Sofrimento é, em tese, um estado
de espírito desequilibrado que envolve o encarnado em determinadas fases de sua
jornada, resultante da inadaptação ou rebeldia diante dos obstáculos de
quaisquer espécies que lhe surjam à frente.
Os obstáculos são as provas ou
as expiações pelas quais todo ser humano deve passar, pois fatores necessários
ao progresso do ser.
O sofrimento pode gerar inúmeros
sentimentos e estados de espírito secundários negativos.
Não há frutos positivos da
rebeldia diante do sofrimento.
Em verdade, termina por
significar inaceitabilidade do homem aos Desígnios Divinos, pois nada acontece
por acaso e tudo que envolve o encarnado, numa visão positiva ou negativa, tem
uma razão plenamente justificada e absolutamente justa, pois Deus não falha.
Revoltar-se é um ato de
irresignação, porque o indivíduo recusa-se a seguir, como todos devem fazer, as
Leis Divinas, que determinam não haver progresso sem luta e perseverança. Consequentemente,
não há evolução sem o vencimento de provas e a ultrapassagem resignada das
expiações.
Pode tratar-se de um estado de
espírito desequilibrado, fruto da inconstância e do desajuste — condições
suficientes para determinar o surgimento de outros males de variada ordem. A
título de exemplo, o sofrimento, nesse caso, pode trazer angústia, tristeza,
amargura, dores físicas e psíquicas, emotividade exacerbada, sensibilidade
extrema, ira e, sobretudo, ódio.
O sofrimento moral é capaz,
nessas circunstâncias, de gerar doenças no corpo físico porque provoca desajustes
no sistema imunológico, em grande parte controlado pelo psíquico, que é
dirigido pelo espírito.
Pode causar também doenças
mentais e psicológicas, visto abalar o sistema nervoso.
Sofrer por sofrer não traz
vantagem alguma, somente problemas.
Deixar de revoltar-se diante do
inevitável é mostra de evolução, pois representa aceitação plena da Vontade de
Deus.
No campo da reforma íntima, o
mais indicado para amenizar e afastar o sofrimento é compreender a lei da
reencarnação, acatando-a como justa e verdadeira.
Sabendo que, para ser autêntica
e definitivamente feliz, o Espírito deve passar por vários estágios, vale
dizer, por inúmeras reencarnações e que cada uma delas lhe proporciona
oportunidade ímpar de progresso espiritual, o encarnado pode, aos poucos, em
primeiro lugar, tranquilizar o seu âmago, aceitando as provas que lhe surgem à
frente.
Outro passo fundamental para
extirpar ou diminuir o sofrimento é a pessoa aprender a manipular positivamente
os próprios sentimentos, racionalizando-os e impedindo que as emoções dominem a
sua razão.
O terceiro estágio é praticar a
via inversa dos sentimentos negativos, que são frutos do sofrimento ou seus
geradores, exercitando os positivos, derivados do amor. Quanto mais o encarnado
consegue colocá-los em ação, menos sofre.
Atitudes de reclamação passiva
merecem ser evitadas. Ao invés de questionar a falta de determinado bem, por
que não lutar para obtê-lo? É preferível sair em busca da felicidade do que se
queixar de que é infeliz.
Por mais simples que possa
parecer, muitos ainda não meditaram suficientemente no que lhes significa viver
em função de situações e acontecimentos do passado. O melhor a fazer,
especialmente no que tange aos fatos que consideram negativos da vida, é
deixá-los no pretérito, tal como a lei universal da evolução determina ao
impulsionar o ser humano para o futuro.
Viver consciente e determinado
no presente, bem como esperançoso no tocante ao futuro, supera as possíveis
raízes negativas do passado e coloca o encarnado longe do desespero.
Lembrar que o eventual
sofrimento de hoje, amanhã será passado e, portanto, facilmente superável.
Não projetar o sofrimento
presente para o futuro (como se fosse um mal eterno, que inexiste) afasta a
possibilidade de prejudicar a esperança.
Usar as linhas do passado como
lição e aprendizado dos erros cometidos, para evitá-los no presente e no
futuro, é sabedoria, mas servir-se delas para trazer desacertos representa
imaturidade.
Uma das razões invocadas pelo
homem para justificar seu sofrimento é a falta ou insuficiência de bens
materiais. É preciso notar que muito desse sofrimento em realidade é originário
do materialismo, outro mal que assola o plano físico.
A perda de entes queridos,
entendendo-se como tal o regresso desses seres à pátria espiritual, é motivo de
sofrimento para muitos. Ainda que seja compreensível tal situação diante do
atual estágio evolutivo da humanidade, torna-se necessário frisar que a volta
ao mundo da verdadeira vida é motivo de alegria, de trajetória cumprida e,
portanto, de etapa vencida. Permanecer no plano material é fase de provas e
sede de obstáculos e lutas. Retornar pelos caminhos normais é sinal de finalização
de uma jornada e, portanto, mostra de esperança num futuro melhor.
Por pior que seja a passagem do
Espírito pela vida material, inexiste o retrocesso na escala evolutiva, pois o
progresso o aguarda.
Fonte de sofrimento é a
autopunição: aquele que, para condenar um gesto próprio, impõe-se o
desequilíbrio espiritual, cultiva sentimentos negativos. Ainda que alguns
entendam que ele é abnegado sofredor e, portanto, mártir do próprio rigorismo,
não há mérito em usurpar uma função que é exclusiva de Deus. Do mesmo modo que
não lhe cabe julgar o próximo, inexiste, como valor cristão, a autoanalise como
forma de infligir um castigo a si mesmo. Autocrítica deve ser usada para o lado
positivo, com a melhora dos sentimentos, jamais para a aplicação de uma
pretensa pena, em verdade fator de sofrimento ao espírito.
Por isso é censurável o
suicídio. Não cabe ao homem eliminar a própria vida. Não é atribuição do
encarnado julgar-se e, com isso, aplicar a si mesmo uma pena mortal, por pior
que tenha sido alguma conduta sua.
Por outro, se o suicídio é
praticado não como forma de autopunição, mas para evitar sofrimento, é outro
malogro que o ser humano comete. Por dois fatores essenciais: primeiro, porque
o sofrimento é somente uma incompreensão da realidade, logo, superável e,
segundo, porque, extinta a vida material, continuará a espiritual,
aumentando-lhe a expiação e, consequentemente, o sofrimento.
Ninguém se afasta do sofrimento
pela fuga da realidade, mas fundamentalmente pelo esclarecimento alcançado
através da fé raciocinada, ladeada pela racionalização dos sentimentos.
[1] Fundamentos da
Reforma Íntima – Cairbar Schutel /
Abel Glaser
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