segunda-feira, 31 de agosto de 2020

AMAZONAS HÉRCULES[1]

 



            Amazonas Hércules foi exemplo de coragem diante das adversidades da vida.

Nascido em Manaus, no dia 5 de setembro de 1912, ficou órfão do pai antes de nascer e da mãe aos quatro anos de idade.

Sua madrinha, Lydia Cardoso Fernandes, a partir de então, passou a criá-lo. Ela, por ser espírita, deu-lhe as primeiras noções do Espiritismo, conduzindo-o às reuniões da Federação Espírita do Amazonas, de cujas atividades participava como voluntária.

Em 1954, Amazonas, portador da doença causada pelo bacilo de Hansen, antigamente chamada de lepra, internou-se na Colônia de Curupaiti, em Jacarepaguá, no Rio de Janeiro, onde desencarnou em 28 de abril de 2004, aos 91 anos de idade.

Amazonas Hércules fez jus ao seu nome e sobrenome, pois era fisicamente robusto, e grande também quando sorria. A sua gargalhada gostosa transmitia a todos muito otimismo. Por essa razão, muitas pessoas sadias o procuravam em busca de ânimo para as lutas da vida. Por telefone, e pessoalmente, enxugou muitas lágrimas com sua palavra doce e confortadora, inspirada no amor de Jesus. Inúmeras vezes, mesmo sofrendo, escondeu suas próprias lágrimas para confortar aqueles que precisavam do seu coração amigo e generoso.

No Centro Espírita Filhos de Deus, que funciona nas dependências da Colônia de Curupaiti, Amazonas Hércules foi secretário por muitos anos. Com as falanges dos dedos das mãos atrofiadas pela hanseníase, ele datilografava toda a correspondência pressionando as teclas da máquina de escrever com um lápis que segurava entre a parte superior do dedo indicador e a do dedo médio. Tendo amputado a perna esquerda, também em consequência da enfermidade, Amazonas se locomovia de muletas para proferir palestras em diversos Centros Espíritas do Estado, e participar do programa "Educar para Crescer" da Rádio Rio de Janeiro.

Ao longo dos 50 anos internado em Curupaiti, desenvolveu, no "Filhos de Deus", amplas atividades assistenciais para o amparo dos familiares carentes dos hansenianos, mantidas até hoje, sendo uma delas a sala de curativos "Maria de Nazaré".

Era poeta, e declamava com muita propriedade poesias suas e de diversos autores. Em seu livro “Canção da Esperança”, o poema "Esteira de Luz" lembra a ressurreição do Cristo, em cujos versos finais diz Amazonas:

Na Galileia ridente

No lago, vasto celeiro,

Piscoso, imenso mar,

Vogavam barcos, veleiros,

Na faina do dia-a-dia

(...)

E um pescador diferente,

De olhos azuis como o mar,

Louros cabelos voando,

Beijados pelas brisas trazidas

De todos os continentes,

(...)

E o fato surpreendente,

Testemunho mais que sublime,

Eloquente,

(...)

Foi à vida vencendo a morte

Na radiosa alvorada da sua ressurreição,

Após o terceiro dia de sua crucificação,

Marco sublime, sem dúvida,

Da vida eterna, imortal,

Sublime "esteira de luz"

Dessa estrela peregrina

Que foi o Mestre Jesus!

sábado, 29 de agosto de 2020

PAREDES DE HOSPITAIS

 


Autor Desconhecido

 

Paredes de hospitais já ouviram preces mais honestas do que igrejas...Já viram despedidas e beijos mais sinceros que em aeroportos...

É no hospital que você vê um homofóbico ser salvo por um médico gay...

A médica "patricinha" salvando a vida de um mendigo...

Na UTI você vê um judeu cuidando de um racista...

Um paciente policial e outro, presidiário, na mesma enfermaria recebendo ambos os mesmos cuidados...

Um paciente rico na fila de transplante hepático pronto para receber o órgão de um doador pobre...

 

A verdade absoluta das pessoas, na maioria das vezes, só aparece no momento da dor ou da ameaça real da perda definitiva

Esta vida vai passar rápido, não brigue com as pessoas, não critique tanto seu corpo.

Não reclame tanto.

Não perca o sono pelas contas. Não deixe de beijar seus amores. Não se preocupe tanto em deixar a casa impecável.

Bens e patrimônios devem ser conquistados por cada um, não se dedique a acumular herança.

Deixe os cachorros mais por perto. Não fique guardando as taças. Use os talheres novos.

Não economize seu perfume predileto, use-o para passear com você mesmo.

Gaste seu tênis predileto, repita suas roupas prediletas, e daí?

Se não é errado, por que não ser agora?

Por que não ligar agora?

Por que não perdoar agora?

Espera-se muito o Natal, a sexta-feira, o outro ano, quando tiver dinheiro, quando o amor chegar, quando tudo for perfeito…

Olha, não existe o tudo perfeito.

O ser humano não consegue atingir isso porque simplesmente não foi feito para se completar aqui.

Aqui é uma oportunidade de aprendizado.

sexta-feira, 28 de agosto de 2020

A RAZÃO DAS ANTIPATIAS QUE SOFREMOS NA TERRA[1]

 

Bobo risonho, J. Cornelisz van Oostsanen (~1500). Fonte: Wikipédia.

 

Ademir Xavier

 

(...) Um espírito mau antipatiza com quem quer que o possa julgar e desmascarar. Ao ver pela primeira vez uma pessoa, logo sabe que vai ser censurado. Seu afastamento dessa pessoa se transforma em ódio, em inveja e lhe inspira o desejo de praticar o mal. O bom Espírito sente repulsão pelo mal, por saber que este o não compreenderá e porque díspares dos dele são os seus sentimentos. Entretanto, consciente da sua superioridade, não alimenta o ódio, nem inveja contra o outro. Limita-se a evitá-lo e a lastimá-lo. (O Livro dos Espíritos, resposta à questão 391)

 

A ciência espírita não só trata do conhecimento das manifestações espíritas ou dos mecanismos entre o espírito e o perispírito. Essa ciência, que ainda está em sua tenra infância, permite compreender de forma racional um conjunto de influências tanto boas como más que recebemos durante nossas vidas.

Essa compreensão se alicerça na imagem nova que a revelação traz, principalmente, da verdadeira razão da existência humana. É verdade que a moderna psicologia propõe procedimentos e elabora recomendações sobre como devemos proceder psicologicamente em nossas vidas. Porém, a revelação dos Espíritos nos traz ingredientes adicionais pelos quais é possível absorver um pouco mais racionalmente essas recomendações. Há obviamente racionalidade em todo tratamento psicológico: o de melhorar a vida e restaurar a felicidade e a paz de espírito. Mas, todo e qualquer ensinamento adicional que colabore com esse objetivo é bem-vindo. Não há maior ensinamento sobre a vida do que conhecer sua razão de ser e objetivo final.

As causas das simpatias, mas principalmente, antipatias que enfrentamos na vida estão bem descritas no Cap. VII da 2ª Parte de O Livro dos Espíritos. Ainda motivado pelas complexidades da "Volta do Espírito à Vida Corporal" (O Capítulo VII), há uma seção inteira dedicada a "simpatia e antipatia terrenas". É importante dizer que não há nada de inerentemente ruim ou bom no fato de dois Espíritos sentirem, por exemplo, antipatia recíproca. Isso está bem claro na resposta à Questão 390:

 

De não simpatizarem um com o outro, não se segue que dois Espíritos sejam necessariamente maus. A antipatia, entre eles, pode derivar da diversidade no modo de pensar. À proporção, porém, que se forem elevando, essa divergência irá desaparecer e a antipatia deixará de existir.

 

Como consequência dessa independência, a antipatia não nasce primeiro naquele Espírito de natureza inferior: "Numa e noutra indiferentemente, mas distintas são as causas e os efeitos nas duas", diz o início da questão 391, cuja segunda parte citamos no começo deste post. Não obstante a antipatia ser recíproca, ela provoca em cada Espírito reações diferentes.

No inferior, ela amplifica sentimentos já existentes de inveja, ódio e do "desejo de praticar o mal". Disso segue que, embora o sentimento seja recíproco, a parte mais inferior quase sempre toma a iniciativa da prática lamentável, da perseguição, da injúria ou da maledicência, ações que, sem freio, são a causa de muitos crimes que assistimos todos os dias nos noticiários.

 

“Não é porque ela é tua mãe que tem obrigação de te amar" ou as antipatias na família.

Uma leitura desatenta da seção que estudamos aqui pode levar a pensar que os Espíritos apenas se referiam a antipatias 'fortuitas' que encontramos em nossas vidas, problemas entre amigos ou nas relações profissionais. A mais difícil lição para os Espíritos encarnados é a de serem obrigados a enfrentar antipatias dentro da própria família. Pois, como consequência do ensino dos Espíritos, não há obrigações inatas ou genéticas para que uma mãe, um pai ou filhos amem-se, caso sejam Espíritos antipáticos.

Muitos se escandalizam com essas conclusões, mas o sentimento de revolta é, na verdade, consequência dos ditames culturais e do que seria 'natural' encontrar, mas não da realidade oculta da Vida Maior que se mostra nos casos particulares. De fato, as leis de afinidade entre os Espíritos e as vidas pregressas explicam muitas das antipatias observadas no seio das famílias. Muitos se perguntam por quê? A resposta aí está. Tais espíritos podem ser antipáticos, mas não necessariamente maus, repetimos.

Mas, não importa a cor, a cultura, o laço de relação familiar ou a educação que adorne aquele que pratica atos como racismo, bulling, perseguições sistemáticas por motivos fúteis e outros. Serão sempre prova da natureza inferior da personalidade de seus Espíritos que estarão sujeitos à correção no futuro. Por outro lado, muito melhores são os pais e filhos que, não obstante antipatias entre si, seguem firmes os princípios de respeito e justiça.

Também não é verdade que a antipatia que sentimos por alguém próximo ou distante na família seja exclusivamente fundada em ações de vidas anteriores. Muitas vezes isso é afirmado entre os espíritas, mas uma leitura atenta da seção que estudamos aqui traz essa consequência lógica, que também vale para as afinidades:

 

Dois Espíritos, que se ligam bem, naturalmente se procuram um ao outro, sem que se tenham conhecidos como homens. (Resposta à questão 387)

 

Reconhecida uma antipatia mútua, é importante que cada um busque evitar qualquer contenda, criando uma atmosfera de respeito mútuo. Ora, isso nasce mais naturalmente em quem tem o Espírito mais desenvolvido. Reconhecida a antipatia, surge imediatamente a repulsa pela situação, a ânsia pela fuga ou distanciamento do outro. Segundo os Espíritos, isso é bastante natural, e a situação cai na classe das "vicissitudes" da vida ‒ dos testes ou provas a que os Espíritos estão sujeitos para melhor controlarem seus sentimentos.

Não há uma pergunta específica em O Livro dos Espíritos sobre o que acontece quando os dois Espíritos têm o mesmo grau de esclarecimento, mas são antipáticos. Mas a resposta, obviamente, é uma consequência lógica dos princípios enunciados.  Também, de acordo com a resposta à Questão 390, Espíritos verdadeiramente superiores não mantêm antipatias, pois não mais estão sob influência das paixões inferiores. Assim, à medida que se elevam, a "antipatia deixará de existir". Isso não implica que, em missões na Terra, não sofram eles também antipatias. De fato, isso é o que mais ocorre, pois são muito diferentes do meio que encontram.

 

Antipatias entre os não esclarecidos

Resta, porém, o dificílimo problema de como lidar com a antipatia que nasce entre Espíritos de natureza inferior. Desde que a razão não intervenha e induza a ambos reconhecer que o melhor para os dois é manterem a devida distância, a relação quase sempre evolui em espiral descendente de sentimentos, da prática abusiva de perseguições sem justificativas, que podem acabar em crimes, alguns até hediondos. Incapazes de compreender a origem da antipatia, procedem instigando-se uns aos outros. Adquirem assim débitos que somente poderão ser quitados em futuras existências ‒ quase sempre em situações ainda mais difíceis. Muitos dos que estão no entorno desses Espíritos sofrem consideravelmente, quando não acabam se transformando em verdadeiros grupos antagônicos e inimigos declarados.

Incapazes de compreender a origem da antipatia que sempre permanece oculta ‒ seja por uma falta de afinidade natural ou por reconhecimento mútuo com causas no passado, a escalada do mal que alimenta as antipatias entre os Espíritos somente pode ser contrabalançada pelo perdão das ofensas. Essa é a mais difícil lição a que os Espíritos libertos do mal em si próprios estão sujeitos: o de perdoarem os erros e as falhas daqueles que se apresentam como inimigos.

É possível imaginar que, até que tenham atingido estágio de discernimento, continuam a lutar entre si. No cadinho dos sentimentos levianos, tornam-se afins por interesses pessoais. Incapazes de perdoar, fustigam seus rivais. Colhem, por tempo indeterminado, decepções e sofrimentos, gozando de forma muito momentânea da felicidade fugaz que alimenta ainda mais os sentimentos do momento. Não há ponto de retorno aqui, até que o sofrimento resultante disso corroa todo o ânimo de praticar o mal e faça nascer na alma uma luz. O arrependimento precede ao perdão, porque a duras penas o Espírito passa a entender que ele não será feliz no velho modo de agir.  O mundo para o Espírito assim regenerado se torna um grande campo de regeneração. Aqui e ali, entretanto, ainda encontrará suas antipatias, das quais, agora redimido, tentará fugir.

Isso assim será até que, completamente refeito em sua estrutura psicológica, o Espírito se torne tão sólido moralmente que nada abale seu ânimo. Haverá então conquistado a verdadeira salvação.

Tal como os Espíritos, as sociedades também evoluem ao reconhecerem a origem do mal e ao procurarem rejeitá-lo sistematicamente. Mas esse é um assunto para um futuro post.

quinta-feira, 27 de agosto de 2020

LIBERTAÇÃO DA ALMA[1]

 


Miramez

 

Todos os Espíritos experimentam, no mesmo grau e pelo mesmo tempo, a perturbação que se segue a separação da alma e do corpo?

‒ Não, pois isso depende da sua elevação. Aquele que já está depurado se reconhece quase imediatamente, porque se desprendeu da matéria durante a vida corpórea, enquanto o homem carnal, cuja consciência não é pura, conserva por muito mais tempo a impressão da matéria.

Questão 164/O Livro dos Espíritos

 

A separação da alma do corpo, quando nesse se extingue a força vital, nunca ocorre da mesma maneira. A diversidade é infinita, do mesmo modo que as folhas das árvores não são iguais nos seus detalhes. Cada desencarnação tem suas nuances próprias. Como já foi dito, há Espíritos que levam minutos afrouxando e desatando os laços ao corpo, e outros que levam até séculos, ficando ligados aos ossos, permanecendo na ilusão de que ainda estão vivos no corpo físico.

Podemos mostrar, como exemplos, os grandes missionários do Cristo que, mesmo reencarnados, já vivem em Espírito e não têm dificuldade alguma em se separarem do fardo corporal para entrarem na vida espiritual, por já viverem nela. Quase sempre, eles mesmos desatam seus próprios laços, atados por eles mesmos, ao ingressarem na carne.

A separação é de conformidade com a pureza da alma; gasta mais ou menos tempo, e a redução do tempo está, por assim dizer, nas próprias mãos de cada um. É conquista da alma.

A Doutrina dos Espíritos, desde os seus primórdios, sob a orientação dos Espíritos Superiores, vem cooperando para que os homens despertem, no sentido de trabalharem no auto aprimoramento, e ganharem essa bênção da consciência imediata ao atravessar o túmulo.

Quem deseja ficar na perturbação espiritual? Todos buscam a libertação, mas, poucos sabem procurá-la pelos caminhos certos.

A vida é uma eterna escola, para educar sempre pelos métodos que Deus determinou, em variados cambiantes das leis espirituais. Também não há pressa para o cumprimento das leis; sabe Deus da sua sequência sem interrupção e abençoa sempre, amando tido e a todos com o mesmo calor.

Concitamos os homens que aprendem a orar, que não se esqueçam do auto aprimorado, que lutem todos os dias para viverem bem com o próximo, de sorte a ganhar consciência da vida, e ganhar vida na consciência.

O Livro dos Espíritos, no qual estamos nos inspirando para conversar com os homens, deve ser lido e meditado, pois ele é fonte de muitas instruções, revelando leis que estavam encobertas e que têm o poder de nos livrar de embaraços aos quais a ignorância nos prende.

Se ainda não começaste a pensar sobre a tua vida e sobre como viver melhor, começa agora, que chegarás à conclusão de que deves viver em conjunto e paz com todos, trabalhando e ajudando onde quer que seja, porque toda luz nasce no seio de todos os esforços que se reúnem.

A morte do corpo, todos já bem o sabem, é fato natural, mas, nunca é aceita como tal, por se esquecer de estudar esse fenômeno à luz do coração. Sempre se deixa para depois, e o tempo vai passando, levando a própria felicidade de cada um. Eis que chegou o momento desse estudo transcendental. De estudar aquilo que chamam de morte, para que se possa descobrir a vida eterna que acena para todos, das profundezas do universo pelas mãos luminosas de Deus.



[1] Filosofia Espírita – Volume 4 – João Nunes Maia

quarta-feira, 26 de agosto de 2020

EXPERIÊNCIAS DE QUASE MORTE - Encontrando outros[1]

 


Dr. Raymond Moody Jr.

 

Muitos me contaram que em certo ponto, enquanto estavam morrendo — algumas vezes bem cedo na experiência, outras só depois da ocorrência de outros eventos —, tornaram-se cônscios da presença de outros seres espirituais na sua vizinhança, seres que aparentemente lá estavam para ajudá-los na transição para a morte, ou, em dois casos, para dizer que sua hora ainda não tinha chegado e que deviam voltar a seus corpos físicos.

Uma mulher lembra:

 

Passei por essa experiência quando estava dando à luz uma criança. O parto foi muito difícil e perdi uma porção de sangue. O médico deu-me por perdida e disse a meus parentes que eu estava morrendo. No entanto, eu estava bem alerta o tempo todo, e mesmo quando estava ouvindo dizer tudo isso senti que estava voltando. Nesse momento percebi toda aquela gente que estava lá, parecia quase uma multidão parada em volta do teto do quarto.

Eram, todas, pessoas que eu tinha conhecido na minha vida passada, e que já tinham morrido. Percebi minha avó e uma menina que conheci na escola, e muitos parentes e amigos. Parecia-me ver especialmente suas faces e sentir sua presença. Todos pareciam felizes. Era uma ocasião muito feliz, e senti que tinham vindo me proteger e me guiar. Era como se eu estivesse voltando para casa e eles estivessem lá para me saudar ou receber com boas-vindas.

Nessa ocasião tive a sensação de que tudo era luz e beleza. Foi um momento lindo e glorioso.

 

Um homem relembra:

 

Várias semanas antes de eu ter quase morrido, um bom amigo meu, Robert, tinha sido morto.

Bem, no momento em que saí do meu corpo tive a sensação de que Robert estava ali, bem junto de mim. Podia vê-lo na minha mente e sentir que ele estava ali, mas era estranho. Não via seu corpo físico. Podia ver coisas, mas não na forma física, no entanto tão claramente como se fosse na forma física: sua expressão, tudo. Isso faz sentido? Ele estava ali, mas não tinha um corpo físico. Era uma espécie de corpo claro, e eu podia sentir cada parte dele — braços, pernas e tudo —, mas não estava vendo fisicamente. Não pensei que isso era estranho no momento porque não tinha mesmo precisão de vê-lo com meus olhos. De qualquer modo, eu não tinha olhos.

Eu ficava perguntando: Bob, para onde eu vou agora? Que aconteceu? Estou morto ou não? E ele nunca respondeu, nunca disse uma palavra. Mas, muitas vezes, enquanto eu estava no hospital, lá estava ele, e eu perguntava outra vez: O que está acontecendo?, mas sempre sem resposta. Depois veio o dia em que os médicos disseram: Ele vai viver, e Bob desapareceu. Não o vi mais nem senti sua presença. Era como se ele estivesse esperando até que eu ultrapassasse a fronteira final para daí me dizer, me dar os detalhes do que estava acontecendo.

 

Em outros casos, os espíritos que as pessoas encontram não são gente que tenham conhecido durante a vida física. Uma mulher disse que viu durante a sua estada fora do corpo não apenas seu próprio corpo espiritual transparente, como também um outro, de outra pessoa que havia morrido recentemente. Ela não sabia quem era essa outra pessoa, mas fez esta observação interessante: Eu não via essa pessoa, esse espírito, como se tivesse qualquer idade determinada, de jeito nenhum. Eu não tinha mesmo nenhuma sensação de tempo.

Em uns poucos casos, as pessoas vieram a acreditar que os seres que encontraram eram seus "espíritos guardiães". Um homem ouviu de um tal espírito: Ajudei você através deste estágio da sua existência, mas agora devo entregá-lo a outros. Uma mulher me disse que quando estava deixando seu corpo detectou a presença de dois outros seres espirituais, e eles se identificaram como "ajudantes espirituais" dela.

Em dois casos muito semelhantes, pessoas me contaram que ouviram uma voz que lhes disse que elas ainda não estavam mortas e que deviam voltar. Como uma delas narra:

 

Ouvi uma voz, não uma voz de homem, mas como se viesse de além dos sentidos físicos, me dizendo o que devia fazer — voltar —, e não senti nenhum medo ao voltar para o meu corpo físico.

 

Finalmente, os seres espirituais podem tomar uma forma algo mais amorfa.

 

Enquanto eu estava morto, naquele vácuo, falava com pessoas — não posso dizer, porém, que estivesse falando com gente corporal.

No entanto, tinha a sensação de que havia gente em volta de mim; eu podia sentir sua presença, e podia sentir que estavam se movendo, embora não pudesse ver ninguém. Em um ou outro momento me encontrava falando com uma delas, mas não podia vê-las. E, sempre que tentava imaginar o que estava acontecendo, vinha o pensamento de uma delas, de que tudo estava bem, que eu estava morrendo, mas iria ficar bom. Por isso, minha condição nunca me preocupou. Vinha sempre uma resposta delas para cada pergunta que eu formulava. Não deixavam que minha mente ficasse vazia.



[1] Vida depois da Vida – Dr. Raymond Moody Jr.

terça-feira, 25 de agosto de 2020

O ESPIRITISMO OBRIGA[1]

 

Allan Kardec

 

(Paris, abril de 1866 – Médium: Sra. B...)

 

O Espiritismo é uma ciência essencialmente moral. Desde logo, os que se dizem seus adeptos não podem, sem cometer uma grave inconsequência, subtrair-se às obrigações que ele impõe.

Essas obrigações são de duas sortes:

A primeira concerne ao indivíduo que, ajudado pelas claridades intelectuais que a doutrina espalha, pode compreender melhor o valor da cada um de seus atos, sondar melhor todos os refolhos de sua consciência, apreciar melhor a infinita bondade de Deus, que não quer a morte do pecador, mas que se converta e viva; e, para lhe deixar a possibilidade de erguer-se de suas quedas, deu-lhe uma longa série de existências sucessivas, em cada uma das quais, levando a pena de suas faltas passadas, pode adquirir novos conhecimentos e novas forças, fazendo-o evitar o mal e praticar o que é conforme a justiça, à caridade. Que dizer daquele que, esclarecido quanto aos seus deveres para com Deus, para com seus irmãos, permanece orgulhoso, cúpido e egoísta? Não parece que a luz o tenha enceguecido, porque não estava preparado para recebê-la? Desde então marcha nas trevas, não obstante em meio à luz; só é espírita de nome. A caridade fraterna dos que veem realmente deve esforçar-se por curá-lo dessa cegueira intelectual; mas, para muitos dos que se lhe assemelham, será preciso a luz que o túmulo traz, porque seu coração está muito preso aos gozos materiais e seu espírito não está maduro para receber a verdade. Em uma nova encarnação eles compreenderão que os planetas inferiores como a Terra não passam de uma espécie de escola mútua, onde a alma começa a desenvolver suas faculdades, suas aptidões, para em seguida as aplicar ao estudo dos grandes princípios de ordem, de justiça, de amor e de harmonia, que regem as relações das almas entre e si, e as funções que desempenham na direção do Universo; eles sentirão que, chamada a uma tão alta dignidade, qual a de se tornar mensageira do Altíssimo, a alma humana não deve aviltar-se, degradar-se ao contato dos prazeres imundos da volúpia, das ignóbeis cobiças da avareza, que subtrai de alguns filhos de Deus o gozo dos bens que deu a todos; compreenderão que o egoísmo, nascido do orgulho, cega a alma e a faz violar os direitos da justiça, da Humanidade, desde que gera todos os males que fazem da Terra uma estação de dores e de expiações. Instruídos pelas duras lições da adversidade, seu espírito será amadurecido pela reflexão, e seu coração, depois de ter sido massacrado pela dor, tornar-se-á bom e caridoso. É assim que o que vos parece um mal por vezes é necessário para reconduzir os endurecidos. Esses pobres retardatários, regenerados pelo sofrimento, esclarecidos por esta luz interior, que se pode chamar o batismo do Espírito, velarão com cuidado sobre si mesmos, isto é, sobre os movimentos de seu coração e o emprego de suas faculdades, para dirigi-los conforme as leis da justiça e da fraternidade. Compreenderão não apenas que eles próprios são obrigados a melhorar-se, cálculo egoísta que impede atingir o objetivo visado por Deus, mas que a segunda ordem de obrigações do espírita, decorrendo necessariamente da primeira e a completando, é a do exemplo, que é o melhor dos meios de propagação e de renovação.

Com efeito, aquele que está convencido da excelência dos princípios que lhe são ensinados, e a eles conformar a sua conduta, princípios que lhe devem proporcionar uma felicidade duradoura, não pode, se estiver verdadeiramente animado desta caridade fraterna, que está na essência mesma do Espiritismo, senão desejar que sejam compreendidos por todos os homens. Daí a obrigação moral de conformar sua conduta com sua crença e ser um exemplo vivo, um modelo, como o Cristo o foi para a Humanidade.

Vós, frágeis centelhas partidas do eterno foco do amor divino, certamente não podeis pretender uma tão vasta irradiação quanto à do Verbo de Deus encarnado na Terra, mas, na vossa esfera de ação, podeis espalhar os benefícios do bom exemplo. Podeis fazer amar a virtude, cercando-a do charme dessa benevolência constante, que atrai, cativa e mostra, enfim, que a prática do bem é coisa fácil, promove a felicidade íntima da consciência que se colocou sob sua lei, pois ela é a realização da vontade divina, que nos fez dizer por seu Cristo: Sede perfeitos, como perfeito é o vosso Pai celestial.

Ora, o Espiritismo é a verdadeira aplicação dos princípios da moral ensinada por Jesus, e é apenas com o objetivo de fazê-la por todos compreendida, a fim de que, por ela, todos progridam mais rapidamente, que Deus permite esta universal manifestação do Espírito, vindo explicar o que vos parecia obscuro e vos explicar toda a verdade. Vem, como o Cristianismo bem compreendido, mostrar ao homem a absoluta necessidade de sua renovação interior pelas consequências mesmas que resultam de cada um de seus atos, de cada um de seus pensamentos; porque nenhuma emanação fluídica, boa ou má, escapa do coração ou do cérebro do homem sem deixar uma marca em algum lugar. O mundo invisível que vos cerca é para vós esse Livro de Vida, onde tudo se inscreve com uma incrível fidelidade, e a balança da Justiça Divina não é senão uma figura, a exprimir que cada um de vossos atos, de vossos sentimentos, é, de certo modo, o peso que carrega vossa alma e a impede de se elevar, ou o que traz o equilíbrio entre o bem e o mal.

Feliz aquele cujos sentimentos partem de um coração puro; espalha em seu redor como uma suave atmosfera, que faz amar a virtude e atrai os Espíritos bons; seu poder de irradiação é tanto maior quanto mais humilde for, isto é, mais desprendido das influências materiais que atraem a alma e a impedem de progredir.

As obrigações que impõe o Espiritismo são, pois, de natureza essencialmente moral; é uma consequência da crença; cada um é juiz e parte em sua própria causa; mas as claridades intelectuais a quem realmente quer conhecer-se a si mesmo e trabalhar em sua melhoria são tais que amedrontam os pusilânimes, razão por que é rejeitado por tão grande número. Outros tratam de conciliar a reforma que sua razão lhes demonstra ser uma necessidade, com as exigências da sociedade atual. Daí uma mistura heterogênea, uma falta de unidade, que faz da época atual um estado transitório. É muito difícil à vossa pobre natureza corporal despojar-se de suas imperfeições para revestir o homem novo, isto é, o homem que vive segundo os princípios de justiça e de harmonia determinados por Deus; não obstante, com esforços perseverantes lá chegareis, porque as obrigações impostas à consciência, quando estiver suficientemente esclarecida, têm mais força do que jamais terão as leis humanas, baseadas no constrangimento de um obscurantismo religioso que não suporta o exame. Mas se, graças às luzes do alto, fordes mais instruídos e compreenderdes mais, também deveis ser mais tolerantes e não empregar, como meio de propagação, senão o raciocínio, pois toda crença sincera é respeitável. Se vossa vida for um belo modelo, em que cada um possa encontrar bons exemplos e sólidas virtudes, onde a dignidade se alia a uma graciosa amenidade, regozijai-vos, porque tereis, em parte, compreendido a que obriga o Espiritismo.

 

Luís de França



[1] Revista Espírita – Maio/1866 – Allan Kardec

segunda-feira, 24 de agosto de 2020

ÁLVARO HOLZMANN[1]

 


           Nasceu a 23 de janeiro de 1906, na cidade de Ponta grossa, Estado do Paraná, e desencarnou no dia 15 de fevereiro de 1968.

Álvaro Holzmann era filho do venerando e saudoso casal Dona Maria Joana e Sr. Jacob Holzmann, o valoroso fundador do Diário dos Campos.

Era casado com dona Juracy Martins Holzmann e deixa os seguintes filhos: Alvaci Holzmann, funcionário do Banco do Brasil, casado com dona Míriam Pacheco Holzmann; Ronaldo Holzmann, casado com dona Neiva Holzmann; dona Mariasilvia Holzmann Pereira, casada com o Sr. Hermenegildo Pereira Maia e Alvacelia, solteira.

Estudou na mesma cidade com o Prof. Padre Lux e o Prof. Becker e Silva. Foi também aluno da antiga Faculdade de Farmácia e Odontologia, daquela cidade.

Mas foi sua vocação para a música, herdada do pai musicista de fina têmpera e de sua mãe, exímia cantora, que definiu a carreira de Álvaro Holzmann. Iniciando seu aprendizado com seu tio, o saudoso e renomado maestro Jorge Holzmann, fundador da Banda Lira dos Campos; Álvaro Holzmann tornou-se um músico e compositor de soberba inspiração e virtuosismo ímpar, destacando-se como pianista exímio. Nessa condição, em sua mocidade, após ter cursado o Conservatório de Música do Rio de janeiro, foi músico a bordo do navio Bagé, com o qual percorreu grande parte da Europa.

Fixando residência em Ponta Grossa, após seu casamento, dedicou-se ao ensino da música, tendo ingressado no corpo docente do Colégio Regente Feijó durante 30 anos, aposentando-se por deficiência visual, fato que lhe tolheria a continuação da carreira como músico, mas não lhe diminuiu a capacidade e inspiração de compositor nem a sua vocação inata para a assistência social.

Em Porto Alegre, quando ainda jovem, tomou contato com a Doutrina Espírita e com as obras assistenciais do Albergue Noturno Diaz da Cruz, onde prestou inestimáveis serviços.

Álvaro Holzmann não viveu somente para a família: dedicou também sua vida aos pobres, à orientação de Espíritos desencarnados e infelizes. Procurou viver sempre modestamente, aproveitando todos os momentos de sua preciosa existência para realizar o que podia em benefício de seus semelhantes, dando assim, exemplo de verdadeiro espírita.

 

APÓSTOLO DA CARIDADE

Jovem ainda, quando residia em Porto Alegre, Álvaro Holzmann tomou contato com a Doutrina Espírita e com as obras assistenciais que eram realizadas no Albergue Noturno Dias da Cruz. Esclarecido pelo Evangelho e sentindo no espírito o impulso irresistível para o bem, iniciou sua longa e exemplar jornada no terreno da beneficência.

Retornando a Ponta Grossa uniu-se à Sociedade Espírita Francisco de Assis de Amparo aos Necessitados, da qual foi presidente por longos anos, e onde iniciou seu apostolado como verdadeiro seguidor do patrono da casa o humilde e luminoso Francisco de Assis.

Por sua inspiração e com a cooperação inestimável do seu trabalho cristão, surgiram a Associação Protetora do Recém-nascido, o Albergue Noturno, a creche, o lar Hercília de Vasconcellos, a Comunhão Espírita Cristã, o Lar das Vovozinhas Balbina Branco, todos esses departamentos ligados à Casa de Francisco de Assis , além de cooperar sempre na assistência prestada por outras entidades.

Álvaro Holzmann foi chamado por alguém de “Esmoleiro do Bem”, porque renunciou à carreira de musicista para dedicar-se somente aos pobres, pedindo sempre recursos em toda parte para a manutenção das obras assistenciais ligadas à Sociedade Francisco de Assis.

Levado pelo interesse de orientar as Mocidades Espíritas, dedicou-se, durante alguns anos, a compor músicas e letras baseadas nos textos Evangélicos interpretados à luz do Espiritismo, aproveitando, dessa forma, seu pendor musical. Essas músicas foram compostas com grande carinho, a fim de, não só, manter ambiente alegre e sadio nas reuniões dos moços espíritas como também objetivando fazer com que eles aprendessem a meditar sobre os ensinos de Jesus. Compôs cerca de 200 hinos, dos quais alguns foram gravados em discos, sob o título “O Evangelho cantado à luz do Espiritismo”, pelas meninas do Coral do Lar “Hercília Vasconcellos”, da cidade de Ponta Grossa.

Verdadeiro “esmoleiro” do bem, Álvaro Holzmann renunciou à carreira brilhante que poderia ter realizado como concertista e maestro, dedicando-se de corpo e alma ao trabalho de pedir recursos para manter as obras assistenciais. Igualmente, na pregação evangélica e doutrinária sempre teve uma palavra de esclarecimento e consolo para os necessitados.

Alma simples e boa, tornou-se figura popular na cidade pela maneira com que confraternizava com todas as criaturas, procurando minorar os menos felizes.

Seu pendor musical foi inteiramente dedicado a musicar versos seus e de outros autores espíritas, decantando o Evangelho e a Doutrina Espírita em belíssimas composições, muitas delas já gravadas em dois discos elepês que correm o Brasil. Levando a sua mensagem de esperanças, cantada pelas meninas e moças do Coral Hercília de Vasconcellos, que ele organizou e dirigia.

Álvaro Holzmann procurou movimentar no sentido do bem todos os talentos que Deus lhe confiou. Esclarecido pela Doutrina Espírita, soube fazer de sua vida modesta, porém utilíssima, um permanente roteiro de serviço ao próximo. Nenhuma glória humana o seduziu, a não ser a glória de fazer o bem. Para si aceitava apenas um título: “Pedinte”.

Esse homem de quem a cidade se despediu ontem, levando até o Cemitério de São José o corpo de carne que lhe serviu de veículo para as tarefas que executou. Seu exemplo permanece luminoso, tal como seu espírito imortal que regressou à Pátria Espiritual com a tranquilidade daqueles que tudo fizeram para bem viver os preceitos cristãos. Isto lhe basta.

sexta-feira, 21 de agosto de 2020

CRIANÇAS QUE SE LEMBRAM DE VIDAS PASSADAS[1]

 

Wellington Balbo

 

Recentemente publiquei uma postagem numa rede social sobre a filha da apresentadora Xuxa, (resultado da entrevista que Xuxa concedeu ao jornalista Pedro Bial) que quando ainda criança, 2 anos, lembrou-se de que numa suposta existência passada era agredida pelos seus pais.

Pois bem, por conta desta postagem recebi diversos relatos, mais de 40, todos referentes a hipotéticas recordações que as crianças trazem de suas vidas passadas.

Registros que se tratam de informações colhidas dos pais, portanto, trago-as aqui para nosso estudo, mas sem a ideia de fechar questão ou de montar uma verdade inexistente.

Trata-se, grosso modo, de um trabalho empírico que pode abrir mais algumas portas no que diz respeito à reencarnação e lembranças de outros tempos, tema, aliás, já bem explorado, mas que não se esgota.

Uma pena, penso, que muitas supostas recordações de vidas pregressas relatadas pelos pequenos que estão próximos a nós passem despercebidas, negligenciadas e, ainda, mal anotadas. É um material que poderia servir de pesquisa importante, mas que se perde, vítima de nosso pouco apreço pelo tema, ou mesmo desinteresse em conquistar o campo científico.

Por isso estimulo os pais:

Anotem o que dizem seus filhos; coloquem data, hora, ano, deixem o registro.

 

E, sabe-se Deus porquê, talvez por esta tal de sincronia trabalhada por Jung, que bem no momento em que estou escrevendo este texto recebo contato de um pai, que assim manifestou-se:

Que faço com meu filho de 3 anos, ele quer que eu o leve para os seus pais japoneses, diz que é de lá e vem cantando músicas bem estranhas, em linguagem parecida com o idioma japonês.

 

Pois bem, diante do exposto acima, e como já dito, apenas com a pretensão do estudo, compartilho as informações principais, já resumidas, que colhi dos relatos paternos e maternos sobre as espontâneas manifestações de seus filhos.

– As crianças tinham idade mínima de 2 anos e máxima de 5 anos.

– Algumas crianças agradecem aos pais por deixá-las nascer, pois outros pais não haviam permitido.

– Narrativas de amigos imaginários, com nomes e descrições detalhadas desses amigos.

– Comentários relacionados a outros mundos, diferentes da Terra, seguidos de pedidos para morrer em virtude de ser este mundo, a Terra, muito ruim em comparação aos seus mundos de origem.

– Citações de terem outros pais e mães. Informações relacionadas ao tipo de morte que seus supostos pais de outra vida tiveram.

– Relatos de agressões sofridas de outros pais em uma hipotética vida pregressa. Um destes relatos, aliás, traz informações de que a mãe havia afogado a filha. A menina tem isso tão marcado que, inclusive, repercutiu na vida atual, pois a garotinha de 3 anos impedia a mãe de dar-lhe banho. Só com muito amor e pedido de perdão da mãe à filhinha é que a situação acalmou-se um pouco. Mas, segundo a mãe, ainda hoje, após muitos anos, a filha recusa-se, por exemplo, a tomar banho de mar com ela.

– Vários casos de meninas dizendo à família que não querem ser meninos. E quando a família diz que são meninas e não meninos, as crianças informam: ainda bem, pois quando eu era menino sofria muito, não quero nunca mais ser menino.

– Perguntas do tipo:

“Mãe, você lembra quando era minha irmã e brincávamos pelo gramado?”

“Vovó, recorda-se da época em que éramos criança e tínhamos a mesma mãe?”

 

Pois bem, meus amigos, trata-se de uma pequena pincelada neste instigante tema.

Se são imaginações da cabeça infantil, exagero dos pais ou recordações de vidas pregressas, ao certo não sabemos.

Pode ser um pouco de cada coisa, mas que há farto material para estudo nas vivências com nossos pequenos… Ah, isto sem dúvida é uma verdade.

 

 

 

Recomendo, aos interessados no assunto, assistirem o filme A REENCARNAÇÃO DE MANIKA, no YouTube: https://www.youtube.com/watch?v=ItoRsju0oqk

quinta-feira, 20 de agosto de 2020

TORMENTOS NA MEDIUNIDADE[1]

 

Manoel Philomeno de Miranda[2]

 

A faculdade mediúnica, embora seja de natureza orgânica, tem as suas raízes profundas no ser espiritual, como tudo que constitui a criatura humana.

Sendo uma expressão do sexto sentido, os valores ético-morais de cada Espírito respondem pelas ocorrências nessa delicada área que lhe faculta o desenvolvimento intelecto-moral. Não é, pois, de se estranhar, que a sua eclosão em qualquer período da existência humana se caracterize por alguns naturais distúrbios, tanto de natureza física, emocional, como psíquica.

Apresentando-se como oportunidade redentora do ser em dívidas perante os Divinos Códigos, pode expressar-se em caráter múltiplo de expiação, quando portadora de possessão, ou de provação, abençoado campo de experiências iluminativas. Igualmente, quando bem educada à luz do Espiritismo, o que podemos denominar como mediunidade com Jesus a serviço do bem, ergue o ser às culminâncias da alegria, da plenitude, ao mediunato, que o não exime de experimentar sofrimentos e perseguições dos Espíritos inferiores, que transforma em bênçãos de inestimável significado.

Não raro, apresenta-se como distúrbio de natureza variada, desde as manifestações de diversidade de humor, até, quase que simultaneamente, como alteração profunda de comportamento.

Invariavelmente expressa-se como enfermidades complexas, de natureza diversificada e sem facilidade de diagnóstico, em razão das alterações em que se apresenta. Entretanto, o seu vigor é mais angustiante nos fenômenos psicológicos, como consequência dos neuropeptídios acionados pelas suas energias desconexas...

Os comportamentos infelizes de existências passadas mesclam-se com as necessidades evolutivas do presente e dão lugar a conflitos diversos, em razão dos conteúdos morais de que se fazem portadores os Espíritos que são atraídos mediante as aspirações de cada qual.

Instabilidade emocional, personificações múltiplas, anelos frustrados, incertezas acerca das próprias necessidades são o cotidiano dos iniciantes no exercício mediúnico ou naqueles que somente lhes sofrem as imposições e lhes desconhecem a existência.

Sempre a mediunidade esteve cercada de superstições e práticas não compatíveis com o seu significado.

Mesmo na atualidade, em que os fenômenos paranormais têm merecido estudos e considerações de diversas doutrinas científicas, constatando-lhes a possibilidade, em razão dos complementos morais que exige, tem sido vista pelos indivíduos comuns como castigo de Deus ou desequilíbrio psiquiátrico.

À semelhança da inteligência e da memória, assim como de todas outras faculdades humanas, aguarda cuidados especiais, para bem atender a finalidade para a qual é destinada.

Exercício meticuloso e sério, reflexão constante, análise cuidadosa das suas manifestações, estudo pessoal do sistema nervoso e das reações emocionais constituem métodos eficazes para o seu êxito.

Simultaneamente, o ideal de servir que deve caracterizar o médium, conforme as diretrizes estabelecidas por Allan Kardec, é fundamental para o seu mister, quais sejam: a abnegação, a ausência de estrelismo, a gratuidade e a doçura do coração, tornando-se ímãs de atração aos Espíritos bons, que passarão a administrar as suas manifestações.

Se desejas candidatar-te ao exercício da mediunidade com Jesus, não te permitas as vacuidades humanas nem as suas perturbadoras concessões.

Considera o alto grau de responsabilidade que te é concedido e alegra-te, pela oportunidade feliz de servir.

Informações destituídas de significado tornaram a mediunidade algo dependente de superstições, mitos quando não de graves danos para aquele que a pratica.

Grandioso portal para demonstrar a imortalidade do Espírito é veículo de incomparáveis alegrias, dando sentido e significado à existência física.

Graças aos seus valiosos recursos faculta a vivência espiritual de maneira incomum, por favorecer a compreensão de todas as ocorrências que aturdem ou felicitam o ser humano.

Ademais dos benefícios proporcionados aos seus portadores, que devem sempre aceitar para si os conteúdos de que se reveste, enseja a iluminação das consciências obnubiladas que atravessaram os portais da desencarnação em profundo estado de perturbação, tendo prolongadas suas dores mesmo após a decomposição das estruturas orgânicas.

À medida que se expandam as informações corretas a respeito da mediunidade e a sua prática se torne habitual, desaparecerão os tormentos, pois que, afinal, nenhuma responsabilidade tem a percepção encarregada de exteriorizar as captações de que se faz objeto.

Em razão dessa sensibilidade, as obsessões tornam-se comuns naqueles que são iniciantes no exercício da faculdade ou não a praticam pelo fato de gerar sintonia com os Espíritos que transitam em idêntico padrão vibratório.

Essa ocorrência é observada igualmente em outras funções existenciais, como o comportamento, as aspirações e necessidades.

A cuidadosa observação das ocorrências mediúnicas e da conduta psicológica faculta o discernimento necessário para a educação tanto das emoções como dos fenômenos.

O espiritismo nela encontrou o veículo hábil e fiel para estabelecer os seus alicerces, confirmando a especial fenomenologia apresentada por Jesus, demitizando-a do miraculoso e fantasista, ao mesmo tempo permitindo que todo aquele que se integre ao espírito do bem, logre realizações equivalentes.

Quem se lhe dedique honestamente, não teme os sofrimentos que somente ocorrem por fazerem parte da ficha evolutiva, para superar os testemunhos do conhecimento e o estímulo à caridade a que se pode dedicar.

Convidando sempre à vigilância, eis que rutila como uma estrela na alma devotada ao amor, sendo portal que faculta penetrar na senda que leva a Jesus.

Resguarda, portanto, as tuas forças mediúnicas da vileza dos Espíritos insensatos e perversos, tornando-te instrumento do amor de Deus a todos e a tudo. Mesmo assaltado, uma vez que outra, pelos ardilosos e infelizes adversários da Luz, recupera-te, recobrando a alegria, agradecido pela oportunidade de socorrer e autoiluminar-te.

Abençoa a tua mediunidade com o respeito e a dedicação que merece de todos que anelam pela plenitude da existência.



[2] Psicografia de Divaldo Pereira Franco, em 11 de junho de 2018, no Centro Espírita Caminho da Redenção, em Salvador, Bahia.

quarta-feira, 19 de agosto de 2020

EXISTÊNCIA DE DEUS[1]

 

Miramez

 

Onde podemos encontrar a prova da existência de Deus?

‒ Num axioma que aplicais às vossas ciências: Não há efeito sem causa. Procurai a causa de tudo o que não é obra do homem, e vossa razão vos responderá.

Para crer em Deus é suficiente lançar os olhos às obras da Criação. O Universo existe; ele tem, portanto, uma causa. Duvidar da existência de Deus seria negar que todo efeito tem uma causa, e avançar que o nada pode fazer alguma coisa.

Questão 4 – O Livro dos Espíritos

 

A existência de Deus se expressa cada vez mais, com tonalidades fulgurantes, em toda a literatura humana, mostrando e fazendo sentir a todos os povos que o Criador se encontra mais perto de nós do que nós uns dos outros. Ele é a razão do nosso viver e, ainda se conclui, que Ele não tem forma definida e é capaz de tomar todas as dimensões, na proporção das necessidades de cada criatura. Deus está no máximo, mas desce ao mínimo, desde que haja urgência na evidência de suas qualidades aos sentidos mais apurados da alma.

O Senhor é a ponte de comando de todas as religiões, na feição em que estas podem se expressar, onde foram chamadas a servir. Ele vigia os véus que regulam o saber dos homens ante a própria ciência, para que o equilíbrio se manifeste, os grandes missionários registram em tudo a sua presença infalível.

Todas as filosofias falam da sua presença divina, pelos recursos que a linguagem alcançou, e o progresso é o seu agente revelador em todos os quadrantes do mundo.

Não existe alguém na face da Terra que não creia em Deus. Existem, sim, alguns que ainda não perceberam a sua paternidade, por orgulho ou ignorância, o que não deixa de ser a mesma coisa. Ele vibra em tudo e pronuncia a mesma mensagem em tudo que ocupa um lugar no seu “corpo ciclópico”, na imensidão universal. E cada um, em cada coisa existente, registra a sua presença insuperável, de acordo com o seu porte evolutivo; eis aí a justiça, o próprio Amor.

Computando valores e somando idades, na cronologia peculiar aos homens, a cada dia que passa, a cada ano que corre na tela do nosso tempo, o Arquiteto Divino fica mais presente na nossa visão e nos fala mais de perto, pelos registros dos nossos sentidos. Não que o Senhor se encontre mais ou menos longe. Ele está no mesmo lugar; nós outros é que, pelo despertar dos valores espirituais, vamos gradativamente abrindo as portas do entendimento, pelas mãos da maturidade espiritual.

Nenhuma pessoa, nenhum Espírito, nem algo que exista, é órfão da misericórdia, da bondade e da presença de Deus, que nos comanda todos. Essa é a grande esperança e a grande alegria que nos impulsiona a viver.

Se não há efeito sem causa, não precisamos de maiores explicações para provar a existência de Deus; basta levantarmos os olhos para a extensão infinita dos mundos, que bailam nos espaços, para a mecânica das galáxias, que viajam em velocidades incríveis na grande casa universal, para a vida dos sóis, para a harmonia do universo, e sentiremos constrangimento no centro da consciência, em negar a existência d’Aquele que fez tudo isso, e a nós também, por bondade e alegria.

E quando se fala na microvida, que são caminhos diversos do macro, apresentando os mesmos roteiros do infinito? Como negar aquilo que existe mais do que nós próprios? Nós, em Espírito, ainda estudamos os princípios da função biológica dos homens. O corpo físico é a síntese do universo, é a cópia perfeita do macrocosmo, que deverá funcionar em plena harmonia com a Divindade, quando o homem se conscientizar dos seus deveres perante a natureza. A maior maravilha da Terra, em se falando das coisas materiais, é o soma humano.

E os corpos espirituais a ele interligados, para que o Espírito se manifeste?

E o Espírito, essa gema divina? E a harmonia de tudo o que existe? Como não crer no Criador de todas essas coisas? Começa, meu irmão, a pensar pelo menos no sol que dá vida e sustenta o ambiente em que moras e não terás outro caminho a não ser aceitar um Criador que tenha, na linguagem comum, a Suprema Inteligência.

Repitamos o que afirmou O LIVRO DOS ESPÍRITOS:

Procurai a causa de tudo o que não é obra do homem, e vossa razão vos responderá.



[1] Filosofia Espírita – Volume 1 – João Nunes Maia

terça-feira, 18 de agosto de 2020

COMO A VIDA MODERNA ESTÁ MUDANDO O ESQUELETO HUMANO[1]

 


Zaria Gorvett - BBC Future - 15 agosto 2020

 

Tudo começou com uma cabra. O desafortunado animal nasceu na Holanda na primavera de 1939 – e suas perspectivas não eram nada boas. Não tinha uma das patas da frente, e a outra era deformada. Ou seja, se locomover seria mais difícil. Mas, quando tinha três meses, a cabra foi adotada por um instituto veterinário e se mudou para um campo gramado. Lá, desenvolveu rapidamente seu estilo próprio (e peculiar) de se locomover. Ela se apoiava nas patas traseiras para erguer o corpo e pulava – o resultado era algo entre o salto de uma lebre e um canguru.

Infelizmente, a cabra se envolveu em um acidente e morreu quando tinha um ano. Mas havia algo surpreendente escondido em seu esqueleto.

Durante séculos, os cientistas acreditaram que nossos ossos cresciam de maneira previsível, de acordo com as instruções genéticas herdadas de nossos pais.

Mas quando um especialista em anatomia holandês investigou o esqueleto dessa cabra, descobriu que seus ossos haviam começado a se adaptar. Os ossos do quadril e das patas eram mais grossos do que o esperado – e estavam anormalmente angulados, para permitir uma postura mais ereta. Da mesma forma, os ossos do tornozelo estavam esticados. Em outras palavras, a estrutura óssea da cabra começou a se parecer muito com a dos animais que saltam.

Hoje se sabe que nossos esqueletos são surpreendentemente maleáveis.

Embora os esqueletos em exposição nos museus possam dar a impressão contrária, os ossos sob a nossa pele estão muito vivos – são rosados pelo fluxo sanguíneo, e estão em processo de destruição e reconstrução constante. Portanto, embora o esqueleto de cada indivíduo se desenvolva de acordo com as instruções genéticas em seu DNA, ele pode se adaptar de acordo com as pressões que cada pessoa enfrenta na vida.

Esta constatação levou a uma disciplina conhecida como "osteobiografia" – literalmente, "biografia dos ossos" – que permite analisar um esqueleto para descobrir como o dono vivia. E se baseia no fato de que certas atividades, como andar sobre duas pernas, deixam uma marca, como ossos do quadril mais resistentes.

E estudos recentes parecem não deixar dúvida de que a vida moderna está tendo um impacto em nossos ossos. Há vários exemplos – como a aparição de uma protuberância na base do crânio de algumas pessoas, a percepção de que nossas mandíbulas estão ficando menores e a constatação de que os cotovelos de jovens alemães estão mais estreitos do que nunca.

Um bom exemplo de osteobiografia é o mistério dos “homens fortes” de Guam e das Ilhas Marianas. Tudo começou com a descoberta de um esqueleto masculino na ilha de Tinian, a 2.560 km a leste das Filipinas, no Oceano Pacífico, em 1924.

Os restos mortais, datados do século 17 ou 18, eram gigantescos. E sugeriam que se tratava de um homem extraordinariamente forte e alto.

A descoberta alimentava as lendas locais sobre antigos governantes de proporções enormes, capazes de feitos heroicos. Não foi à toa que os arqueólogos chamaram o esqueleto de Taotao Tagga – "homem de Tagga" – em referência ao famoso líder mitológico da ilha, Taga, que era conhecido por sua força sobre-humana.

À medida que outras sepulturas foram descobertas, ficou claro que o homem de Tagga não era uma exceção. Tinian e as ilhas vizinhas haviam abrigado, de fato, uma população de homens extraordinariamente fortes. Mas de onde vinha essa força?

Por acaso, os restos mortais destes homens costumavam ser encontrados ao lado da resposta. No caso de Tagga, ele havia sido enterrado entre 12 imponentes pilares esculpidos em pedra, que originalmente teriam sustentado sua casa.

Um exame mais detalhado do seu esqueleto e dos outros revelou características ósseas semelhantes à da população do arquipélago de Tonga, no Pacífico Sul, onde as pessoas fazem muitos trabalhos braçais e construções em pedra.

A maior casa na ilha tinha pilares de 5 metros de altura, e cada um pesava quase 13 toneladas – aproximadamente o mesmo que dois elefantes africanos adultos.

Não se tratava então de uma misteriosa etnia de gigantes musculosos. Aqueles homens desenvolveram seus imponentes corpos trabalhando duro.

Se usarem no futuro uma técnica similar para analisar como as pessoas viviam em 2020, os cientistas também vão encontrar mudanças em nossos esqueletos que refletem nossos estilos de vida.

"Sou clínico-geral há 20 anos e, apenas na última década, observei que cada vez mais pacientes têm esse aumento no crânio", diz David Shahar, pesquisador da Universidade de Sunshine Coast, na Austrália.

O nódulo ósseo em questão, também conhecido como "protuberância occipital externa", é encontrado na parte inferior do crânio, logo acima do pescoço. Se você tiver um, é provável que consiga senti-lo com os dedos – ou, se for careca, pode até ser visível.

Até recentemente, esse tipo de protuberância era extremamente raro. Em 1885, quando o nódulo ósseo foi investigado pela primeira vez, o renomado cientista francês Paul Broca achou tão esquisito que sequer tinha um termo científico para tal.

Mas Shahar decidiu investigar. Com a ajuda de um colega, ele analisou mais de mil radiografias de crânios de indivíduos entre 18 e 86 anos – mediu eventuais protuberâncias e observou a postura de cada um deles.

O que os cientistas descobriram foi impressionante. A protuberância era muito mais comum do que eles imaginavam – principalmente entre os mais jovens. A pesquisa mostrou que uma em cada quatro pessoas entre 18 e 30 anos tinha o nódulo ósseo.

Shahar acredita que a presença cada vez maior desta protuberância se deve à tecnologia, particularmente à nossa obsessão por smartphones e tablets.

 

Pescoço tecnológico

Quando nos debruçamos sobre esses dispositivos, erguemos o pescoço e inclinamos a cabeça para frente. E isso é problemático, uma vez que a nossa cabeça pesa em média cerca de 4,5 kg – quase o mesmo que uma melancia grande.

Quando estamos sentados com a postura ereta, a cabeça está em equilíbrio sobre a parte superior da nossa coluna vertebral. Mas, à medida que nos inclinamos para usar o celular, nosso pescoço precisa fazer um esforço maior. Os médicos chamam a dor associada a esse esforço de "text neck" (também conhecida como síndrome do pescoço de texto ou do pescoço tecnológico).

Shahar diz acreditar que os nódulos se formam porque a postura curvada gera uma pressão extra no local onde os músculos do pescoço se ligam ao crânio. E o corpo reage criando uma nova camada de osso, que ajuda o crânio a lidar com esta pressão extra e a distribuir o peso.

Uma das maiores surpresas para Shahar foi o tamanho das protuberâncias. Os nódulos maiores mediam cerca de 30 mm.

Evidentemente, a má postura não é uma invenção do século 21. Mas então por que nossos antepassados não desenvolveram protuberâncias no crânio ao se curvar para ler livros? Uma possível explicação é que passamos muito mais tempo inclinados sobre nossos smartphones, do que uma pessoa passaria lendo.

Por exemplo, em 1973 os americanos liam em média cerca de duas horas por dia. Hoje, no entanto, passamos quase o dobro desse tempo no celular.

Curiosamente, os homens fortes das ilhas Mariana também tinham protuberâncias no crânio.

Acredita-se que seus nódulos ósseos tenham se desenvolvido por uma razão semelhante – para suportar o peso sobre os músculos do ombro e do pescoço. Esses homens teriam carregado muito peso, por meio de bastões sobre os ombros.

Shahar acredita que as protuberâncias modernas nunca desaparecerão. E, na visão dele, vão ficar cada vez maiores. Segundo ele, é raro que causem complicações por si só. Se houver algum problema, provavelmente será causado por outras maneiras como o corpo compensa nossa postura curvada.

Na Alemanha, cientistas fizeram outra descoberta surpreendente: nossos cotovelos estão encolhendo. Christiane Scheffler, antropóloga da Universidade de Potsdam, estudava medidas corporais de crianças em idade escolar quando observou essa tendência.

Para medir exatamente o quanto seus esqueletos haviam mudado ao longo do tempo, Scheffler analisou quão forte (ou “ossudas”) as crianças eram entre 1999 e 2009. Para tal, calculou seu Índice de Estrutura, que é como a estatura se compara à largura dos cotovelos. Em seguida, comparou os resultados com um estudo similar realizado 10 anos antes. A conclusão foi que os esqueletos das crianças estavam se tornando cada vez mais frágeis. Scheffler pensou, a princípio, que a explicação poderia ser genética, mas é difícil de ver como o DNA de uma população pode mudar tanto em apenas 10 anos.

A segunda hipótese era que as crianças poderiam estar sofrendo de má nutrição, mas isso não é um problema na Alemanha.

A terceira explicação possível era que a juventude de hoje é muito mais sedentária.

Para descobrir, Scheffler conduziu um novo estudo – em parceria com alguns colegas desta vez – em que analisou os hábitos diários das crianças, que também usaram um contador de passos durante uma semana. Os cientistas encontraram uma forte correlação entre a robustez dos esqueletos das crianças e o quanto caminhavam por dia.

É sabido que toda vez que usamos nossos músculos, ajudamos a aumentar a massa dos ossos que os sustentam. "Se você usa os músculos repetidamente, isso gera mais tecido ósseo, que se traduz em ossos mais densos e com maior circunferência", explica Scheffler.

Além disso, os cotovelos encolhidos das crianças parecem uma adaptação direta à vida moderna, já que não faz sentido cultivar ossos dos quais você não precisa.

Mas havia outra questão intrigante no resultado o estudo: caminhar era o único tipo de exercício que parecia ter algum impacto. Scheffler acredita que isso se deve ao fato de que mesmo as crianças mais atléticas dedicam muito pouco tempo à prática de exercícios físicos. "Não ajuda que sua mãe te leve de carro para praticar uma ou duas horas de exercício por semana", diz ela.

E, embora não tenha sido estudado, é provável que a mesma regra se aplique aos adultos: não basta simplesmente ir à academia duas vezes por semana sem também caminhar longas distâncias. "Porque nossa evolução indica que podemos caminhar quase 30 km por dia."

A última surpresa escondida em nossos ossos pode ter centenas de anos, mas foi descoberta recentemente.

Em 2011, Noreen von Cramon-Taubadel, pesquisadora da Universidade Estadual de Nova York, nos EUA, estava estudando crânios. Como antropóloga, ela queria saber se era possível deduzir de onde um crânio vem apenas observando seu formato. Para isso, ela mediu cuidadosamente crânios encontrados em museus de diferentes países para compará-los. E descobriu que o formato da mandíbula não dependia tanto da genética, mas se a pessoa havia crescido em uma comunidade agrícola ou de caçadores-coletores.

Cramon-Taubadel acredita que o segredo da diferença nas mandíbulas está no quanto mastigamos à medida que crescemos. “Se você pensar na ortodontia, a razão pela qual o tratamento é feito em adolescentes, é porque seus ossos ainda estão crescendo", diz ela. "Os ossos ainda são maleáveis nessa idade e respondem a diferentes pressões."

Nas sociedades agrícolas, a comida é mais macia e pode ser ingerida sem necessidade de mastigar muito. E mastigar menos resulta em músculos mais fracos, o que significa que nossas mandíbulas não se desenvolvem de forma tão robusta.

É possível que a amamentação seja outro fator importante, uma vez que sua duração varia muito – e determina quando as crianças começam a mastigar alimentos mais sólidos.

Cramon-Taubadel afirma que o impacto da mastigação na mandíbula é bastante sutil a olho nu. É mais provável que se apresente nos dentes. "Especialmente nas populações pós-industriais, é muito mais provável que haja problemas dentários – como dentes tortos ou desalinhados por falta de espaço" acrescenta.

"As pesquisas mostram que adotar uma dieta um pouco mais dura biomecanicamente, principalmente no caso de crianças, pode ser útil para neutralizar parte do desequilíbrio entre a maneira como nossos dentes crescem e se desenvolvem".

Mas esta história tem uma reviravolta inesperada.

A mudanças nas nossas mandíbulas e dentes parecem ter tido um efeito inesperado e positivo na maneira como falamos. Um estudo recente mostrou que, à medida que as sociedades descobriram a agricultura no período neolítico, há cerca de 12 mil anos, as mudanças na mandíbula podem ter permitido pronunciar novos sons, como de "v" e "f".

Naquela época, os incisivos superiores (dentes superiores da frente) se encontravam exatamente sobre os inferiores, em vez de cobri-los como atualmente.

Para ter uma ideia de como era a mandíbula no período neolítico, empurre sua mandíbula inferior para frente, até os dentes inferiores tocarem os superiores, e tente dizer “filé” ou "Veneza".

O que será que os arqueólogos do futuro vão encontrar quando examinarem nossos esqueletos de dentro de suas naves espaciais?

Se não tomarmos cuidado, nossos ossos podem revelar uma alimentação pouco saudável, níveis impressionantes de sedentarismo e uma dependência mórbida da tecnologia.

Talvez seja melhor ser cremado.