de associação" psicanalíticos, combinada com um aparelho de gravação elétrica para decidir se os comunicadores são personalidades distintas do meio, ele chegou à conclusão: 
 "Agora posso dizer que nossos experimentos parecem ter mostrado a existência de entidades mentais independentes do controle do médium, e separadas e separadas da mente consciente ou subconsciente do médium." 
Seus livros: “Os Fenômenos Físicos do Espiritismo”, 1907; “The Coming Science”, 1908; “Eusápia Paladino e seus fenômenos”, 1909; “Morte, suas causas e fenômenos”, 1911; “Experiências Pessoais no Espiritismo”, 1918; “Magia Hindu”, 1913; “Os problemas da pesquisa psíquica”, 1914; “True Ghost Stories”, 1915; “Fenômenos Psíquicos e a Guerra”, 1918; “Fenômenos Psíquicos Modernos”, 1919; “Seus poderes psíquicos e como desenvolvê-los”, 1920; “Superior Psychical Development”, 1920; “Spiritualism” (com o Dr. James Walsh), 1925; “A projeção do corpo astral” (com Sylvan J. Muldoon), 1929; “A história da ciência psíquica” , 1930; “Houdini e Conan Doyle” (com Bernard ML Ernst), 1932; “Um Primer em Psychical Research” , 1933. 
Fonte (com pequenas modificações): Uma enciclopédia da ciência psíquica por Nandor Fodor (1934).




[2] Sociedade Americana para Pesquisa psíquica

sábado, 26 de maio de 2018

REENCONTRO COM MAMÃE[1]



Antônio Carlos Navarro

O despertar de sono profundo se deu como que flutuando no interior de nuvens claras, com um sentimento de leveza até então desconhecido, vindo a acordar, plenamente, em ambiente desconhecido.
Recepcionado com voto de boa vinda, não compreendia do que se tratava, e nem onde estava, o que o levava a multiplicar os questionamentos íntimos, que tentava verbalizar na medida das possibilidades.
À medida em que foi se sentindo acolhido, informou que apenas se lembrava que estava internado em um hospital, mas que agora a situação o havia deixado confuso, e por isso desejava esclarecimentos.
Em verdade sentia-se bem, mas não conseguia administrar a situação em que se encontrava.
Sutilmente, foi sendo levado a entender que havia sido transferido para aquele ambiente, e que se tratava de uma reunião de irmãos em Deus, para esclarecimento e fortalecimento da fé sob a ótica do Espírito imortal, onde cada um trabalha para benefício de todos, em nome de Jesus, conforme as orientações da Doutrina Espírita.
Já mais ambientado, foi questionado se percebia mais alguém no entorno, e se se lembrava de sua mãe, ao que informou que ela já havia morrido. A morte não existe, ouviu como resposta, que foi acompanhada de esclarecimentos que o levaram a entender que também ele já havia “morrido”, e que o amor não se esvai com a separação física, e aqueles que nos precedem ao túmulo, tendo possibilidades, voltam para nos receber, acompanhar ou socorrer, quando é chegada a nossa vez de retornarmos à Pátria Espiritual.
Mamãe!!! Mamãe!!! Exclamou, então, surpreso e em prantos de saudade. Ao mesmo tempo, no entanto, em que reconhecia a situação, já pensava, com preocupação, sobre o impacto que sua transferência para o Mundo Espiritual teria sobre os que ficaram, ao que foi tranquilizado com a lógica insofismável da realidade espiritual.
Decorridos alguns instantes, e já mais assentado na nova situação, foi conduzido, sob o amparo maternal, às regiões mais altas do Mundo Espiritual, para dar continuidade a sua vida de Espírito imortal.
O relato acima é verídico, e é experiência corriqueira nas sessões mediúnicas de esclarecimento de espíritos que ainda não possuem maiores conhecimentos sobre a realidade espiritual.
Paralelamente, as palestras e reuniões de estudos nas Casas Espíritas fornecem amplas possibilidades de esclarecimento para nós, Espíritos que somos, que assim como um dia nascemos na carne, mais dia menos dia, haveremos de deixá-la para voltar à pátria de origem, e será bom que saibamos algo a respeito, para nossa melhor e mais rápida adaptação, embora, como nos ensinam os Espíritos Superiores, a prática constante do bem é que nos garante melhores condições no retorno.

Pensemos nisso.

sexta-feira, 25 de maio de 2018

AOS ESCRAVOS DA BEBIDA INDICAMOS JESUS[1]



Jorge Hessen

O consumo de alcoólicos pelo ser humano não é hábito recente; é tão antigo quanto o próprio homem das cavernas. Seja qual for o período histórico e em que sociedade com a qual se relacionou ou a cultura que recebeu, o homem tem bebido. Há 3700 anos o “Código de Hamurabi” já trazia normativos sobre as situações, lugares e pessoas que podiam ou não fazer a ingestão de bebida alcoólica.
Há 2500 anos os chineses perdiam – literalmente – a cabeça por causa da bebida alcoólica – a prática era punida com a decapitação. Configura-se um costume extremamente antigo e que vem persistindo por milhares de anos.
Paulo escreveu para os cristãos de Efésio: “e não vos embriagueis com vinho, no qual há devassidão, mas enchei-vos do Espírito [2]”.  
O álcool é a droga “lícita” mais consumida no mundo contemporâneo, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).
Ainda de acordo com a OMS, a bebida alcoólica é a droga legalizada de escolha entre crianças e adolescentes. Estima-se que o uso desse tóxico tenha início entre os 10 e 12 anos. Os males gerados pelo alcoolismo são a terceira causa de morte no mundo.
Estudos encontrados na literatura científica mostravam que os homens bebiam mais que as mulheres em todas as faixas etárias, e que jovens consumiam mais álcool do que idosos. Porém, outras pesquisas apontam para o aumento anual, no Brasil e no mundo, do percentual de mulheres dependentes. No passado, pontuam os especialistas, para cada cinco usuários problemáticos de álcool existia uma mulher na mesma condição. O estudo demonstra que atualmente a razão comparativa é de 1 para 1. Elas já bebem tanto quanto eles, mas concentradas em fases distintas. É mais recente a aceitação social do uso do álcool pelas mulheres. Realmente, antes elas não bebiam tanto. Com isso, o foco das campanhas preventivas ficou muito centrado nos homens. As mulheres ficaram negligenciadas nessa abordagem. Raros são os ginecologistas, por exemplo, que questionam se as suas pacientes bebem.
As grandes vítimas são os filhos, envolvidos numa rotina de restrições e constrangimentos. Filhos de mulheres que consomem álcool em excesso durante a gravidez estão sujeitos à síndrome alcoólica fetal, que pode provocar sequelas físicas e mentais no recém-nascido. Crianças e adolescentes filhos de pais com o vício estão mais sujeitos a desequilíbrios emocionais e psiquiátricos.
Normalmente, o primeiro problema identificado é um prejuízo severo na autoestima, com repercussões negativas sobre o rendimento escolar e as demais áreas do funcionamento mental. Esses adolescentes e crianças tendem a subestimar suas próprias capacidades e qualidades.
Os dados atuais sobre alcoolismo são devastadores. Segundo pesquisa realizada pelo Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clinicas (HC) de São Paulo, ligado à Secretaria de Estado da Saúde, mais de 9% dos idosos paulistanos consomem bebida alcoólica em excesso. O levantamento feito com 1.563 pessoas com 60 anos ou mais apontou que 9,1% dessa população abusa do álcool, o equivalente a 88 mil idosos da capital paulista.
Demonstrado cientificamente que o álcool é pernicioso em qualquer faixa etária, seus danos entre os adolescentes são patentes, sobretudo, durante a fase escolar, uma vez que o uso sucessivo da substância impede o rendimento, além de provocar desordem mental, falta de coordenação, problemas de memória e de aprendizado. Consequentemente, esse processo resulta também em dores de cabeça, alteração do ciclo natural do sono, da fala e do equilíbrio.
A dependência ao álcool pode ser hereditária, havendo uma predisposição orgânica do indivíduo para o seu desdobramento, no qual o Espírito imortal traz em seu DNA perispiritual as marcas e consequências do vício em outras experiências reencarnatórias, sendo compreensível, então, que o alcoolismo seja transmissível de pais para filhos. As matrizes dessas disfunções estão no passado, seja de forma hereditária ou espiritualmente, em decorrência de experiências infelizes, remanescentes de pregressas existências.
Segundo André Luiz, “ao reencarnarmos trazemos conosco os remanescentes de nossas faltas como raízes congênitas dos males que nós mesmos plantamos, a exemplo, da Síndrome de Down, da hidrocefalia, da paralisia, da cegueira, da epilepsia secundária, do idiotismo, do aleijão de nascença desde o berço [3]. “O corpo perispiritual, que dá forma aos elementos celulares, está fortemente radicado no sangue. O sangue é elemento básico de equilíbrio do corpo perispiritual [4]. Em “Evolução em dois Mundos” o mesmo autor espiritual revela-nos que “os neurônios guardam relação íntima com o perispírito [5]. Portanto, a ação do álcool no psicossoma é letal, criando fuligens venenosas que saturam no corpo psicossomático, danificando tanto as células perispirituais quanto as células físicas.
As substâncias dos alcoólicos ingeridos caem na corrente sanguínea, daí chegam ao cérebro, atacam as células neuronais; estas refletirão nas províncias correlatas do corpo perispiritual em configuração de danos e deformações apreciáveis que, em alguns casos, podem chegar até a desfigurar a própria feição humana do perispírito.
Infelizmente a liberalidade de muitas famílias com o álcool é um dos maiores problemas para a prevenção: é mito considerar que maconha leva os jovens a outras drogas. São as bebidas alcoólicas que fazem esse papel. Nefastamente é a azada família que estimula a ingestão dos “inofensivos destilados e/ou fermentados”. Não são poucos que começaram a beber quando o patriarca (pai), orgulhoso do filho que virava homem, os atraía para os drinques dos “machões”.
O vício de beber cria rotinas que envolvem cúmplices encarnados e desencarnados que compartilham do mesmo hábito e manias. Bares, restaurantes, lanchonetes, clubes sociais e avenidas estão repletos de jovens que, displicentemente, fazem uso, em larga escala e abertamente, das tragédias engarrafadas ou enlatadas. A instalação do alcoolismo envolve três características: a base genética, o meio e o indivíduo. Filhos de pais alcoólatras podem ser geneticamente diferentes, porém só desenvolverão a doença se estiverem em um meio propício e/ou características psicológicas favoráveis.
Os infelizes “canecos carnais” não só desfiguram e arrasam o corpo como agridem e violentam o caráter e deterioram o psicossoma através das obsessões, acendidas por espíritos beberrões que compartilham junto do bêbado os mesmos vícios e se alimentam através dos vapores alcoólicos expelidos pelos poros e boca numa simbiose mortificante. É precisamente esse vampirismo incorpóreo que ilustra o motivo de o alcoolismo ser avaliado como moléstia progressiva e de certo modo incurável. É verdade! Parar de beber, dizem membros do AA’s (Alcoólicos Anônimos), é a vitória maior para o dependente, mas a doença não acaba. Se ele voltar a dar uns goles, em pouco tempo recupera um ritmo igual ou até maior do que o mantido antes da pausa. “Não existe ex-alcoolista nessa história”, sustentam os frequentadores dos AA’s.
Essas são razões suficientes para que nas celebrações e festejos com amigos nos bares da vida, fugir do compromisso da vã tradição da bebedeira a fim de divertir-se. O oceano é constituído de pequenas moléculas de H2O, e as praias se formam com incontáveis grânulos de areia. É indispensável, portanto, desatar-se daquele clichê do “é só hoje”, e quando arrastados a comportamentos para “distrair”, não se deve aceitar a perigosíssima escapadela do “só um golinho”, até porque não se pode esquecer que uma miúda picada de cobra peçonhenta, conquanto em acanhada porção, pode produzir a morte imediata, portanto ao invés de se distrair vai se destruir.
Sem dúvida que mais fácil é evitar-lhes a instalação do que lutar depois pela supressão do vício (como dizem os membros dos AA’s: não há ex-alcoólatra). A questão assenta raízes densas na sociedade, provocando medidas curadoras e profiláticas nos círculos religiosos, médicos, psicológicos e psiquiátricos, necessitando de imperiosa assistência de todos os segmentos sociais para (quem sabe!) minimizar seus efeitos flagelantes. Destarte, faz-se urgente assentar a questão da alcoolfilia no foco dos debates públicos. Até porque o problema da consumação alcoólica precisa ser atacado sem trégua, a fim de que sejam encontradas soluções para a complexa epidemia do “tóxico legal”.
Para todos jugulados pelos vícios recomendamos Jesus. Sim! O Messias que prometeu:
“vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração; e encontrareis descanso para as vossas almas. Porque o meu jugo é suave e o meu fardo é leve [6]”.


Fonte: A Luz na Mente




[2] Efésios, 5:18.
[3] Xavier, Francisco Cândido. Nos domínios da mediunidade, ditado pelo Espírito André Luiz, RJ: Ed FEB, 2000, p.139-140.
[4] Xavier, Francisco Cândido. Missionário da Luz, ditado pelo Espírito André Luiz, RJ: Ed. FEB, 2001.
[5] Xavier, Francisco Cândido. Evolução em, Dois Mundos, ditado pelo Espírito André Luiz, RJ: Ed. FEB, 2003.
[6] Mateus 11:28-30

quinta-feira, 24 de maio de 2018

Fonte Única das Três Grandes Divulgações: BUDISTA, CRISTÃ E CELTICA[1]



Allan Kardec
 

Estou feliz de descer até vós, porque experimento uma satisfação moral, um prazer real, sentindo-me bem adaptado a seres que desenvolvem radiações sensivelmente idênticas às do meu perispírito.
Isto mostra-nos que é necessária a adaptação fluídica para podermos compreender-nos, trocar pensamentos e pontos de vista de acordo com os meios nos quais se quer descer. Cada indivíduo projeta uma radiação em relação com o número das suas existências; e a riqueza molecular dos fluidos que compõem o seu eu psíquico está igualmente em relação direta com os trabalhos, as provas ultrapassadas, o esforço continuado através das suas existências, quer num mundo, quer no espaço.
Acrescento que me é particularmente agradável descer neste país de França, o qual amei, habitei materialmente desde o Armórico até ao Maurienne[2].
Cada território desenvolveu em mim perspectivas que não se perderão nunca. Celta, impregnei-me desta mística que havia trazido estremecidamente do espaço. Seguidamente, na minha penúltima existência, em Savóia, adquiri uma resistência moral que me foi necessária para pregar a doutrina que conheceis. Mas primeiro, falemos da existência que iniciei na Bretanha, e que funcionou como a existência iniciadora projetando no meu ser a faúlha da vida universal. Esta centelha brilhou mais ou menos ao longo das minhas diferentes vidas, consoante procurava adquirir tal ou tal qualidade aproximada, mais ou menos, da matéria ou do espírito.
Há seres que não conseguem admitir as existências sucessivas. Neles, a faúlha inicial continua oculta, porque a luta material os absorve totalmente. Há existências de fé, há existências de trabalho, porque é uma lei imutável, um dos princípios fundamentais é o de que o ser se desenvolve através de alternativas para recolher os germes salutares que devem ajudá-lo a progredir nos espaços.
Deus projetou a parcela de luz que é a alma, e esta radiação de pensamento divino deve chegar, por transformações e crescimentos sucessivos, a formar um foco radiante que contribuirá para a manutenção e para o equilíbrio da atmosfera dos mundos. Esse é um preceito de ordem geral que indica a necessidade da pluralidade das vidas.
As primeiras sociedades humanas que povoaram a vossa terra trouxeram o esboço das civilizações futuras; em certos pontos, a iniciação espiritual avançou bastante, os Egípcios, os Celtas, os Gregos, por exemplo, traziam em si focos brilhantes que paralisavam as forças materiais. Elementos do progresso estavam já, por eles, implantados no vosso globo. O vai e vem dos seres que viverão alternativamente à sua superfície, depois no espaço, poderá a partir daí prosseguir com regularidade.
Os novos habitantes, de acordo com o seu grau de evolução, provirão de grupos pertencentes a mundos inferiores, quer existentes, quer desaparecidos. Estas considerações de ordem geral eram necessárias antes de falar mais particularmente da França, da sua influência fluídica e da sua influência no mundo.
A ideia céltica sendo a própria essência, emanente da fonte divina e representante do espírito de pureza na raça, deve iluminar, através dos séculos, a alma nacional. É a ascenção para as esferas superiores, o conhecimento inicial do foco divino, a sobrevivência do pensamento, a correlação das almas e dos mundos, a orientação para um objetivo que deve iluminar-se e precisar-se na medida da nossa evolução.
O celtismo é o raio que mostra o caminho aos estudos psíquicos futuros. Foi nele que se enxertou, no vosso país, o pensamento do cristianismo, tal como o próprio cristianismo se impregnou desse outro raio, o misticismo oriental.
Existem no vosso mundo certos pontos privilegiados fluidicamente que são como espelhos, condensadores e refletores de fluidos, destinados a fazer vibrar os cérebros e os corações dos povos do planeta.
Nestes pontos, três focos se acenderam: o foco oriental nas Índias; o foco cristão na Palestina; o foco céltico no Ocidente e no Norte.
Se estudarmos a gênese dos fenômenos que concretizaram as doutrinas, vê-se que a causa superior continua a mesma e que o vosso planeta é tocado por estas correntes, ou feixes de ondas superiores, que são as verdadeiras artérias da vida universal.
Pela vossa evolução, produz-se agora um novo foco radiante de pensamento que mostrará à humanidade toda a beleza, a grandeza, o poder da obra divina.

 
Allan Kardec

12 de Junho de 1926.




[1] O Gênio Celta e o Mundo Invisível – Léon Denis
[2] Nota de tradução: Vale dos Alpes franceses (Savoie)

quarta-feira, 23 de maio de 2018

Origem e Evolução da Vida Universal[1]




Allan Kardec

Pedistes esclarecimentos sobre certos pontos obscuros da doutrina Druídica. Neste aspecto pus-me em contato com as esferas elevadas a fim de obter alguns indícios sobre o foco superior regenerador da vida e do amor. Três círculos, vós o sabeis, formam as bases da doutrina Céltica por consequência o mais elevado corresponde ao foco divino.
Das explicações fornecidas pelos Espíritos superiores resulta que a inteligência humana não deve conhecer o segredo da fonte suprema da vida. Eis o que vos posso dizer segundo as radiações que me chegam.
Existe para além dos planos formados pelas criaturas, de acordo com a sua evolução através da sua vida pura, uma esfera totalmente vibratória, sem limites, que mergulha na imensidade do universo, mas que não é sentida senão a partir de certa evolução. Esta esfera vibra e a criatura terrestre que a alcançou percebe-a ainda sob a forma de vibrações da consciência no seu eu interior.
As vibrações do grande foco estão em comunhão com a consciência, e, assim que esta está desenvolvida, o sentido místico também o está igualmente. Ele está em relação direta com a evolução da consciência.
O grande foco vibratório anima todo o universo e de grau em grau cada ser recebe as inspirações e as impressões diretas da fonte à qual chamais Deus sobre a terra.
Tereis um dia a definição exata da palavra Eterna e compreendereis a célula viva inicial deste grande círculo superior vibratório. Mas o vosso cérebro humano explodiria se a chave do mistério aí fosse introduzida.
Agora eis o cerne da questão e a admissão do grande círculo superior em que reside o poder criador. As moléculas que daí emanam espalham-se através do espaço como um ramo de fogo de artifício. Espalham-se em ondas que vão formar as centelhas criadoras dos seres. Em redor destas moléculas fundamentais circulam as vibrações que vão formar os focos que representam os mundos. E tudo isto é constantemente recriado.
Todo o sistema criado tem a sua vida própria e subdivide-se ele próprio num sistema específico. Os planetas têm a sua vida, as suas transformações. Os sóis emitem ondas à sua volta. O sistema gasoso forma-se primeiro, seguidamente o mineral, o vegetal, para chegar à criatura humana. Esta, ser pensante, é dirigida pela centelha vinda da grande fonte enquanto que os sistemas minerais e vegetais são criados pelos reflexos de geração secundária.
Tal é a evolução da matéria terminando no envoltório carnal, ao qual se adaptará a vibração inicial da consciência em conexão direta com a centelha suprema. É assim que a projeção se estabelece.
As vibrações do grande Todo não são especiais a uma região como se crê geralmente, mas preenchem todas as regiões do universo. Elas não são perceptíveis para os seres senão na medida do crescimento da sua sensibilidade. As religiões, nas suas concepções de Paraíso e de regiões celestes, apresentam apenas pálidas imagens, enquanto que de certeza as vibrações do pensamento divino animam todo o universo.
Os Espíritos não estão todos em condições de penetrar no azul vibratório porque é necessário um grau suficiente de aperfeiçoamento para perceber e apreciar a beleza e a grandeza da vida superior. Cada sistema planetário tem o seu grau de elevação e, chega um momento em que os seres evoluídos, vivendo nos planetas em vias de progresso, são mergulhados mais diretamente no azul. Os Espíritos comuns roçam os Espíritos luminosos sem os ver; mas em certas condições os Espíritos superiores podem tornar-se visíveis a fim de iluminar os Espíritos menos evoluídos.
Assim que o espírito em vias de evolução pode, pelos seus méritos, entrar em contato com o mundo superior e receber a luz vibratória da fonte suprema, ele recebe uma impressão de força, de poder, e tão depressa o impulso cessa, permanece com a percepção da luz que se junta ao seu grau de evolução. Esta luz traduz-se em milhões de centelhas vibratórias, dotadas de uma radiação intraduzível aos sentidos humanos e que enriquecem o seu perispírito.
* * *
Regressemos à molécula vibratória procedente do círculo de Ceugant[2], criadora de vida. Ela é toda pureza e luz, é a fonte das criações inferiores, a animadora das vidas sucessivas, são esses os elementos que constituem a vida superior.
Os Druidas foram colocados no vosso globo para aí levarem quanta luz fosse possível deste plano superior que refletia a sua consciência.
Nos primeiros tempos a iniciação foi direta dado que a referida consciência era pura.
Esta palavra consciência significa para nós, centro vibratório ainda não maculado e podendo comunicar com o plano divino. É por isso que, no estudo de vossos semelhantes, ainda que os seus atos vos pareçam repreensíveis, se a sua consciência não está destruída, permanece neles um pequeno centro vibratório susceptível de reabilitação.
No início da sua religião, os Druidas gozaram dos benefícios duma comunhão vibratória muito intensa, o que lhes valia o título de Iniciados.
Mas, ao contato da matéria, por refracção, os ensinamentos druídicos foram deformados pelos homens. As consciências obscureceram-se e as intuições encobriram-se, as iniciações fecharam-se.
Por conseguinte, em graus diversos, a consciência humana está muito impregnada do divino. Conservará ela este património? Ao desencarnar, a alma humana coloca-se na luz que ela pode assimilar, consoante o seu grau de recepção e de conservação das vibrações divinas.
Se, na sequência de uma vida terrestre, a molécula divina é paralisada pela matéria, a progressão é suspensa, a lembrança das paixões materiais perturba a consciência e transporta uma espécie de entorpecimento do ser espiritual. É o que os Druidas chamavam o princípio de destruição, dado que a evolução parou.
Para que a evolução retome o seu curso, é necessário que os Espíritos luminosos dissolvam esta espécie de casca passional fluídica para reavivar a centelha consciente, e, o ser espiritual reanimado, retomará a sua marcha através das suas existências. Numerosos são os espíritos desencarnados que se encontram estacionados na sua evolução.
Assim como a luz perde a sua chama logo que é coberta com cinza, a consciência espiritual retorna ao nada quando está demasiado carregada de matéria, esta não sendo do ponto de vista vital mais do que o apoio da essência espiritual.
Sabeis que esta matéria é produzida pela velocidade mais ou menos grande das vibrações entre as diferentes camadas de ondas que emanam de um ponto vibratório. Logo que emanam deste ponto ondas espirituais para a formação de um mundo que deverá conter centelhas conscientes, é necessário como consequência, que as moléculas vibratórias mais pesadas, se transformem em matéria.
No decurso da evolução, chega um momento em que a molécula material se refina suficientemente para tornar-se por sua vez uma molécula vital consciente, e isso produz-se quando esta matéria se liberta de um mundo inferior para voltar ao espaço, unir-se às moléculas vitais de luz. Os Druidas tinham disso a intuição dado que dedicaram um culto a certos objetos materiais.
Terminarei dizendo que a centelha vital consciente, uma vez lançada na imensa arena, deve percorrer um ciclo de existências sucessivas através de mundos e de espaços variados porque, tudo o que muda de forma, muda de meio. A marcha da sua evolução está em relação direta com a conservação e o desenvolvimento da molécula vital consciente.
Assim que esta forneceu um certo número de etapas num sistema planetário, ela refina-se e continua a subir na escala dos mundos em paralelo com as outras centelhas vitais conscientes.
Há, pois duas criações paralelas. A criação da centelha vital consciente, que corresponde ao ser humano, e a evolução da matéria constitutiva dos mundos.

Allan Kardec
15 de Outubro de 1926.



[1] O Gênio Céltico e o Mundo Invisível – Léon Denis
[2] Há três círculos de existência: o círculo da região vazia (ceugant) onde, exceto Deus, não há nada vivo, nem morto e nenhum ser que Deus não possa atravessar; o círculo da migração (abred) onde todo ser animado procede da morte e o homem o atravessou; e o círculo da felicidade (gwynfyd) onde todo ser animado procede da vida e o homem o atravessará no céu.                ( https://allankardecestudosespiritas.wordpress.com/2017/09/23/deus-e-o-universo-os-tres-circulos/ )

terça-feira, 22 de maio de 2018

ESTUDOS URANOGRÁFICOS[1]


(Sociedade Espírita de Paris – Médium: Sr. Flammarion)



De certo modo as três comunicações abaixo constituem a iniciação de um jovem médium. Vê-se que prometem para o futuro. Servem de introdução a uma série de ditados que o Espírito se propõe fazer sob o título de Estudos Uranográficos.
Deixamos aos leitores a incumbência de lhes apreciarem a forma e o fundo.

I
Há tempos foi anunciado, aqui e alhures, por vários Espíritos e por diversos médiuns, que vos seriam feitas revelações sobre o sistema dos mundos. Fui chamado a contribuir, na ordem de meu destino, para que se realize tal predição.
Antes de abrir o que poderia chamar os nossos estudos uranográficos, importa firmar bem o primeiro princípio, a fim de que o edifício, sentado em bases sólidas, tenha em si as condições de durabilidade.
Este primeiro princípio, esta primeira causa é o grande e soberano poder que deu a vida aos mundos e aos seres; este preâmbulo a toda meditação séria é Deus! Ante esse nome venerado tudo se inclina e a harpa etérea dos céus faz vibrar as suas cordas de ouro. Filhos da Terra, vós que há tanto tempo balbuciais esse grande nome sem o compreender, quantas teorias audaciosas foram inscritas desde o começo das idades nos anais da filosofia humana! Quantas interpretações erradas da consciência universal vieram à luz através das crenças antiquadas dos povos antigos! E ainda hoje, que a era cristã em seu esplendor raiou sobre o mundo, que ideia se faz do primeiro dos seres, do Ser por excelência, daquele que é?
Não vimos, nos últimos tempos, o panteísmo orgulhoso elevar-se soberbo até aquele que julgou acertado qualificar de ser absorvente, do grande todo, de cujo seio tudo saiu e no qual tudo deve entrar e um dia se confundir, sem distinção de individualidades? Não vimos o ateísmo grosseiro espalhar vergonhosamente o cepticismo, negador e corruptor de todo progresso intelectual, não obstante o que tenham dito os sofistas seus defensores? Seria interminável mencionar escrupulosamente todos os erros que foram aceitos a respeito do princípio primordial e eterno; basta a reflexão para vos mostrar que o homem terreno errará sempre que pretender explicar este problema, insolúvel para muitos Espíritos desencarnados. É vos dizer implicitamente que deveis, ou, melhor, que devemos nos inclinar humildemente ante o Grande Ser; é vos dizer, filhos, que se está em nós nos elevarmos até a ideia do Ser Infinito, isto nos deve bastar e interditar a todos a orgulhosa pretensão de manter os olhos abertos diante do Sol, sem ficarmos logo enceguecidos pelo deslumbrante esplendor de Deus na sua eterna glória! Guardai bem isto, pois é o prelúdio de nossos estudos: Crede em Deus, criador e organizador das esferas; amai a Deus, criador e protetor das almas, e poderemos penetrar juntos humildemente e, ao mesmo tempo, estudiosamente, no santuário onde Ele semeou os dons de seu infinito poder.
Galileu

II
Havendo estabelecido o primeiro ponto de nossa tese, a segunda questão que se apresenta é a do poder que conserva os seres e que se convencionou chamar Natureza. Depois da palavra que tudo resume, aquela que representa tudo. Ora, o que vem a ser a natureza? Ouvi antes a definição do naturalista moderno; diz ele: A Natureza é o trono exterior do poder divino. A tal definição juntarei esta, que resume todas as ideias dos observadores: A Natureza é o poder efetivo do Criador. Atentemos para esta dupla explicação do mesmo vocábulo que, por uma maravilhosa combinação de linguagem, representa duas coisas à primeira vista tão diversas. Efetivamente a natureza, tal como entendida no primeiro sentido, representa o efeito, cuja causa é expressa no segundo. Uma paisagem de vastos horizontes, com árvores frondosas, sob as quais sentimos a vida subir na seiva; uma campina esmaltada de flores odoríferas e coroada pelo sol: isto se chama Natureza. E se quisermos designar a força que orienta os astros no espaço e faz germinar na terra o grão de trigo? É ainda a Natureza. Que a constatação dessas várias denominações seja para vós uma fonte de profundas reflexões; que sirva para vos ensinar que, se nos servimos da mesma palavra para expressar o efeito e a causa é que, realmente, causa e efeito são uma só. O astro atrai o astro no espaço segundo leis inerentes à constituição do Universo e é atraído com a mesma força que a que nele reside. Eis a causa e o efeito. O raio solar perfuma a flor, e a abelha aí vai buscar o mel; aqui, o perfume é ainda efeito e causa. Seja onde for que na Terra apontais o olhar, podereis constatar esta dupla natureza.
Concluamos daí que se a Natureza é, como a denominei, a força efetiva de Deus, ao mesmo tempo é o trono de seu poder; é, simultaneamente, ativa e passiva, efeito e causa, matéria e força imaterial; é a lei que cria, que governa, que embeleza; é o ser e a imagem; é a manifestação do poder criador, infinitamente belo, infinitamente admirável, infinitamente digno da vontade da qual é a mensageira.
Galileu

III
Nosso terceiro estudo terá por tema o espaço[2].
Já muitas definições de espaço foram dadas, sendo a principal esta: o espaço é a extensão que separa dois corpos, na qual certos sofistas deduziram que onde não haja corpos não haverá espaço. Nisto foi que se basearam alguns doutores em teologia para estabelecer que o espaço é necessariamente finito, alegando que certo número de corpos finitos não poderia formar uma série infinita e que, onde acabassem os corpos, igualmente o espaço acabaria.
Também definiram o espaço como sendo o lugar onde se movem os mundos, o vazio onde a matéria atua etc. Deixemos todas essas definições, que nada definem, nos tratados onde repousam.
Espaço é uma dessas palavras que exprimem uma ideia primitiva e axiomática, de si mesma evidente, e a cujo respeito as diversas definições que se possam dar nada mais fazem do que obscurecê-la. Todos sabemos o que é o espaço e eu apenas quero firmar que ele é infinito, a fim de que os nossos estudos ulteriores não encontrem uma barreira opondo-se às investigações do nosso olhar.
Ora, digo que o espaço é infinito, pela razão de ser impossível se lhe imaginar um limite qualquer, e porque, apesar da dificuldade com que topamos para conceber o infinito, mais fácil nos é avançar eternamente pelo espaço, em pensamento, do que parar num ponto qualquer, depois do qual não mais encontrássemos extensão a percorrer.
Para figurarmos, quanto no-lo permitam as nossas limitadas faculdades, a infinidade do espaço, suponhamos que, partindo da Terra, perdida no meio do infinito, para um ponto qualquer do Universo, com a velocidade prodigiosa da centelha elétrica, que percorre milhares de léguas por segundo, e que, havendo percorrido milhões de léguas mal tenhamos deixado este globo, nos achamos num lugar de onde apenas o divisamos sob o aspecto de pálida estrela. Passado um instante, seguindo sempre a mesma direção, chegamos a essas estrelas longínquas que mal percebeis da vossa estação terrestre. Daí, não só a Terra nos desaparece inteiramente do olhar nas profundezas do céu, como também o próprio Sol, com todo o seu esplendor, se há eclipsado pela vastidão que dele nos separa. Animados sempre da mesma velocidade do relâmpago, a cada passo que avançamos na extensão, transpomos sistemas de mundos, ilhas de luz etérea, estradas estelíferas, paragens suntuosas onde Deus semeou mundos na mesma profusão com que semeou as plantas nas pradarias terrenas.
Ora, há apenas poucos minutos que caminhamos e já centenas de milhões de milhões de léguas nos separam da Terra, bilhões de mundos nos passaram sob as vistas e, entretanto, escutai! Em realidade, não avançamos um só passo que seja no Universo.
Se continuarmos durante séculos, milhares de séculos, milhões de períodos cem vezes seculares e sempre com a mesma velocidade do relâmpago, também nem um passo teremos avançado, seja qual for o lado para onde nos dirijamos e qualquer que seja o ponto para onde nos encaminhamos, a partir desse grãozinho invisível donde saímos e a que chamamos Terra.
Eis aí o que é o espaço!
Galileu



[1] Revista Espírita – Setembro/1862 – Allan Kardec
[2] N. do T: Vide A Gênese, capítulo VI, item 1 – O espaço e o tempo.