segunda-feira, 30 de setembro de 2019

ISABEL SALOMÃO DE CAMPOS[1]




Isabel Salomão de Campos nasceu em Rochedo de Minas, Minas Gerais, em 22 de setembro de 1924. Filha dos libaneses Sr. Nagib Salomão e D. Chaíde Chible Salomão, cresceu junto a nove irmãos. Já em seu nono ano de vida surgiu as primeiras manifestações mediúnicas.
Na escola, distinguiu-se, demonstrando responsabilidade e visão além daquela favorecida pela vida no campo. O respeito que nutria por seus deveres e pelos direitos do próximo faziam-na uma jovem especial, que despertava grande admiração. Findo o curso primário, manifestou o desejo de educar as crianças da redondeza. Tendo seu pai ao lado, D. Isabel construiu carteiras e paredes, conscientizando a vizinhança da importância dos estudos e alfabetizando inclusive os adultos da região.
Com a ajuda da família, aos 14 anos, ergueu a Escola Rural Mista Bom Jardim. Logo em seguida, foi nomeada pelo município, chamando a atenção dos inspetores escolares por sua habilidade com a turma, principalmente em se tratando de classe multiseriada (três séries em uma única turma). Aos 17 anos, mudou-se com a família para Juiz de Fora, e a jovem Isabel foi trabalhar no Instituto de Laticínios “Cândido Tostes”, onde, através da ilustre figura de Dr. Vicentino Mazzini, ouviu falar pela primeira vez em Espiritismo.
Começou, então, a participar efetivamente das reuniões espíritas, constatando que tudo o que se a apresentava ela já conhecia e que as “coisas” que via e ouvia desde a infância eram presenças de espíritos.
Em 1947, casou-se com Ramiro Monteiro de Campos, militar, professor e advogado.
Após o nascimento da filha, transferiram-se para Fortaleza, levando também o filho adotivo. Retornaram três anos depois. A família crescia, o terceiro filho nascera em Fortaleza e, mais tarde, outros dois, em Juiz de Fora. De 58 anos de um casamento feliz, teve cinco filhos, onze netos e dois bisnetos.
Proprietária de uma butique, via sua loja diariamente repleta de pessoas que para lá se dirigiam, a fim de ouvi-la. Por orientação espiritual, deveria escolher entre a profissão e o trabalho espiritual, não que ao espírita tal fato não seja permitido; era especificamente o seu caso. Disse-lhe o mentor: “Seja qual for a sua opção, você será bem sucedida”. E ela optou: fechou a butique e foi atender o povo sofrido e desalentado. Nascia um trabalho que é realizado até hoje, o de orientação às pessoas carentes de esclarecimento e aos corações angustiados e deprimidos, que chegam dos mais variados lugares do país, perfazendo um atendimento a mais de cento e oitenta mil pessoas nestes 60 anos de trabalho.
D. Isabel recebeu títulos e comendas, entre elas:
“Comenda Daniel Pinto Corrêa” da Associação Comercial de Juiz de Fora;
“Título de Cidadã Honorária”;
“Comenda Henrique Halfeld” e do
“Sesquicentenário de Juiz de Fora”, entregue a 150 personalidades, inclusive pós mortém, sendo a única presença feminina como pessoa física, em 2004;
“Troféu Mulheres do Novo Século”;
“Troféu Voluntário das Gerais”, pela Fiemg[2], na cidade de Ouro Preto.

Lançou o CD “Momentos de Paz” e “Jesus Amigo”, é autora de três livros e inúmeros artigos. Sua vida e sua obra se confundem.
Todo seu trabalho tem como finalidade, no sentido mais amplo da expressão, o bem estar social com a manutenção e ampliação da assistência às camadas menos favorecidas da nossa sociedade, distribuindo mensalmente 4,5 toneladas de alimentos. Sua mediunidade de cura é alvo do interesse de vários segmentos, tendo sido apresentada por duas vezes no Globo Repórter e igualmente no Fantástico, programas veiculados pela Rede Globo de Televisão. É convidada por jovens, professores, empresários e médicos para proferir palestras. Rompendo os limites das naturais necessidades do ser humano, dedica mais de 10 horas do dia ao trabalho junto ao povo, atendendo todos que batem à porta da “A Casa do Caminho”, que se mantém aberta diuturnamente, por um ideal seu, pois esclarece que a dor não tem dia nem hora. Orienta pessoalmente cada setor desta Comunidade desde a sua fundação.
Foi pioneira ao criar, em 1979, o Plantão de Socorro Espiritual, que com uma equipe de plantonistas devidamente preparados por ela, atende diariamente mais de 500 ligações em suas 24h de pleno funcionamento.

O que me deixa feliz é que tudo isso acontece por causa do Evangelho de Jesus.
Isabel Salomão de Campos




[2] Federação das Industrias do Estado de Minas Gerais

A MEDIUNIDADE, DA ANTIGUIDADE AOS DIAS ATUAIS[1]



Warwick Mota

Allan Kardec no cap. XIV de O Livro dos Médiuns, fala que todo aquele que sente em qualquer grau a presença dos espíritos é por isso mesmo médium. Para nós espíritas é ponto pacifico afirmar, que a mediunidade, é uma faculdade natural, inerente ao ser humano, que independe da crença religiosa se fez presente em todas as épocas da humanidade, sendo inúmeras vezes, confundida e deturpada pelos homens ao longo dos séculos.
Nas antigas civilizações do oriente no Egito, na Pérsia, na Síria e nas do ocidente na Grécia e em Roma, citada também nos Vedas e nos livros sagrados de outras religiões, a mediunidade era tida como crença geral, e os médiuns vistos como seres privilegiados pelos deuses, e por esse fato semideuses. Denominados como pítons, pitonisas, oráculos, magos, sacerdotes etc., eram avidamente consultados em busca das mais variadas informações que atendessem aos diversos interesses daqueles que os procuravam.
Os relatos, inclusive os citados na Bíblia, referem-se a aparição de anjos, demônios e possessões variadas que marcaram a fenomenologia da época, sedimentando conceitos atávicos e ritualísticos, que ainda fazem parte dos nossos dias. Era comum na Grécia antiga e em outros povos os médiuns atuarem como conselheiros dos reis, como também era comum, os retiros do homem para a natureza ou para o insulamento em monastérios buscando o estudo e a prática da filosofia, como fazia Platão, que galgava a montanha do Imec, buscando lá o refúgio e tranquilidade para suas conjecturas, ou mesmo Moisés, que subiu ao monte Sinai no intuito de obter respostas que atendessem às suas necessidades espirituais mais prementes.
Mas é com o Cristo, que a mediunidade adquire um maior substrato moral e vem orientada pela disciplina que a sua condição de médium de Deus proporciona, visto que, Ele confabulava diretamente com Deus, e que, esse fato por si só, já era suficiente para promover uma nova disposição moral nas atitudes e no comportamento do homem, em função da aplicação da Lei do Amor, inquestionavelmente traduzida em seus ensinamentos.
A ignorância, no que se refere a mediunidade e os interesses espúrios que o fanatismo religioso produzia, detonaram perseguições implacáveis aos médiuns, tanto ao tempo de Jesus quanto na Idade Média, quando ela é tachada de intervenção demoníaca e os médiuns levados ao martírio da fogueira como ocorreu com Joana D’Arc, por não abjurar de suas vozes, que revelavam a sobrevivência da alma e a comunicabilidade da mesma.
Os acontecimentos de Hydesville, em 1848, nos EUA, e em seguida os fenômenos das mesas girantes que invadiram a Europa, que inicialmente servia a fins fúteis, trouxeram novos enfoques sobre a mediunidade, pois os fatos como sabemos, estavam obedecendo uma previa programação do mundo espiritual, tanto que, em 1854, chegam ao conhecimento do insigne professor, Hyppolyte Leon Denizard Rivail, em Paris, que após análise rigorosa, se propõe aprofundar as investigações sobre o tema, comparando, observando e julgando, para apresentar ao mundo a mediunidade como uma faculdade de natureza orgânica inerente ao ser humano, que se exterioriza pela ação dos espíritos. Inquestionavelmente a prudência e o bom senso de Kardec, resultaram em uma pesquisa refinada, de rara qualidade, que nos deixou como grande legado sua maravilhosa obra.
A obra de Kardec despertou um interesse bombástico pelo assunto, e isso descambou em grandes pesquisas, como as de César Lombroso, Ernesto Bozzano, Gabriel Dellane, e tantos outros pesquisadores de renome que contribuíram de forma magnífica para o enriquecimento da Doutrina nesse contexto.
De Kardec aos nossos dias muito se tem estudado acerca da mediunidade, embora alguns, teimem em manter vivos conceitos atávicos oriundos de outros tempos, em virtude da falta de estudo. Contudo, a espiritualidade maior não descansa nos ensinamentos e a Providência Divina não nos deixa órfãos de missionários que alavanquem o nosso crescimento espiritual, se atentarmos para a grande produção mediúnica no campo literário, através de Chico Xavier, Divaldo Pereira Franco, Ivone A. Pereira e tantos outros médiuns sérios, perceberemos que o nosso conhecimento sobre a mediunidade é ainda ínfimo, diante desse manancial de luz.

Fonte: Portal do Espírito

sexta-feira, 27 de setembro de 2019

TESTEMUNHO E PROVAÇÕES[1]



Joanna de Ângelis - Médium: Divaldo P. Franco

Não recalcitres ao aguilhão das dores, no desiderato de enobrecimento a que te dedicas.
Os que não sofrem os aguerridos combates, dormem na inutilidade.
A tarefa que desempenhas, por mais insignificante que pareça, porque enobrecida e cristã, incomoda aos frívolos e aos atormentados, provocando ira nuns e invejas noutros.
Contenta-te com o prazer de desincumbir-te do dever que te cumpre atender.
É certo que conduzes imperfeições e que outros são melhores dotados do que tu. Todavia, enquanto estes não resolvem pela ação do bem, nas tarefas pequenas, realiza-as tu.
* * *
Se coxeias e andas, assim é melhor do que se fosse portador de membros perfeitos, que se paralisassem pela crítica ácida ou na ociosidade.
Se te taxam de louco e tua conduta é correta, bendize mais do que se foras douto e lúcido, mergulhando a mente nos vapores da "hora vazia".
Se a mensagem cristã te fascina e produzes nas leiras da solidariedade humana, és mais feliz do que se te encontrasses com a mente cultivada, investigando ainda a imortalidade, que, afinal, já aceitas com ardor e confiança.
Se defrontas antipatias, porque te encontras em ação, vives alegrias maiores, do que se estivesses requestado e considerado, no trono do orgulho vão, vencido pela transitoriedade dos que se adoram reciprocamente.
Se deparas inimizades, enquanto amas, isto te é mais favorável do que amado, conquanto odiando...
Jamais te escuses ao compromisso que assumiste para com a Vida.
* * *
Testemunhos e provações!
Não há quem, produzindo no bem, não suscite desagrado ostensivo e chocante animosidade.
Honra o trabalho que te vitaliza e não cedas campo à perseguição acintosa ou dissimulada.
* * *
Jesus, cuja vida entre nós foi o mais sublime poema vivo de amor, não se reservou ser exceção. Amou e sofreu, auxiliou e sofreu, perdoou e sofreu...
Jamais, porém, desistiu ou desanimou, por isso mesmo demonstrando a excelência da sua origem e a qualidade das suas conquistas, "Modelo e Guia", até hoje, para todos nós.

Livro: Alerta

quinta-feira, 26 de setembro de 2019

ONDE FICAM OS ANIMAIS[1]



Miramez

A alma do animal, sobrevivendo ao corpo, fica num estado errante, como a do homem após a morte?
Fica numa espécie de erraticidade, pois não está unida a um corpo. Mas não é um Espírito errante. O Espírito errante é um ser que pensa e age por sua livre vontade; o dos animais não tem a mesma faculdade. É a consciência de si mesmo que constitui o atributo principal do Espírito. O Espírito do animal é classificado após a morte, pelos Espíritos incumbidos disso, e utilizado quase imediatamente: não dispõe de tempo para se pôr em relação com outras criaturas.
Questão 600/Livro dos Espíritos

Os animais, depois da morte física, ficam em uma espécie de estado de erraticidade.
Certamente que existe lugar para todos na casa de Deus, visto que todos pertencemos a Ele, Criador Universal. Os animais estão sob a tutela de elevadas Entidades espirituais, a quem cabe deles cuidar com carinho e atenção.
Os lugares em que eles ficam temporariamente é de acordo com as suas necessidades. O Senhor provê a todos, no padrão das suas conquistas de vida. Existe lugar até para o átomo, de modo que ele circule nos núcleos onde a atração o detém.
Os animais não podem ser classificados como Espíritos errantes, pelo fato de não possuírem razão. Eles, sem o livre arbítrio, não devem ficar a esmo no mundo da verdade. É qual a criança na Terra: deve ser sempre acompanhada pelos pais, professores ou babás, ou por alguém que as ame.
Os animais são crianças, em se comparando ao tamanho evolutivo dos homens, na escala espiritual. A consciência de si mesmo é que se mostra como principal atributo da alma, o que eles não dispõem ainda, mas estão avançando para lá.
Se são bilhões deles no mundo, não importa a quantidade; todos são alimentados com os alimentos necessários à sua espécie. Os grandes observadores no mundo, quando reconhecem as coisas espirituais, ficam estarrecidos quando notam a mão de Deus em tudo que antes desconheciam, e quando eles passam para o mundo espiritual, esses mesmos homens da ciência ficam muito mais admirados, porque é mais visível a operação de Deus em Sua grandiosa obra.
Se queres saber melhor onde ficam os animais na erraticidade, vê onde eles ficam na Terra, nos lugares que lhes compete ficar; todos eles têm seus lugares no mundo físico, e não estão desprovidos da assistência espiritual. A cooperação dos animais é valiosa em todas as instâncias da verdade. E muitos deles trabalham na Terra, com serviços específicos à sua natureza, muitas vezes invisíveis aos olhos humanos, sempre sob a influência do Cristo, na expressão da caridade.
Quando passamos a conhecer essa verdade, o nosso carinho para com todas as espécies se dobra, e o nosso amor se multiplica, como Jesus fez com os pães e peixes, ante Seus discípulos.
Não penses que os animais não têm alma. Engana-se quem pensa assim. Eles sobrevivem depois da morte, como os próprios homens. Não dispõem de idênticas faculdades dos seres humanos, não obstante, são filhos igualmente de Deus, como seres que, no amanhã, deverão pensar, sentir, falar, discernir e ouvir, enfim fazer tudo o que o homem é capaz pelos processos que o progresso lhes impõe.
Que Deus abençoe os animais e Jesus ampare sempre esses nossos irmãos que caminham na nossa retaguarda.




[1] Filosofia Espírita – Capítulo 12 – João Nunes Maia

quarta-feira, 25 de setembro de 2019

SENSOR DE LUZ MEDE MENORES VIBRAÇÕES DA MATÉRIA



Redação do Site Inovação Tecnológica - 19/08/2015

Flutuações do ponto zero
A mecânica quântica prevê que um objeto, mesmo quando resfriado até o zero absoluto, produz pequenas vibrações, chamadas de "flutuações do ponto zero".
A razão pela qual nós não observamos essas vibrações na vida cotidiana é que, para um objeto grande e tangível a temperatura ambiente, elas são muito menores do que as vibrações causadas pelo movimento térmico dos átomos - que nos chegam em macroescala na forma de calor.
Pesquisadores da Escola Politécnica Federal de Lausanne, na Suíça, agora superaram o desafio de medir as vibrações quânticas, separando-as dos efeitos térmicos.
Esse sensor capaz de medir as menores vibrações da matéria consiste de uma espécie de corda de violão feita de vidro, colocada ao lado de um sensor óptico de deslocamento, similar ao utilizado para construir um transístor totalmente óptico.
O sistema é tão preciso que pode medir as flutuações de ponto zero da corda de vidro antes que elas sejam obscurecidas pelas vibrações termais. Os experimentos mostraram a redução das vibrações termais a um nível apenas 10 vezes maior do que o virtualmente inalcançável valor de ponto zero.

Pressão de radiação
Este sensor de altíssima velocidade consegue capturar uma "imagem" na qual o efeito de deslocamento do objeto ‒ em outros termos, a incerteza de sua posição ‒ é menor do que a incerteza causada pelo movimento térmico dos seus átomos constituintes.
Capturando um fluxo contínuo dessas "imagens congeladas", torna-se possível reduzir o movimento de um objeto mecânico ‒ neste caso, a vibração da corda de vidro ‒ para o valor que ela teria se fosse resfriada a apenas 0,001 grau acima do zero absoluto.
Esse efeito de resfriamento da corda é obtido por um efeito colateral bem conhecido das medições ópticas: a chamada "pressão de radiação", uma pequena força gerada conforme a luz dá cada volta em torno do disco. Um segundo laser equilibra essa pressão, permitindo as leituras inéditas das vibrações.
"A pressão de radiação aplicada pelo segundo campo [de luz], quando adequadamente retardado, opõe-se exatamente ao movimento térmico da corda, de forma parecida com o cancelamento de ruído de um fone de ouvido," explicou Dal Wilson, construtor do aparato.
 
Bibliografia:
Measurement-based control of a mechanical oscillator at its thermal decoherence rate
Dal J. Wilson, V. Sudhir, N. Piro, R. Schilling, A. Ghadimi, T. J. Kippenberg
Nature
Vol.: Published online
DOI: 10.1038/nature14672

terça-feira, 24 de setembro de 2019

PODER CURATIVO DO MAGNETISMO ESPIRITUAL[1]




Em nosso artigo do mês anterior sobre o Dr. Demeure[2], prestamos uma justa homenagem às suas eminentes qualidades como homem e como Espírito. O fato seguinte é uma nova prova de sua benevolência, constatando, ao mesmo tempo, o poder curativo da magnetização espiritual.
Escrevem-nos de Montauban:
Vindo aumentar o número de nossos amigos invisíveis, que nos cuidam da moral e do físico, quis o Espírito do bom pai Demeure manifestar-se desde os primeiros dias por um benefício.
A notícia de sua morte ainda não era conhecida dos nossos irmãos de Montauban, quando empreendeu espontânea e diretamente a cura de um deles por meio do magnetismo espiritual, apenas pela ação fluídica. Vedes que ele não perdia tempo e, como Espírito, continuava, como dizeis, sua obra de alívio da Humanidade sofredora. Entretanto, há aqui uma importante distinção a fazer.
Certos Espíritos continuam a dedicar-se às suas ocupações terrenas, sem terem consciência de seu estado, sempre se julgando vivos; é próprio dos Espíritos pouco adiantados, ao passo que o Sr. Demeure se reconheceu imediatamente e age voluntariamente como Espírito com a consciência de, neste estado, ter maior força.
Tínhamos ocultado à Sra. G..., médium vidente e sonâmbula muito lúcida, a morte do Sr. Demeure, para poupar sua extrema sensibilidade, e o bom doutor, por certo nos penetrando o pensamento, tinha evitado manifestar-se a ela. No dia 10 de fevereiro último, estávamos reunidos a convite de nossos guias que, diziam, queriam aliviar a Sra. G... de uma entorse de que sofria cruelmente desde a véspera. Não sabíamos mais que isto, e estávamos longe de aguardar a surpresa que nos reservavam. Tão logo caiu em sonambulismo, a dama soltou gritos lancinantes, mostrando o pé. Eis o que se passava:
A Sra. G... via um Espírito curvado sobre sua perna, mas sua fisionomia ficava oculta; realizava fricções e massagens, exercendo de vez em quando uma tração longitudinal sobre a parte doente, absolutamente como teria feito um médico. A manobra era tão dolorosa que a paciente por vezes vociferava e fazia movimentos desordenados. Mas a crise não durou muito; ao cabo de dez minutos toda a marca de entorse havia desaparecido, não mais edema, o pé havia recobrado sua aparência normal. A Sra. G... estava curada.

Quando se pensa que para curar completamente uma afecção desse gênero, os mais dotados magnetizadores e os mais experientes, sem falar da medicina oficial, que ainda não chegou a uma solução, é necessário um tratamento cuja duração nunca é inferior a trinta e seis horas, consagrando três sessões por dia, com uma hora de duração cada uma, esta cura em dez minutos, pelo fluido espiritual, pode bem ser considerada como instantânea, com tanto mais razão, como diz o próprio Espírito numa comunicação que encontrareis a seguir, quanto era de sua parte uma primeira experiência feita com vistas a uma aplicação posterior, em caso de êxito.
Entretanto, o Espírito ficava sempre desconhecido do médium, persistindo em não mostrar suas feições; dava mesmo a impressão de querer fugir, quando, de um salto só, nossa doente, que minutos antes não podia dar um passo, se lança no meio do quarto para pegar e apertar a mão de seu médico espiritual. Dessa vez o Espírito virou-se para ela, deixando sua mão na dela. Neste momento a Sra. G... solta um grito e cai desfalecida no parquete: acabava de reconhecer o Sr. Demeure no Espírito curador. Durante a síncope recebeu os cuidados diligentes de vários Espíritos simpáticos. Enfim, readquirida a lucidez sonambúlica, conversou com os Espíritos, trocando com eles calorosos apertos de mão, notadamente com o Espírito do doutor, que respondia a seus testemunhos de afeição penetrando-a de um fluido reparador.
Não é uma cena impressionante e dramática? Dir-se-ia que todas as personagens representavam seu papel na vida humana.
Não é uma prova entre mil de que os Espíritos são seres perfeitamente reais, tendo um corpo e agindo como faziam na Terra? Estávamos felizes por encontrar nosso amigo espiritualizado, com seu excelente coração e sua delicada solicitude.
Durante a vida ele tinha sido médico da médium; conhecia sua extrema sensibilidade e a tinha conduzido como se fora sua própria filha. Esta prova de identidade, dada àqueles a quem o Espírito amava, não é admirável e capaz de fazer encarar a vida futura sob seu aspecto mais consolador?

Eis a comunicação recebida do Sr. Demeure, no dia seguinte a esta sessão:
Meus bons amigos, estou ao vosso lado e vos amo sempre, como no passado. Que felicidade poder comunicar-me com os que me são caros! Como fui feliz, ontem à noite, por me tornar útil e aliviar nosso caro médium vidente! É uma experiência que me servirá e que porei em prática no futuro, toda vez que se apresentar uma ocasião favorável. Hoje seu filho está muito doente, mas espero que logo o curaremos; tudo isto lhe dará coragem para perseverar no estudo do desenvolvimento de sua faculdade. (Com efeito, o filho da Sra. G... foi curado de uma angina diftérica, com medicação homeopática prescrita pelo Espírito).
Daqui a algum tempo poderemos dar-vos ocasião de testemunhar fenômenos que ainda não conheceis, e que serão de grande utilidade para a ciência espírita. Serei feliz em poder contribuir para essas manifestações, que me teriam dado tanto prazer de ver quando vivo; mas, graças a Deus, hoje as assisto de maneira muito particular e que me prova evidentemente a verdade do que se passa entre vós. Crede, meus bons amigos, sinto sempre um verdadeiro prazer em tornar-me útil aos semelhantes, ajudando-os a propagar estas belas verdades, que devem mudar o mundo, trazendo-o a melhores sentimentos. Adeus, meus amigos, até logo.
Antoine Demeure

Não é curioso ver um Espírito, já instruído na Terra, fazer como Espírito estudos e experiências para adquirir mais habilidade no alívio de seus semelhantes? Há nesta confissão uma louvável modéstia que denota o verdadeiro mérito, ao passo que os Espíritos pseudossábios geralmente são presunçosos.
O último número da Revista cita uma comunicação do Sr. Demeure, como tendo sido dada em Montauban em 1º de fevereiro; foi em 26 de janeiro que ele a ditou. Em minha opinião esta data tem uma certa importância, porque foi o dia seguinte ao de sua morte. No segundo parágrafo ele diz: “Gozo de rara lucidez entre os Espíritos desprendidos da matéria há tão pouco tempo”.
Realmente, essa lucidez prova um rápido desprendimento, só compatível com os Espíritos moralmente muito adiantados.
Observação – A cura reportada acima é um exemplo da ação do magnetismo espiritual puro, sem qualquer mescla com o magnetismo humano. Por vezes os Espíritos se servem de médiuns especiais, como condutores de seu fluido. São esses os médiuns curadores propriamente ditos, cuja faculdade apresenta graus muito diversos de energia, conforme sua aptidão pessoal e a natureza dos Espíritos que os assistem. Conhecemos em Paris uma pessoa acometida a oito meses de exostoses no quadril e no joelho, que lhe causam grandes sofrimentos e a obrigam a ficar acamada. Um de seus amigos, rapaz dotado desta preciosa faculdade, prodigalizou-lhe cuidados pela simples imposição das mãos sobre a cabeça, durante alguns minutos, e pela prece, que o doente acompanhava com fervor edificante. No momento este último apresentava uma crise muito dolorosa, análoga à que sentia a Sra. G..., logo seguida de uma calma perfeita. Então ele sentia a impressão de várias mãos, que massageavam e estiravam a perna, que se via alongar-se de 10 a 12 centímetros. Nele já há uma melhora muito sensível, pois começa a andar; mas a antiguidade e a gravidade do mal necessariamente tornam a cura mais difícil e mais demorada que a de uma simples entorse.
Faremos observar que a mediunidade curadora ainda não se apresentou, ao que saibamos, com caracteres de generalidade e de universalidade, mas, ao contrário, restrita como aplicação, isto é, o médium tem uma ação mais poderosa sobre certos indivíduos do que sobre outros, e não cura todas as doenças. Compreende-se que assim deva ser, quando se conhece o papel capital que representam as afinidades fluídicas em todos os fenômenos mediúnicos. Algumas pessoas somente o gozam acidentalmente e para um determinado caso. Seria, pois, um erro acreditar que, pelo fato de se ter obtido uma cura, mesmo difícil, podem ser obtidas todas, em virtude de o fluido próprio de certos doentes ser refratário ao fluido do médium; a cura é tanto mais fácil quanto mais naturalmente se opera a assimilação dos fluidos. Também é surpreendente ver algumas pessoas, frágeis e delicadas, exercerem uma ação poderosa sobre indivíduos fortes e robustos. É que, então, essas pessoas são bons condutores do fluido espiritual, ao passo que homens vigorosos podem ser péssimos condutores. Têm apenas o seu fluido pessoal, fluido humano, que jamais tem a pureza e o poder reparador do fluido depurado dos Espíritos bons.
De acordo com isto, compreendem-se as causas maiores que se opõem a que a mediunidade curadora se torne uma profissão. Para que isso ocorra, seria preciso ser dotado de uma faculdade universal. Ora, só os Espíritos encarnados da mais elevada ordem poderiam possuí-la nesse grau. Ter essa presunção, mesmo exercendo-a com desinteresse e por pura filantropia, seria uma prova de orgulho que, por si só, seria um sinal de inferioridade moral. A verdadeira superioridade é modesta; faz o bem sem ostentação e apaga-se, em vez de procurar o brilho; o famoso vai buscá-la e a descobre, ao passo que o presunçoso corre atrás da fama que muitas vezes lhe escapa. Jesus dizia aos que havia curado: “Ide, dai graças a Deus e não faleis disto a ninguém”. É uma grande lição para os médiuns curadores.
Lembraremos aqui que a mediunidade curadora está exclusivamente na ação fluídica mais ou menos instantânea; que não se deve confundi-la nem com o magnetismo humano, nem com a faculdade que têm certos médiuns de receber dos Espíritos a indicação de remédios. Estes últimos são apenas médiuns receitistas[3], como outros são médiuns poetas ou desenhistas.




[1] Revista Espírita – Abril/1865 – Allan Kardec
[2] Revista Espírita – Março/1865 – Allan Kardec
[3] N. do T.: No original: médiuns médicaux.

segunda-feira, 23 de setembro de 2019

EMMA HARDINGE BRITTEN[1]


  


Filha de um capitão do mar, Emma Hardinge Britten nasceu Emma Floyd, em Londres, Inglaterra, em 02 de maio de 1823. Ela começou a demonstrar habilidades psíquicas em tenra idade, incluindo a capacidade de prever o futuro das pessoas. Ela também tinha talento para tocar piano. Aos 11 anos, ela já estava ensinando música após a morte de seu pai. Britten estava perto de seu pai e ficou arrasada com a morte dele, mas ela teve que trabalhar para ajudar a sustentar a família.
Ainda jovem, ela também se envolveu com uma sociedade oculta secreta de Londres. Ela se referiu a esse grupo como o Círculo Órfico em seus escritos, mas explicou que não podia realmente identificá-los. Vários de seus associados nesses círculos eram pessoas da alta sociedade. Nessa época, ela também começara a se apresentar publicamente como pianista, além de escrever músicas sob o pseudônimo Ernest Reinhold. Ela também era conhecida por prever o que seu público queria ouvir, tocando sem os pedidos verbais.
Britten também começou a trabalhar no teatro, onde alegou ter feito amizade com o escritor Charles Dickens e, por volta de 1844, adotou o pseudônimo de Emma Harding para usar em seu trabalho de atriz. Em 1855, ela viajou para os Estados Unidos para começar a trabalhar como atriz. Ela abriu um show na Broadway como protagonista e, também, começou a estudar sobre o espiritismo.
Ela teve seu primeiro grande avanço como médium nessa época, quando foi possuída pelo espírito de um marinheiro que havia morrido no naufrágio de seu navio a vapor, o “Pacífico”. Ela também conheceu uma mulher chamada Elizabeth French, que era uma médium proeminente, embora não sem controvérsias; a francesa havia sido processada ​​por um fazendeiro por fraude, mas sua carreira sobreviveu. Ela e Harding entraram no negócio juntos, administrando clínicas de medicina galvânica. A medicina galvânica envolvia o uso de pedaços de metal, baterias e outros dispositivos que conduziam eletricidade para tratar doenças.
Mesmo assim, Harding achou os próximos anos difíceis. Seu trabalho de teatro diminuiu e ela passou a ministrar aulas como professora particular de música que visitava as casas das pessoas. Ela começou a desenvolver ainda mais suas habilidades psíquicas e a ganhar destaque nos círculos espíritas nos Estados Unidos e na Europa.
Britten começou a viajar por todos os Estados Unidos como médium e psíquico. Ela visitou o Nordeste, o Centro-Oeste e o Sul, além de cidades ocidentais remotas. Nas várias regiões e cidades, ela entrou em contato com diferentes interpretações do espiritismo, bem como com diferentes círculos de pessoas, incluindo intelectuais e escritores proeminentes da época, como Bret Harte. Ela era tão procurada como conferencista que a campanha de Abraham Lincoln pediu que ela falasse em nome deles em 1864. Britten aceitou; sua fama estava crescendo fora dos círculos espíritas. Suas conversas se tornaram mais políticas e ela fez um elogio pela morte de Lincoln.
Em 1865, ela voltou para Londres. Nessa época, ela estava adicionando cada vez mais o "e" ao sobrenome e era chamada de Miss ou Sra. Hardinge. Infelizmente, em Londres, suas palestras não eram tão populares quanto nos Estados Unidos. Ela voltou para os Estados Unidos em 1866 e começou a dar palestras espíritas novamente, apenas para voltar à Inglaterra um ano depois e começar a trabalhar em um livro, "Espiritualismo Americano Moderno". Ela passou dois anos escrevendo o livro e entre 1869 e 1870 ela estava dando palestras novamente nos Estados Unidos. O livro dela também foi publicado. Ela se casou com um espiritualista de Boston chamado William Britten e, nos anos seguintes, ficou de um lado para outro, entre Londres e os Estados Unidos, dando palestras.

Em 1872, ela tentou publicar um jornal espírita regular, "The Western Star", mas conseguiu apenas meia dúzia de assinantes antes de encerrar. Ela e o marido também se promoveram praticando medicina galvânica. Em Nova York, ela conheceu Helena Blavatsky, Henry Steel Olcutt e outros e ajudou na formação da Sociedade Teosófica. Em 1876, ela editou "Art Magic". O autor era anônimo, e o livro tratava de magnetismo e psicologia.
Foi um texto espiritualista significativo por muitos anos. Após sua publicação, Britten iniciou uma série de palestras sobre o assunto nos Estados Unidos, e ela e o marido foram para a Nova Zelândia e Austrália, onde continuaram as aulas. Em 1879, ela publicou "Faiths, Facts and Frauds", que era fortemente baseada nas seções sobre religião em "Art Magic".
No ano seguinte, ela e o marido retornaram a São Francisco, onde passaram vários meses com ocultistas da área; depois voltaram para o leste, onde ela lecionou em Nova York durante parte do verão e outono. Em 1881, ela e o marido se mudaram para Manchester, Inglaterra, onde começou a trabalhar em outro livro sobre Espiritismo. Naquela época, o movimento havia recebido algumas críticas negativas devido à exposição, de alto nível, de várias fraudes. Britten escreveu em defesa do movimento e também assumiu uma agenda pesada de palestras.
Faleceu em 02 de outubro de 1899.

sábado, 21 de setembro de 2019

CRESCIMENTO ATRAVÉS DA DOR[1]



Hugo Lapa - “Espiritualidade é amor”, no Facebook

Por que Deus somente nos ensina pela dor?
Não seria mais fácil aprender pela felicidade, pela satisfação, pela alegria, pelo amor?
A resposta a essa pergunta é bem simples.
Sim, seria muito melhor que o ser humano pudesse aprender pela felicidade, pelo amor, pela bondade, mas não é isso que as pessoas fazem.
Todos podem observar isso em abundância na vida humana.
Pare um pouco e lembre nesse instante dos momentos da vida de outras pessoas e da sua própria vida em que você estava feliz, em que tudo corria bem, em que nada te faltava, em que você estava satisfeito, alegre, com seus desejos satisfeitos, ou seja, bastante confortável na vida.
Qual é a postura de quase todas as pessoas quando estão muito bem? A tendência é cada um ficar estagnado. É permanecer como se está, é não sair do lugar.
Vamos refletir: se um lugar está bom, confortável e atende aos nossos desejos, queremos sair deste lugar? Não… Desejamos permanecer nessa condição o maior tempo possível.
Quando nos encontramos em condições favoráveis, não pensamos em nossa melhora, não pensamos em ir além, não pensamos em crescer, em evoluir, em nos desenvolver, em nos libertar, em buscar alternativas, em olhar para nós mesmos e nos descobrir.
Por exemplo, aquele jovem rico que tem tudo, tem uma namorada linda, faz muitas viagens, come tudo o que gosta, vive uma vida muito confortável, tem muita energia para sair e curtir. Esse jovem vai desejar buscar Deus, ou vai mergulhar num mundo materialista, superficial, ilusório, de conforto e satisfação dos desejos passageiros?
Mas quando esse jovem começar a envelhecer, o que vai ocorrer?
Ele vai aos poucos perdendo toda a sua energia, pode começar a ter várias doenças, se tornará mais dependente dos outros, não poderá mais sair, viajar, não será mais atraente para as mulheres, seus falsos amigos podem abandona-lo, sua família pode não procura-lo como antes, ele pode ficar carente e vazio. Pode ainda ser rico, mas já não poderá mais usufruir o dinheiro e seus prazeres como antes.
Nesse momento, em que ele começa a perder tudo, ele poderá começar a pensar em Deus e a entender que a vida não é apenas a busca pelo prazer, festas, viagens, tecnologias, sexo etc.
Quando nos deparamos com a inevitabilidade da morte, com a degeneração do corpo físico e com a carência, a falta e o vazio, nossa perspectiva começa a mudar e passamos a buscar algo que seja imortal, essencial.
Alguém faz esforço em observar a si mesmo, em se autoconhecer, quando tudo está bem?
Alguém pensa em buscar a Deus quando o mundo nos provê todas as necessidades materiais?
Quantas pessoas buscam a Deus na bonança? Poucos o fazem…
Mas quantas pessoas buscam a Deus durante uma forte tempestade?
Quantas pessoas pensam que precisam se melhorar quando estão de férias, fazendo sua viagem favorita, com muito dinheiro no bolso? Mas e quando perdemos tudo, não temos mais dinheiro, nossos parentes e amigos morreram ou nos deixaram?
Nesse momento lembramos que existe um Deus, que a vida não é apenas dinheiro, viagens, sexo, comida, festas, redes sociais, conforto etc.
Nesse momento, começamos a sentir necessidade de buscar algo que o mundo não pode e nunca pôde nos oferecer.
A verdade é que o ser humano só busca Deus quando a dor lateja, quando ele perde alguém que amava, quando não tem mais dinheiro, quando não vê mais saída, ou seja, quando o mundo já não pode mais lhe oferecer aquilo que ele deseja.
Muitas pessoas só passam a se preocupar verdadeiramente com sua saúde após passarem por uma grave doença.
Depois que vem a dor da enfermidade, elas fazem uma reflexão e decidem que, daqui em diante, elas devem fazer exercícios, ter uma alimentação mais saudável, cultivar hábitos positivos, ter bons pensamentos etc.
O ser humano só busca se melhorar com o dor.
São poucos os que seguem o caminho do amor quando estão bem e confortáveis no mundo.
Por isso os mestres costumam dizer que o ser humano precisa perder o mundo para encontrar a Deus e a si mesmo.
O mundo abafa nossa essência espiritual e precisamos recupera-la, pois a vida verdadeira só existe em nossa natureza essencial, mas profunda e divina.
É preciso que a inteligência da vida nos tire todas as vestimentas ilusórias, todas as aparências, todos os confortos passageiros, todos os desejos, todas as posses.
É preciso que tudo isso seja tirado para que uma pessoa passe a buscar a si mesmo e sua essência.
Como disse Jesus: “Toda a pessoa que bebe desta água, voltará a ter sede. Mas aquele que beber da água que eu dou nunca mais terá sede. A água que eu dou se tornará numa fonte de água viva dentro dele. Ela lhe dará a vida eterna”[2].
Jesus quis dizer que quem vive bebendo o líquido das miragens do mundo sempre terá sede, pois as benesses mundanas são uma ilusão, uma aparência, um sonho, uma fantasia.
Mas quem bebe da essência da vida, que é real e eterna, nunca mais sentirá qualquer falta, qualquer carência, qualquer tristeza, qualquer vazio.
Essa é a resposta do motivo de Deus não nos ensinar pela felicidade, mas pela falta, pela perda, pela dor, pela destruição, pelo caos.
Os momentos em que tudo nos é favorável, tendemos a ficar paralisados e não buscar nosso desenvolvimento, não nos libertar deste mundo instável, de aparência, de ilusão.
Mas quando perdemos tudo que é exterior, começamos a olhar para o nosso interior e buscar a essência divina dentro de nós mesmos.

sexta-feira, 20 de setembro de 2019

POR QUE IDÉIAS NÃOS ESPÍRITAS SÃO ENSINADAS NOS CENTROS ESPÍRITAS[1]



Wellington Balbo

Pode ser que ao ler o título deste texto você imagine que se trata de uma espécie de censura ou proibição a alguma ideia veiculada no centro espírita. Por isso, faço o convite para que prossiga na leitura, pois, adianto, não se trata de censura ou proibição de qualquer coisa.
Kardec ensinou que o Espiritismo é uma doutrina dinâmica, que progride conforme o avanço da Ciência e a observância de alguns pontos deixados pelo próprio Kardec, sendo a universalidade do ensino dos Espíritos um deles, o que equivale dizer o seguinte: ideias novas para serem acopladas ao conhecimento espírita carecem de receber o aval dos mais variados Espíritos e por diferentes médiuns em diversos lugares do mundo, além de fazerem sentido obedecendo a uma rigorosa lógica.
E o mundo avançou um bocado entre o século XIX e o início deste século XXI. Está tudo bem diferente da época de Kardec, portanto, questões novas surgem, sejam vindas da Ciência, da modificação dos costumes da sociedade ou mesmo da literatura mediúnica trazendo, claro, posicionamentos e opiniões de espíritas sobre temas que não foram abordados por Kardec, mas que podem e devem ser analisados.
E neste assunto, em geral, temos duas posições, sendo:

1 – A turma que diz: “Não há em Kardec”.
2 – A turma que aceita tudo sem passar pelo método de Kardec.

Vamos ao modelo 1: “Não há em Kardec”.
Sim, não há em Kardec, mas ele informou que o Espiritismo em sua época não abarcaria tudo (claro, impossível) e que caberia aos espíritas prosseguir o trabalho de descoberta no que se refere à Ciência Espírita.
Aos homens, compete o trabalho de fazer com que a obra de Kardec progrida.
Mas os homens deste modelo 1 pararam, acomodados de que tudo está pronto.

Vamos ao modelo 02: “A turma que aceita tudo sem passar pelo método de Kardec”.
Para os homens do modelo 2 foi esquecida a metodologia aplicada pelo próprio Kardec no que tange aos fenômenos espíritas. Os indivíduos do modelo 2 não aplicam nada, não testam nada, não observam resultados, não comparam e, então, aceitam tudo que vem dos Espíritos.
Na atualidade, todo tipo de ideia é celebrada como uma ideia espírita apenas porque veio de algum Espírito, o que é um equívoco, pois Kardec informa em sua obra que a opinião de um Espírito não tem o valor da verdade espírita.
E, definitivamente uma ideia proferida por um Espírito, médium, pensador, dirigente ou orador espírita é apenas uma ideia, que pode até ser boa, mas não necessariamente chamada de uma ideia espírita, não sem antes passar pelos critérios estabelecidos por Kardec.
E os critérios se fazem necessários para não confundir aqueles que iniciam seus estudos espíritas.
Até entendo a busca por novidades, considero, aliás, essa busca uma propulsora do progresso espírita, o que não entendo é a pressa em ensinar ideias ainda não assumidas como espíritas no centro espírita, até porque ainda há muito a estudar e aprender sobre as lições trazidas por Kardec.
Portanto, com equilíbrio e método, paciência e observação poderemos colaborar para que as ideias espíritas progridam e dialoguem com o tempo e as questões atuais que tantas dúvidas suscitam.

Pensemos nisto.


Fonte: Agenda Espírita Brasil

quinta-feira, 19 de setembro de 2019

IDÉIAS INATAS[1]



Miramez

O Espírito encarnado conserva algum traço das percepções que teve e dos conhecimentos que adquiriu nas existências anteriores?
‒ Resta-lhe uma vaga lembrança, que lhe dá o que chamamos ideias inatas.
a. A teoria das ideias inatas não é quimérica?
‒ Não, pois os conhecimentos adquiridos em cada existência não se perdem; o Espírito, liberto da matéria, sempre se recorda. Durante a encarnação pode esquecê-los em parte, momentaneamente, mas a intuição que lhe fica ajuda o seu adiantamento. Sem isso, ele sempre teria de recomeçar. A cada nova existência, o Espírito toma como ponto de partida aquele em que se achava na precedente.
b. Deve então haver uma grande conexão entre duas existências sucessivas?
‒ Nem sempre tão grande como podias pensar, porque as posições são quase sempre muito diferentes, e no intervalo de ambas o Espírito pôde progredir. (Ver a Questão 216 – O Livro dos Espíritos).
                                                                         Questão 218/Livro dos Espíritos

Certamente que o Espírito quando encarnado tem vaga lembrança daquilo que ele foi em reencarnação passada. A consciência registra tudo o que pensamos e fazemos, como sendo um livro divino. Quando na Terra, movendo-se em um corpo de carne, aparecem, de vez em quando, na mente, as ideias chamadas inatas; são pensamentos guardados na sensibilidade espiritual, de modo a irradiar-se, quando preciso, para a mente ativa, e essa, sendo educada nos conceitos de luz de Nosso Senhor Jesus Cristo, dá-lhes guarida ou expulsa-os de seu mundo mental, quando indesejado. Eis aí a limpeza que devemos fazer dentro de nós mesmos para estabelecer-se a harmonia consciencial.
Alimentamos, por vezes, muitos erros, inspirando-nos em velhas ideias que emergem do passado para o nosso presente. Em casos diversos sendo o encarnado um espírita, ele aponta logo como culpados, os irmãozinhos das sombras, atribuindo a responsabilidade aos obsessores. Na verdade, as ideias são filhas do próprio "obsediado". Algumas religiões põem culpa no satanás e procuram expulsá-lo com gritarias e orações. Cada religioso procura uma desculpa, se esquecendo de que somente atraímos para nós segundo o que somos.
As nossas ideias têm vida, muitos sabem desta verdade. Quem as cria, torna-se seu pai, e mesmo se elas saem de nós, ficam sempre vinculadas à casa paterna. Procuremos, pois, mudar a nossa vida, baseando compará-la com a vida de Cristo. Todo esforço neste sentido é válido, e sempre temos companhias que nos ajudam nas transformações das trevas para a luz.
Quando o Espírito reencarna, traz consigo seu mundo mental, e quando parte deste para o além, também leva o que construiu pelos pensamentos, palavras e obras. Os nossos testemunhos são nossos agentes, que nos libertam ou nos escravizam. A Doutrina dos Espíritos, pode-se dizer, é a misericórdia dos céus para a Terra, porque ela nos avisa, antecipadamente, a verdade, de modo a começarmos, mesmo na Terra, a sentir e a viver a luz da espiritualidade superior.
Impossível descrever todos os acontecimentos como sendo iguais na pauta das reencarnações dos Espíritos. Há muitos deles que em uma existência não tem conexão alguma com a anterior, dada à incrustação da sua ignorância; outros, às vezes, por piedade dos guias espirituais, não conseguem fixar essas ideias inatas, para não complicar mais a vida presente.
Quando necessário, os benfeitores estimulam as ideias do passado a flutuar na mente presente, como meio de educação e limpeza do magnetismo inferior que por vezes, se esconde nas dobras da consciência, por séculos. Não podemos dizer aqui que os Espíritos das sombras não inspiram as criaturas na Terra; isso se processa frequentemente, mas, sempre sob vigilância da Luz. Ninguém carrega fardo que não suporte. Na verdade, a Luz se encontra na Terra com muito mais fulgor do que se pensa. Onde quer que estejamos, a nossa visão vê e nossos ouvidos escutam a mensagem de entendimento espiritual. Basta observarmos, desde o nascimento até a entrada nas fronteiras do que chamamos "desconhecido".
O Espiritismo veio completar o que Jesus não podia dizer naquela época, nos dando a segurança, de modo a compreendermos o valor da Sua ressurreição e da comunicação dos Espíritos, os mesmos homens que viveram na Terra.
Procuremos vigiar, analisando todas as ideias que surgirem em nossa mente. Quer sejam ideias inatas, ou provindas de irmãos das sombras, não importa; importa que devemos destruí-las, quando inconvenientes.
Procuremos pensar no bem e vivê-lo; pensemos no amor, amando, que neste esforço permanente, as mãos invisíveis ajudar-nos-ão a concretizar o nosso ideal de iluminação interior.




[1] Filosofia Espírita – Volume 5 – João Nunes Maia

quarta-feira, 18 de setembro de 2019

RETINA HUMANA É REPRODUZIDA DENTRO DE UM CHIP[1]



 Redação do Diário da Saúde

 
Órgãos no chip
O desenvolvimento da tecnologia órgão-em-um-chip está se mostrando um enorme avanço para a pesquisa médica, já oferecendo uma alternativa genuína à experimentação animal.
Um órgão em um chip é formado por câmaras de plástico ou vidro, do tamanho de um selo postal, onde minúsculas culturas de tecidos e organoides são alimentados com nutrientes através de um sistema de microcanais ‒ os chamados biochips.
Os pesquisadores usam essas culturas vivas para testar ingredientes ativos, investigar a etiologia das doenças e pesquisar novas terapias medicamentosas. A grande vantagem em relação aos experimentos com animais é que tudo é feito com células humanas.
Já existem inúmeros órgãos em um chip, que usam uma ampla variedade de tipos de tecidos, como músculo cardíaco, fígado, rim e até tecido cerebral, levando alguns pesquisadores a já falarem em um "corpo em um chip".

Retina em um chip
A mais recente inovação na área é um sistema de retina em um chip, apresentando o complexo tecido estratificado da retina humana na forma de um organoide funcional vivo.
Isso exigiu diferenciar células-tronco e incorporá-las no chip, de modo a recriar um tecido de múltiplas camadas. Esse tecido compreende, entre outras coisas, cones e bastonetes sensíveis à luz, epitélio pigmentar da retina e células ganglionares, que compõem o nervo óptico.
"Quando lançamos luz sobre a retina no chip, registramos um sinal eletrofísico nos cones e bastonetes. E agora estamos trabalhando em um sistema com o qual podemos medir quantitativamente esses sinais," disse o Dr. Peter Loskill, do Instituto Fraunhofer (Alemanha).
Esse sistema permitirá mensurar em que medida uma substância influencia a capacidade visual da retina artificial.
"A indústria farmacêutica está mostrando um grande interesse na tecnologia de retina no chip", acrescentou Loskill, acrescentando que esse interesse se deve ao fato de que muitos medicamentos modernos têm efeitos colaterais retinopáticos. Os modelos de teste ainda são raros nesse campo, uma vez que a retina dos animais possui uma estrutura diferente da retina humana.
Além disso, a tecnologia de retina no chip facilitará a pesquisa de doenças da retina e o desenvolvimento de medicamentos para tratar condições como a degeneração macular relacionada à idade e a retinopatia diabética.

Checagem com artigo científico:
Artigo: Merging organoid and organ-on-a-chip technology to generate complex multi-layer tissue models in a human Retina-on-a-Chip platform
Autores: K. Achberger, C. Probst, J. Haderspeck, S. Bolz, J. Rogal, J. Chuchuy, M. Nikolova, V. Cora, L. Antkowiak, W. Haq, N. Shen, K. Schenke-Layland, M. Ueffing, S. Liebau, P. Loskill
Publicação: eLIFE
DOI: 10.7554/eLife.46188

terça-feira, 17 de setembro de 2019

CORRESPONDÊNCIA DE ALÉM-TÚMULO – Estudo Mediúnico[1]




Para a compreensão do fato principal de que se trata, extraímos a passagem seguinte da carta de um de nossos assinantes; é, além disso, uma simples e tocante expressão das consolações que os aflitos haurem no Espiritismo:
Permiti vos diga o quanto o Espiritismo me tem aliviado, ao dar-me a certeza de rever num mundo melhor um ser que amei com um amor sem limites, um irmão querido, morto na flor da idade. Como é consolador o pensamento de que aquele cuja morte pranteamos muitas vezes está perto de nós, sustentando-nos quando estamos acabrunhados sob o peso da dor, alegrando-se quando a fé no futuro nos deixa entrever um encontro certo!
Iniciado há alguns anos nos admiráveis preceitos do Espiritismo, tinha aceitado todas as suas verdades e me esforçava por viver aqui de maneira a apressar o meu adiantamento. Minhas boas resoluções tinham sido tomadas muito sinceramente; confesso, todavia, que não possuindo os elementos necessários para fortalecer e sustentar minha crença na comunicação dos Espíritos, pouco a pouco me havia habituado, não a rejeitá-la, mas a encará-la com mais indiferença. É que a desgraça até então me era desconhecida. Hoje, que a Deus aprouve enviar-me uma prova dolorosa, hauri no Espiritismo preciosas consolações e sinto necessidade de vo-lo agradecer muito particularmente, como o primeiro propagador desta santa doutrina.
Não sendo a doutrina do Espiritismo uma simples hipótese, mas apoiando-se em fatos patentes e ao alcance de todo o mundo, as consolações que proporciona consistem não apenas na certeza de rever as pessoas amadas, mas, também e sobretudo, na possibilidade de corresponder-se com elas e delas obter salutares ensinos.

Assim convicto, o irmão vivo escreveu ao irmão morto a seguinte carta, solicitando a resposta através de um médium:
N..., 14 de março de 1865
Meu irmão bem-amado,
É-me impossível dizer-te quanto fiquei feliz ao ler a carta que me enviaste através do médium de S... Comuniquei-a aos nossos pobres pais, a quem muito afligiste, ao deixá-los de maneira tão inesperada. Eles me pediram que te escrevesse novamente, que te pedisse novos detalhes sobre tua existência atual, a fim de poderem crer, por provas que darás facilmente, na realidade do ensino dos Espíritos. Mas, antes de tudo, acerca-te deles, inspira-lhes a resignação e a fé no futuro; consola-os, pois necessitam ser consolados, alquebrados que estão por um golpe tão inesperado.
Quanto a mim, ó meu irmão bem-amado, serei sempre feliz quando te for permitido dar as tuas notícias. Hoje venho pedir-te novos detalhes sobre a tua moléstia, tua morte e teu despertar no mundo dos Espíritos.
Quais os Espíritos que vieram receber-te no limiar do mundo invisível? Reviste o nosso avô? Ele é feliz? Reviste e reconheceste nossos parentes, mortos antes de ti, mesmo os que não havias conhecido na Terra? Assististe ao teu sepultamento? Que impressão sentiste? Peço-te que me dês alguns detalhes sobre essa triste cerimônia, que não permitam aos nossos pais duvidarem de tua identidade. Poderias dizer se algum membro de nossa família se tornará médium? Não desejarias comunicar-te através de um de nós?
Não posso compreender que não queiras continuar teus estudos de música, que cultivavas com tanto ardor na Terra; para nós seria uma doce consolação se quisesses terminar, através de um médium, os salmos que começaste a musicar em Paris.
Pudeste constatar o vazio imenso causado por tua morte no coração de todos nós. Suplico-te que inspires a teus pais a coragem necessária para não sucumbirem nesta terrível prova; sê muitas vezes com eles e dá notícias tuas. Quanto a mim, Deus sabe quanto chorei. Apesar de minha crença no Espiritismo, há momentos em que não posso acostumar-me à ideia de não mais te rever na Terra, e em que daria a vida para poder apertar-te ao coração.
Adeus, meu nobre amigo. Pensa algumas vezes naquele cujos pensamentos estão constantemente dirigidos para ti, e que fará o possível para ser julgado digno de um dia estar reunido a ti.
Abraço-te e te aperto ao coração.
Teu irmão devotado, B...

Nota – Em precedente comunicação dada aos pais, através de outro médium, tinha sido dito que o jovem não queria continuar seus estudos musicais no mundo dos Espíritos.

RESPOSTA DO IRMÃO MORTO AO IRMÃO VIVO
Eis-me aqui, meu bom irmão; mas és muito exigente.
Mesmo com a melhor boa vontade não posso responder, numa só evocação, às numerosas perguntas que me diriges. Então não sabes que por vezes é muito difícil aos Espíritos transmitir o pensamento através de certos médiuns pouco aptos a receber claramente, em seu cérebro, a impressão fotográfica dos pensamentos de certos Espíritos e que, desnaturando-os, lhes dão um cunho de falsidade, que leva os interessados à negação mais formal das manifestações?
Isto é muito pouco lisonjeiro e entristece profundamente os que, em falta de instrumentos adequados, são impotentes para dar suficientes sinais de identidade.
Crê-me, bom irmão, evoca-me em família. Com um pouco de boa vontade e alguns ensaios perseverantes, tu mesmo poderás conversar comigo à vontade. Estou quase sempre perto de ti, porque sei que és espírita e tenho confiança em ti. É certo que a simpatia atrai a simpatia e que não se pode ser expansivo com um médium que a gente vê pela primeira vez. Entretanto, esforçar-me-ei por satisfazer-te.
Minha morte, que te aflige, era o termo do cativeiro de minha alma. Teu amor, tua solicitude, tua ternura tinham tornado doce o meu exílio na Terra. Mas, nos meus mais belos momentos de inspiração musical, eu voltava o olhar para as regiões luminosas, onde tudo é harmonia, absorto em escutar os acordes longínquos da melodia celeste que me inundava em doces vibrações. Quantas vezes eu me extasiei nesses devaneios arrebatadores, aos quais devia o sucesso de meus estudos musicais, que continuo aqui! Seria um erro extraordinário acreditar que a aptidão individual se perde no mundo espírita; ao contrário, ela se aperfeiçoa, para em seguida levar esse aperfeiçoamento aos planetas onde esses Espíritos são chamados a viver.
Não choreis mais, vós todos, bem-amados pais! Para que servem as lágrimas? Para enfraquecer, para desencorajar as almas. Parti primeiro, mas vireis encontrar-me. Esta certeza não é bastante poderosa para vos consolar? A rosa, que exalou seus perfumes no carvalho, morre como eu, depois de ter vivido pouco, juncando o solo de pétalas murchas. Mas, por sua vez, o carvalho morre e tem a sorte da rosa que chorou e cujas cores vivas se harmonizam com sua sombria folhagem.
Ainda algum tempo e vireis a mim; então cantaremos o cântico dos cânticos e louvaremos a Deus em suas obras. Juntos seremos felizes se vos resignardes à provação que vos aflige.
Aquele que foi teu irmão na Terra e te ama sempre,
B...

Vários ensinamentos importantes ressaltam desta comunicação. O primeiro é a dificuldade do Espírito para se exprimir com o auxílio do instrumento que lhe é dado.
Conhecemos pessoalmente esse médium, que há muito tempo vem dando provas de força e de flexibilidade da faculdade, sobretudo no que respeita às evocações particulares. É o que se pode chamar um médium seguro e bem assistido. De onde provém, então, esse impedimento? É que a facilidade das comunicações depende do grau de afinidade fluídica existente entre o Espírito e o médium.
Assim, cada médium é mais ou menos apto a receber a impressão ou a impulsão do pensamento de tal ou qual Espírito; pode ser um bom instrumento para um e mau para outro, e este fato em nada desmerece as suas qualidades, pois a condição é mais orgânica do que moral. Assim, pois, os Espíritos buscam de preferência os instrumentos com os quais vibram em uníssono; impor-lhes o primeiro que aparecer e crer que deles possam servir-se indiferentemente, seria a mesma coisa que obrigar um pianista a tocar violino: em virtude de saber música, deve ser capaz de tocar todos os instrumentos.
Sem esta harmonia, a única que pode levar à assimilação fluídica, tão necessária na tiptologia quanto na escrita, as comunicações ou são impossíveis, ou incompletas, ou falsas. Em falta do Espírito, que não se pode ver, se não puder manifestar-se livremente, não faltarão outros, sempre prontos a aproveitar a ocasião, e que pouco se importam com a verdade do que dizem.
Esta assimilação fluídica por vezes é completamente impossível entre certos Espíritos e certos médiuns; outras vezes, e é o caso mais ordinário, só se estabelece gradualmente e com o tempo, o que explica por que os Espíritos que se manifestam habitualmente a um médium o fazem com mais facilidade, e por que as primeiras comunicações quase sempre atestam certa dificuldade e são menos explícitas.
Está, pois, demonstrado, tanto pela teoria quanto pela experiência, que não há mais médiuns universais para as evocações, como não os há aptos a todos os gêneros de manifestações. Aquele que pretendesse receber à vontade e no momento certo as comunicações de todos os Espíritos e, por conseguinte, satisfazer aos legítimos desejos de todos os que querem entreter-se com os seres que lhes são caros, ou daria prova de radical ignorância dos princípios mais elementares da ciência, ou de charlatanismo e, em todo o caso, de uma presunção incompatível com as qualidades essenciais de um bom médium. Pôde-se acreditar nisto em certo tempo, mas hoje os progressos da ciência teórica e prática demonstram, em princípio, a sua impossibilidade. Quando um Espírito se comunica pela primeira vez a um médium, sem qualquer dificuldade, isto se deve a uma afinidade fluídica excepcional ou anterior, entre o Espírito e seu intérprete.
É, pois, um erro impor um médium ao Espírito que se quer invocar. É preciso deixar-lhe a escolha de seu instrumento.
Mas, indagarão, como fazer quando só se tem um médium, o que é muito frequente? Primeiro, se contentar com o que se tem e abster-se do que não se tem. Não está no poder da ciência espírita mudar as condições normais das manifestações, assim como não cabe à química mudar as da combinação dos elementos.
Contudo, há aqui um meio de atenuar a dificuldade. Em princípio, quando se trata de uma evocação nova, o médium deve sempre evocar o seu guia espiritual, previamente, e indagar se ela é possível. Em caso afirmativo, perguntar ao Espírito evocado se encontra no médium a aptidão necessária para receber e transmitir seu pensamento. Se houver dificuldade ou impossibilidade, pedir-lhe que o faça através do guia do médium ou ser por ele assistido.
Neste caso, o pensamento do Espírito chega de segunda mão, isto é, depois de ter atravessado dois meios. Compreende-se, então, quanto importa que o médium seja bem assistido, porque se o for por um Espírito obsessor, ignorante ou orgulhoso, a comunicação será alterada. Aqui, as qualidades pessoais do médium forçosamente representam um papel importante, pela natureza dos Espíritos que atrai a si. Os médiuns mais indignos podem dispor de poderosas faculdades; os mais seguros, porém, são os que a essa força juntam as melhores simpatias no mundo invisível. Ora, de modo algum essas simpatias garantem os nomes mais ou menos imponentes dos Espíritos que assinam as comunicações recebidas por via mediúnica.
Esses princípios fundamentam-se ao mesmo tempo na lógica e na experiência. As próprias dificuldades que revelam provam que a prática do Espiritismo não deve ser tratada levianamente.
Outro fato ressalta igualmente da comunicação acima: é a confirmação do princípio de que os Espíritos inteligentes prosseguem na vida espiritual os trabalhos e estudos que empreenderam na vida corporal.
É por isso que damos preferência, nas comunicações que publicamos, àquelas de onde pode sair um ensinamento útil.
Quanto à carta do irmão vivo ao seu irmão morto, é uma ingênua e tocante expressão da fé sincera na sobrevivência da alma, na presença dos seres que nos são caros e da possibilidade de continuar com estes as relações de afeição, que a eles nos uniam.
Sem dúvida os incrédulos rirão daquilo que, aos seus olhos, é uma pueril credulidade. Por mais que façam, o nada que preconizam jamais terá encanto para as massas, porque parte o coração e aniquila as mais santas afeições; gela, em vez de aquecer; apavora e desespera, em vez de fortalecer e consolar.
Como suas diatribes contra o Espiritismo têm por eixo a doutrina apavorante do nada, não se deve admirar da sua impotência em desviar as massas das novas ideias. Entre uma doutrina desesperadora e outra consoladora, a escolha da maioria não poderia ser duvidosa.
Depois da horrível catástrofe da igreja de Santiago do Chile, em 1864, nela encontraram uma caixa de cartas, nas quais os fiéis depositavam as missivas que dirigiam à Santa Virgem. Poder-se-ia estabelecer uma paridade entre o fato que excitou a verve dos zombadores e a carta acima? Seguramente, não. Contudo, o erro não era dos que acreditavam na possibilidade de corresponder-se com o outro mundo, mas dos que exploravam essa crença, respondendo às cartas previamente seladas. Há poucas superstições que não tenham seu ponto de partida numa verdade desnaturada pela ignorância. Acusado de as ressuscitar, o Espiritismo vem, ao contrário, reduzi-las ao seu justo valor.




[1] Revista Espírita – Abril/1865 – Allan Kardec