segunda-feira, 30 de outubro de 2017

HERNÂNI GUIMARÃES ANDRADA[1]



Y. Shimizu e S. Hashizume


Embora nascido em Araguari, Estado de Minas Gerais, em 31 de maio de 1913, cedo se radicou na capital paulistana, onde se graduou em engenharia na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. Pouco depois de formado, tornou-se engenheiro da Usina de Volta Redonda. Retornando à metrópole paulistana, ingressou no Departamento de Águas e Energia Elétrica do Estado de São Paulo, no qual fez carreira profissional até se aposentar compulsoriamente aos 70 anos de idade como Diretor Setorial desse organismo, em 31 de maio de 1983.
Casado com D. Cyomara de G. Andrade teve quatro filhos, três engenheiros e uma psicóloga, foi um pai prestimoso e esposo exemplar, e quem frequentou o seu domicílio sempre testemunhou aquela imensa capacidade de compreensão e de diálogo, não apenas com os familiares, mas também com os amigos e companheiros de Doutrina.
Tornou-se espírita aos 16 anos de idade, atraído pela racionalidade e pela coerência dos postulados kardecistas. Após estudar exaustivamente as obras clássicas da Doutrina (Delanne, Denis, Bozzano, Flammarion, Crookes, Aksakoff, Richet, Crawford, Lombroso, de Rochas e tantos outros) examinou os experimentos e teorias dos metapsiquistas e dos parapsicólogos na busca da realidade e da essencialidade do espírito.
Possuía conhecimentos aprofundados de Física e de diversos aspectos das Ciências Biológicas, da Cosmologia, da Estatística e da Psicologia. Tinha apreciável domínio de várias disciplinas filosóficas, principalmente aquelas mais relacionadas com a Ciência (Lógica, Epistemologia, Metodologia da Pesquisa e Gnosiologia).
Era um motivador e emulador de jovens que se iniciavam no estudo do aspecto científico do Espiritismo. O signatário conheceu-o em 1956 e, desde essa época, cultivou sua amizade, carinho e orientação até os derradeiros dias de sua existência terrena. Foi, para muitos, um autêntico mentor encarnado. Nessa tarefa ministrou cursos, seminários e palestras, orientou leituras, montagem de laboratório e roteiros de experiências, incentivou a leitura de artigos em periódicos e livros.
Sua modéstia, integridade moral, austeridade intelectual, prudência e sabedoria e, principalmente, sua generosidade era incomparável. Cada visita em sua residência ou em sua instituição era um momento de intensa aprendizagem e de atualização no que tange às investigações dos fatos paranormais levados a efeito no País e no mundo, porquanto mantinha correspondência assídua com dezenas de instituições e cientistas.
Quantos autores de ensaios e livros se beneficiaram dos textos de sua autoria ou de traduções de pesquisadores estrangeiros, inclusive o signatário, para redigir seus artigos e até capítulos inteiros de livros.
Com o objetivo de evitar o preconceito existente nos meios da ciência acadêmica em relação ao Espiritismo, deu o nome de Psicobiofísica, à disciplina científica cujo objeto é o estudo dos fenômenos psíquicos, biológicos e físicos em todas as suas manifestações, com ênfase nas de caráter paranormal.
Segundo Hernani, a Psicobiofísica parte dos seguintes princípios, cuja realidade é sobejamente apoiada pelas evidências observacionais e experimentais:
1.      A existência do Espírito como realidade positiva e demonstrável, ainda que não aceita pelo establishment científico oficial;
2.      A existência dos fenômenos paranormais;
3.      A classificação desses fenômenos segundo as categorias psíquica, biológica e física e a tentativa de explicá-los e a descoberta de suas leis;
4.      Ao contrário da moderna Parapsicologia, aceita, a priori, a existência, a sobrevivência do Espírito e a reencarnação, e admite a interação entre as matérias física e espiritual.
Fundou, em 13 de dezembro de 1963, juntamente com outros estudiosos do aspecto científico da Doutrina, o IBPP – Instituto Brasileiro de Pesquisas Psicobiofísicas, com sede em São Paulo, do qual o signatário integrou o Conselho Superior em sua primeira gestão.
Durante muitos anos efetuou investigações sobre o fenômeno “psi”, segundo os cânones adotados pelo norte-americano J. B. Rhine. Sobre reencarnação pelo método criado por Hemendra Nath Banerjee e Ian Stevenson, sobre Poltergeist pelo processo por ele criado, sobre Transcomunicação Instrumental (TCI) segundo os paradigmas adotados pelos estudiosos europeus. Foi o primeiro brasileiro a projetar e construir uma câmara de Kirlian para estudos da aura humana.
Há cerca de quarenta anos, Hernani Guimarães Andrade encetou a pesquisa do hipotético campo de forças que, supostamente, estaria implicado na ligação entre o Espírito (como substância) e a matéria, no fenômeno da vida.  A abordagem desse enigmático tema iniciou-se de forma teórica com a publicação de dois livros: “A Teoria Corpuscular do Espírito” e “Novos Rumos à Experimentação Espirítica”.
A seguir, em outubro de 1961, Andrade encetou a construção do primeiro aparelho destinado a verificar o acerto ou a falácia de sua teoria, teoria esta que possuía os seus próprios recursos para contradizê-la ou aprová-la por meios experimentais. Hernani procurou equipar-se para a tarefa. Montou uma oficina mecânica na garagem da casa em que residia. Devido à sua natural inexperiência, começou pelo caminho mais dispendioso e difícil. Procurou construir um aparelho acionado a eletricidade cuja elaboração tornou-se mais complicada e dispendiosa. O aparelho denominado Tensionador Espacial Electromagnético (TEEM) começou a ser fabricado por ele e seus três filhos, no dia 01 de outubro de 1961. Em 23 de outubro de 1966, o TEEM estava concluído e pronto para os primeiros testes de funcionamento e ajustagens eletromecânicas.
Diz Andrade, “reconhecemos que a nossa proposta poderá parecer excessivamente otimista ou mesmo ingênua. Especialmente porque ela envolve um postulado ainda negado pela Ciência oficial: a existência do Espírito”.
Dois anos antes de seu desencarne, Andrade já passou a outros grupos o seu know-how. Agora resta aguardar os resultados e o que a criatividade desses grupos irá produzir daqui para frente.
Foi um incansável divulgador dos estudos, teorias e pesquisas levadas a efeito no País e no exterior em livros e em periódicos. Manteve durante vinte e sete anos a página “Espiritismo-Ciência” no jornal Folha Espírita. Colaborou com numerosos artigos para outros periódicos como: No Mundo Maior, Obreiros do Bem, Revista Internacional de Espiritismo, Revista de Espiritismo, Planeta e Visão Espírita. Apresentou comunicações em Congressos de âmbito nacional e internacional, com textos inseridos em anais e “proceedings”. Participou de diversas antologias e coletâneas de ensaios. Contou, em todo esse labor, com a inestimável colaboração da professora Suzuko Hashizume, durante trinta e sete anos.
Coordenou e supervisionou a tradução da obra Vinte Casos Sugestivos de Reencarnação, (1970), de Ian Stevenson, dos fascículos sobre Parapsicologia, elaborados por Elsie Dubugras, e do fascículo sobre “Efeito Kirlian” publicado pela Editora Três e prestou assessoria científica na elaboração do Dicionário de Parapsicologia, Metapsíquica e Espiritismo, de autoria de João Teixeira de Paula. Seu nome aparece como verbetes na Enciclopédia da Vida Após a Morte de autoria de James Lewis, e seus trabalhos constituem a terceira parte (mais de cem páginas) dos livros Flying Cow e Indefinity Boundary do pesquisador inglês Guy Lyon Playfair (o primeiro traduzido para o vernáculo e publicado pela Editora Record sob o título A Força Desconhecida). Em 2011 Guy Lyon Playfair publicou em Londres, uma coletânea de pesquisas realizadas por Hernani com o título: Science & Spirit, pela Editora Roundtable Publishing House Limited.  Por esta mesma editora a Sra. Elsa Rossi traduziu e publicou em Londres, em 2010 a edição inglesa de Renasceu por Amor com o título Reborn for Love. Em 2010, por iniciativa da Sra. Fernanda Marinho Göbel, residente na Alemanha também foi publicada a edição alemã deste mesmo livro Renasceu por Amor.
Deixou as seguintes obras: A Teoria Corpuscular do Espírito (1958) ed. autor; Novos Rumos à Experimentação Espirítica (1960) ed. autor; Parapsicologia Experimental (1967) ed. Calvário, SP; Caso Ruytemberg Rocha (1971), ed. autor; A Matéria Psi (1972), ed. O Clarim; Morte, Renascimento, Evolução (1983), ed. Pensamento; Espírito, Perispírito e Alma (1984), ed. Pensamento; Psi Quântico (1986) ed. Pensamento; Reencarnação no Brasil (1988) ed. O Clarim; Poltergeist (1989) ed. Pensamento; Transcomunicação Instrumental (1992) ed. Folha Espírita; Renasceu por Amor (um caso que sugere reencarnação) (1995), ed.. Folha Espírita; Transcomunicação Através dos Tempos (1997), ed. Folha Espírita; Morte, uma Luz no Fim do Túnel (1999) ed. Folha Espírita; Parapsicologia – Uma Visão Panorâmica (2002), ed. Folha Espírita; Você e a Reencarnação (2003), ed. CEAC, A Mente Move a Matéria (2004 publicada após seu desencarne pela Editora Folha Espírita) e Você, o Poltergeist e os Locais  Mal-Assombrados (publicada pela Casa Editora Espírita Pierre-Paul Didier, de Votuporanga, SP, em outubro de 2006, também após sua morte).
Desencarnou no dia 25 de abril de 2003, em Bauru, Estado de São Paulo, pouco mais de um mês antes do seu nonagésimo aniversário, Hernani Guimarães Andrade, um dos mais conceituados pesquisadores brasileiros do fenômeno paranormal, de renome internacional.




sábado, 28 de outubro de 2017

A DOR DO ABANDONO[1]



Redação do Momento Espírita


Era uma manhã de sol quente e céu azul quando o humilde caixão, contendo um corpo sem vida, foi baixado à sepultura.
De quem se trata? Quase ninguém sabe.
Muita gente acompanhando o féretro? Não. Apenas umas poucas pessoas.
Ninguém chora. Ninguém sentirá a falta dela. Ninguém para dizer adeus ou até breve.
Logo depois que o corpo desocupou o quarto singelo do asilo, onde aquela mulher havia passado boa parte da sua vida, a moça responsável pela limpeza encontrou em uma gaveta ao lado da cama, algumas anotações.
Eram anotações sobre a dor...
Sobre a dor que alguém sentiu por ter sido abandonada pela família num lar para idosos...
Talvez o sofrimento fosse muito maior, mas as palavras só permitem extravasar uma parte desse sentimento, grafado em algumas frases:
Onde andarão meus filhos?
Aquelas crianças ridentes que embalei em meu colo, alimentei com meu leite, cuidei com tanto desvelo, onde estarão?
Estarão tão ocupadas, talvez, que não possam me visitar, ao menos para dizer “Olá, mamãe”?
Ah! Se eles soubessem como é triste sentir a dor do abandono... A mais deprimente solidão...
Se ao menos eu pudesse andar... Mas dependo das mãos generosas dessas moças que me levam todos os dias para tomar sol no jardim... Jardim que já conheço como a palma da minha mão.
Os anos passam e meus filhos não entram por aquela porta, de braços abertos, para me envolver com carinho...
Os dias passam... E com eles a esperança se vai...
No começo, a esperança me alimentava, ou eu a alimentava, não sei...
Mas, agora... Como esquecer que fui esquecida?
Como engolir esse nó que teima em ficar em minha garganta, dia após dia?
Todas as lágrimas que chorei não foram suficientes para desfazê-lo.
Sinto que o crepúsculo desta existência se aproxima...
Queria saber dos meus filhos...
Dos meus netos...
Será que ao menos se lembram de mim?
A esperança, agora, parece estar atrelada aos minutos... Que a arrastam sem misericórdia... Para longe de mim.
Às vezes, em meus sonhos, vejo um lindo jardim...
É um jardim diferente, que transcende os muros deste albergue e se abre em caminhos floridos que levam a outra realidade, onde braços afetuosos me esperam com amor e alegria...
Mas, quando eu acordo, é a minha realidade que eu vejo... Que eu vivo... Que eu sinto...
Um dia alguém disse que a vida não se acaba num túmulo escuro e silencioso. E Esse Alguém voltou para provar isso, mesmo depois de ter sido crucificado e sepultado...
E essa é a única esperança que me resta...
Sinto que a minha hora está chegando...
Depois que eu partir, gostaria que alguém encontrasse essas minhas anotações e as divulgasse.
E que elas pudessem tocar os corações dos filhos que internam seus pais em asilos, e jamais os visitam...
Que eles possam saber um pouco sobre a dor de alguém que sente o que é ser abandonado...
 
A data assinalada ao final da última anotação, era a data em que aquela mãe, esquecida e só, partiu para outra realidade.
Talvez tenha seguido para aquele jardim dos seus sonhos, onde jovens afetuosos e gentis a conduzem pelos caminhos floridos, como filhos dedicados, diferentes daqueles que um dia ela embalou nos braços, enquanto estava na Terra.




sexta-feira, 27 de outubro de 2017

Sofrimento[1]


 Cairbar Schutel


Sofrimento é, em tese, um estado de espírito desequilibrado que envolve o encarnado em determinadas fases de sua jornada, resultante da inadaptação ou rebeldia diante dos obstáculos de quaisquer espécies que lhe surjam à frente.
Os obstáculos são as provas ou as expiações pelas quais todo ser humano deve passar, pois fatores necessários ao progresso do ser.
O sofrimento pode gerar inúmeros sentimentos e estados de espírito secundários negativos.
Não há frutos positivos da rebeldia diante do sofrimento.
Em verdade, termina por significar inaceitabilidade do homem aos Desígnios Divinos, pois nada acontece por acaso e tudo que envolve o encarnado, numa visão positiva ou negativa, tem uma razão plenamente justificada e absolutamente justa, pois Deus não falha.
Revoltar-se é um ato de irresignação, porque o indivíduo recusa-se a seguir, como todos devem fazer, as Leis Divinas, que determinam não haver progresso sem luta e perseverança. Consequentemente, não há evolução sem o vencimento de provas e a ultrapassagem resignada das expiações.
Pode tratar-se de um estado de espírito desequilibrado, fruto da inconstância e do desajuste — condições suficientes para determinar o surgimento de outros males de variada ordem. A título de exemplo, o sofrimento, nesse caso, pode trazer angústia, tristeza, amargura, dores físicas e psíquicas, emotividade exacerbada, sensibilidade extrema, ira e, sobretudo, ódio.
O sofrimento moral é capaz, nessas circunstâncias, de gerar doenças no corpo físico porque provoca desajustes no sistema imunológico, em grande parte controlado pelo psíquico, que é dirigido pelo espírito.
Pode causar também doenças mentais e psicológicas, visto abalar o sistema nervoso.
Sofrer por sofrer não traz vantagem alguma, somente problemas.
Deixar de revoltar-se diante do inevitável é mostra de evolução, pois representa aceitação plena da Vontade de Deus.
No campo da reforma íntima, o mais indicado para amenizar e afastar o sofrimento é compreender a lei da reencarnação, acatando-a como justa e verdadeira.
Sabendo que, para ser autêntica e definitivamente feliz, o Espírito deve passar por vários estágios, vale dizer, por inúmeras reencarnações e que cada uma delas lhe proporciona oportunidade ímpar de progresso espiritual, o encarnado pode, aos poucos, em primeiro lugar, tranquilizar o seu âmago, aceitando as provas que lhe surgem à frente.
Outro passo fundamental para extirpar ou diminuir o sofrimento é a pessoa aprender a manipular positivamente os próprios sentimentos, racionalizando-os e impedindo que as emoções dominem a sua razão.
O terceiro estágio é praticar a via inversa dos sentimentos negativos, que são frutos do sofrimento ou seus geradores, exercitando os positivos, derivados do amor. Quanto mais o encarnado consegue colocá-los em ação, menos sofre.
Atitudes de reclamação passiva merecem ser evitadas. Ao invés de questionar a falta de determinado bem, por que não lutar para obtê-lo? É preferível sair em busca da felicidade do que se queixar de que é infeliz.
Por mais simples que possa parecer, muitos ainda não meditaram suficientemente no que lhes significa viver em função de situações e acontecimentos do passado. O melhor a fazer, especialmente no que tange aos fatos que consideram negativos da vida, é deixá-los no pretérito, tal como a lei universal da evolução determina ao impulsionar o ser humano para o futuro.
Viver consciente e determinado no presente, bem como esperançoso no tocante ao futuro, supera as possíveis raízes negativas do passado e coloca o encarnado longe do desespero.
Lembrar que o eventual sofrimento de hoje, amanhã será passado e, portanto, facilmente superável.
Não projetar o sofrimento presente para o futuro (como se fosse um mal eterno, que inexiste) afasta a possibilidade de prejudicar a esperança.
Usar as linhas do passado como lição e aprendizado dos erros cometidos, para evitá-los no presente e no futuro, é sabedoria, mas servir-se delas para trazer desacertos representa imaturidade.
Uma das razões invocadas pelo homem para justificar seu sofrimento é a falta ou insuficiência de bens materiais. É preciso notar que muito desse sofrimento em realidade é originário do materialismo, outro mal que assola o plano físico.
A perda de entes queridos, entendendo-se como tal o regresso desses seres à pátria espiritual, é motivo de sofrimento para muitos. Ainda que seja compreensível tal situação diante do atual estágio evolutivo da humanidade, torna-se necessário frisar que a volta ao mundo da verdadeira vida é motivo de alegria, de trajetória cumprida e, portanto, de etapa vencida. Permanecer no plano material é fase de provas e sede de obstáculos e lutas. Retornar pelos caminhos normais é sinal de finalização de uma jornada e, portanto, mostra de esperança num futuro melhor.
Por pior que seja a passagem do Espírito pela vida material, inexiste o retrocesso na escala evolutiva, pois o progresso o aguarda.
Fonte de sofrimento é a autopunição: aquele que, para condenar um gesto próprio, impõe-se o desequilíbrio espiritual, cultiva sentimentos negativos. Ainda que alguns entendam que ele é abnegado sofredor e, portanto, mártir do próprio rigorismo, não há mérito em usurpar uma função que é exclusiva de Deus. Do mesmo modo que não lhe cabe julgar o próximo, inexiste, como valor cristão, a autoanalise como forma de infligir um castigo a si mesmo. Autocrítica deve ser usada para o lado positivo, com a melhora dos sentimentos, jamais para a aplicação de uma pretensa pena, em verdade fator de sofrimento ao espírito.
Por isso é censurável o suicídio. Não cabe ao homem eliminar a própria vida. Não é atribuição do encarnado julgar-se e, com isso, aplicar a si mesmo uma pena mortal, por pior que tenha sido alguma conduta sua.
Por outro, se o suicídio é praticado não como forma de autopunição, mas para evitar sofrimento, é outro malogro que o ser humano comete. Por dois fatores essenciais: primeiro, porque o sofrimento é somente uma incompreensão da realidade, logo, superável e, segundo, porque, extinta a vida material, continuará a espiritual, aumentando-lhe a expiação e, consequentemente, o sofrimento.
Ninguém se afasta do sofrimento pela fuga da realidade, mas fundamentalmente pelo esclarecimento alcançado através da fé raciocinada, ladeada pela racionalização dos sentimentos.



[1] Fundamentos da Reforma Íntima – Cairbar Schutel / Abel Glaser

quinta-feira, 26 de outubro de 2017

DIÁLOGO E ESTUDO[1]


 
Irmão X
 

Teodomiro Ferreira e Cássio Teles saíam do templo espírita de que se haviam feito assíduos frequentadores e o diálogo entre ambos rolava, curioso. Teles, agarrado aos conceitos de ciência pura; Ferreira, atento aos ideais religiosos.
‒ Então, meu velho – considerava o primeiro ‒, não será tempo de largar os chavões da fé? Não entendo a atitude dos Espíritos amigos, repetindo exortações de ordem moral!
‒ Falam de Moisés, comentam Isaías, lembram Amós, entram pelo Novo Testamento e a história não acaba mais...
Ferreira lembrava, conciliador:
‒ É forçoso, porém, que você pondere quanto às exigências da alma. Que será da Terra se o coração não se elevar ao nível do cérebro?
‒ Não penso assim. Creio que a ciência, só por ai, clareará os caminhos da Humanidade.
‒ Sim, respeitemos a ciência. Desconsiderá-la seria loucura, mas é justo convir que não se lhe pode pedir intervenções no sentimento...
‒ Velharias! Definam-se as coisas e o sentimento será corrigido. E, já que você encontra no sentimento a fonte de tudo...
‒ Cogitar de definições claras na vida é nosso dever; entretanto, a ciência na Terra explica os fenômenos, sem abordar as origens...
‒ Não concordo. Devemos à ciência tudo de grandioso e de exato que o mundo nos oferece.
‒ Até certo ponto, estou de acordo, mas os domínios científicos possuem os limites que lhe são próprios. Impossível desacatar a importância dos ensinamentos religiosos na sustentação da paz de espírito.
‒ Quem nos deu o automóvel e o avião?
‒ Claro que foi a ciência, mas isso não impede que o motor seja empregado para a condução de tanques e bombardeiros utilizados para destruir...
‒ A física nuclear? Quem nos propiciou essa maravilha, destinada a patrocinar os mais altos benefícios para as civilizações do futuro?
‒ Sei que isso é prodígio da inteligência; contudo., não nos será lícito esquecer as vítimas das cidades que passaram pelo suplício da bomba atômica...
‒ Bem, você pensa assim, de outro modo penso eu... Não aprovo a pregação incessante que anda por aí...
A palavra seguia nesse tom, quando os dois se aboletaram, como de costume, num bar amigo para o cafezinho habitual.
O garção ia e vinha, quando, à frente deles, o televisor exibiu a figura de conhecido repórter, que passou ao seguinte noticiário, lendo expressiva nota da imprensa:
O mundo atual sofre o risco de ser destruído pela sua própria grandeza no campo da inteligência. O perigo mais insidioso, talvez, é que numerosas conquistas científicas, realizadas com intentos de paz, possam ser empregadas, de um instante para outro, nos objetivos de guerra. As descobertas na biologia molecular são utilizáveis no desenvolvimento de agentes letais e aquelas que se relacionam com as drogas abrem horizontes à ofensiva psicoquímica. Sabe-se que as armas biológicas, em forma de “spray”, são de fácil confecção, com possibilidades de espalhar a peste sobre homens e animais. A chamada “febre de coelhos”, conduzida por uma tonelada de “spray”, através de nuvens, dirigidas pelo vento, pode anular a resistência de milhões de pessoas. Um homem só, carregando pequena maleta de “vírus”, é capaz de contaminar as reservas de água endereçada à manutenção de grande cidade, conturbando-lhe a vida. Está demonstrando ainda que, com recursos microbianos, é possível, em pouco tempo, enlouquecer populações maciças. Uma tonelada de ácido lisérgico distribuída entre os habitantes de qualquer grande metrópole, através de canais alimentares, poderá torná-los esquizofrênicos, durante o tempo que isso venha a interessar ao inimigo. Químicos ilustres já asseveram que o mundo de hoje dispõe de venenos tão poderosos que bastarão alguns quilos deles para estabelecer a perturbação mental de nações inteiras. Fala-se agora que não é impossível operar rupturas na camada de ozônio que circunda a Terra, de modo a queimar lentamente as criaturas domiciliadas nas regiões que ficaram desprotegidas contra os raios solares infravermelhos. Além de tudo, comenta-se a possibilidade da criação de bombas nucleares semoventes, aptas a caminharem com os implementos próprios e que serão detidas tão só pela explosão de um artefato atômico.
Esses engenhos sinistros transportariam a sua própria carga e, se colocadas no rumo de determinadas zonas inimigas, reclamariam a utilização de um foguete interceptador significando autodestruição para qualquer grupo alinhado em defensiva...
 
O comentário deu lugar a programa diferente e Ferreira falou para o companheiro impressionado:
‒ Viu e ouviu com exatidão? A ciência é luz no cérebro, mas, só por si, não resolve os problemas da Humanidade. Que diz você de tão inquietantes perspectivas?
‒ É... É... – gaguejou Teles, evidentemente desapontado.
Toda a resposta dele, porém, não passou disso.




[1] Estante da Vida – Irmão X / Francisco C. Xavier

quarta-feira, 25 de outubro de 2017

MASTURBAÇÃO À LUZ DO ESPIRITISMO[1]


 
Espírito Eugênia por meio da mediunidade de Benjamim Teixeira[2]


Eugênia, seria abusivo perguntar sobre masturbação?
Claro que não. A forma de me perguntar já revela a necessidade de se ventilar a temática. Tudo deve ser falado, sob a perspectiva da Espiritualidade, principalmente o que é foco de tabu, porque, então, os automatismos neuróticos e destrutivos, bem como as fixações culturais e sociais, agem mais livremente a prejuízo de comunidades e indivíduos.
No passado, Eugênia, tratava-se a masturbação como pecado ou como desequilíbrio que até poderia causar distúrbios mentais e físicos. A medicina (auxiliada pela psicologia e pela sexologia) eliminou os fundamentos de tais crendices populares (que tiveram muito apoio de gente instruída, em tempos idos), mas, no meio espírita, ainda se considera a masturbação como vampirismo ou desvio de função das energias sexuais, um desperdício, qual se todo ato masturbatório indicasse uma queda em tentação. Poderia nos falar algo sobre estas considerações?
Sim. É gritantemente necessário que o postulado básico de acompanhar a ciência seja lembrado entre aqueles que desejam, sinceramente, desposar o Espiritismo como filosofia de vida. Apegar-se a velhos conceitos, por tradição, por medo de enfrentar o novo ou por receio de ser plenamente responsável pelos próprios atos, é de tal modo descompassado com a modernidade, que nos eximimos de expender mais comentários a respeito. Importante lembrar que médiuns acabam filtrando, inconscientemente, o pensamento das entidades que se manifestam por seu corpo mental, de modo que refrações sutis e graves podem se dar (e se dão sempre, em algum nível). Eis por que a vigilância deve ser acentuada, sobremaneira quando condicionamentos culturais e convenções muito cristalizadas estão envolvidos.
O que tem dito a ciência sobre o assunto? Que a masturbação é algo natural e até desejável para o indivíduo adulto; e que, mesmo entre aqueles que já têm a vida afetiva disciplinada nos corredores da educação conjugal, é compreensível aconteça o fenômeno do onanismo (para os dois gêneros), que se revela mesmo imperioso, amiúde, quando os ritmos sexuais dos parceiros não se alinham, a fim de que um não incomode o outro na satisfação de suas necessidades de fundo psicofisiológico, nem alguém se frustre na quota de libido que lhe não seja possível imediatamente canalizar para atividades não-sexuais, sem gerar recalques indesejáveis.
Seja na tenra idade, seja em idade avançada, para solteiros ou casados, hétero ou homossexuais, o fenômeno masturbatório pode ser comparado à ida ao banheiro para a excreção dos detritos alimentares. Há abusos, sem dúvida, como os há em tudo na existência humana. Os ritmos sexuais podem ser exacerbados, na compulsão, ainda que se não tenha parceiro para a prática. Cada caso é um caso, e, somente com profundo autoconhecimento, a criatura descobre o sistema apropriado ao seu modo de ser, em função do bem-estar geral, da produtividade, da criatividade e do sentimento de equilíbrio íntimo, que constituem alguns dos resultados da vida sexual resolvida.
Quanto ao vampirismo, pode acontecer também na vida afetiva a dois, sempre que os desajustes da perversão e da promiscuidade invoquem, para a alcova do casal, presenças extrafísicas de baixo calão vibratório, pelo próprio diapasão de desequilíbrio em que se expressam em seu momento de intimidade.
Que bom, Eugênia! Creio que estas suas colocações esclarecedoras vão ajudar muitas pessoas. Entretanto, você aludiu a “perversão”, e este conceito me parece muito amplo e difuso, pelo mesmo motivo de os preconceitos adentrarem este departamento valorativo. Temos muita dificuldade em aceitar e conviver com nosso lado animal, e muitos são os que têm vergonha e não se soltam em funções elementares de sua própria fisiologia, tudo tendo como sinal de depravação, primitivismo e imoralidade. O que você quis dizer por “perversão”? Digo, porque, inclusive, na temática “masturbação”, está em jogo, normalmente, o fator “fantasia”, que pode incluir itens que não sejam desejados também na relação concretizada a dois – estou certo?
O tema é muito complexo, e, sem dúvida, não o esgotaremos nesta nossa primeira fala a respeito. Por outro lado, não somos autorizados por Nossos Maiores, ainda, a discorrer abertamente sobre o assunto, porque mentes menos amadurecidas, levianas, despreparadas para nos ouvir, poderiam fazer mau uso de nossas afirmações. O que podemos dizer é que tudo que lese física, emocional ou moralmente alguém pode ser enquadrado no capítulo “perversão”, ao passo que tudo quanto promova o bem-estar biopsíquico, o crescimento psicológico e a boa relação entre as criaturas não pode ser considerado como distúrbio moral ou patologia psíquica.
O quesito “fantasia” é ainda mais intrincado, porque, frequentemente, melhor que se liberem certos conteúdos indesejados (e ainda não de todo domesticáveis) da psique, por meio das ferramentas imagéticas, do que fazê-los colapsarem no próprio comportamento, em surtos que se chamam, em psicologia junguiana, de “possessão pela sombra”. Os princípios de civilização, entretanto, devem sempre reger tais processos mentais, na promoção da educação e da melhoria progressiva dos indivíduos, dos mais ínfimos aos maiores gestos, dos mais secretos aos públicos. A gerência de tais impulsos – que, como disse, não podem, em sua totalidade, ser de pronto sublimados – corre por conta da responsabilidade de cada um, em função do próprio e do bem comum.
Algo mais desejaria dizer, por ora?
Que se procure, em tudo, o ponto de vista do bom senso, do equilíbrio, da visão de conjunto, e dificilmente se incorrerá em erros graves de conduta, seja consigo mesmo, seja nas relações interpessoais.
 


[2] Benjamin Teixeira de Aguiar (Aracaju, 26 de outubro de 1970) é um médium psicógrafo e psicofônico, apresentador de TV, palestrante, professor e presidente-fundador do Instituto Salto Quântico (ISQ), organização sem fins lucrativos e desvinculada de qualquer movimento religioso formal, iniciada em 1988, com o objetivo de promover, por meios de comunicação de massa, os ideais de fraternidade, felicidade e espiritualidade. (Wikipédia)

terça-feira, 24 de outubro de 2017

Concordância Espírita e Cristã[1]


 

A carta seguinte foi dirigida à Sociedade de Estudos Espíritas pelo Dr. de Grand-Boulogne, antigo vice-cônsul da França.
Senhor Presidente,
Desejando ardentemente fazer parte da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, mas forçado a deixar a França brevemente, venho solicitar a honra de ser aceito como membro correspondente. Tenho a vantagem de vos conhecer pessoalmente e não necessito vos dizer com que interesse e simpatia acompanho os trabalhos da Sociedade. Li vossas obras, bem como as do barão Guldenstubbé e, consequentemente, conheço os pontos fundamentais do Espiritismo, cujos princípios adoto sinceramente, tais quais vos são ensinados. Como protesto aqui a minha firme vontade de viver e morrer como cristão, esta declaração me leva a vos fazer a minha profissão de fé, e talvez vejais com que interesse minha fé religiosa acolhe naturalmente os princípios do Espiritismo.
Na minha opinião, eis como as duas coisas se associam:
1. Deus: criador de todas as coisas.
2. Objetivo e fim de todos os seres criados: concorrer para a harmonia universal.
3. No universo criado, três reinos principais: o reino material, ou inerte; o orgânico ou vital; o intelectual e moral.
4. Tudo é criado e submetido a leis.
5. Os seres compreendidos nos dois primeiros reinos obedecem irresistivelmente, e por eles a harmonia jamais é perturbada.
6. Como os dois primeiros, o terceiro reino está submetido a leis, mas goza do estranho poder de subtrair-se a elas; possui a temível faculdade de desobedecer a Deus: é o que constitui o livre-arbítrio.
O homem pertence simultaneamente aos três reinos: é um Espírito encarnado.
7. As leis que regem o mundo moral estão formuladas no decálogo, mas se resumem neste admirável preceito de Jesus: Amai a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a vós mesmos.
8. Toda derrogação da lei constitui uma perturbação na harmonia universal. Ora, Deus não permite que tal perturbação persista e a ordem deve ser necessariamente restabelecida.
9. Existe uma lei destinada à reparação da desordem no mundo moral, e esta lei está contida por inteiro na palavra: expiação.
10. A expiação efetua-se: 1º – pelo arrependimento e os atos de virtude; 2º – pelo arrependimento e as provas; 3º – pelas preces e as provas do justo, unidas ao arrependimento do culpado.
11. A prece e as provas do justo, embora concorram da maneira mais eficaz para a harmonia universal, são insuficientes para a expiação absoluta da falta; Deus exige o arrependimento do pecador; mas com esse arrependimento, a prece do justo e sua penitência em favor do culpado basta, à eterna justiça, e o crime é perdoado.
12. A vida e a morte de Jesus põem em evidência esta adorável verdade.
13. Sem livre-arbítrio não há pecado, mas também não há virtude.
14. O que é a virtude? A coragem no bem.
15. O que há de mais belo no mundo não é, como disse um filósofo, o espetáculo de uma grande alma lutando contra a adversidade; é o esforço perpétuo de uma alma progredindo no bem e, de virtude em virtude, elevando-se até o Criador.
16. Qual a mais bela de todas as virtudes? A caridade.
17. O que é a caridade? É o atributo especial da alma que, em suas ardentes aspirações para o bem, esquece de si mesma e se consome em esforços pela felicidade do próximo.
18. O saber está muito abaixo da caridade; ele nos eleva na hierarquia espírita, mas não contribui para o restabelecimento da ordem perturbada pelo mau. O saber nada expia, nada resgata, em nada influi sobre a justiça de Deus: a caridade, ao contrário, expia e apazigua. O saber é uma qualidade; a caridade, uma virtude.
19. Ao encarnar os Espíritos, qual foi o desígnio de Deus? Criar, para uma parte do mundo espiritual, uma situação sem a qual não existiria nenhuma das grandes virtudes que nos enchem de respeito e de admiração. Com efeito, sem o sofrimento não há caridade; sem o perigo não há coragem; sem o infortúnio não há devotamento; sem a perseguição não há estoicismo; sem a cólera não há paciência, etc. Ora, sem a corporeidade, com o desaparecimento desses males, desapareceriam essas virtudes.
 
Para o homem um pouco desprendido dos laços da matéria, neste conjunto do bem e do mal há uma harmonia, uma grandeza de ordem mais elevada que a harmonia e a grandeza do mundo exclusivamente material.
Isto responde em poucas palavras às objeções fundadas sobre a incompatibilidade do mal com a bondade e a justiça de Deus.
Seria preciso escrever volumes e mais volumes para desenvolver convenientemente essas diversas proposições.
Entretanto, o objetivo desta comunicação não é oferecer à Sociedade uma tese filosófica e religiosa; eu quis apenas formular algumas verdades cristãs em harmonia com a Doutrina Espírita.
Em minha opinião, tais verdades constituem a base fundamental da religião e, longe de enfraquecer-se, fortificam-se com as revelações espíritas. Permito-me, também, externar uma queixa contra os ministros do culto, que, enceguecidos pela demoniofobia, recusam o esclarecimento e condenam sem exame. Se os cristãos abrissem os ouvidos às revelações dos Espíritos, tudo quanto no ensino religioso perturba nossos corações ou revolta a nossa razão desvanecer-se-ia de repente. Sem se modificar em sua essência, a religião ampliaria o círculo de seus dogmas, e os lampejos da verdade nova consolariam e iluminariam as almas. Se é certo, como diz o Padre Ventura, que as doutrinas filosóficas ou religiosas acabam invencivelmente por se traduzirem nos atos ordinários da vida, é bem evidente que uma nação iniciada no Espiritismo tornar-se-ia a mais admirável e a mais feliz das nações.
Dir-se-á que uma sociedade verdadeiramente cristã seria perfeitamente feliz. Concordo. Mas o ensino religioso tanto se faz pelo temor quanto pelo amor; e os homens, dominados por suas paixões, querendo a qualquer preço se libertar dos dogmas que os ameaçam, serão sempre tão numerosos que o grupo dos cristãos perseverantes constituirá sempre uma fraca minoria. Os cristãos são numerosos, mas os verdadeiros cristãos são raros.
Não acontece assim com o ensino espírita. Embora sua moral se confunda com a do Cristianismo e, como este, pronuncie palavras cominatórias, há tão rico tesouro de consolações; é, ao mesmo tempo, tão lógico e tão prático; lança uma luz tão intensa sobre o nosso destino; afasta tão bem as trevas que perturbam a razão e as perplexidades que atormentam os corações, que, na verdade, parece impossível a um espírita sincero negligenciar um só dia trabalhar pelo seu progresso e, assim, não contribuir para restabelecer a harmonia perturbada pelo transbordamento das paixões egoístas e cúpidas.
Pode-se, pois, afirmar que, propagando as verdades que temos a felicidade de conhecer, trabalhamos pela Humanidade e nossa obra será abençoada por Deus. Para que um povo seja feliz, é necessário que o número dos que querem o bem, que praticam a lei da caridade, supere o dos que querem o mal e só praticam o egoísmo. Creio em minha alma e estou consciente de que o Espiritismo, apoiado no Cristianismo, é chamado a operar esta revolução.
Imbuído de tais sentimentos e querendo, na medida de minhas forças, contribuir para a felicidade de meus semelhantes, ao mesmo tempo em que busco tornar-me melhor, peço, Sr. Presidente, para fazer parte de vossa Sociedade.
Aceitai etc..
De Grand-Boulogne, doutor em Medicina,
Antigo Vice-Cônsul da França
 
Observação – Esta carta dispensa comentários e cada um apreciará o elevado alcance dos princípios nela formulados, de uma maneira ao mesmo tempo tão profunda, tão simples e tão clara. São esses os princípios do verdadeiro Espiritismo, que certos homens ousam ridicularizar, pois reclamam o privilégio da razão e do bom-senso, por não saberem se têm uma alma e não fazerem diferença entre o seu e o futuro de uma máquina. Acrescentaremos apenas uma observação: Bem compreendido, o Espiritismo é a salvaguarda das ideias verdadeiramente religiosas que se extinguem; contribuindo para a melhoria das criaturas, provocará, pela força das coisas, o melhoramento das massas, e não está longe o tempo em que os homens haverão de compreender que nesta doutrina encontrarão o mais fecundo elemento da ordem, do bem-estar e da prosperidade dos povos; e isto por uma razão muito simples: é que ela destrói o materialismo, que desenvolve e alimenta o egoísmo, fonte perpétua de lutas sociais, e lhe dá uma razão de ser. Uma sociedade cujos membros fossem guiados pelo amor do próximo, que inscrevesse a caridade no frontispício de todos os seus códigos, seria feliz e em breve veria apagarem-se os ódios e as discórdias. O Espiritismo pode realizar este prodígio e o fará, apesar dos que ainda o agridem, porquanto passarão os agressores, mas o Espiritismo permanecerá.




[1] Revista Espírita – Agosto/1860 – Allan Kardec

segunda-feira, 23 de outubro de 2017

José Herculano Pires[1]

 O Apóstolo de Kardec

J. Herculano Pires, nasceu em 25/09/1915 na antiga província de Avaré, no Estado de São Paulo e desencarnou em 09/03/1979, em São Paulo. Filho de José Pires Correa e de Da. Bonina Amaral Simonetti Pires. Fez seus primeiros estudos em Avaré, Itaí e Cerqueira César. Revelou sua vocação literária desde que começou a escrever.
Aos 16 anos publicou seu primeiro livro, Sonhos Azuis (contos) e aos 18, o segundo livro Coração (poemas livres de sonetos).
Já colaborava nos jornais e revistas das cidades de São Paulo e do Rio de Janeiro. Foi um dos fundadores da União Artística do Interior.
Mudou-se para Marília em 1940 onde adquiriu o Jornal Diário Paulista e o dirigiu durante 6 anos. Com José Geraldo Vieira, Zoroastro Gouveia, Osório Alves de Castro, Nichemja Sigal, Anathol Rosenfeld e outros promoveu, através do jornal, um movimento literário na cidade e publicou Estradas e Ruas (poemas) que Érico Veríssimo e Sérgio Millet comentaram favoravelmente.
Em 1946 mudou-se para São Paulo e lançou seu primeiro romance, O Caminho do Meio, que mereceu criticas elogiosas de Afonso Schimidt, Geraldo Vieira e Wilson Martins.
Repórter, redator, secretário, cronista parlamentar e crítico literário dos Diários Associados onde manteve, também, por quase 20 anos, a coluna espírita com o pseudônimo de Irmão Saulo. Exerceu essas funções na Rua 7 de Abril por cerca de trinta anos.
Em 1958 bacharelou-se em Filosofia pela Universidade de São Paulo, e pela mesma Universidade licenciou-se em Filosofia tendo publicado uma tese existencial: O Ser e a Serenidade.
Autor de oitenta e um livros de Filosofia, Ensaios, Histórias, Psicologia, Espiritismo e Parapsicologia sendo a sua maioria inteiramente dedicada ao estudo e à divulgação da Doutrina Espírita, e vários de parceria com Chico Xavier. Lançou, a série de ensaios Pensamento da Era Cósmica e a série de romances de Ficção Científica e Paranormal. Foi diretor-fundador da Revista de Educação Espírita, publicada pela Edicel.
Em 1954 publicou Barrabás que mereceu Prêmio do Departamento Municipal de Cultura de São Paulo em 1958, constituindo o primeiro volume da trilogia Caminhos do Espírito. Em 1975 publicou Lázaro e, com o romance Madalena, editado pela Edicel em maio de 1979, a concluiu. Ao desencarnar, deixou vários originais os quais vêm sendo publicados pelas Editoras Paidéia e Edicel.