segunda-feira, 31 de janeiro de 2022

EUNICE SOUSA GABI WEAVER[1]

 

 

Eunice Sousa Gabi Weaver, nasceu numa fazenda de café, na cidade de São Manoel interior de São Paulo, em 19/09/1902, filha de Henrique Gabbi − carpinteiro, natural da província de Reggio Emília, Itália − e de Leopoldina Gabbi − natural de Piracicaba/SP.

Sua vida foi totalmente dedicada aos portadores do mal de Hansen e suas famílias.

Era portadora de beleza particular, impressionava pela altivez sem imposição, pela decisão sem arrogância e pela simplicidade repassada de nobreza.

Sua mãe, de origem suíça, falava muitas línguas, imprimia hábitos de estudo e princípios morais austeros.

Eram muito amigas, e quando ela morreu moravam em Uruguaiana, no Rio Grande do Sul.

Foi estudar em São Paulo e, durante as férias na fazenda, ocorreu este fato:

Começo de século, São Paulo, fazenda de café, próspera. No terreiro, vagaroso como numa procissão, vem entrando um bando em farrapos, os rostos ocultos. São mendigos, doentes, associados na miséria, no abandono da vida, que apanham agasalhos e alimentos deixados na porteira. As crianças da Casa Grande são levadas para dentro, às pressas, portas fechadas, cortinas corridas. Uma das meninas se esconde. Súbito, uma mulher abandona o grupo e aproxima-se. Há nela um vago ar aristocrático, restos de nobreza, voz serena, escondida na sombra do grande chapéu de palha, não se vê o rosto:

− Sou Rosa! Mesmo que não se lembrem de mim, quero agradecer. Meus pais dizem que me suicidei, é melhor assim, seria segregada; joguei minha roupa no rio, pensaram que me afoguei. Casei-me com aquele homem. Nessa vida de cigano é melhor ser um só.

Rosa Fernandes fora uma linda jovem, filha de vizinhos, que se tornou cobiçada donzela e que a todos encantava, mas que havia, a algum tempo, desaparecido. Esta moça tinha contraído lepra nos tempos de colégio.

Nunca mais Eunice esqueceria os "Olhos de Rosa", e a partir deste episódio, começava o seu trabalho em benefício dos nossos irmãos chegados, como a Grande Servidora do Bem.

Ela talvez não tenha feito nada por Rosa Fernandes, mas o fez por muitas "Rosas" que desabrochavam dos seios de hansenianos, e que por enfermidade de seus pais não podiam permanecer com eles.

Em 1927, reencontrou Charles Anderson Weaver, que havia sido seu professor de latim.

Dirigia o Colégio Granbery, havia enviuvado e tratava da edição de seu livro, em São Paulo.

Eunice ficou fascinada por sua cultura, inteligência, bondade e brilhantismo de ideias.

Quando se casaram foram morar em Juiz de Fora, onde lecionou História e Geografia.

Foi mais do que um simples matrimônio, antes um encontro de almas mutuamente dedicadas, que se reuniram para um sublime ministério de amor e solidariedade humana.

Em seguida, Dr. Weaver foi convidado pela Universidade de Nova Iorque, a dirigir uma universidade flutuante, a bordo de um luxuoso transatlântico, que faria uma longa viagem, para melhor formação de seus alunos em volta do mundo.

Aceitando o honroso convite, partiu do Rio de Janeiro, acompanhado pela esposa em inesquecível cruzeiro de cultura e amor.

Eunice aproveitou para estudar jornalismo, sociologia e filosofia oriental visitando 42 países.

Mais tarde, estudou na Columbia University e fez curso de Serviço Social na Universidade de Carolina do Norte (EUA). Como repórter, trabalhou durante a viagem, viveu um dia inteiro num templo budista, foi até o Himalaia de jumento e entrevistou durante quatro horas Mahatma Ghandi, um dos fatos mais emocionantes de sua vida − "Foi o homem mais próximo de Jesus Cristo que conheci".

Por onde andaram, ela procurou conhecer de perto o problema da lepra, o que em relação a ela se havia feito e o quanto restava por se fazer.

Estagiou em numerosos leprosários: nas ilhas Sandwich (no Pacífico Sul), no Egito, na China, no Japão e na Índia.

Em todo lugar recolhia material de experiência para o ministério redentor a que iria se entregar totalmente.

De volta ao Brasil, em Juiz de Fora, começou a fazer a campanha de assistência aos leprosos.

Foi fundada a Sociedade de Assistência aos Lázaros, pois, em Minas Gerais, nesta época, o problema da lepra era terrível: o trem passava de madrugada, o vagão de segunda classe cheio de doentes encaminhados ao único leprosário em Belo Horizonte, o Santa Isabel; e ela levava à estação, roupas, cobertores e refeições.

A recomendação era sempre a mesma: "Dona Eunice, tome conta de nossos filhos, não os deixe passar fome, não permita que fiquem doentes com esta terrível moléstia".

Aquilo ficava em seus ouvidos.

Sabia que a lepra não era hereditária, e a primeira campanha foi organizar preventório, mais tarde, transformados em educandários, com a preocupação de educar crianças sem recalques, fazendo-as participar da comunidade em condições normais.

Em 1935, com muita coragem, conseguiu convencer o Presidente Getúlio Vargas a ajudar oficialmente a obra, que lhe prometeu dar o dobro do que ela conseguisse junto a sociedade civil.

Naquela época, a classe política se esquivava do assunto pois acreditavam que a causa da lepra não daria frutos políticos.

Após esse acordo, Eunice passou a viajar por todo o Brasil, lançando a campanha da Federação das Sociedades de Assistência aos Lázaros e Defesa contra a Lepra.

Uma das passagens mais interessantes durante as construções dos Educandários se deu no Amazonas.

Eunice estava no canteiro de obras da futura instituição que iria abrigar os filhos dos hansenianos daquela região quando, de repente, um bando de jagunços aparece e tenta impedir a obra sob a alegação que não queriam um leprosário no local, pois na região não existia lepra.

Eunice então, sugeriu ao líder dos jagunços que subissem o rio onde, em poucas horas ela lhe mostraria algum leproso, caso contrário, não construiria o Educandário.

Nesse instante, pegaram um barco e subiram o rio.

Após várias horas percorrendo o referido rio, nenhum leproso foi encontrado.

Os jagunços, com sua costumeira arrogância e cheios de si por terem conseguido impedir a construção do leprosário, resolveram dar a questão por encerrada.

Entretanto, num determinado momento, Eunice vendo uma choupana, disse: "Pare, aqui tem lepra”!

Ao descerem do barco concluíram que dentro da choupana haviam mais de trinta leprosos.

O líder dos jagunços, atônito com o fato ocorrido, abandonou as suas funções de jagunço e passou a ajudar na construção do Educandário.

Surgia naquele momento o primeiro coordenador do Educandário de Manaus.

Dona Eunice Weaver esteve presente, também, em memoráveis labores assistenciais, criando e ajudando obras meritórias surgidas no Brasil, como verdadeira sacerdotisa da fraternidade.

Foi a primeira mulher a receber, no Brasil, a Ordem Nacional do Mérito, no grau de Comendador, em Novembro de 1950, e também o troféu internacional "Damien-Dutton" (pela primeira vez outorgado a uma pessoa da América do Sul). Publicou a "Vida de Florence Nightingale", "A Enfermeira" e "A História Maravilhosa da Vida". Representou o nosso país em inúmeros congressos mundiais sobre a doença, organizou serviços contra a lepra no Paraguai, Cuba, México, Guatemala, Costa Rica e Venezuela.

Em 1960, Eunice Weaver recebeu o título de Cidadã Carioca ao completar 25 anos na direção da Federação e, em 11/09/1965, por indicação do vereador Pedro de Castro, recebeu o título de Cidadã Honorária de Juiz de Fora.

Em Outubro de 1967, foi para a ONU como delegada brasileira no 12º Congresso Mundial.

Sofreu, entretanto, incompreensões e experimentou amarguras sem fim.

Corajosa e arrebatada, possuía elevado caráter, que a permitiu manter-se lutando tenazmente em defesa dos seus "filhos", enfrentando dificuldades compreensíveis e situações complexas, nunca lhe faltando, porém, os auxílios da misericórdia do Senhor, e em hora alguma foi escasso o socorro do céu!

Apesar das dificuldades naturais, no mais, tudo eram felicidades e contínuas alegrias.

Mas, a batalhadora Eunice Weaver perde inesperadamente o esposo, rompendo-se o elo de luz que lhe sustentava o equilíbrio no labor de consolação e de misericórdia.

Na ausência do sempre solícito esposo, a jornada a sós lhe é mais difícil.

Amigos leais buscaram animá-la, confortando-a e encorajando-a para a luta, mas a ausência física do idolatrado companheiro, pungia fortemente.

Entretanto, em 1959, uma de suas amigas a levou até Pedro Leopoldo para conhecer o médium Chico Xavier e, a mensagem de paz e otimismo transmitida pelo médium, lhe deu forças para continuar.

Ela, agora sentia que seu marido não a abandonara.

E, com garra, voltou a enfrentar todas as tarefas que a vida lhe impusera.

Ora era a luta por verbas sempre escassas e difíceis, adiante, os serviços administrativos fatigantes.

As viagens contínuas e exaustivas, continuavam sustentadas pelo amor, feito de renúncia pelos menos favorecidos − "Os filhos do Calvário"−, marchando em direção do amanhã ajudada por centenas de mulheres valorosas que ainda prosseguem inspiradas no seu imorredouro exemplo.

Terminando de discutir compromissos com o Governo do Rio Grande do Sul, ela voltava feliz na expectativa de melhores dias para aqueles a quem considerava os seus de coração, quando foi subitamente chamada para a Vida Espiritual.

Sempre trabalhando, faleceu em 9 de Dezembro de 1969, aos 67 anos, como sempre vivera: dedicada ao próximo.

Transladado seu corpo ao Rio de Janeiro, lá foi velado na Igreja Metodista e sepultada no Cemitério dos Ingleses, ao lado do seu idolatrado esposo.

Seu trabalho missionário, entretanto, cresceu e prossegue no ministério do socorro e apoio aos hansenianos e suas famílias.

"Gigante como Eunice Weaver não morre; é como a vela: Se gasta no afã de servir, iluminando o caminho de alguém".

Rev. Manoel H. da Silva Mário Albino Martins - Coordenador do Educandário Carlos Chagas.

sábado, 29 de janeiro de 2022

MEXERICOS REENCARNATÓRIOS: A CURIOSIDADE DE SE SABER QUEM FOI QUEM[1]

 

Marco Milani

 

Não é de hoje que a questão sobre quem foi quem em reencarnações anteriores alimenta a fantasia de várias pessoas, geralmente aquelas desejando identificar em seu próprio passado elementos para satisfazer a curiosidade vaidosa.

No capítulo VII, de O Livro dos Espíritos, esclarece-se sobre a utilidade do esquecimento do passado. Em nosso atual estágio evolutivo, é proposital a inexistência de lembranças precisas sobre as experiências anteriores, pois, se assim não fosse, estaríamos expostos a gravíssimos inconvenientes.

Em alguns casos, as lembranças poderiam nos humilhar extraordinariamente; em outros, exaltar o nosso orgulho.

Allan Kardec sinaliza que, se quisermos saber como éramos, basta examinarmos as nossas tendências instintivas de hoje. Tendências boas expressam progresso moral. Tendências más explicitam orgulho e egoísmo, cabendo-nos o esforço do autoaprimoramento por meio de ações equilibradas.

Em casos específicos há utilidade em conhecer experiências passadas, porém sempre com seriedade e jamais para satisfazer uma curiosidade vã.

Modernamente, a Terapia de Vidas Passadas pode atuar nesse sentido, objetivando sanar transtornos e desconfortos psicológicos presentes por meio da revivência de experiências traumatizantes do passado. A catarse gerada atuaria favoravelmente na vida atual do indivíduo, alterando padrões de comportamentos nocivos para outros mais adequados. Certamente, essa técnica terapêutica deve ser desenvolvida por profissionais competentes que conseguirão avaliar a pertinência ou não de sua aplicação conforme as necessidades de cada paciente.

No movimento espírita, em particular, há adeptos com diferentes graus de maturidade sobre o assunto.

Alguns não se contentam com a curiosidade sobre si mesmos e também desejam perscrutar o passado alheio, especulando sobre as encarnações de personalidades variadas.

Nenhuma informação sobre “quem foi quem” revelada por um suposto médium, por mais famoso que esse seja, é isenta de dúvida. Toda revelação merece cuidado, principalmente se oriunda de uma única fonte.

Nos últimos anos, os entusiastas pelas reencarnações alheias dedicam tempo precioso para especular sobre o paradeiro de Emmanuel, o mentor espiritual de Chico Xavier que, segundo o médium mineiro, reencarnaria por volta do ano 2000.

Ora, supondo que essa informação seja verdadeira, qual é a utilidade de se saber onde está Emmanuel? Como ele se chama hoje? O que ele faz? A resposta é: nenhuma, além de se alimentar fantasias e misticismos.

Diferentemente de algumas tradições orientais que tentam identificar personalidades relevantes à própria religião, como os budistas fazem à procura do Buda reencarnado, não existe qualquer motivo útil no Espiritismo para buscas especulativas.

A Doutrina Espírita liberta consciências e esclarece sobre as reais necessidades dos seres. Todos nós reencarnamos para continuar a progredir moral e intelectualmente e refletimos as conquistas e erros que já tivemos em nossas muitas encarnações.

Hoje somos melhores do que ontem e trabalhemos para amanhã sermos melhores do que hoje.

 

Jornal Correio Fraterno. Ed. 463. Jun/2015. p.6.

Fonte: Agenda Espírita Brasil



[1] https://gecasadocaminhosv.blogspot.com/2022/01/mexericos-reencarnatorios-curiosidade.html

sexta-feira, 28 de janeiro de 2022

DÉJÀ VU É UM FENÔMENO INSTIGANTE[1]

 

Jorge Hessen

 

O fenômeno se traduz por uma estranha impressão de já ter vivenciado a cena presente e mesmo saber o que se vai passar em seguida, ainda que a situação que esteja a ser vivida seja inédita. Conhecido como déjà vu, ou paramnésia (como também é conhecido), tem sido, ao longo dos anos, objeto das mais díspares tentativas de interpretação. Para Sigmund Freud, as cenas familiares seriam visualizadas nos sonhos e depois esquecidas e que, segundo ele, eram resultado de desejos reprimidos ou de memórias relacionadas com experiências traumáticas. Fabrice Bartolomei, neurologista francês, a paramnésia é resultado de uma fugaz disfunção da zona do córtex entorrinal, situado por baixo do hipocampo e que se sabia já implicada em situações de déjà vu, comuns em doentes padecendo de epilepsia temporal.

Experiências, conduzidas por investigadores do Leeds Memory Group, permitiram recriar, em laboratório e através da hipnose, as sensações de déjà vu. Outros dados explicam que situações de stress ou fadiga possam favorecer, nesse contexto disfuncional, o aparecimento do fenômeno, mas a causa precisa deste "curto-circuito" cerebral permanece, ainda, uma incógnita.

Muitos de nós já tivemos a sensação de ter vivido essa situação que acabamos de relatar. Como já ter estado em um determinado lugar ou já ter vivido certa situação presente, quando, na realidade, isto não era de conhecimento anterior? Em alguns casos, ocorre a habilidade de, até, predizer os eventos que acontecerão em seguida, o que é denominado premonição. Seria um bug cerebral, premonição ou mera coincidência? A psiquiatria e a Doutrina Espírita explicam esta questão de formas diferentes.

Sabe-se que nossa memória, às vezes, pode falhar e nem sempre conseguimos distinguir o que é novo do que já era conhecido. "Eu já li este livro?" ₋ "Já assisti a este filme?" ₋ "Já estive neste lugar antes?" ₋ "Eu conheço esse sujeito?" Estas são perguntas corriqueiras de nossa vida. No entanto, essas dúvidas não são acompanhadas daquele sentimento de estranheza que é indispensável ao verdadeiro déjà vu. Para alguns estudiosos, quando a sensação de familiaridade com as situações, lugares ou pessoas desconhecidas é frequente e intensa, pode, até, ser um dos sintomas da epilepsia, na área do cérebro responsável pela memória, mas, essa mesma sensação pode indicar outros sintomas. Déjà Vu é um fenômeno anímico muito comum , embora de complexa definição científica.

Pode ocorrer com certa frequência em indivíduos com distúrbios neuropatológicos, como a esquizofrenia e a epilepsia. Mas há, também, outras predisposições maiores por fatores não patológicos, como fadiga, estresse, traumas emocionais, excesso de álcool e drogas. Há, ainda, as teorias da psicodinâmica, da reencarnação, holografia, distorção do senso de tempo e transferência entre hemisférios cerebrais. São tão complexas as análises, que especialistas reagem contra a limitação do "vu", que restringiria ao mundo do que pode ser "visto", e já utilizam formas paralelas que fariam referência mais específica aos vários tipos de situação: déjà véanus (já vivido), déjà lu (já lido), déjà entendu (já ouvido), déjà visité (já visitado) ₋ o que pode, um dia, acarretar um déjà mangé (já comido) ou um déjà bu (já bebido).

Os especialistas, ainda, não sabem, concretamente, como ocorre, exatamente, a sensação do déjà vu em pessoas não epilépticas. A que ocorre em pessoas com a doença, no entanto, existem algumas hipóteses, como a batizada, pelo psicólogo Alan Brown, de "duplo processamento"[2]. Segundo o psicólogo Alan Brown, professor da Universidade Southern Methodist, nos Estados Unidos, e autor do livro "The Déjà Vu Experience" (a experiência do déjà vu), dois terços da população mundial relatam ter tido, ao menos, um déjà vu na vida.

Para os conceitos espíritas tudo o que vemos e nos emociona, agradável ou desagradavelmente, nesta e nas encarnações pretéritas, fica, indelevelmente, gravado em alguma parte da região talâmica do cérebro perispiritual, e, em algumas ocasiões, a paramnésia emerge na consciência desperta. Pode, também, ser uma manifestação mediúnica se o médium entra, em dado momento, em um transe ligeiro, sutil, e capta a projeção de uma forma-pensamento emitida por um espírito desencarnado; essa é outra possibilidade.

A tese da reencarnação é difundida há milhares de anos. No Egito, um papiro antigo diz:

o homem retorna à vida várias vezes, mas não se recorda de suas pretéritas existências, exceto algumas vezes em sonho. No fim, todas essas vidas ser-lhe-ão reveladas[3].

Em que pese serem as experiências déjà vu, segundo o academicismo, nada mais do que incidentes precógnitos esquecidos, urge considerar, porém, que existem situações dessa natureza que não podem ser explicadas dessa maneira. Entre elas, está em alguém ir a uma cidade ou a uma casa, pela primeira vez, e tudo lhe parecer muito íntimo, ao ponto de prever, com exatidão, detalhes sobre a casa ou a cidade; descreve, inclusive, a disposição dos cômodos, dos móveis, dos objetos e outros detalhes que estão muito além do âmbito da precognição normal.

Em geral, as experiências precógnitas são parciais e enfatizam certos pontos notáveis, talvez alguns detalhes, mas nunca todo o quadro. Quando o número de detalhes lembrado se torna muito grande, temos que desconfiar, sempre, de que se trata de lembranças de uma encarnação passada[4].

Apesar de não serem abundantes as publicações e depoimentos sobre o assunto, há teorias que associam o déjà vu a sonhos ou desdobramento do espírito, onde o espírito teria, realmente, vivido esses fatos, livre do corpo, e/ou surgiriam as lembranças de encarnações passadas, como disse acima, o que levaria à rememoração na encarnação presente[5]. Hans Holzer, registra uma história, em que ele descreve a experiência déjà vu:

durante a Segunda Guerra Mundial, um soldado se viu na Bélgica e, enquanto seus companheiros se perguntavam como entrar em determinada casa, em uma cidadezinha daquele país, ele lhes mostrou o caminho e subiu a escada à frente deles, explicando, enquanto subia, onde ficava cada cômodo. Quando, depois disso, perguntaram-lhe se havia estado ali antes, ele negou, dizendo que nunca havia deixado seu lar nos Estados Unidos, e estava dizendo a verdade. Não conseguia explicar como, de repente, se vira dotado de um conhecimento que não possuía em condições normais[6].

Cremos que a experiência déjà vu é muito profunda e o sentimento é de estranheza. Devemos distinguir um sintoma do outro, pois, cada caso é um caso e nada acontece por acaso. Por ser um fenômeno profundamente anímico, é prudente separarmos as teorias da reencarnação, sonhos ou desdobramentos, das teorias de desejos inconscientes, fantasias do passado, mecanismo de autodefesa, ilusão epiléptica, entre outras, para melhor discernimento do que, realmente, seja uma paramnésia e o que seja, apenas, uma fantasia de nosso imaginário fecundo.

 

Fonte: Blog Artigos Espíritas - Jorge Hessen

quinta-feira, 27 de janeiro de 2022

FEITICEIROS[1]

 


Miramez

 

Que sentido se deve dar ao qualificativo de feiticeiro?

₋ Esses a que chamais feiticeiros são pessoas, quando de boa-fé, que possuem certas faculdades como o poder magnético ou a dupla vista. Como fazem coisas que não compreendeis, as julgais dotadas de poder sobrenatural. Vossos sábios não passaram muitas vezes por feiticeiros aos olhos de ignorantes?

O Espiritismo e o magnetismo nos dão a chave de uma infinidade de fenômenos sobre os quais a ignorância teceu muitas fábulas, em que os fatos são exagerados pela imaginação.

O conhecimento esclarecido dessas duas ciências, que se resumem numa só, mostrando a realidade das coisas e sua verdadeira causa, é o melhor preservativo contra as ideias supersticiosas, porque revela o que é impossível, o que está nas leis da Natureza e o que não passa de crença ridícula. (Allan Kardec)

Questão 555/O Livro dos Espíritos

 

Os chamados feiticeiros são homens e mulheres que possuem, segundo Livro dos Espíritos, certas faculdades como a força magnética ou a dupla vista. Os de boa-fé são assistidos pelos Espíritos benfeitores, e os de má índole, por Espíritos da sua mesma categoria.

A existência dos chamados curandeiros tem uma razão de ser; eles aparecem mais em lugares ermos, onde não existe outra maneira de aliviar os sofredores, e a razão nos pode indicar e fazer compreender que Deus é tão bom, que desperta alguns dons nestas criaturas em favor dos que sofrem.

Os de má índole, que fazem do seu dom motivo de comércio, devem ser esclarecidos pelos que já alcançaram a compreensão, e não perseguidos. Jesus deu mostra de todos os dons desenvolvidos, curando todos os tipos de enfermidades e erguendo a criatura moralmente para a vida feliz. A Doutrina Espírita não faz o mesmo? O médium curador não é menos e nem mais que um curador comum, que impõe as mãos no doente, curando suas dores, que distribui água fluidificada e dá conselhos, como se fosse o “Ide e não pequeis mais” de Jesus.

Os feiticeiros, como são chamados erroneamente, estão se tornando raros, porque estão surgindo outros métodos de cura para a humanidade, que cresce cada vez mais na compreensão com Jesus. A Doutrina dos Espíritos vem esclarecer aos de boa vontade, o que devem fazer para curar e aliviar as dores do próximo, dentro da lei natural, sem o uso de fórmulas, amuletos no pescoço e talismãs.

Escrevemos muito sobre o valor da palavra, porque o Cristo de Deus curava falando com as criaturas doentes. Uma conversa bem posta nos lábios de quem se dedica ao bem faz maravilhas, porque o verbo vem de Deus, e ele, envolvido no amor e na caridade, cura, desperta e eleva as almas para uma vida melhor.

O homem que se chama de feiticeiro é dotado de poder magnético mais elevado que o comum, e quando não tem compreensão, acha que somente ele possui esse poder, começando a fazer coisas fora da lei do “Dai de graça o que de graça recebestes” das mãos do Benfeitor Maior.

Existem em todo o mundo as chamadas benzedeiras, ou benzedores, que curam e aliviam milhares de criaturas com as mãos, por vezes segurando ramos que acham convenientes, como transmissores de energias. Estas pessoas são médiuns de berço, como dizem alguns.

Quando aceitam a disciplina e não usam esse poder para comércio ilícito, os Espíritos superiores os assistem, ajudando-os a ajudar mais, em nome d'Aquele que é a Luz do mundo.

Quando vendem seus dons, mesmo que seja por ignorância, responderão pelas consequências e divulgação do seu procedimento incorreto.

Quem traz o poder de curar, e por vaidade quer ser o primeiro nos lugares por que passa, curando, é bom que saiba que não é ele quem cura, é Deus. É Jesus quem responde o que esse tipo de curador vai ser:

E quem quiser ser o primeiro entre vós, será servo de todos.

Marcos, 10:44

Tudo pertence ao Senhor. Gloriar-nos de alguma coisa que possuímos, é desmerecer os valores que passam por nós em favor dos outros. Se Deus permitiu que houvesse os curadores, os "feiticeiros", os benzedores, é bom que se notem os benefícios prestados por eles onde não existiam outros recursos. E todos eles, é justo que se diga, começam seus trabalhos, mesmo rudimentares, com a oração e respeito a Deus e aos chamados santos.

Devemos ter respeito para com esses irmãos nas suas posições, e que Deus e Cristo os abençoe onde estiverem, nos seus trabalhos em nome da caridade. Não os condenemos, mas esclareçamo-los com amor, porque na educação ninguém se revolta quando o educador opera com amor. Não nos esqueçamos de que os feiticeiros e demais pessoas dessa faixa são também nossos irmãos.



[1] Filosofia Espírita – Volume 11- João Nunes Maia

quarta-feira, 26 de janeiro de 2022

ANTONIA (Análise de Estudo de Caso)[1]

 

Stephen Braude

 

Pesquisadores de reencarnação concordam com a necessidade de cautela ao avaliar alegações de vidas passadas com base na regressão hipnótica. No entanto, alguns desses casos são especialmente ricos em detalhes históricos precisos que não podem ser facilmente explicados em termos de criptomnésia[2] ou psi de agente vivo, e que podem, portanto, ser considerados evidências de sobrevivência e renascimento. Neste artigo de análise, Stephen Braude considera o caso das memórias relativas à vida da mulher espanhola do século XVI.

 

Preocupações gerais sobre regressão hipnótica

É bem sabido que a hipnose não fornece acesso garantido ou confiável à verdade. Muitos relatos de vidas passadas obtidos dessa maneira foram atribuídos à ficção publicada. Sujeitos hipnotizados podem embelezar criativamente o material que esqueceram e que a hipnose ajuda a recuperar, e pode ser necessária uma pesquisa considerável para demonstrar que nada paranormal estava acontecendo[3].

Além disso, como um grande corpo de pesquisa documentou em detalhes, é claro que a hipnose muitas vezes libera a criatividade e a imaginação latentes de uma pessoa[4]. Por exemplo, sob a influência de hipnotizadores de palco, bons sujeitos hipnóticos fazem coisas que nunca fizeram antes, como dançar o tango, imitar com precisão seu chefe ou animais de fazenda, comportar-se de maneira abertamente sedutora e, mais geralmente, exibir cenas dramáticas e criativas, habilidades que de outra forma poderiam ser inibidas demais para expressar[5]. De fato, sabe-se pelo menos desde a época de Mesmer que a hipnose em particular e a dissociação geralmente são estados psi-condutores[6]. Um corpo substancial de evidências indica que sujeitos ostensivamente regredidos não regridem, mas, em vez disso, recorrem a capacidades criativas presumivelmente latentes para simular a regressão[7].

No entanto, também não devemos ser cegamente céticos em relação às regressões hipnóticas. Como ilustra o seguinte caso notável de reencarnação ostensiva, a hipnose pode levar a comportamentos e demonstrações de conhecimento proposicional que aparentemente não podem ser explicados em termos de capacidades latentes. Algum tipo de hipótese psi parece obrigatória, mesmo que seja postulada além de um apelo à criatividade latente – ou em outras palavras, alguma combinação de criatividade latente e psi de sobrevivência ou psi de agente vivo. O caso Antonia é excepcionalmente rico em detalhes intrigantes e não pode ser avaliado sem considerar esses detalhes cuidadosamente.

 

Laurel Dilmen/Linda Tarazi

O nome do sujeito é Laurel Dilmen, e sua vida anterior relatada foi investigada pela psicoterapeuta Linda Tarazi[8]. Laurel nasceu e foi criada na área de Chicago durante a Depressão, e viveu naquela vizinhança toda a sua vida. Depois de frequentar escolas públicas, ela se formou na North Western University com uma licenciatura em educação. Sua ascendência é alemã e sua formação religiosa é luterana, embora aos vinte anos tenha se tornado metodista. Laurel embarcou em sua carreira de professora depois de alguns anos no show business e, na época do relatório de Tarazi, ela era casada e tinha dois filhos.

Em meados da década de 1970, Laurel investigou a hipnose para controlar o peso e as dores de cabeça. Ela se juntou a alguns grupos de hipnose amador, aos quais Tarazi também se juntou, e eventualmente eles e alguns outros membros começaram a explorar regressões a vidas passadas. Durante a primeira rodada de sessões hipnóticas de Laurel, ela relatou vidas anteriores de vários períodos históricos e localizações geográficas. Mas o que mais a interessou, e ao qual ela sempre voltava, era o de uma espanhola do século XVI chamada Antônia. Durante oito sessões realizadas entre junho de 1977 e janeiro de 1978, Laurel deu muitas informações sobre a vida de Antonia. Três anos depois, entre junho de 1981 e março de 1983, Tarazi realizou mais trinta e seis sessões, que ela gravou e transcreveu.

Como a história de Antonia era uma aventura romântica carregada de erotismo, Tarazi inicialmente acreditava que a regressão de Laurel era uma fantasia, enraizada na criptomnésia e nas características de demanda do experimento hipnótico. E, de fato, Tarazi a princípio encontrou a maioria dos fatos fornecidos por Laurel consultando livros de história e enciclopédias, "embora com dificuldade"[9]. Mas Laurel também mencionou nomes e eventos que Tarazi não conseguiu rastrear na época e, à medida que sua investigação progredia, ela descobriu que Laurel estava fornecendo uma quantidade surpreendente de informações detalhadas e excepcionalmente obscuras sobre o período e local apropriados da suposta vida de Antonia. Ocasionalmente, essa informação até conflitava com fontes autorizadas, mas Tarazi mais tarde confirmou as alegações de Antonia ao rastrear diligentemente fontes ainda mais obscuras e confiáveis. Curiosamente, ela nunca conseguiu encontrar evidências de uma pessoa que combinasse com a descrição de Antonia e a suposta história. No entanto, se a história de Antonia for verdadeira, esse fato não seria especialmente notável.

 

'Antonia'

E essa história certamente parece o material de um romance. De fato, em 1997 Tarazi publicou a história de Antonia como uma narrativa em primeira pessoa de 650 páginas[10]. Segundo 'Antonia', seu nome completo era Antonia Michaela Maria Ruiz de Prado, e ela nasceu em 15 de novembro de 1555, na ilha de Hispaniola, filha de um oficial espanhol e sua esposa alemã. Após a morte de sua mãe em 1569, Antonia foi criada na Alemanha por seu tio Karl, um ex-padre que deixou o clero para se casar. Quando Antonia chegou, ele era professor universitário e viúvo, e transmitiu com sucesso à sobrinha seu amor pelo aprendizado e sua independência de pensamento. Em 1580, Karl e Antonia se mudaram para Oxford e, embora Karl já tivesse abandonado o catolicismo, ele nunca impôs suas opiniões a Antonia, que permaneceu uma católica devota.

Após a morte de Karl, Antonia foi para a Espanha para se juntar ao pai (Antonio) na pousada que ele agora possuía e administrava em Cuenca. Mas quando ela chegou lá em maio de 1584, ela soube que seu pai havia morrido dez dias antes e que a pousada estava seriamente endividada. Apesar de sua dor, Antonia trabalhou duro para se integrar à comunidade e fazer da pousada um sucesso.

Antonia não sabia que a Inquisição a observava atentamente durante esse período. De fato, como seu pai era amigo íntimo do inquisidor Arganda, a Inquisição sabia muito sobre Antonia desde o momento em que ela chegou à Espanha. O moribundo António temia que a filha não se saísse bem sozinha, e Arganda prometeu cuidar dela como se fosse sua própria filha, pelo menos enquanto não entrasse em conflito com os seus deveres de inquisidor. Como último (mas talvez imprudente) gesto de confiança, António entregou as cartas da filha a Arganda. Essa detalhou as heresias do tio Karl e a tradição de pensamento livre a que Antonia fora exposta. Mas Antonio também sabia que as cartas documentavam o catolicismo leal de sua filha.

Arganda e seu colega inquisidor ficaram, de fato, impressionados com a piedade e lealdade de Antônia para com a Espanha. Eles também ficaram impressionados com sua beleza sensual. Mas eles continuaram desconfiados de seu passado, de seu fracasso em confessar voluntariamente à Inquisição (Antonia não sabia que isso era a lei) e de suas associações com indivíduos suspeitos. Assim, convocaram Antonia três vezes para um interrogatório tipicamente intenso, e uma vez a prenderam. Depois de vários meses na prisão e uma confissão completa, Antonia pagou uma multa pesada, executou outras penitências e acabou voltando aos seus negócios. Normalmente, uma prisão pela Inquisição teria desonrado Antonia e todos os seus descendentes. Mas por causa de seu relacionamento especial com um dos inquisidores (mais sobre isso depois) e um importante favor pessoal que ela prestou ao outro, um frasco de tinta derramado 'acidentalmente' obliterou seu fólio. Como resultado, os registros da Inquisição, de outra forma escrupulosamente detalhados, não contêm menção a Antonia.

Antonia perdeu a virgindade por volta dos vinte e nove anos, quando um homem a levou à força na câmara de tortura. O erotismo desse assalto despertou todas as suas paixões e revelou suas tendências masoquistas. Ela havia adorado secretamente este homem antes, e agora ela se apaixonou loucamente por ele e, eventualmente, deu-lhe um filho. O relacionamento deles evoluiu de autoindulgência luxuriosa para uma união física e espiritual profunda e consumista. (Esse aspecto romântico e erótico da vida de Antonia era diferente de qualquer coisa relatada durante as outras regressões de vidas passadas de Laurel). Juntos, eles viajaram muito e desfrutaram de muitas aventuras, incluindo encontros com satanistas e piratas, e culminando em uma visita ao Peru, onde Antonia conheceu seu tio até então desconhecido, o inquisidor Juan Ruiz de Prado. Em sua viagem de volta, Antonia se afogou perto de uma pequena ilha do Caribe.

 

Investigação

Claro, Tarazi se perguntou se a história de Antonia era verdadeira. Ela afirmou que a narrativa de Antonia está correta para várias centenas de fatos históricos mencionados nas quarenta e quatro sessões hipnóticas. Muitos dos fatos e figuras históricas provavelmente são conhecidos por qualquer pessoa bem lida – por exemplo, a existência de uma Inquisição Espanhola e Armada Espanhola, e os monarcas Rainha Elizabeth e Mary Queen of Scots. Além disso, Tarazi estimou que cinquenta ou sessenta detalhes da história espanhola, inglesa ou holandesa eram relativamente fáceis de encontrar em livros e enciclopédias ₋ por exemplo, sobre Don Bernardino de Mendoza (embaixador espanhol na Inglaterra) ou o duque de Parma. No entanto, é difícil ver como alguém poderia relatar espontaneamente esses fatos, ou fornecê-los em resposta a perguntas diretas, sem uma educação substancial na história europeia do século XVI e uma memória muito boa.

Além do mais, outros 25 a 30 fatos altamente especializados foram localizados com muito maior dificuldade. Apesar de serem publicados em inglês, foi necessário consultar a Chicago Public Library, Newberry Library e várias bibliotecas universitárias (North Western, North Eastern, Loyola, DePaul, University of Illinois e University of Chicago) para verificar todas elas. Exemplos incluem: Data da primeira publicação do Edito de Fé na Ilha de Hispaniola; Leis espanholas que regem o transporte para as Índias; tipos de navios utilizados no Mediterrâneo e no Atlântico e detalhes sobre eles; datas e conteúdos dos índices espanhóis de livros proibidos e como eles diferem do índice romano; nomes de padres executados na Inglaterra em 1581 e 1582, e o método de execução; e informações sobre uma faculdade em Cuenca. Mais de uma dúzia de fatos não pareciam ter sido publicados em inglês, mas apenas em espanhol. Alguns só foram encontrados no Arquivo Municipal e outros nos Arquivos Diocesanos de Cuenca, Espanha[11].

Preocupada que a aparente obscuridade desses fatos refletisse apenas sua falta de experiência em história, Tarazi enviou um questionário a nove professores das seis maiores universidades da região de Chicago. Para cada um dos sessenta fatos alegados, pediu que classificassem a probabilidade de um não-historiador conseguir encontrar as informações reveladas por Antonia. Sete dos nove professores responderam, e as respostas confirmaram a suspeita de Tarazi de que Antonia estava de fato fornecendo informações extremamente secretas.

Parte do material sobre Cuenca é especialmente interessante. Em dois dos itens do questionário, Laurel contradisse as autoridades espanholas e, em ambos os casos, a pesquisa mostrou que ela estava correta. A descrição de Antonia do edifício que abrigava a Inquisição não correspondia à fornecida pelo Posto de Turismo do Governo em Cuenca. Mas Tarazi encontrou um obscuro livro espanhol sobre Cuenca, que mencionava que em dezembro de 1583 o Tribunal se mudou do endereço dado pelo Posto de Turismo para um antigo castelo com vista para a cidade. Esse evento ocorreu cinco meses antes de Antonia alegar chegar a Cuenca (em maio de 1584), e o castelo se encaixava muito bem na descrição de Antonia. Além disso, em uma visita de acompanhamento à Espanha em 1989, Tarazi encontrou informações adicionais nos Arquivos Episcopais que também correspondiam ao relato de Antonia.

A referência de Antonia a um colégio em Cuenca também foi controversa. Tanto Tarazi quanto os professores de história acharam que esse assunto seria fácil de verificar. Mas não foi. Tarazi não encontrou nenhuma faculdade em Cuenca, nem qualquer referência a uma em enciclopédias, história ou livros de viagem. Nem mesmo o arquivista do Arquivo Municipal de Cuenca afirmou ter ouvido falar de um colégio lá. Mas Antonia insistiu que alunos e professores da faculdade se reunissem regularmente em sua pousada. Então, por sugestão de um consultor da North Western University, Tarazi ligou para a Loyola University e foi informado de que, se houvesse uma faculdade em Cuenca, ela poderia ser mencionada em um antigo trabalho de sete volumes em espanhol[12]. No volume 2 (pp. 131, 595) dessa obra, Tarazi encontrou referências à fundação de um colégio em Cuenca em meados do século XVI. Ela afirma, plausivelmente, que "mesmo uma pessoa que lê espanhol provavelmente não lerá este tomo a menos que esteja envolvida em pesquisa histórica"[13].

Um desacordo semelhante dizia respeito à afirmação de Antonia de que Cuenca tinha apenas dois inquisidores. Isso conflitava com a opinião dos especialistas de Tarazi de que deveria haver três inquisidores e que a Inquisição sempre usava três. Mais uma vez, Antonia estava certa. Durante o período que Antonia afirmou viver em Cuenca, de 1584 a 1588, havia apenas os dois inquisidores que ela mencionou (Ximines de Reynoso e de Arganda). Antes disso, havia os três habituais.

Talvez a parte mais interessante da história de Antonia seja sua afirmação de que, por um tempo, ela se tornou amante de um dos inquisidores. Inicialmente, Antônia resistiu e tentou apelar para o senso de honra do Inquisidor como agente consciencioso da Igreja.

Como ela conta:

 Você pode honestamente acreditar que um pecado tão intencional e deliberado não alterará suas decisões como Inquisidor? Eu perguntei friamente. Ela suspirou: “Acho que de certa forma já aconteceu. Ao rever meus casos recentemente, notei que eles indicam uma visão muito mais branda da fornicação desde que decidi me entregar. Para mim, a liberalidade era tão impressionante que temi que pudesse levantar suspeitas no Suprema. Suponho que terei de voltar aos meus julgamentos mais severos”[14].

Os registros da Inquisição para Cuenca parecem confirmar isso. Durante o período em que Antônia afirmou ser o objeto de desejo do Inquisidor, houve um declínio acentuado no percentual de pessoas penitenciadas por fornicação. Presumivelmente, os presos por fornicação foram libertados por provas insuficientes ou receberam uma sentença suspensa. Os números são interessantes. Em 1582, 73% dos presos por fornicação foram punidos. Em 1583 era de 75%. Em 1584 (mas antes da chegada de Antonia): 60%; para os próximos cinco meses: 10%; para o final do ano (quando estava sob suspeita): 100%. Então, em 1585, quando Antonia trabalhava para os inquisidores e teve um caso com um deles, o número é de 11%. Em 1586 era de 35%, e em 1587 era de 50%.

Embora Tarazi não tenha encontrado nenhuma evidência de que Antonia tenha existido, devemos notar que ela nem mesmo procurou por certos registros. Tarazi argumentou que, se a história de Antonia for verdadeira, é altamente improvável que registros cruciais tenham sido feitos ou que tenham sobrevivido. Antonia alegou ter nascido em uma plantação isolada em Hispaniola e batizada em uma pequena igreja local cujo nome ela não conseguia lembrar. Também é improvável que haja registros de seu casamento com um padre não oficial na casa de seu marido, ou de sua morte por afogamento em uma ilha caribenha sem nome.

Tarazi foi adequadamente cauteloso sobre não haver menção de Antonia nos registros da Inquisição meticulosos e precisos. Ela observou que a explicação de Antonia para isso, embora plausível, parece suspeitosamente conveniente. Ela escreveu:

Quando verifiquei os registros da Inquisição, não encontrei nenhum número faltando onde seu fólio deveria caber e perguntei a ela sobre isso. Ela disse que os inquisidores provavelmente previram a conveniência de eliminar seu arquivo e provavelmente deram a ele um número idêntico a outro, mas com um 'A' depois, para que não houvesse lacuna no registro. Uma verificação mostrou que essa prática era de fato às vezes seguida, embora provavelmente não geralmente por esse motivo[15].

 

Criptomnésia

Alan Gauld expressou suspeitas razoáveis ​​sobre o valor probatório deste caso. Uma preocupação é a possibilidade de Laurel ter lido (e depois esquecido) um romance histórico obscuro rico em detalhes precisos do período. Certamente, há um precedente para essa preocupação; há evidências consideráveis ​​para esse tipo de criptomnésia ₋ por exemplo, o caso 'Blanche Poynings'[16]. Em vários outros casos, nomes obscuros e outros detalhes históricos dados por sujeitos de regressão, que pareciam evidências convincentes de vidas passadas genuínas, podiam ser atribuídos à ficção histórica. 

No entanto, a busca de Gauld por tal romance até agora não teve sucesso. Tarazi, da mesma forma, não encontrou nenhum livro com as informações relevantes. Por questões de espaço, não podemos rever todas as considerações que levaram Tarazi a descartar o que Braude chamou de Suspeitos Comuns (e Incomuns) como explicações para este caso[17]. De forma louvável, Tarazi parece sensível a sutilezas psicológicas relevantes, e ela parece ter investigado cuidadosamente os antecedentes de Laurel para determinar a probabilidade de fraude ou criptomnésia. Para ver por que ela exclui essas opções, os leitores são convidados a olhar atentamente para o relatório de Tarazi e examinar seu resumo detalhado da história de Laurel.

 

Agente Vivo Psi vs Sobrevivência

Não surpreendentemente, precisamos neste ponto considerar a viabilidade de uma explicação psi-agente vivo motivado, supondo que os Suspeitos Comuns e Incomuns tenham sido eliminados. E nesse sentido, o que importa particularmente é a falta de provas, não só da existência de Antonia, mas também de seu tio Karl. Felizmente, Alan Gauld se ofereceu para ajudar Stephen Braude a examinar o caso, e assim ele empreendeu uma busca caracteristicamente tenaz e cuidadosa por vestígios de Antonia e Karl na Inglaterra. Ele assumiu, razoavelmente, que tais vestígios existiriam dadas as afiliações acadêmicas de Karl e o suposto ativismo político de Antonia. Mas essa busca também não deu em nada. Talvez à luz do caso Patience Worth, devêssemos ser especialmente cautelosos ao tratar o caso Antonia como evidência de sobrevivência.

É certo que não é difícil imaginar por que Laurel (ou praticamente qualquer pessoa) pode ter sido motivada a ser obcecada por uma história de vida altamente romântica, aventureira e erótica. Mas, como Tarazi reconheceu, a psicodinâmica não dará conta, por si só, do material factual da história. Considerando a precisão, abundância e obscuridade dos detalhes, e suas fontes díspares e variadas, pode-se argumentar razoavelmente que uma explicação psi de agente vivo para este caso é menos parcimoniosa do que uma alternativa de sobrevivência.

Mais alguns detalhes merecem destaque. Para enfatizar a dificuldade de aprender as informações relevantes por meios normais, Tarazi escreve:

Mesmo algum material de bibliotecas americanas teria sido difícil para ela obter. Não só os livros eram antigos, raros, altamente especializados e em uma língua que Laurel Dilmen não lia, mas continham muitas citações do espanhol do século XVI que representam um problema para o falante nativo médio de espanhol e até mesmo para os professores de espanhol que entrei em contato. Nem havia apenas alguns desses livros; em vez disso, cerca de 30 cada um contribui com novos fatos[18].

Além disso, Tarazi observou que este caso foi impressionante desde o início, tanto na especificidade da informação quanto na forma como foi revelado. Enquanto as outras regressões de Laurel tinham uma qualidade nebulosa, "Antonia surgiu como uma mulher orgulhosa e independente que sabia exatamente quem, o quê e onde estava"[19].  O hipnotizador de Laurel para o primeiro conjunto de sessões era uma pessoa nascida, criada e educada na Holanda, com um bom domínio da história holandesa. Seu questionamento incisivo de Antonia levou a algumas revelações interessantes desde o início. Tarazi escreve,

A maioria das pessoas que conhecem a história holandesa do período diria, como muitos livros de história, que o governador da época era o duque de Parma. Questionada sobre isso, Antônia disse que era filho de Margarida de Parma, mas não do duque. Ela estava certa para aquela data. Alexander Farnese não conseguiu esse título até 1586[20].

Isso foi na primeira sessão de Laurel. Também nessa sessão ela exibiu algum conhecimento de algumas batalhas em que seu pai teria participado em 1567-1569, sob Don Fernando de Toledo que, segundo ela, era então o governador espanhol. O hipnotizador disse-lhe que ela estava errada: o duque de Alva era então governador. Ela respondeu: 'Claro. Esse é o título dele. Eu dei o nome dele'. O título é muito mais conhecido. Até mesmo alguns livros de história deixam de dar seu nome. Foi a extrema precisão dos numerosos detalhes que afetaram a "vida" de Antonia, juntamente com a relativa ignorância de eventos contemporâneos não relacionados a ela, que apresentou um contraste tão intrigante desde a primeira sessão[21].

A troca anterior é interessante por outro motivo. Ele ilustra por que Tarazi descartou explicações em termos de conformidade hipnótica familiar e demanda características da regressão. Laurel claramente resistiu à pressão aberta de seus interlocutores, nesta e em outras ocasiões, para dar as respostas que eles encorajavam ou acreditavam ser corretas. Na verdade, Tarazi concordou em aceitar Laurel como cliente porque queria ajudá-la a se libertar de sua preocupação com Antonia, que a levou a negligenciar outras pessoas e atividades em sua vida atual. Tarazi esperava convencer Laurel de que essa vida passada era pura fantasia e que o amor supostamente experimentado por Antonia era apenas coisa de ficção e sonhos. Seu plano, pelo menos inicialmente, era confrontar Laurel com erros em sua descrição dos fatos.

Algumas das emoções de Laurel (ou Antonia) durante suas regressões também são dignas de nota. Eles tendem a fortalecer a convicção de que suas respostas não eram artefatos de sugestão e obediência hipnótica. Por exemplo, quando viu o edifício incorretamente identificado pelas autoridades espanholas como o edifício do tribunal da Inquisição, ela ficou atordoada. Todos os presentes observaram sua dramática mudança de humor, de ansiosa antecipação a uma profunda depressão. Nunca lhe ocorreu questionar as autoridades. Com resignação silenciosa, ela disse que toda a sua história deve ter sido imaginação[22].

Mais tarde, Tarazi encontrou o obscuro livro espanhol contendo as informações corretas, na Biblioteca Newberry. Laurel afirmou nunca ter visitado Newberry e, além disso, a biblioteca de lá não circula livros e mantém um registro de todos os visitantes.

Eventualmente, Tarazi usou a hipnose para ajudar seu cliente a deixar de lado a história de Antonia. Ela pediu a Laurel, sob hipnose, que vivesse a parte inacabada da vida de Antonia, dizendo-lhe que o filho de Antonia não havia morrido e que Antonia havia sido resgatada de seu quase afogamento. Tarazi sugeriu, ainda, que Antonia e seu amante voltassem para a Espanha e vivessem uma vida saudável lá. Laurel acatou as sugestões e a estratégia terapêutica de Tarazi parece ter funcionado. Laurel finalmente perdeu o desejo de ter mais regressões e renovou o interesse em sua própria vida. Mas o que é digno de nota é que sua história recém-fantasiada era de uma qualidade totalmente diferente da original. 'Nenhum fato novo pode ser produzido. Não ocorreram mais aventuras... A maioria das descrições era muito menos vívida e carecia da emoção da narração original'[23].

Curiosamente, talvez, haja pouca evidência de xenoglossia neste caso. Tarazi disse que Antonia não falava espanhol espontaneamente, e apenas um pouco de espanhol e latim responsivamente. Lamentavelmente, Tarazi não forneceu detalhes dos poucos exemplos aparentes de xenoglossia responsiva. Mas ela observou que as pessoas que falavam espanhol nas sessões afirmaram que Antonia pronunciava palavras e nomes em espanhol muito bem. Além disso, Antonia 'recitava as orações exigidas pela Inquisição em latim, referindo-se a métodos especiais de fazer o sinal da cruz, o signo e o santiguado , desconhecidos da maioria dos padres de língua espanhola hoje, e compôs palavras e música para uma canção em latim'[24]. No mínimo, não é isso que se esperaria de uma pessoa de ascendência alemã e uma formação religiosa luterana ou metodista.

 

Conclusão

Apesar das preocupações razoáveis ​​sobre a falta de confiabilidade e o potencial criativo das aparentes regressões a vidas passadas, o caso Antonia pelo menos apresenta problemas para os céticos quanto à sobrevivência. Pode não excluir de forma conclusiva os apelos ao agente psi vivo, mas chega tão perto quanto talvez qualquer outro caso na literatura de sobrevivência de estender a alternativa psi do agente vivo ao ponto de ruptura.

 

Literatura

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§  Orne, M.T. (1972). On the Simulating Subject as a Quasi-control Group in Hypnosis Research: What, Why, and How. In E. Fromm & R.E. Shor (Eds.), Hypnosis: Developments in Research and New Perspectives (pp. 399–443). Chicago: Aldine-Atherton.

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§  Tarazi, L. (1997). Under the Inquisition: An Experience Relived. Charlottesville, VA: Hampton Roads.

§  Venn, J. (1986). Hypnosis and the Reincarnation Hypothesis: A Critical Review and Intensive Case Study. Journal of the American Society for Psychical Research, 80: 409–425.



[1]Ver em https://www.spr.ac.uk/  - Publicações / Gravações / Webevents – Psy Encyclopedia.

[2] Criptomnésia – memória subliminar; tudo que passou pelos sentidos sem atingir a consciência, e todos os fatos que, conscientes em determinado momento, foram depois olvidados; revivescência da memória em estado de sono.

[3] Ver Venn, 1986 para um bom exemplo.

[4] Ver, por exemplo, O'Connell, Shor, & Orne, 1970; Orne, 1951; Spiegel & Spiegel, 1978.

[5] O psiquiatra de Stanford David Spiegel filmou um sujeito que, sob hipnose, começou a falar como um típico canal ou médium contemporâneo. Sua aparente mediunidade de transe carecia da fluência dos canais experientes da Nova Era, mas, no entanto, ele adotou novos padrões de fala, tom de voz e a linguagem corporal desajeitada presumivelmente apropriada para quem se encontra em um corpo estranho e em um ambiente inesperado. Tanto quanto pode ser determinado, esse sujeito não havia demonstrado anteriormente a capacidade de produzir representações dramáticas espontaneamente consistentes. É razoável pensar que a hipnose o capacitou a realizar o que seus medos e inibições normais poderiam ter impedido.

[6] Para uma pesquisa soberba, ver Gauld, 1992.

[7] Em um caso relatado por Spiegel e Spiegel (1978), um homem de 25 anos de idade, que aprendeu inglês somente depois de emigrar da Áustria aos 13 anos, quando regrediu para qualquer idade menor de 13 anos, aparentemente não sabia falar inglês e exigiu que o hipnotizador comunicar através de um intérprete de língua alemã. No entanto, o sujeito ainda foi capaz de responder corretamente a algumas instruções dadas em inglês. Para outros casos relevantes, ver Orne (1951 e 1972).

[8] Tarazi, 1990.

[9] Tarazi, 1990, p. 311.

[10] Tarazi, 1997.

[11] Tarazi, 1990, pp. 316-17.

[12] Astra, 1912.

[13] Tarazi, 1990, p. 321.

[14] Tarazi, 1990, p. 339.

[15] Tarazi, 1990, p. 323.

[16] Dickinson, 1911; ver também Kampman, 1976; Kampman & Hirvenoja, 1976.

[17] Braude, 2003.

[18] Tarazi, 1990, p. 329.

[19] Tarazi, 1990, p. 320.

[20] Ibid.

[21] Ibid.

[22] Tarazi, 1990, p. 329.

[23] Tarazi, 1990, p. 328.

[24] Tarazi, 1990, p. 323.