sábado, 31 de março de 2018

Transformando Saudade em Caridade[1]


  

Hoje, em Uberaba, dia 13 de novembro de 1982, no culto evangélico ao ar livre no Abacateiro, junto a Chico Xavier, presenciamos um fato sublime e de grande significado.
Uma família de São Paulo comemorava os 23 anos do jovem Roberto Muszkat, domiciliado presentemente no mundo espiritual. Liderados por seus pais, dona Sônia e Dr. David, seus irmãos entoavam em prece muda o tradicional “parabéns para você”.
Sobre a mesa, um bolo de 40 quilos todo enfeitado, com palavras em glacê, saudando as crianças “convidadas” da Mata do Carrinho. Bolas coloridas e bonecas, balas e cadernos completavam a festa sui generis. Logo adiante, alguns amigos ainda distribuíam, em forma de brindes, o arroz, o feijão, o macarrão, a rosca salpicada de açúcar e muito carinho.
Roberto era, ou diríamos melhor, é o filho mais velho de um casal unido e feliz. A desencarnação chegou bruscamente, roubando a sua presença física da convivência familiar. Foi como se aquele castelo enternecido de amor e paz desmoronasse. Sua mãe desesperada entregou-se às lágrimas; seu pai trancou-se em si mesmo, ocultando o pranto no trabalho; seus irmãos sentiram um estranho vazio, afinal como não mais ouvir a risada de Roberto? E assim o tempo corria célere.
Mas a Misericórdia Divina não desampara ninguém. Dona Sônia, a mãe de Roberto, manifesta o desejo de vir a Uberaba conhecer o médium Chico Xavier. Quem sabe uma mensagem do filho querido fosse possível?
Assim foi feito. Em contato com Chico, em uma das reuniões do Grupo Espírita da Prece, eis que Roberto transmite a sua primeira mensagem:
Mãezinha, papai, irmãos queridos, estou vivo! Alegria, esperança, felicidade! Na mensagem, ele se refere a fatos impressionantes, apenas do conhecimento da família.
De lá para cá, Roberto tem se manifestado com a regularidade possível.
Depois de algum tempo, seu pai, o Dr. David, também se faz presente em Uberaba. Lembro-me do que lhe disse Chico: Roberto me pede para falar com o senhor que quando Deus pediu o filho a Abraão, Ele não queria o filho; Ele queria Abraão...
Ainda há poucos minutos atrás (escrevo estas linhas da mesa do Grupo Espírita da Prece, enquanto Chico psicografa uma mensagem belíssima de Maria Dolores), conversando com dona Sônia ela nos dizia: Deus me levou um filho, mas aumentou a minha família. E contou também que estiveram a tarde no Lar da Caridade, ex-Hospital do Pênfigo de Uberaba, fazendo a mesma distribuição comemorativa dos 23 anos de Roberto para mais de trezentas crianças.
Estamos narrando tudo isso para que os irmãos sintam como a doutrina espírita modifica completamente a nossa concepção de vida.
Quantos pais, ao invés de tornarem úteis as lembranças e as saudades dos filhos que partiram, debruçam-se sobre os túmulos vazios, entregando-se a lamentações improdutivas e até mesmo prejudiciais? Quantos, desesperados, dopam-se para anestesiar a dor da separação?
E para nossa surpresa, eis que Roberto escreve uma vez mais do Além, agradecendo aos seus pais e aos seus irmãos pela festa de aniversario que lhe proporcionaram junto aos mais carentes!
Ele faz questão de explicar que não se comunicava para retribuir a festa, mas para confortar os familiares queridos que ainda sofriam pela separação.
Agradece aos seus irmãos por terem “mexido” na poupança para a compra dos brinquedos repartidos com as crianças. O teor da mensagem é muito significativo e, posteriormente, a divulgaremos também, se possível, ainda nestas páginas.
Como os pais de Roberto Muszkat, muitos outros, que têm sido agraciados pelo mundo espiritual por comunicações de seus filhos desencarnados, promovem fartas distribuições quando comemoram na Terra o que seria mais um ano de vida daqueles que, atendendo à Divina Lei, demandaram outros páramos.
São muitos já os componentes da Nave da Saudade, nome do grupo espírita fundado pelo amigo Sr. Renê Strang, de Ribeirão Preto, que igualmente viu o filho querido, Renezinho, partir para o Além ainda muito jovem.
Os componentes da Nave da Saudade estão em toda a parte, por que quem não terá um ente amado do outro lado da vida? Mas os que a Doutrina Espírita libertou não usam luto, não perdem a vontade de prosseguir vivendo, não se preocupam com custosos mausoléus, não estacionam, anos e anos, à frente de fotografias, indagando por que. O espiritismo nos auxilia a transformar a saudade em trabalho, a lágrima em prece, a solidão em amor aos tristes da estrada. Imaginemos o que não terá experimentado o espírito Roberto, do Alto, tendo como convidados para a sua festa de aniversário os coxos e os estropiados!
Realmente, nenhuma festa do mundo pode ser comparada a esses momentos indescritíveis, quando, como nos fala o Evangelho, representando a Divindade, levamos o pão e o consolo aos lares que enfrentam provações diferentes das nossas. Parabéns, Roberto, nesta data querida, muitas felicidades, a eternidade lhe pertence! Obrigado, Chico. [CAB, Chico e Roberto, o Aniversariante do Além, (dezembro de 1982)]




[1] Lições de Sabedoria – Marlene Rossi Severino Nobre

sexta-feira, 30 de março de 2018

O Orgulho e o Egoísmo[1]



Miramez


O Espírito orgulhoso, encarnado ou desencarnado, se supervaloriza, criando assim em torno de si, o seu próprio mundo, de sorte a querer desconhecer os valores que não lhe pertencem e, principalmente, a Fonte Criadora de todas as coisas. O orgulho está sempre ligado ao egoísmo, estado deprimente daqueles que o possuem.
Nós, os moradores da casa terrena nos dois planos de vida, estamos fechando o círculo de provações e começando a perceber o fim do materialismo. Graças a Deus, está morrendo essa época de descrer da Paternidade Universal.
Compete aos próprios homens erguerem seus pensamentos às alturas espirituais, reconhecendo e fazendo com que os outros encontrem a segurança de todas as seguranças, que é conhecer Deus dentro e fora de si e ouvir sua palavra a nos educar por todos os meios e métodos de que Ele dispõe, pelas formas visíveis e invisíveis da sua majestosa criação.
O egoísmo contrai todas as forças do Espírito e atrofia as sensibilidades, fazendo as perderem o contato com os agentes da Divindade, que nos trazem as notícias de vida em todos os planos da vivência espiritual. Nós podemos dizer, pelos meios de que dispomos, que nada existe sem vida, mesmo a matéria que chamamos inerte. Em tudo manda a vida como vida de Deus.
O ser orgulhoso deixa de conhecer os seus próprios poderes, inerentes à sua personalidade. O ser egoísta facilita condições para a sua angustiosa solidão e sempre é portador desses dois carrascos. Não desconfia de que está andando para o abismo sem o perceber.
Se queremos ser livres, procuremos educar-nos e instruir-nos, e o caminho mais acertado é Jesus Cristo. Ele é o Pastor Inconfundível de todos nós; o seu amor nos sustenta desde o princípio, nos abençoando em todos os caminhos e nos dando vida em todas as circunstâncias.
Meu filho, não duvides mais da existência de Deus. Se queres reconhecer seu valor, olha sua obra. Se tudo está em plena harmonia, certamente que o seu Criador é perfeito em todos os seus aspectos. Negar o Senhor nos dias que correm, é assinar o atestado de ignorância calculada, que desvincula o amor do coração e separa a fé do ambiente em que se vive. No lugar do orgulho, constrói a fraternidade, e na área do egoísmo, conquista o amor.
Não és diferente dos que já se realizaram na vida espiritual, e não existem outros caminhos que não sejam os delineados pelos grandes missionários da Caridade. Falar no bem e viver no bem é a meta do Espírito inteligente, que não se esqueceu da educação.
Quando admiramos uma pintura famosa, a primeira coisa que desejamos saber é quem foi seu autor. Pois bem, a natureza universal, de cujos benefícios desfrutamos, é a mais bela pintura, é a mais engenhosa construção que podemos contemplar. Façamos o mesmo, busquemos o seu autor. Encontraremos esse Deus de que sempre falamos com toda a nossa alegria, com toda a gratidão. A obra reflete a inteligência de quem a fez. Se ainda duvidas da nossa fala, procura-O nas diversas literaturas espiritualistas, busca meditar sobre Ele, que a sua presença tornar-se-á visível às tuas sensibilidades, bem como ao teu raciocínio. E Ele passará a ser teu companheiro permanente, porque abriste o coração à procura da sua benfeitora luz.
Já procuraste observar o teu próprio corpo e o seu funcionamento inteligente? Foi o acaso que o fez? Se desconheces o teu próprio corpo, foi alguém mais capacitado que o planejou; procura esse alguém, que O encontrarás sorrindo para ti, ajudando-te a desvendar os mistérios que existem em muitos outros ângulos da vida. Livra-te do orgulho e do egoísmo, que encontrarás as bênçãos do entendimento, encontrarás Deus dentro de ti.




[1] FILOSOFIA ESPÍRITA –Volume 1 – João Nunes Maia

quinta-feira, 29 de março de 2018

O "TÊTE À TÊTE" DAS SOMBRAS[1]



Humberto de Campos


Quando ainda no mundo, não me era dado avaliar o "tête-à-tête" amigável dos Espíritos, à maneira dos homens, apenas com a diferença de que as suas palestras não se desdobram à porta dos cafés ou das livrarias.
E é com surpresa que me reúno àqueles que estimo, quando se me apresentam oportunidade: para uns dedos de prosa.
Estávamos nós, quatro almas desencarnadas como se fôssemos no mundo quatro figuras apocalípticas, discutindo ainda as coisas mesquinhas da Terra, e a palestra versava justamente sobre a evolução das ideias espíritas no Brasil.
Infelizmente - exclama um do grupo, provecta figura dessas doutrinas, desencarnado há bons anos no Rio de Janeiro - o que infesta o Espiritismo em nossa terra é o mau gosto pelas discussões estéreis. O nosso trabalho é contínuo para que muitos confrades não se engalfinhem pela imprensa, demonstrando-lhes, com lições indiretas, a inutilidade das suas polêmicas. Mesmo assim, a doutrina tem realizado muito. Suas obras de caridade cristã estão multiplicadas por toda parte, atestando o labor do Evangelho.
Foi lembrada, então, a figura respeitável de Bittencourt Sampaio [vide biografia neste Blog], no princípio da organização espírita no país, recordando-se igualmente a covardia de alguns companheiros que, guindados a prestigiosas posições na sociedade e na política, depressa esqueceram o seu entusiasmo de crentes, bandeando-se para o oportunismo das ideologias novas.
Ia a conversação nessa altura, quando o Doutor C..., um dos mais caridosos facultativos do Rio, recentemente desencarnado e cujo nome não deve mencionar, respeitando os preconceitos que se estendem às vezes até aqui, explicou:
É pena que venhamos a compreender tão tarde o Espiritismo, reconhecendo a sua lógica e grandeza moral só depois do nosso regresso do mundo.
Nós, os médicos, temos sempre o cérebro trabalhado de canseiras, na impossibilidade de resolver o problema da sobrevivência. É certo que nunca se encontrará o ser na autópsia de um cadáver, mas, tudo na vida é uma vibração profunda de espiritualidade. Como, porém, a Ciência vigia as suas conquistas do Passado, ciosa dos seus domínios ainda que sejamos inclinados às verdades novas, somos obrigados, muitas vezes, a nos retrair, temendo os Zaratustras da sua infalibilidade.
Eu mesmo, nos meus tempos de clínica no Rio de Janeiro, fui testemunha de casos extraordinários, desenrolados sob as minhas vistas. Todavia, fui também presa do comodismo e do preconceito.
E o Dr. C.. ., como se mergulhasse os olhos no abismo das coisas que passaram, continuou pausadamente:
Eu já me encontrava com residência na praia de Botafogo, quando lavrou na cidade um surto epidêmico de gripe, aliás, com mínima repercussão, comparado à epidemia de após a guerra. E como sempre contava, entre aqueles que recorriam à minha atividade profissional, diversos amigos pobres dos morros e particularmente da Prainha, foi sem surpresa que, numa noite-fria e nevoenta, abri a porta para receber a visita de uma garota de seus dez anos, humilde e descalça, que vinha trêmula e acanhada, solicitar os meus serviços.
‒ "Doutor - dizia ela -, a mamãe está muito mal e só o senhor pode salvá-la. Quer fazer a caridade de vir comigo?"
Impressionaram-me a sua graça infantil e o estranho fulgor dos olhos, bem como o sorriso melancólico que lhe brincava na boca miúda.
Considerei tudo quanto esperava a minha atenção urgente e procurei convencê-la da impossibilidade de a seguir, prometendo atendê-la no dia imediato. Todavia, a minha pequena interlocutora exclamou com os olhos rasos d’água:
‒ "Oh! doutor, não nos abandone. Ninguém, a não ser a proteção de Deus, vela por nós neste mundo. Se o senhor não nos quiser auxiliar, a mamãe estará perdida e ela não pode morrer agora. Venha! O senhor não teve também uma mãe que foi o anjo de sua vida"?
A última frase dessa menina tocou fundo o meu coração e lembrei-me dos tempos longínquos, em que minha mãe embalava os sonhos da minha existência, comprando-me com o suor da sua pobreza honesta os alfarrábios e o pão.
Eu devia auxiliar aquela pequena, fosse onde fosse. A Medicina era o meu sacerdócio e dentro da noite chuvosa que amortalhava todas as coisas, como se o Céu invisível chorasse sobre as trevas do mundo, o táxi rolava conosco, como fantasma barulhento, atravessando as ruas alagadas e desertas. Aquela menina, triste e silenciosa, tinha os olhos brilhantes, perdidos no vácuo. Seu corpo magrinho recostava-se inteiramente nas almofadas, enquanto os pés minúsculos se escondiam nas franjas do tapete. Lembrando as suas frases significativas, quis reatar o fio do nosso diálogo:
Há muito tempo que sua mãe se acha doente?
‒ "Não, senhor. Primeiro, fui eu; enquanto estive mal, tanto a mamãe cuidou de mim que até caiu cansada e enferma, também".
"Que sente a sua mãe?"
‒ "Muita febre. As noites são passadas sem dormir. Às vezes, grito para os vizinhos, mas parece que não me ouvem, pois estamos sempre as duas isoladas... Costumamos chorar muito com esse abandono; mas, diz à mamãe que a gente precisa sofrer, entregando a Deus o coração".
E como soube você onde moro?
‒ "Foi a visita de um homem que eu não conhecia. Chegou devagarzinho à nossa porta, chamando-me à rua, dizendo-se amigo que o senhor muito estima; e, ensinando-me a sua casa. Prometeu que o senhor me atenderia, porque também havia tido uma mãe boa e carinhosa".
Nosso diálogo foi interrompido. A pequena enigmática mandou parar o carro. Apontou o local de sua residência, estendendo a mão descarnada e miúda e, com poucos passos, batíamos à porta modesta de uma choupana miserável.
‒ "Espere, doutor - disse ela -, eu lhe abrirei a porta passando pelos fundos".
E, já inquieta, desembaraçada, desapareceu das minhas vistas. Uma taramela deslizou com cuidado, no meio da noite, e entrei no casebre. Uma lamparina bruxuleante e humilde, que iluminava a saleta com o seu clarão pálido, deixava ver, no catre limpo, um corpo de mulher, desfigurado e disforme. Seu rosto, sulcado de lágrimas, era o atestado vivo das mais cruéis privações e dificuldades. Níobe estava ali petrificada na sua dor. Todos os martírios se concentravam naquele pardieiro abandonado. Às minhas primeiras perguntas, respondeu numa voz suave e débil:
‒ "Não, doutor, não tente arrancar minha alma desesperada das garras da Morte! Nunca precisei tanto, como agora, deixar para sempre o calabouço da Vida".
E prosseguia, delirando:
‒ "Nada me resta... Deixem-me morrer"!
Sobrepus, porém, minha voz às suas lamentações e exclamei com energia:
Minha senhora, vou tomar todas as providências que o seu caso está exigindo. Hoje mesmo cessará esse desamparo. Urge reanimar-se! Resta-lhe muita coisa no mundo, resta-lhe essa filha afetuosa, que espera o seu carinho de mãe extremosa.
‒ "Minha filha? Retrucou aquela criatura, meio-mulher e meio-cadáver, enquanto duas grossas-lágrimas feriram fundo as suas faces empalidecidas - minha filha está morta desde anteontem! Olhe doutor, aí no quarto e não procure devolver a saúde a quem tanto necessita morrer!
Então, espantado, passei ao apartamento contíguo. O corpo de cera daquela criança misteriosa, que me chamara nas sombras da noite, ali estava envolvido em panos pobres e claros. Seu rosto imóvel, de boneca magrinha, era um retrato da privação e da fome. Os grandes olhos fulgurantes estavam agora fechados, e na boca miúda pairava o mesmo sorriso suave das almas resignadas e tristes.
Eu deslizara nas avenidas com uma sombra dos mortos.
E, cobrindo melancolicamente o painel das suas lembranças, o nosso amigo terminou:
Decorridos tantos anos, ainda ouço a voz do fantasma pequenino e gracioso; e, na luta da Vida, muita vez me ocorreu o seu conselho suave, que me ensinou a sofrer, entregando a Deus o coração".




[1] Crônicas de Além-Túmulo – Francisco C. Xavier

quarta-feira, 28 de março de 2018

Reflexões acerca da iluminação no trabalho mediúnico e da água fluidificada[1]


Grupo Espírita Meimei de Pedro Leopoldo/MG nos anos 50 fundado por Chico Xavier
Elton Rodrigues


Todos os que frequentam reuniões espíritas, ao menos uma vez, interpelou sobre a utilização de iluminação distinta, no momento do passe ou em outro trabalho mediúnico, àquela ordinária, ou seja, iluminação feita com luz branca. Outrossim, não é algo recente escutarmos variadas alegações sobre o histórico, e outras características, de uma das mais conhecidas ferramentas terapêuticas em um centro espírita: a água fluidificada.
Assim, entusiasmados pelo sentimento natural, de compreender um pouco mais sobre alguns pontos desta doutrina tão rica refletimos, sendo Kardec a base, sobre os assuntos supracitados.
Em o livro “Desobsessão”[2], André Luiz, em seu capítulo XVII, afirma:
A iluminação no recinto será, sem dúvida, aquela de potencialidade normal, na fase preparatória das tarefas, favorecendo vistorias e leituras. Contudo, antes da prece inicial, o dirigente da reunião graduará a luz no recinto, fixando-a em uma ou duas lâmpadas, preferivelmente vermelhas, de capacidade fraca, 15 watts, por exemplo, de vez que a projeção de raios demasiado intensos sobre o conjunto prejudica a formação de medidas socorristas, mentalizadas e dirigidas pelos instrutores espirituais, diretamente responsáveis pelo serviço assistencial em andamento, com apoio nos recursos medianímicos da equipe.
Nas localidades não favorecidas pela energia elétrica, o orientador da reunião diminuirá no recinto o teor da luz empregada.
Hermínio de Miranda, em seu livro “Diálogo com as Sombras”[3], capítulo I, também faz referência à luz vermelha, durante a reunião mediúnica:
Cerca de duas horas antes, a sala está preparada fisicamente para a reunião: mesa e cadeiras em posição, a água destinada à fluidificação, os livros que contêm os textos destinados à leitura, material para eventual psicografia, papel, lápis, canetas esferográficas, o caderno de preces, o gravador com a fita já também em posição para captar a mensagem final dos mentores do grupo, uma pequena luz indireta, preferentemente de cor, pois a luz branca é prejudicial a certos fenômenos mediúnicos. Sugere-se a cor vermelha.
Acredito que as sugestões de Hermínio de Miranda são referências ao texto de André Luiz. Todavia, temos que considerar o alto grau de discernimento do grande pesquisador espírita. Desta forma, o que quero dizer é que se o Hermínio corroborou as informações trazidas à luz por André Luiz, ele, inequivocamente, concorda com esta atitude.
Igualmente, Léon Denis, em “No Invisível”[4], apresenta alguns relatos sobre a iluminação da sala reservada à experimentação mediúnica:
Em certas noites são múltiplas as aparições. Perfis indistintos, contornos de cabeças, sombras obscuras se desenham num fundo escassamente iluminado; fantasmas brancos, de extrema tenuidade, se mostram nos lugares escuros da sala[5].”
Porém, em outro ponto, Denis, compartilhando uma carta do Sr. Larsen direcionada a um jornal sueco, onde o Sr. Larsen descreve a aparição de sua mulher morta, temos:
Ela deslizou silenciosamente até ao gabinete, cujas cortinas se cerraram de novo. A sala estava bem iluminada: os assistentes se conservaram sérios e calmos; o médium permaneceu visível em sua poltrona, ao lado e durante todo o tempo da aparição[6].
Ora, no relato do Sr. Larsen, fica claro que “a sala estava bem iluminada”. Até o momento, temos André Luiz e Hermínio de Miranda trazendo orientações sobre a importância da luz reduzida, ou vermelha, no recinto reservado aos trabalhos mediúnicos. León Denis, por outro lado, traz duas informações importantes: o relato sobre a diminuição da luz antes das manifestações ocorrerem e uma carta, onde o Sr. Larsen, afirma que a manifestação ocorreu em um ambiente iluminado.
O que podemos concluir dessas primeiras informações? Será que alguns fenômenos podem ocorrer em ambiente iluminado sem que haja prejuízo algum? Antes de defendermos uma ideia, estudaremos mais algumas informações.
Henri Regnault confirma em seu livro[7], a utilização de iluminação débil nas sessões mediúnicas presididas por Denis:
No começo de cada sessão, o presidente, no caso Léon Denis, fazia uma curta prece. Em seguida, diminuía-se a luz e ouviam-se com paciência e recolhimento, as manifestações[8].
William Crookes, em uma série de artigos publicados no Quarterly Journal of Science[9], relata diversos experimentos realizados por ele. A maioria dos experimentos foram realizados em ambiente pouco iluminado. Porém, diversas manifestações ocorreram em ambiente totalmente escuro e, também, com grande iluminação.
Poderíamos citar relatos de experiências realizadas por Bozzano, De Rochas, Richet e muitos outros, para concluir que existem experimentos realizados desde a escuridão total até sob o Sol.
Allan Kardec, em O Livro dos Médiuns[10], diz:
Acrescentemos que a forma da mesa, a substância de que é feita, a presença de metais, da seda nas roupas dos assistentes, os dias, as horas, a obscuridade, ou a luz etc., são indiferentes como a chuva ou o bom tempo.
Já no capítulo VI[11], do livro supracitado, Kardec pergunta aos Espíritos:
Por que é que as aparições se dão de preferência à noite? Não indica isso que elas são efeito do silêncio e da obscuridade sobre a imaginação?
E os Espíritos respondem: “Pela mesma razão por que vedes, durante a noite, as estrelas e não as divisais em pleno dia.
A grande claridade pode apagar uma aparição ligeira; mas, errôneo é supor-se que a noite tenha qualquer coisa com isso. Inquiri os que têm tido visões e verificareis que são em maior número os que as tiveram de dia.
Ora, os Espíritos que trabalharam com Kardec afirmam que a luz não impede que uma manifestação ocorra. Será que as informações de André Luiz e Léon Denis vão de encontro ao que Kardec divulgou? A resposta é não.
Realmente a pouca iluminação facilita, por exemplo, materializações, fenômenos ectoplasmáticos e fenômenos luminosos. Porém, existem diversos relatos, mesmo desses fenômenos, ocorrendo de dia, sob o Sol. O que podemos concluir é que a luz branca, com as suas características próprias – frequência, principalmente – influencia de alguma forma essas manifestações, mas não que isso seja um impedimento absoluto à manifestação. Por outro lado, já é atestado que há uma relação entre a luminosidade e a produção de melatonina[12], hormônio produzido pela pineal. Sendo a glândula pineal uma parte importante do processo mediúnico[13] então é de boa lógica concluir que a pouca iluminação, não importando a cor da lâmpada, a priori, pode facilitar o trabalho dos médiuns e, também, se for o caso, a abertura necessária dos assistidos, seja no passe no salão ou em trabalhos específicos de cura, no recebimento da fluidoterapia.
Para finalizarmos, falaremos de uma outra ferramenta da fluidoterapia: a água fluidificada.
A água, notoriamente, é um elemento primordial à vida.
Sob ação da vontade e da fé, pode-se impregná-la de um fluido mais sutil, enchendo-lhe, “os interstícios até a saturação”[14].
Allan Kardec, em A Gênese, afirma que certas substâncias, como a água, podem adquirir qualidades interessantes sob ação do fluido espiritual e magnético[15].
André Luiz, em “Nosso Lar”[16], aprende que a água é um veículo dos mais poderosos para os fluidos de qualquer natureza.
Em o livro “Passe, magnetismo curador”, Palhano Jr. e Dalva Souza, nos informam:
Os espíritas têm grande apreço à água fluidificada; utilizando-a, de modo geral, a benefício de todos. Entretanto, esse recurso pode ter caráter particular: pode-se destinar a água a ser fluidificada para determinado enfermo e, nesse caso, é conveniente que o uso seja pessoal e exclusivo[17],[18]  
Desta forma, caros leitores, não nos resta dúvida que a água fluidificada deverá ser utilizada como mais um recurso em qualquer tratamento.
Não há mistérios na fluidificação da água. Basta que o médium, concentrando-se em uma prece, estenda as suas mãos, solicitando a ajuda espiritual, no propósito de transmitir seus fluidos para um determinado reservatório. Não se preocupem se o recipiente está fechado ou aberto.
Certa vez, o espírito Sheilla, durante uma conversa entre alguns confrades espíritas sobre essa questão, mostrou, pela vidência de um de nós, que os seus dedos atravessavam o vidro da garrafa e deixavam extravasar fluidos no líquido.[19]
Por último, indicamos que a água logo antes da fluidificação, e após a esta, seja mantida em ambiente fresco, sem que seja resfriada. Esta informação não deve ser considerada – assim como qualquer outra neste artigo – como mística. Com efeito, com menor temperatura, a vibração, ou seja, a energia cinética das partículas, diminui.
A água pode ser fluidificada durante uma sessão de passes, por um grupo de médiuns, designados para esta tarefa.
Continuemos com os nossos esforços para estarmos mais próximos da Verdade, mais próximos de Jesus.
E assim, terminamos nossas reflexões iniciais sobre estes assuntos tão interessantes.
Fiquemos com as palavras de Jesus:  
Aquele que der de beber, ainda que seja um copo de água fria, a um destes pequeninos, por ser meu discípulo, em verdade vos digo que de modo algum perderá a sua recompensa.
Mateus, 10, 12.




[1] Revista Fóton -  Volume 10 – Março/2018
[2] Desobsessão, André Luiz - (esp.), Francisco Xavier e Waldo Vieira, 4ª Edição, FEB.
[3] Diálogo com as Sombras, Hermínio de Miranda, 24ª Edição, FEB.
[4] No Invisível, Léon Denis, 2ª - Edição, CELD
[5] No Invisível, capítulo XX, Léon Denis, 2ª Edição, CELD.
[6] No Invisível, capítulo XX, Léon Denis, 2ª Edição, CELD.
[7] Léon Denis e a Experiência Espírita, Henri Regnault, 3ª Edição, CELD.
[8] Léon Denis e a Experiência Espírita, Capítulo V, Henri Regnault, 3ª Edição, CELD.
[9] A Federação Espírita Brasileira (FEB) publicou, parcialmente, estes artigos, em um livro chamado “Fatos Espíritas”.
[10] O Livro dos Médiuns, capítulo II, item 63, Allan Kardec, 1ª Edição, CELD.
[11] O Livro dos Médiuns, capítulo VI, 18ª pergunta, Allan Kardec, 1ª Edição, CELD.
[12] Em humanos, a melatonina tem sua principal função em regular o sono; ou seja, em um ambiente escuro e calmo, os níveis de melatonina do organismo aumentam, causando o sono, relaxamento. Ora, é fácil concluir que esse torpor é necessário para um certo afastamento parcial do perispírito.
[13] Missionários da Luz, capítulo II, André Luiz, 45ª Edição, FEB.
[14] Magnetismo Animal, capítulo XV, Michaelus, FEB.
[15] A Gênese, Allan Kardec, Capítulo XIV, CELD.
[16] Nosso Lar, Capítulo X, FEB.
[17] Passe, magnetismo curador, capítulo 11, Palhano Jr. E Dalva Silva Souza, Lachâtre.
[18] O Consolador, capítulo V, questão 103, Emmanuel, FEB.
[19] Passe, magnetismo curador, Palhano Jr. e Dalva Silva Souza, Lachâtre.

terça-feira, 27 de março de 2018

O Padeiro Desumano – Suicídio[1]




Uma correspondência de Crefled (Prússia Renana), de 25 de janeiro de 1862, inserida no Constitutionnel de 4 de fevereiro, contém o seguinte fato:
Uma pobre viúva, mãe de três filhos, entra numa padaria e pede insistentemente que lhe vendam um pão fiado.
Porque o padeiro recusasse, a viúva reduz o seu pedido a meio pão e, por fim, a uma libra de pão, apenas, para os filhos famintos. O padeiro recusa ainda, deixa o lugar e se dirige para o fundo da padaria. Crendo não ser vista, a mulher se apossa de um pão e sai.
Mas o roubo, imediatamente descoberto, é denunciado à polícia.
 Um agente vai à casa da viúva e a surpreende cortando o pão em pedaços para dar aos filhos. Ela não nega o roubo, mas se desculpa com a necessidade. Embora censurando a crueldade do padeiro, o agente insiste para que ela o acompanhe à delegacia.
A viúva pede apenas alguns instantes para trocar de roupa e entra no quarto; porque demorasse, o agente, perdendo a paciência, resolve abrir a porta: a infeliz jazia no chão, inundada de sangue. Com a mesma faca com que acabara de cortar o pão para os filhos pusera fim aos seus dias.
Tendo sido lida a notícia na sessão da Sociedade de 14 de fevereiro de 1862, foi proposta a evocação dessa infeliz mulher, quando ela mesma veio manifestar-se espontaneamente, conforme comunicação a seguir. Acontece muitas vezes que os Espíritos de quem falamos se revelam dessa maneira. É incontestável que são atraídos pelo pensamento, que é uma espécie de evocação tácita.
Sabem que a gente se ocupa deles e vêm; então se comunicam, se a ocasião lhes parece oportuna ou se encontram o médium que lhes convém. De acordo com isto, compreende-se não haver necessidade de ter um médium, nem mesmo de ser espírita para atrair os Espíritos com os quais nos preocupamos.
Deus foi bom para a pobre alucinada e venho agradecer-vos a simpatia que houvestes por bem testemunhar-me.
Infelizmente, diante da miséria e da fome de meus pobres filhinhos, esqueci-me e fali. Então disse de mim para mim: visto que és impotente para alimentar teus filhos e que o padeiro recusa o pão aos que não podem pagar; desde que não tens dinheiro nem trabalho, morre! Porque, quando não estiveres mais com eles, virão em seu auxílio. Efetivamente, hoje a caridade pública adotou esses pobres órfãos. Deus me perdoou, porque viu a minha razão vacilar e meu pungente desespero. Fui a vítima inocente de uma sociedade má, muito mal regulada. Ah! Agradecei a Deus por vos ter feito nascer nesta bela região da França, onde a caridade vai procurar e aliviar todas as misérias.
Rogai por mim, a fim de que em breve eu possa reparar a falta cometida, não por covardia, mas por amor materno.
Como os vossos Espíritos protetores são bons! Consolam-me, fortificam-me, encorajam-me e dizem que meu sacrifício não foi desagradável ao grande Espírito que, sob o olho e a mão de Deus, preside aos destinos da Humanidade”.
A pobre Mary (Médium: Sr. d’Ambel)
Depois dessa comunicação, o Espírito Lamennais fez a seguinte apreciação sobre o fato em questão:
Esta infeliz mulher é uma das vítimas de vosso mundo, de vossas leis e de vossa sociedade. Deus julga as almas, mas também julga os tempos e as circunstâncias; julga as coisas forçadas e o desespero; julga o fundo e não a forma. E ouso afirmar: esta infeliz morreu não por crime, mas por pudor, por medo da vergonha. É que onde a justiça humana é inexorável, julga e condena os fatos materiais, a justiça divina constata o fundo do coração e o estado da consciência. Seria desejável que em certas naturezas privilegiadas fosse desenvolvido um dom que seria muito útil, não para os tribunais, mas para o adiantamento de algumas pessoas: esse dom é uma espécie de sonambulismo do pensamento, que muitas vezes descobre as coisas ocultas, mas que o homem habituado à corrente da vida, negligencia e atenua por sua falta de fé. É certo que um médium desse gênero, examinando esta pobre mulher, teria dito: Esta mulher é abençoada por Deus porque é infeliz e este homem é amaldiçoado porque lhe recusou pão. Ó Deus! quando, pois, todos os teus dons serão reconhecidos e postos em prática? Aos olhos da tua justiça, aquele que recusou o pão será punido, porquanto o Cristo disse: “Aquele que dá pão ao seu próximo, a mim mesmo o dá.
Lamennais (Médium: Sr. A. Didier)




[1] Revista Espírita – Maio/1862 – Allan Kardec

segunda-feira, 26 de março de 2018

WILLIAM THOMAS STEAD[1]

                                         

Nascido em Embleton, Northumberland, Inglaterra, no dia 5 de julho de 1849, e desencarnado tragicamente na catástrofe ocorrida com o transatlântico "Titanic", na noite de 14 para 15 de abril de 1912, quando da viagem inaugural desse navio, na rota entre a Inglaterra e os Estados Unidos.
No início da década de 1910, nada era feito no sentido de fazer reportagens por ocasião dos grandes acontecimentos. Um notável jornalista, William Thomas Stead, teve a feliz ideia de começar esse gênero de publicidade, o que alcançou grande repercussão na Inglaterra. Por ocasião do lançamento do "Titanic", o maior navio do mundo, o qual era reputado por insubmersível, tais as inovações nele introduzidas, e o sistema construtivo, esse famoso homem de imprensa foi convidado para fazer a reportagem de sua viagem inaugural, dando cobertura jornalística a tudo quanto acontecesse a bordo.
Sucedeu, no entanto que o navio bateu em cheio em enormes geleiras e, numa tentativa de resgate, ordenada pelo comandante, enorme rasgo abriu-se em seu casco, ocasionado o seu naufrágio na noite de 14 para 15 de abril de 1912. Entre as 1.503 vítimas estava William Thomas Stead. O infausto acontecimento encheu o mundo de consternação e o Espiritismo ficou privado do concurso valioso de um destacado homem de imprensa, homem esse que estava vivamente empenhado em divulgar as grandes verdades que havia constatado em seus trabalhos de pesquisa no campo da fenomenologia mediúnica.
Notável jornalista, escritor e publicista inglês, William Thomas Stead dedicou-se muito jovem a essa carreira. No ano de 1871, dirigiu o "Northern Echo", da cidade de Darlington, e nos anos de 1883 a 1889, dirigiu o "Pall Mall Gazette". No ano de 1890, fundou a "Review of Rewiews" e, em 1893 e 1894 lançou numerosas revistas do mesmo gênero, nos Estados Unidos e na Austrália. De 1893 a 1897, dirigiu o órgão espiritualista "Borderland".
No ano de 1898 encetou uma visita à Rússia, onde foi recebido pelo Tzar, dando então início a intensa luta em favor do pacifismo mundial, ideal que passou a defender, com todo o entusiasmo, através da palavra escrita e falada.
No decurso da Conferência de Paz, realizada em Haia, no ano de 1899, Stead teve a oportunidade de visitar aquela cidade, dando início, logo após, na Inglaterra, a acirradas campanhas contra a guerra sul-africana, tendo em decorrência contraído muitas inimizades.
Trabalhou árdua e valorosamente no sentido de se estabelecer um tratado entre a Alemanha e a Inglaterra, propugnando para a concretização de uma segunda conferência de paz, realizada posteriormente em Haia, na Holanda, onde, na qualidade de correspondente, publicou o "Correio da Conferência da Paz".
Era notável a facilidade com que escrevia seus artigos, os quais invariavelmente portavam um cunho sensacionalista. Nos seguintes livros, de sua autoria, podem ser observados a vivacidade e o empenho com que tratava os temas que desejava abordar: "A Verdade sobre a Rússia" (1888); "Se o Cristo viesse a Chicago" (1893); "A Guerra do Trabalho nos Estados Unidos" (1894); "O Mundo Invisível de Satã" (1897); "Os Estados Unidos da Europa" (1899); "Estudos sobre Mrs. Booth" (1900); "A Americanização do Mundo" (1902), além de muitos outros.
"O Rei dos jornalistas, e mais do que isso — o Imperador", esse foi o título elogioso que recebeu do "Cri de Paris", em janeiro de 1907, quatro meses antes da realização da famosa Conferência de Haia.
Quando estava no apogeu de sua carreira de escritor e jornalista, alguns anos antes de sua desencarnação, deixou cheios de admiração a Inglaterra e o mundo científico, com a sua confissão de que estava plenamente convicto da existência do mundo dos Espíritos, isso pelo fato de ter recebido, através de sua própria mediunidade, uma série de comunicações espíritas, atribuídas ao Espírito de Júlia, as quais foram posteriormente publicadas num livro que alcançou grande repercussão, denominado "Cartas de Júlia". Dizia ele então: "Todas as "Cartas de Júlia", foram recebidas por mim mesmo. Estando sozinho, sentado e com ânimo tranquilo, colocava conscientemente minha mão direita, na qual tinha uma caneta, à disposição de Júlia e observava com vivo interesse tudo quanto ela escrevia.
Posso admitir, conforme afirmam meus detratores, que as "Cartas de Júlia" tenham sido simplesmente escritas pelo meu eu subconsciente, isso não rebaixaria em nada a verdade, nem diminuiria a força dessa eloquente e comovedora prova em favor de uma vida superior. Quanto desejaria que o meu eu consciente pudesse escrever tão bem"!
No ano de 1895, respondendo a uma indagação do "Morning Advertiser", de Nova Iorque, que lhe perguntava por que acreditava na imortalidade, ele assim respondeu:
Só o Eterno pode afirmar ou negar a imortalidade. Se vos compreendo bem, não se trata aqui da imortalidade da alma, mas sim da persistência da entidade individual, após a dissolução do corpo por cujo intermédio essa entidade se manifestava durante a sua vida terrena. Aí está uma questão muito mais simples, a que posso responder sem hesitar e sem receio.
Eu não seria verdadeiro, se dissesse que creio na persistência do indivíduo após a morte, por ter observado fenômenos ditos espíritas; muito tempo antes eu aceitava esse fato. Submeti, depois, a minha crença à prova de uma demonstração experimental. E se outrora dizia: “eu creio, hoje digo, eu sei”. Não há uma grande diferença?
William Thomas Stead foi grande amigo do nosso grande Ruy Barbosa. Consta que, na noite do naufrágio do "Titanic", os familiares desse grande político brasileiro, estando reunidos numa sessão de experimentação mediúnica, em Poços de Caldas, receberam a informação de que o famoso jornalista havia desencarnado, notícia que Ruy recebeu com surpresa e com bastante naturalidade, quando um dos membros de sua família lhe comunicou.
O velho político reconheceu na mensagem, de forma surpreendente, o estilo de Stead.




[1] Personagens do Espiritismo - Antônio de Souza Lucena e Paulo Alves Godoy