quinta-feira, 30 de abril de 2020

POUCO A POUCO[1]



Miramez

Por que a verdade não esteve sempre ao alcance de todos?
‒ É necessário que cada coisa venha a seu tempo. A verdade é como a luz: é preciso que nos habituemos a ela pouco a pouco, pois de outra maneira nos ofuscaria.
Jamais houve um tempo em que Deus permitisse ao homem receber comunicações tão completas e tão instrutivas como as que hoje lhe são dadas. Havia na Antiguidade, como sabeis, alguns indivíduos que estavam de posse daquilo que consideravam uma ciência sagrada, e da qual faziam mistério para os que consideravam profanos. Deveis compreender, com o que conheceis das leis que regem esses fenômenos, que eles recebiam apenas verdades esparsas no meio de um conjunto equívoco e na maioria das vezes alegórico. Não há, entretanto, para o homem de estudo, nenhum antigo sistema filosófico, nenhuma tradição, nenhuma religião a negligenciar, porque todos encerram os germens de grandes verdades, que embora pareçam contraditórias entre si, espalhadas que se acham entre acessórios sem fundamento, são hoje muito fáceis de coordenar, graças à chave que vos dá o Espiritismo de uma infinidade de coisas que até aqui vos pareciam sem razão, e cuja realidade vos é agora demonstrada de maneira irrecusável. Não deixeis de tirar temas de estudo desses materiais.
São eles muito ricos e podem contribuir poderosamente para a vossa instrução. (Allan Kardec)
Questão 628/O Livro dos Espíritos

A razão nos mostra com bastante clareza que as verdades tinham de ser reveladas do modo que o foram: gradativamente. A luz em excesso pode cegar. Quem mandou os primeiros instrutores à Terra foi Jesus, antes da Sua vinda ao planeta, mas a Sua sabedoria restringiu o que Ele deveria falar e fazer ante a massa humana inconsciente e ainda em plena ignorância.
Observemos como nasce uma árvore: não é de uma noite para o dia; há uma sequência e obedece a determinadas leis, onde a harmonia sempre está presente. Compete a nós outros observarmos essas leis que regulam tudo na vida, como a nós mesmos. O despertamento das criaturas é, igualmente, de passo a passo; ninguém violenta as leis, nem as leis violentam os Espíritos. É nesse sentido que os anjos têm maior tolerância com os homens, e os homens sábios a têm com os animais, por saberem que todos estão na mesma marcha para Deus, que os criou.
Deus não permitiu que os nossos ancestrais recebessem comunicações iguais às que os homens recebem hoje, no século vinte, por faltar a eles capacidade de assimilação como a que têm atualmente. Agora estão sendo chamados e escolhidos para um melhor entendimento da verdade, não de toda a verdade, pois ela continua na sua divina gradação espiritual. Podemos dizer que ela nasce e renasce constantemente, em variadas frequências de vida, para dar mais vida às criaturas de Deus.
Os homens do passado recebiam algumas verdades esparsas, ainda assim, somente os que estavam preparados para tal iniciação, e em muitos casos elas chegavam a eles envolvidas em roupagens onde as letras perduravam escondendo o Espírito que vivifica.
A Doutrina dos Espíritos veio superar todas as filosofias do mundo por não ter nascido dos homens, nem ser dirigida por eles. Ela avança com os homens ou sem eles, por ser a vontade de Deus, pelas mãos do Cristo. Jesus não tem aflições e nem faz propaganda das verdades espirituais; a Sua pregação vem por maturidade das criaturas. O éter cósmico que a tudo interpenetra na criação, são ondas de luz que obedecem a Deus, Seu criador, e por ele, ou elas, fala o Senhor, e Jesus é o semeador das vidas por Deus formadas. Ninguém pode fugir à verdade, que são leis eternas na eternidade do próprio Deus.
Entendemos, e podes observar, que todas as religiões do mundo e as filosofias de vida modernas e antigas, tiveram e têm seus valores para certa gama de pessoas do seu nível. As instruções vêm para todas as criaturas, de acordo com seu despertamento espiritual.
Deves analisar uma universidade: ela tem vários departamentos de ensino, e os alunos se reúnem por afinidade de saber. As criaturas são as mesmas, com as mesmas necessidades físicas, todas irmãs umas das outras, no entanto, no que toca às variáveis das verdades que devem conhecer, elas são apresentadas de maneiras diversas. Podemos comparar cada sala de aula como uma religião, fornecendo aos seus profitentes[2] o que eles merecem pela sua evolução espiritual.
Assim é a universidade divina. Preciso é que os homens aprendam a amar a seu próximo como a si mesmos, para que não haja discórdia quanto ao que devem aprender sobre a vida e sobre as leis.
Disse Jesus: Nem só de pão vive o homem.
Precisamos de tudo para viver bem, porque tudo foi feito por Deus, desde quando tenhamos bom senso ao escolhermos o que nos serve hoje e do que vai nos servir amanhã.




[1] Filosofia Espírita – Volume 13 – João Nunes Maia
[2] Profitente - que professa alguma doutrina, seita ou religião.

quarta-feira, 29 de abril de 2020

PÓ MÁGICO AJUDA A RESTAURAR A PONTA DE UM DEDO[1], [2]





A equipe do Dr. Stephen F. Badylak, MD, PhD[3] está estudando a matriz extracelular (ECM), o andaime natural do corpo para células que fornece o ambiente específico do local necessário para o crescimento e a função saudáveis. Nos locais das lesões, a ECM parece liberar sinais bioquímicos que estimulam a regeneração do tecido, em vez de curar com o tecido cicatricial.
Em um caso que recebeu muita atenção da mídia, um aeromodelista que perdeu a ponta do dedo em uma hélice de aeromodelo aplicou pó de ECM na ferida e a ponta do dedo voltou a crescer (inclusive a unha).
Além disso, uma camada de ECM foi usada para recriar com sucesso o revestimento esofágico de um paciente cujo próprio tecido teve que ser removido devido a um câncer esofágico em estágio inicial.
O laboratório do Dr. Badylak é um ambiente altamente interdisciplinar.
O foco principal do laboratório é o desenvolvimento de estratégias de medicina regenerativa para reposição de tecidos e órgãos. A utilização da matriz extracelular de mamíferos (ECM), ou seus derivados, como modelo indutivo para a remodelação construtiva do tecido é um tema comum na maioria das atividades de pesquisa. O objetivo central e mais importante de todos os projetos é a tradução clínica e o aprimoramento do atendimento ao paciente. As atividades de pesquisa abrangem todo o espectro da ciência básica até os ensaios clínicos em humanos para promover esse objetivo.
O laboratório Badylak prospera com a colaboração interna e externa. A maioria dos projetos envolve esforços combinados de cientistas da vida, engenheiros biomédicos, médicos, veterinários e uma forte equipe de suporte técnico. Atualmente, existem cinco cientistas da equipe (incluindo biólogos celulares, engenheiros, imunologistas, biólogos moleculares e bioquímicos), sete estudantes de pré-doutorado, quatro bolsistas de pós-doutorado, quatro técnicos, três assistentes administrativos, dois estudantes de graduação combinada (MD-PhD) e aproximadamente seis estudantes de graduação. Além disso, normalmente existem dois ou três cientistas visitantes internacionais no laboratório e dois ou três médicos-cirurgiões envolvidos em todos os projetos ativos.

Os principais interesses de pesquisa incluem:
E  Engenharia de órgãos inteiros
E  Interações célula-matriz e sinalização celular
E  Biomateriais e interações biomateriais / tecidos com ênfase no papel do sistema imunológico inato na remodelação de biomateriais
E  Engenharia biomédica no que se refere à medicina regenerativa
E  O papel da MEC como um nicho microambiental para apoiar a diferenciação de células-tronco, a auto-montagem de células em tecido funcional e a modulação do sistema imunológico inato
E  Aplicações de ECM aos sistemas CNS, GI, órgãos inteiros, oculares, musculoesqueléticos e UG

Projetos de pesquisa ativos incluem:
E  Engenharia de tecidos do SNC - modelo de traçado do MCAo
E  Engenharia de órgãos inteiros com ênfase no fígado e pulmão
E  Mecanismos de remodelação do andaime da matriz na reconstrução do esôfago, traquéia, cardiovascular, trato urinário inferior e tecido musculotendinoso
E  Resposta imune de mamíferos a andaimes xenogênicos
E  Recrutamento autólogo de células-tronco in vivo durante a reconstrução tecidual
E  Degradação de andaimes de MEC e papel dos peptídeos criptográficos bioativos no processo de remodelação.
E  Mecanobiologia e sua relação com a reconstrução tecidual
E  Desenvolvimento de bioscaffolds[4] tridimensionais para regeneração hepática e cardíaca
E  Medicina Regenerativa para reconstrução de disco da Articulação Temporomandibular (ATM).
E  Regeneração de membros e dígitos - estudos BioDome
E  Doença inflamatória intestinal
E  Cirurgia plástica e reconstrutiva
E  Engenharia de Tecidos Reprodutivos
E  Regeneração do nervo óptico

Atualmente, a ECM está sendo testada em ensaios clínicos no Instituto de Medicina Regenerativa das Forças Armadas, um consórcio patrocinado por militares de vários centros que visa encontrar novos tratamentos para combatentes feridos. O material será testado em breve em outro estudo, patrocinado pelo Departamento de Transição de Tecnologia do Departamento de Defesa dos EUA, que incluirá soldados e civis que perderam grandes quantidades de músculo devido a trauma.
O Dr. Badylak e seu trabalho foram apresentados em “60 minutos”, programas da CBS News, Esquire, Newsweek on-line e de ciências no Discovery Channel, History Channel e por outros meios de comunicação impressos e transmitidos.
Ele é membro do Instituto Americano de Engenharia Médica e Biológica, membro fundador da Tissue Engineering Society International e atualmente presidente da Tissue Engineering Regenerative Medicine International Society.
O Dr. Badylak recebeu seu diploma de veterinário e doutorado em patologia anatômica pela Universidade de Purdue e seu diploma de médico na Indiana University Medical School.



[3] Professor do Departamento de Cirurgia da Faculdade de Medicina da Universidade de Pittsburgh; Diretor Adjunto, Instituto McGowan de Medicina Regenerativa e Diretor, Centro de Engenharia de Tecidos Pré-Clínicos, Instituto McGowan de Medicina Regenerativa
[4]Bioscaffolding é o uso de materiais biocompatíveis e bioabsorvíveis para construir uma estrutura 3D comparável à área do tecido do implante, a fim de promover a regeneração do tecido e a recuperação de lesões. A estrutura é semeada com células diferenciadas nativas e proteínas de adesão celular, a fim de incentivar a adesão celular e a regeneração tecidual. http://www.bioscaffold.com/

terça-feira, 28 de abril de 2020

Espíritos de Dois Sábios Incrédulos a seus Antigos Amigos da Terra[1]


Conhece-te a ti mesmo

Allan Kardec

Quando os mais incrédulos, os mais obstinados transpõem o limiar da vida corporal, são forçados a reconhecer que vivem sempre; que são Espíritos, pois não são mais carnais e, consequentemente, há Espíritos; que esses Espíritos se comunicam com os homens, desde que o fazem entre si. Mas a sua apreciação do mundo espiritual varia em razão de seu desenvolvimento moral, de seu saber ou de sua ignorância, da elevação ou da abjeção de sua alma. Quando encarnados, os dois Espíritos de que falamos pertenciam à classe dos homens de ciência e de alta inteligência.
Ambos eram incrédulos por natureza; mas, homens esclarecidos, sua incredulidade era compensada por eminentes qualidades morais. Assim, uma vez no mundo dos Espíritos, prontamente encararam as coisas em seu verdadeiro ponto de vista e reconhecem seu erro. Sem dúvida, nada há nisto de extraordinário e que não se veja todos os dias; se publicamos suas primeiras impressões, é por causa do seu lado eminentemente instrutivo.
Ambos morreram faz pouco tempo. O primeiro, o Sr. M. L., era cirurgião do hospital B..., e cunhado do Sr. A. Véron, membro da Sociedade Espírita de Paris. O segundo, Sr. Gui, era um sábio economista, amigo íntimo do Sr. Colliez, outro membro da Sociedade.
Inutilmente o Sr. Véron havia tentado trazer o cunhado às ideias espiritualistas; ao morrer, tornou-se mais acessível às suas instruções. Eis uma das primeiras comunicações que dele recebeu:

(Paris, 5 de outubro de 1865 – Médium: Sr. Desliens)
Meu caro cunhado, uma vez que estamos, a bem dizer, na intimidade, e desde que não receio tomar o lugar de alguém que vos pudesse ser mais útil que eu, venho com prazer ao vosso apelo, já que me solicitastes.
Não espereis, desde hoje, ver-me desdobrar todas as minhas faculdades espirituais. Sem dúvida eu poderia tentá-lo, e talvez com mais sucesso do que quando era vivo; mas a minha presunção orgulhosa está muito longe de mim, e se me julgava uma sumidade na Terra, aqui sou muito pequeno. Quanta gente que eu desdenhava e cuja proteção e ensinamentos me sinto feliz por encontrar hoje! Os ignorantes daqui de baixo muitas vezes são os sábios lá do alto; e quanto à nossa ciência, que julga tudo saber e nada quer admitir fora de suas decisões, é ilusória e limitada!
Ó orgulho humano! Por força do hábito, quanto tempo ainda ficarás nesta Terra, onde, depois de tantos séculos, o espírito de rotina bloqueia o progresso em sua marcha incessante? “Não conheço o fato; ele está fora de meus conhecimentos; portanto não existe.” Tal o nosso raciocínio aqui em baixo. É que, se o admitíssemos, ou, ao menos, se estudássemos esse fato, resultado de leis desconhecidas, teríamos de renunciar a sistemas errôneos, apoiados em grandes nomes que constituem nossa glória e, pior ainda, obrigados a confessar que nos enganamos.
Não, nós outros negadores encontramos um Galileu universal que nos vem dizer: Eu sou Espírito, estou vivo, fui homem e, vós mesmos, ó homens, fostes Espíritos e vos tornareis como eu, até que, por uma sucessão de encarnações, estejais depurados para subir outros degraus da escala infinita dos mundos... E nós negamos!
Mas, como dizia Galileu, após suas retratações: “E, contudo, se move”, o Espiritismo nos vem dizer: “E, contudo, os Espíritos estão aqui, manifestam-se e nenhuma negação poderia derrubar um fato”. O fato brutal existe; nada se pode contra ele. O tempo, esse grande educador, fará justiça de tudo, varrendo uns, instruindo outros.
Sede dos que se instruem. Fui ceifado na idade madura do meu orgulho e sofri a pena de minhas negações. Evitai minha queda, e que minhas faltas sejam proveitosas aos que imitam meu raciocínio passado, a fim de fugir do abismo de trevas donde vossos cuidados me retiraram.
Como vedes, ainda há perturbação em minha linguagem. Mais tarde poderei falar-vos com mais lógica. Sede indulgentes para com a minha juventude espiritual.
M... L...

Lida esta comunicação na Sociedade de Paris, o Espírito comunicou-se espontaneamente, ditando o seguinte:

(Sociedade de Paris, 20 de outubro de 1865 – Médium: Sr. Desliens)
Caro senhor Allan Kardec: Permiti a um Espírito, que os vossos estudos levaram a considerar o ser, a existência e Deus sob seu verdadeiro ponto de vista, vos testemunhe o seu reconhecimento. Nesta Terra ignorei vosso nome e vossos trabalhos. Talvez, se me tivessem falado de um e dos outros, eu tivesse usado de minha verve trocista, como fazia com todas as coisas tendentes a provar a existência de um espírito distinto do corpo. Eu estava cego: perdoai-me. Hoje, graças a vós, graças aos ensinamentos que os Espíritos espalharam e vulgarizaram por vossa mão, sou outro ser, tenho consciência de mim mesmo e vejo a minha meta. Quanto reconhecimento não vos devo, a vós e ao Espiritismo! Quem quer que me tenha conhecido e hoje lê o que é a expressão de meu pensamento, exclamará: “Este não pode ser o que conhecemos, aquele materialista radical, que nada admitia fora dos fenômenos brutos da Natureza”. Sem dúvida e, contudo, sou eu mesmo.
Meu caro cunhado, a quem devo sinceros agradecimentos, disse que cheguei a bons sentimentos em pouco tempo. Agradeço-lhe a amenidade a meu respeito; mas sem dúvida ele ignora quão longas são as horas de sofrimento resultante da inconsciência de se ser!... Eu acreditava no nada e fui punido por um nada fictício. Sentir-se ser e não poder manifestar seu ser; julgar-se disseminado em todos os restos esparsos que forma o corpo, tal foi minha posição durante mais de dois meses!... dois séculos!... Ah! As horas de sofrimento são longas; e se não se tivessem ocupado de me tirar dessa lamentável atmosfera de niilismo, se não me tivessem constrangido a vir a essas reuniões de paz e amor, onde eu não compreendia, não via e não ouvia, mas onde fluidos simpáticos agiam sobre mim e me despertavam, pouco a pouco, de meu pesado torpor espiritual, onde estaria eu ainda? meu Deus!...
Deus!... que doce nome a pronunciar por quem, durante tanto tempo, empenhou-se em negar esse pai tão grande e tão bom! Ah! meus amigos, moderai-me, porque hoje só temo uma coisa: tornar-me fanático dessas crenças que teria repelido como vis desatinos, se outrora tivessem vindo ao meu conhecimento!...
Nada direi hoje sobre os trabalhos de que vos ocupais; ainda estou muito novo, muito ignorante para ousar aventurar-me em vossas sábias dissertações. Já o sinto, mas não sei! Apenas vos direi isto, porque sei: Sim, os fluídos têm uma influência enorme como ação curadora, se não corporal, de que nada sei, pelo menos espiritual, porque experimentei a sua ação. Eu vos disse e repito com alegria e reconhecimento: eu ia, constrangido por uma força invencível, sem dúvida a de meu guia, às reuniões espíritas. Eu não via, nada ouvia e, contudo, uma ação fluídica, que eu não podia atinar, curou-me espiritualmente.
Agradeço de boa vontade a todos que adquiriram direitos eternos ao meu reconhecimento, tirando-me do caos onde eu havia caído, e vos peço, meus amigos, a bondade de me permitir vir assistir em silêncio às vossas sábias assembleias, pondo mais tarde minhas fracas luzes científicas à vossa disposição.
M... L...

Pergunta – Poderíeis dizer-nos, assistido por vosso guia, como pudestes reconhecer tão prontamente os vossos erros terrestres, ao passo que bom número de Espíritos, a quem não se poupa cuidados espirituais, ficam tanto tempo sem compreender os conselhos que lhes são dados?
Caro senhor, agradeço-vos a pergunta que houvestes por bem dirigir-me e que penso poder resolver eu mesmo, com a assistência de meu guia.
Sem dúvida podeis ver uma anomalia em minha transformação, pois, como dizeis, há seres que, malgrado todos os sentimentos que agem em seu favor, ficam muito tempo sem se deixar abrir os olhos. Não querendo abusar de vossa benevolência, dir-vos-ei em poucas palavras:
O Espírito que resiste à ação dos que agem sobre ele é novo em relação às noções morais. Pode ser um indivíduo instruído, mas completamente ignorante em relação à caridade e à fraternidade; numa palavra, desprovido de espiritualidade. É-lhe necessário aprender a vida da alma que, mesmo no estado de Espírito, lhe foi rudimentar. Para mim foi completamente diferente. Digo-vos que sou velho, em face de vossa vida, embora bastante jovem na eternidade. Tive noções de moral; acreditava na espiritualidade, que em mim ficou latente, porque um de meus pecados capitais, o orgulho, precisava dessa punição.
Eu, que tinha conhecimento da vida da alma numa existência anterior, fui condenado a deixar-me dominar pelo orgulho e a esquecer Deus e o princípio eterno que residia em mim... Ah! crede-o, só há uma espécie de cretinismo; o idiota que, conservando sua alma, não pode manifestar sua inteligência, é talvez menos lamentável do que aquele que, possuindo toda a sua inteligência, cientificamente falando, perdeu sua alma por algum tempo. É um idiotismo truncado, mas muito penoso.
M... L...

O outro Espírito, Sr. Gui, manifestou-se espontaneamente à Sociedade no dia da sessão especial, comemorativa dos mortos. Como dissemos, o Sr. Colliez, que o tinha conhecido particularmente, limitara-se a inscrevê-lo na lista dos Espíritos recomendados às preces. Embora suas opiniões fossem completamente diferentes das que tinha em vida, o Sr. Colliez o reconheceu pela forma da linguagem e, antes mesmo que fosse lida a sua assinatura, ele disse que deveria ser o Sr. Gui...

(Sociedade de Paris, 1º de novembro de 1865 – Médium: Sr. Leymarie)
Senhores... Permiti-me empregar esta expressão comum, mas pouco fraterna. Sou um recém-vindo, um recruta inesperado, e sem dúvida meu nome jamais feriu os ouvidos dos espíritas fervorosos. Contudo, nunca é tarde demais e quando cada família chora um ausente amado, venho a vós para vos exprimir meu arrependimento muito sincero.
Cercado de voltairianos, vivendo e pensando como eles, trazendo conforme a necessidade o meu óbolo e o meu trabalho para a propagação das ideias liberais e progressivas, acreditei fazer o bem; porque todo o mundo diz, mas nem todos o fazem. Assim, agi, e vos peço para não esquecerdes os homens de ação. Em sua esfera, eles sacudiram esse torpor de tantos séculos que, a bem dizer, tinha velado o futuro. Rasgando o véu, nós também tínhamos afastado a noite, o que é muito, quando o inimigo intolerante está à porta e busca riscar de preto cada raio de luz. Quantas vezes procuramos em nós mesmos a solução desta questão: “Ah! se os mortos pudessem falar!” Reflexão profunda, absorvente, que nos matava na idade das desilusões, quando todo homem marcado por um acaso aparente tornava-se uma luz na multidão.
Aí está a família!... Jovens frontes cândidas pedem os nossos beijos de esperança, e nada podemos dar, porque esta esperança nós a selamos sob uma grande pedra muito fria, que chamamos incredulidade. Mas hoje creio, venho a vós cheio de esperança e fé, dizer-vos: “Espero no futuro, creio em Deus; os Espíritos de Béranger, de Royer-Collard, de Casimir Perrier... não me desmentirão”.
A vós que desejais o progresso, que quereis a luz, direi:
Os mortos falam, falam todos os dias; mas, cegos que sois e que éramos! Pressentis a verdade sem afirmá-la abertamente; como Galileu, vós vos dizeis todas as noites: “E, contudo, ela gira!” Mas baixais os olhos ante o ridículo, o respeito à coisa julgada!
Vós todos que éreis meus fiéis, que semanalmente me concedíeis vossa tarde, sabeis em que me tornei.
Sábios que perscrutais os segredos da Natureza, perguntastes à folha morta, ao pé de erva, ao inseto, à matéria em que se tornavam no grande concerto dos mortos terrenos?
Perguntastes as suas funções de mortos? Pudestes inscrever em vossos alfarrábios esta grande lei da Natureza, que parece destruir-se anualmente para reviver esplêndida e soberba, lançando o desafio da imortalidade aos vossos pensamentos passageiros e mortais?
Doutor sábio, que diariamente inclinais a fronte preocupada sobre as doenças misteriosas que destroem os corpos humanos de maneira múltipla, por que tantos suores pelo futuro, tanto amor pela família, tanta previdência para assegurar a honorabilidade de um nome, pela fortuna e pela moralidade de vossos filhos, tanto respeito pela virtude de vossas companheiras?
Homens de progresso, que trabalhais constantemente para transformar as ideias e as tornar mais belas, por que tantos cuidados, vigílias e decepções, se essa lei eterna do progresso absorve todas as vossas faculdades e as decuplica, a fim de prestar homenagem ao movimento geral de harmonia e de amor, ante o qual vos inclinais?
Ah! meus amigos, quem quer que sejais na Terra: mecânicos, legisladores profundos, políticos, artistas, ou todos vós que inscreveis em vossa bandeira: Economia política, crede-me, vossos trabalhos desafiam a morte; todas as vossas aspirações a rejeitam como uma negação e quando, por vossas descobertas e vossa inteligência, deixastes um traço, uma lembrança, uma honorabilidade sem mácula, desafiastes a morte, como tudo o que vos cerca! Oferecestes um sacrifício ao poder criador e, como a Natureza, a matéria, como tudo que vive e quer viver, vencestes a morte. Como eu outrora, como tantos outros, vos retemperais no aniquilamento do corpo que é a vida, ides para o Eterno para vencer a eternidade!...
Mas não a vencereis, porque ela é vossa amiga. O Espírito é a eternidade, o eterno, e eu vo-lo repito: tudo o que morre fala de vida e de luz. A morte fala ao vivo; os mortos vêm falar. Só eles têm a chave de tudo, e é por eles que vos prometo outras explicações.
Gui

(Sociedade Espírita de Paris, 17 de novembro de 1865 – Médium: Sr. Leymarie)
Fugiram da epidemia e, neste pânico singular, quantas falências morais, quantas defecções vergonhosas! É que a morte se torna a mais violenta expiação para todos os que violam as leis da mais estrita equidade. A morte é o desconhecido para a fé vacilante.
As religiões diversas, com o paraíso e o inferno, não puderam firmar-se naqueles que possuem a abnegação, em vão ensinada pelos bens terrenos; nenhum ponto de referência, nada de bases certas; difusão no ensino divino: isto não é certeza. Assim, salvo algumas exceções, que terror, que falta de caridade, que egoísmo nesse salve-se-quem-puder geral dos satisfeitos! Crer em Deus, estudar sua vontade nas afirmações inteligentes, estar certo de que as leis da existência estão subordinadas a leis superiores divinas, que tudo medem com justiça, que dispensam a todos, em diversas existências, o sofrimento, a alegria, o trabalho, a miséria e a fortuna, é, parece-me, o que buscam todas as sábias pesquisas, todas as interrogações da Humanidade. Ter a sua certeza não é a verdadeira força em tudo? Se o corpo esgotado dá liberdade ao Espírito, a fim de que este viva segundo as aptidões fluídicas que são a sua essência, se esta verdade se torna palpável, evidente como um raio de sol; se as leis que encadeiam matematicamente as diversas fases da existência terrena e extraterrena, ou da erraticidade, tornam-se para nós tão claramente demonstradas quanto um problema algébrico, então não teríeis em mão o segredo tanto procurado, o porquê de todas as vossas objeções, a explicação racional da fraqueza dos vossos profundos estudos em economia política, fraqueza terrificante para a teoria, porque a prática destrói em um dia o trabalho da vida de um homem?
É por isso, amigos, que venho suplicar-vos que leiais O Livro dos Espíritos; não vos detenhais na letra, mas possuí-lhe o espírito. Pesquisadores inteligentes, encontrareis novos elementos para modificar o vosso e o ponto de vista dos homens que vos estudam. Certos da pluralidade das existências, encarareis melhor a vida; definindo-a melhor, sereis fortes. Homens de letras, plêiade pobre e bendita dareis à Humanidade uma semente tanto mais séria quão verdadeira. E quando virem os fortes, os sábios crer e ensinar as máximas fortes e consoladoras amar-se-ão melhor e não fugirão mais ao suposto mal invisível; a vontade de todos, homogeneidade poderosa, destruirá todas essas fermentações gasosas envenenadas, única fonte das epidemias.
O estudo dos fluidos, feito de um outro ponto de vista, transformará a Ciência; observações novas alumiarão a estrada fecunda de nossos jovens estudantes, que não mais irão, como orgulhosos, mostrar ao estrangeiro a sua intolerância de linguagem e a sua ignorância; não serão mais o escárnio da Europa, porque os mortos amados lhes terão dado a fé e esta religião do Espírito, que primeiro moraliza, para depois elevar às regiões serenas do saber e da caridade.
Gui




[1] Revista Espírita – Dezembro/1865 – Allan Kardec

segunda-feira, 27 de abril de 2020

HERBERT DENNIS BRADLEY[1]




"O Grande Filosofo da Imortalidade"
Proclamava dos Púlpitos da Universidade Oxford:
A investigação que empreendi chegou ao fim.
Já não me baseio em crenças.
Eu sei.

          Ele nasceu no dia 30 de janeiro 1846 em Clapham na Inglaterra. Ele era o filho de Charles Bradley, um evangélico pregador, e Emma Linton. Ele foi educado no Cheltenham College e Marlborough College e em 1865 ele entrou no University College, Oxford.
Durante sua vida, Bradley foi um dos mais respeitados filósofos sobre as ilhas britânicas e foram concedidos honorários graus muitas vezes. Ele foi o primeiro filósofo britânico que recebeu o Diploma da Ordem do Mérito.
Ele era famoso pela sua não-pluralista abordagem à filosofia. Em suas perspectivas viu um monístico de unidade, transcendendo divisões entre lógica, metafísica e ética. Consistentemente, a sua própria opinião sobre o monismo combinado com absoluto idealismo. Embora, Bradley não pensa de si mesmo como um hegeliano filósofo, a sua própria marca de filosofia foi inspirada porque continha elementos de Hegel no método dialético.

No campo do Espiritismo[2]
Mr. H. Dennis Bradley fez um minucioso relato da mediunidade de voz direta de George Valiantine [vide biografia neste blog de “George Valiantine”, publicado em 02/04/2018], o conhecido médium americano. Mr. Bradley conseguiu vozes no seu próprio Grupo Doméstico, sem médiuns profissionais. É impossível exagerar os serviços que o trabalho dedicado e de auto-sacrifício de Mr. Bradley prestou à ciência psíquica.
Mr. Valiantine é, de profissão, um fabricante numa pequena cidade na Pensilvânia. É calmo, delicado e bondoso e como se acha na flor da idade, uma carreira muito útil se abre à sua frente.
George Valiantine foi examinado pela Comissão do Scientific American e pôs por terra a alegação de que um dispositivo elétrico mostrara que ele tinha saído de sua cadeira quando a voz se fez ouvir. O exemplo já oferecido pelo autor, no qual a corneta circulava fora do alcance do médium, é prova positiva de que os resultados certamente não dependem de sua saída da cadeira e que os efeitos não só dependem de como a voz é produzida, mas, principalmente, do que diz a voz.
Aqueles que leram “Rumo às Estrelas”, de Dennis Bradley, e o seu livro subsequente, narrando a longa série de sessões em Kingston Vale, podem fazer uma ideia de que nenhuma outra explicação abarca a mediunidade de Valiantine, a não ser que possui, realmente, excepcionais poderes psíquicos.
Estes variam muito com as condições, que em geral permanecem bem altas. Como Mrs. Wriedt, ele não cai em transe mas, mesmo assim, suas condições não podem ser chamadas normais. Há condições de semitranse que esperam a investigação dos estudiosos no futuro.
Bradley morreu 20 de novembro de 1934. Ele está enterrado no Cemitério Holywell em Oxford.

Comentário do site[3]:
O Grande Bradley! O Grande Intelectual! O Grande mestre em Filosofia!
Na Universidade Oxford aonde se abrangia na época à fina intelectualidade no campo da Filosofia, não conseguiam entender como um mestre deste quilate que recebeu o Diploma da Ordem do Mérito podia se interessar por questões sobre o Espiritismo.
Os Filósofos da Universidade Oxford da época que compreendiam a vida e o universo num sistema materialista do nada (Niilismo).  Num mundo regido sem Deus ou Leis Divinas (Materialismo Cientifico), sendo que o mais conceituado filosofo alemão da época Nietzsche, propagava nos quatro cantos do mundo conhecido a Morte de Deus.
O vasto trabalho mediúnico que o filosofo Bradley realizou com as faculdades do médium George Valiantine demonstrou aos seus próprios olhos a imortalidade da alma e a sua comunicabilidade do espírito.
Quando o Filosofo Bradley começou a escrever cartas em apoio do Espiritismo e a manter contato com mundo espírita da época os Filhos da Universidade Oxford reagiram implacavelmente  e se levantaram do alto das suas Cátedras Universitárias e bradavam: Deus não existe, a vida acaba com a morte.  Realizaram várias manifestações de repúdio, através de opúsculos que condenavam o Espiritismo e o Trabalho que o Filosofo Bradley realizou. Sofreu ironizações, sarcasmos. Seus vários inimigos pessoais pediam o seu banimento da Universidade Oxford.
O filosofo Bradley não cedeu nas suas crenças, pois o seu espírito se libertou do cipoal de sistemas filosóficos vazios, continuou até a sua morte demonstrando a pequenez do homem perante o universo.
Não exijo que aceitem minhas observações. Minhas são; só minhas; produtos da minha personalidade ‒ e a minha personalidade, seja ela uma herança ou uma criação individual, é tudo quanto possuo.
No incompreensível plano da vida é insignificante à parte de cada pessoa. Tudo que podemos fazer não vai além de sintonizar-nos de modo a sermos sensíveis às mais delicadas vibrações da emoção.
Minha filosofia não é a de um asceta a viver na solidão dos seus sonhos, sim a da marionete no remoinho de uma grande metrópole, que subitamente vê abrir-se diante de si um imenso abismo; daí o salto que dá no Desconhecido.
Só na amplidão do pensamento a magnificência da realidade pode ser concebida. Materialismo é morte. Todas as coisas palpáveis e que imaginamos reais são transitórias e perecíveis. Tudo que é material não vive.
O frágil, embora devastador, materialismo ameaça a nossa civilização. Mostra-nos a humanidade como um ajuntamento de loucos. É sanguissedento em todos os sentidos. Com os seus instintos de animalidade inferior, antagonista do progresso mental.
Só a força das altas inteligências que o contrabatem evitará que esse rebanho de loucos ‒ fidalgos e campônios ‒ se destruam a si próprio.
A onipotência está no espírito, não na matéria ‒ temos que aceitar isto.



[2] Herbert Dennis Bradley - Rumo às Estrelas – LAKE Livraria Allan Kardec Editora
[3] Canal Espírita Jorge Hessen – A História do Espiritismo – Allan Kardec o Codificador da Doutrina Espírita; Portal a Casa do Espiritismo; ADDE – Associação de Divulgação da Doutrina Espírita

sábado, 25 de abril de 2020

A CARIDADE ABNEGADA RECOMENDADA AOS ESPÍRITAS[1]



Marcelo Henrique Pereira

Inegavelmente, o Espiritismo possui um caráter consolador. Kardec, mesmo, antes de escrever sua obra espírita “mais religiosa” – O Evangelho segundo o Espiritismo – OESE (1864) ‒, já havia, na Revue Spirite, desde 1858, como, também, em O que é o Espiritismo (1859) e Viagem Espírita em 1862 (1863), destacado a importância do consolo pelo esclarecimento, dissipando nuvens e afastando explicações míticas ou místicas, dadas pelas religiões de todos os tempos, sobretudo com foco nas “penas e gozos terrestres”, isto é, da presente encarnação, e nas “penas e gozos futuros”, antevendo as situações dos Espíritos no porvir.
Presentemente, em face da situação de perplexidade, desânimo e até desespero em relação à pandemia deste ano de 2020, em todo o planeta, vamos buscar um texto que está inserido n’O evangelho espírita, pontualmente no Capítulo XIII, intitulado “Os infortúnios ocultos”.
Infortúnios são desditas, contratempos, adversidades ou infelicidades que os homens experimentam em sua experiência na carne. Ocultos porque, à vista dos olhos materiais, aqueles que estejam experimentando o desafio da pandemia, em geral, nada fizeram conscientemente para estarem suportando os efeitos ou resultados. Isto é, é oculta (desconhecida) a causa direta para que estejam perpassando as dificuldades inerentes ao cataclismo instalado no orbe. Ou, como pontua o Codificador no trecho em destaque, há sofrimentos que não se tornam conhecidos de muitas pessoas, nos quais as vítimas silenciosamente suportam as dores.
Logo na abertura da mencionada dissertação, Kardec escreve de próprio punho (itens 4 a 8 do aludido capítulo), que na ocorrência calamitosa é a caridade que se expressa e avulta, podendo ser verificados impulsos generosos em grande parte das pessoas (e instituições sociais). A atenção se volta para os grandes desastres, mas, no âmago das sociedades e das famílias há desastres menores que podem passar despercebidos. E o conselho fraternal do professor francês vai no sentido de se descobrir ONDE estão os que sofrem em silêncio, sem se queixarem ou sem pedir assistência.
O componente principal nestes dias de pranto e ranger de dentes – remontando aos escritos evangélicos – está na SOLIDARIEDADE, na fraternidade, na caridade abnegada que muitos, anonimamente, dispensam aos seus compatriotas, mitigando-lhes dores e amparando-os no que seja urgente e possível.
Se formos atentos e não nos deixarmos levar pela “onda de pessimismo” e de contrariedades várias que tomam de assalto muitas pessoas, que buscam notícias em sites especializados, os que os recebem por postagens nas redes sociais ou os que acessam aos noticiários televisivos, diariamente, podemos verificar a divulgação das BOAS AÇÕES que são comuns neste tempo de penúria e consternação geral.
Aqui, uma idosa confecciona em sua velha máquina de costura, máscaras caseiras para a proteção dos que não podem adquiri-las nas farmácias. Ali, um grupo de voluntários se dispõe a arrecadar mantimentos e produtos de higiene pessoal e limpeza, para entregar no centro comunitário da periferia. Adiante, o morador de grande condomínio, em que há muitos idosos e pessoas em debilidade física, se predispõe a pegar-lhes as listas de compras de gêneros alimentícios e produtos de primeira necessidade, indo ao mercado e voltando com os suprimentos. Mais além, é a associação de bairro que abriu uma conta bancária específica para arrecadar donativos para a localidade municipal em que há o maior número de segregados sociais (pessoas em grave situação de vulnerabilidade social). E muitos outros exemplos há por aí.
Importa registrar que tal caridade se assemelha à descrita pelo Homem de Nazaré, seja em relação aos gestos do Samaritano, seja em sede das ações da viúva e seu óbolo, quando Kardec registra fato real, da França daqueles dias de penúria, que deixa a túnica em casa e se veste de forma simples, justamente para não afrontar os beneficiários do gesto, em face do distanciamento econômico-social, naquele momento, e, mais ainda, leva consigo a filha menor para que ela presencie o ato abnegado e angarie, com a experiência do momento, os preciosos valores que, segundo o Rabi, não quedariam inertes e à mercê dos ratos ou das aves do céu. Virtudes que sobreviveriam a outras intempéries e direcionariam, também, atos futuros.
E como a mocinha se inspira na mãe, tal a força do exemplo, também ela pode, com suas próprias mãos, minorar o sofrimento alheio. “Quando visitamos os doentes, tu me ajuda a tratá-los” – diz a mãe à menina-moça que ensaia o ensino-aprendizagem do exemplo. A mulher de bem – descrita mais à frente, no mesmo OESE, Capítulo XVII, “Sede Perfeitos”, item 3 (“O homem de bem” – gênero humano e não atributo da masculinidade física), ali está, plenamente caracterizada e atuante, sem receios nem titubeações. Por isso, Kardec pontua: “aquela mãe verdadeiramente cristã prepara a filha para a prática das virtudes que o Cristo ensinou. É espírita ela? Que importa!”.
Se Erasto, S. Luís ou A Verdade tivessem algo a dizer, neste momento em que a Humanidade – e o movimento dos espíritas, em particular – se pergunta sobre os “porquês” da pandemia, suas causas e consequências (sobretudo as de cunho espiritual), não há qualquer chancela de “status” a diferenciar os homens. Não se faz, em meio à catástrofe instalada nos quatro cantos da terra, qualquer pergunta relativa à crença, religião ou filosofia que adotam.
Aos que atuam, com dedicação, em relação ao sofrimento alheio NÃO SE PERGUNTA se são espíritas ou não. E, também, caso haja um bom número de espíritas que não estejam, atualmente, APENAS, preocupados com seus próprios botões (saúde pessoal e familiar), ou temerosos ante o “futuro do planeta” (inclusive para compartilhar mensagens bastante duvidosas, atribuídas a Espíritos, ou para relembrar a falácia mística da “data limite”, tristemente vinculada a Chico Xavier, que jamais teria se expressado neste sentido), trabalhando nos “infortúnios ocultos”, eles não estarão necessitando de NENHUM RECONHECIMENTO. Como Kardec escreve ao final do item 4, do capítulo em comento, todo aquele que assim age, “não deseja outra aprovação, além da de Deus e da sua consciência”.
Silêncio, pois! A verdadeira caridade não ocupa a ribalta!


Fonte: Casa Espírita Nova Era

sexta-feira, 24 de abril de 2020

EPÍTOME[1] DESCRITIVO SOBRE O CENÁRIO E A VIDA ALÉM DA SEPULTURA[2]



Jorge Hessen

Conquanto haja kardequeólogos de plantão que andam rejeitando os livros do Espírito André Luiz, particularmente sigo por outros caminhos, acolhendo as revelações do autor de “Nosso Lar” e de outros Benfeitores com serena confiança. Em face disso, discorreremos se na dimensão dos espíritos realmente existem casas, templos, escolas, hospitais, ruas, árvores, parques.
Com certeza por “lá” não há “vasos sanitários” e mictórios. Lamentavelmente, existem “romances mediúnicos” que não passam de abusos ficcionais criados por “médiuns” obsedados. Há um dilúvio desses “romances” alucinantes narrando que no além os espíritos se casam, copulam e geram filhos, sim! Reproduzem!!! Afiançam que pela fecundação, há a gestação, o nascimento dos “bebês” (pasmem!) Contam até que por “lá” o espírito morre, (morre!? meu Deus!!!) sobrevindo o sepultamento dos seus restos perispirituais em cemitérios d’além-túmulo. (Isso é consequência de médium com distúrbio psicológico, com certeza!)
No Mundo Espiritual, o ambiente difere totalmente do planeta, pois lá, como descrevem os Espíritos comunicantes, não há frio nem calor excessivo, não há terremotos nem tempestades. Nas Colônias Espirituais, os domicílios não se amontoam uns aos outros como nas grandes cidades terrestres; eles oferecem espaços regulares entre si, como a indicar que naquele abençoado reduto de fraternidade e auxílio cristão há lugar para todos. Não há estabelecimentos comerciais, mas, em compensação, há grande número de instituições consagradas ao bem coletivo[3].
O processo utilizado pelos desencarnados em seus engenhos e edificações é pela energia do pensamento e da vontade. O pensamento é força criadora e a vontade é força propulsora. Através destas duas potencialidades, os Espíritos constroem tudo o que desejam. O Universo é seu laboratório[4]. Podem formar conjuntos com aparência, forma e cor determinadas. Kardec inclui essas possibilidades dos fenômenos peculiares ao mundo espiritual no que chamou laboratório do mundo invisível.
Muitos Espíritos dizem que a luz do sol por “lá” é agradável e reconfortante. Realmente há edificações belíssimas, algumas de séculos, protegidas por muralhas, armas e até animais, onde os habitantes têm o desfrute de deleites e costumes tipicamente físicos, como nutrição, por isso há plantações e fábricas diversas (sucos, roupas etc.).
Os desencarnados muito atrelados à vida material que chegam ao Mundo Espiritual sem compreenderem a transformação por que passaram, e têm ainda sensação de fome e sede, lhes são ministrados alimentos em instalações especiais, até que, adaptados ao meio em que iniciaram a nova vida, entendam que não têm mais necessidade desses alimentos.
Sobre esse quesito alimentação, alguns Espíritos necessitam de substâncias suculentas, tendentes à condição fluídica, e o processo será cada vez mais delicado, à medida que se intensifique a ascensão individual, pois a alma, em essência, apenas se nutre de amor.
De forma geral, é indispensável os concentrados fluídicos nas operações nutritivas. Em face da essencialização das substâncias absorvidas, não existem para o veículo psicossomático[5] os exageros e inconveniências dos sólidos [bolo fecal] e líquidos [urina] da excreta comum[6]. A exsudação se dá pelos poros. À vista disso, e não obstante algumas psicografias famosas de romances “espíritas” que descrevem supostos banheiros no além, constatamos aqui com André Luiz que inexistem “vasos sanitários” e “mictórios” por “lá”.
Pela difusão cutânea, o corpo espiritual, através de sua extrema porosidade, nutre-se de produtos sutilizados ou sínteses quimioeletromagnéticas, hauridas no reservatório da Natureza[7]. A água é veículo dos mais poderosos para os fluidos de qualquer composição. No além, ela é empregada sobretudo como alimento e remédio. É de extraordinária importância a respiração no sustento do corpo espiritual. Na Terra, o homem se alimenta muito mais pela respiração [70%], colhendo o alimento de volume [30%] simplesmente como recurso complementar de fornecimento plástico e energético, para o setor das calorias necessárias à massa corpórea[8].
Não ignoramos que os espíritos conservam as faculdades que tinham na Terra; eles têm visão, audição, sensação, percepção, mas diferentemente de quando possuíam um corpo físico, ainda que muitos deles em claudicação, julguem que tais coisas se passam, por lá, da mesma forma que no corpo.
Destaque-se que os Espíritos estão por toda parte, nenhum lugar circunscrito ou fechado se destina a uns ou a outros, segundo consta em O Livros dos Espíritos[9]. O fato de estarem os desencarnados “por toda a parte” deve ser explicado com sensatez, como existindo colônias ou construções fluídicas em toda parte do além.

Fonte: A Luz na Mente




[1] 1. Resumo e consubstanciação de uma obra ou doutrina; 2. Compêndio; 3. Resumo; 4. Sinopse.
[3] XAVIER, Francisco Cândido. Voltei, ditado pelo Espírito Irmão Jacob, RJ: Ed. FEB, 1958.
[4] KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos, per. 27, RJ: Ed. FEB, 1971.
[5] A constituição íntima do perispírito não é idêntica em todos os espíritos encarnados ou desencarnados que povoam a Terra ou o espaço que a circunda.
[6] XAVIER, Francisco Cândido. Evolução em dois mundos, ditado pelo Espírito André Luz, 20ª. Edição, RJ: Ed. FEB, 1958
[7] XAVIER, Francisco Cândido. Missionários da Luz, ditado pelo Espírito André Luiz, RJ: Ed FEB, 1971.
[8] Idem.
[9] KARDEC, Allan. O Livros dos Espíritos, questão 188, RJ: Ed FEB, 1976.