terça-feira, 30 de novembro de 2021

O ESPIRITISMO E A MAGISTRATURA[1]

 

Allan Kardec

 

Perseguições Judiciais contra o Espiritismo

Cartas de um Juiz de Instrução

 

Como temos dito muitas vezes, o Espiritismo conta em suas fileiras mais de um magistrado, não só na França, como na Itália, Espanha, Bélgica, Alemanha e na maioria dos países estrangeiros. A maior parte dos detratores da doutrina, que julga ter o privilégio do bom-senso, trata de insensatos os que não partilham de seu cepticismo a respeito das coisas espirituais – não dizemos sobrenaturais porque o Espiritismo não as admite – admira-se que homens de inteligência e de valor incorram em semelhante erro. Os magistrados não são livres de ter sua opinião, sua fé, sua crença? Não há entre eles católicos, protestantes, livres-pensadores, franco maçons? Quem, pois, poderia incriminar os que são espíritas? Não estamos mais no tempo em que teriam cassado, talvez queimado, o juiz que tivesse ousado afirmar publicamente que é a Terra que gira.

Coisa estranha! Há gente que gostaria de fazer reviver esse tempo para os espíritas. No último levante não vimos homens que se diziam apóstolos da liberdade de pensamento, os apontar à vindita da lei como malfeitores, excitar as populações a ir-lhes ao encalço, estigmatizá-los e lhes atirar injúrias à face, nas folhas públicas e nos panfletos? Foi um momento de verdadeira raiva, e não de brincadeira que, graças ao tempo em que vivemos, exalou-se em palavras. Foi necessária toda a força moral de que se sentem animados os espíritas, toda a moderação, de que os próprios princípios da doutrina fazem uma lei, para manter a calma e o sangue-frio em tal circunstância e abster-se de represálias, que poderiam ter sido lamentáveis. Esse contraste chocou todos os homens imparciais.

Então o Espiritismo é uma associação, uma filiação tenebrosa, perigosa para a sociedade, obediente a uma palavra de ordem? Seus adeptos fizeram um pacto entre si? Só a ignorância e a má-fé podem avançar tais absurdos, já que sua doutrina não tem segredos para ninguém e eles agem à luz do dia. O Espiritismo é uma filosofia como qualquer outra, que se aceita livremente, se convém, ou se rejeita, se não convém; que repousa numa fé inalterável em Deus e no futuro e que só obriga moralmente seus aderentes a uma coisa: considerar todos os homens como irmãos, sem acepção de crença, e fazer o bem, mesmo aos que nos fazem mal.

Por que, então, não poderia um magistrado dizer-se abertamente seu partidário e declará-la boa, se a julga boa, como pode dizer-se partidário da filosofia de Aristóteles, de Descartes ou de Leibnitz?

Temeriam que sua justiça sofresse por isto? Que isto o tornasse muito indulgente para os adeptos? Algumas observações aqui encontram naturalmente o seu lugar.

Num país como o nosso, onde as opiniões e as religiões são livres por lei, seria uma monstruosidade perseguir um indivíduo porque acredita nos Espíritos e em suas manifestações. Se, pois, um espírita fosse chamado em juízo, não seria por causa de sua crença, como se fazia em outros tempos, mas porque teria cometido uma infração à lei. É, pois, a falta que seria punida, e não a crença; e se fosse culpado seria passível das penas da lei. Para incriminar a doutrina é preciso verificar se ela encerra algum princípio ou máxima que autorizaria ou justificaria a falta. Se, ao contrário, aí se achasse algo censurável ou instruções em sentido oposto, a doutrina não poderia ser responsável pelos que não a compreendem ou não a praticam. Pois bem! Que analisem a Doutrina Espírita com imparcialidade e desafiamos que aí encontrem uma só palavra sobre a qual se possam apoiar para cometer um ato qualquer repreensível aos olhos da moral, ou a respeito do próximo, ou mesmo que possa ser interpretado como mal, porque tudo aí é claro e sem equívoco.

Quem quer que se conforme aos preceitos da doutrina não poderia, pois, estar sujeito a perseguições judiciais, a menos que nele se persiga a própria crença, o que entraria nas perseguições contra a fé. Ainda não temos conhecimento de perseguições desta natureza na França, nem mesmo no estrangeiro, salvo a condenação, seguida do auto-de-fé, de Barcelona, embora fosse uma sentença do bispo, e não do tribunal civil, e onde apenas se queimaram livros. Com efeito, sob que pretexto perseguiriam pessoas que só pregam a ordem, a tranquilidade, o respeito às leis? Que praticam a caridade, não só entre si, como nas seitas exclusivas, mas para com todo o mundo? Cujo objetivo principal é trabalhar o seu próprio melhoramento moral? Que, contra os inimigos, abjuram todo sentimento de ódio e de vingança? Homens que professam tais princípios não podem ser perturbadores da sociedade; certamente não são eles que a levarão à desordem, o que fez um comissário de polícia dizer que se todos os seus subordinados fossem espíritas ele poderia fechar sua repartição.

Em semelhantes casos, a maior parte das perseguições tem por objetivo o exercício ilegal da Medicina, ou acusações de charlatanismo, prestidigitação ou fraude, por meio da mediunidade.

Primeiramente diremos que o Espiritismo não pode ser responsável por indivíduos que indevidamente se fazem passar por médiuns, assim como a verdadeira ciência não é responsável pelos escamoteadores que se dizem físicos. Um charlatão pode, pois, dizer que opera com o auxílio dos Espíritos, como um prestidigitador diz que opera com a ajuda da física. É um meio como qualquer outro de jogar poeira nos olhos; tanto pior para os que se deixam enganar. Em segundo lugar, condenando o Espiritismo a exploração da mediunidade, como contrária aos princípios da doutrina, do ponto de vista moral e, além disso, demonstrando que ela não deve, nem pode, ser um ofício ou uma profissão, todo médium que não tira de sua faculdade qualquer proveito direto ou indireto, ostensivo ou dissimulado, afasta, por isso mesmo, até a suspeita de fraude ou de charlatanismo; desde que não é atraído por nenhum interesse material, a trapaça não teria sentido. O médium que compreende o que há de grave e santo num dom dessa natureza julgaria profaná-lo fazendo-o servir a coisas mundanas, para si e para os outros, ou se dele fizesse um objeto de divertimento e de curiosidade. Respeita os Espíritos como gostaria que o respeitassem, quando for Espírito, e deles não faz alarde.

Ademais, sabe que a mediunidade não pode ser um meio de adivinhação; que não pode fazer descobrir tesouros, heranças, nem facilitar êxito nas coisas aleatórias; jamais será um ledor de buenadicha[2], nem por dinheiro, nem por nada; daí por que jamais terá altercações com a justiça. Quanto à mediunidade curadora, ela existe, é certo; mas está subordinada a condições restritivas, que excluem a possibilidade de consultório aberto, sem suspeitas de charlatanismo. É uma obra de devotamento e de sacrifício, e não de especulação. Exercida com desinteresse, prudência e discernimento, e encerrada nos limites traçados pela doutrina, não pode cair sob os golpes da lei.

Em resumo o médium, segundo os desígnios da Providência e a visão do Espiritismo, seja artífice ou príncipe, pois os há nos palácios e nas choupanas, recebeu um mandato que cumpre religiosamente e com dignidade; vê em sua faculdade apenas um meio para glorificar a Deus e servir ao próximo, e não um instrumento para servir aos seus interesses ou satisfazer a sua vaidade; faz-se estimar e respeitar por sua simplicidade, modéstia e abnegação, o que não sucede com os que dele buscam fazer um trampolim.

Ao punir com severidade os médiuns exploradores, os que abusam de uma faculdade real, ou simulam uma faculdade que não têm, a justiça não atinge a doutrina, mas o abuso. Ora, o Espiritismo verdadeiro e sério, que não vive de abuso, com isto só poderá ganhar em consideração e não tomaria sob seu patrocínio os que apenas desviam a opinião pública por conta própria.

Tomando a defesa para si, ele assumiria a responsabilidade do que eles fazem, porque esses tais não são verdadeiramente espíritas, ainda quando fossem realmente médiuns.

Enquanto não perseguirem num espírita, ou nos que se fazem passar por tais, senão os atos repreensíveis aos olhos da lei, o papel do defensor é discutir o ato em si mesmo, abstração feita da crença do acusado; seria grave erro procurar justificar o ato em nome da doutrina. Ao contrário, deve empenhar-se em demonstrar que ela lhe é estranha. Então o acusado cai no direito comum.

Um fato incontestável é que, quanto mais extensos e variados são os conhecimentos de um magistrado, tanto mais apto é este para apreciar os fatos sobre os quais é chamado a pronunciar-se.

Num caso de medicina legal, por exemplo, é evidente que aquele que não for totalmente estranho à ciência poderá melhor julgar o valor dos argumentos da acusação e da defesa, do que outro que lhe ignora os mais elementares princípios. Num caso onde o Espiritismo estivesse em questão, e hoje que ele está na ordem do dia, pode apresentar-se, incidentemente, como principal ou como acessório numa porção de casos, há um interesse real para os magistrados em saber ao menos o que ele é, sem que, por isso, sejam tidos por espíritas. Num dos casos precitados, incontestavelmente saberiam melhor discernir o abuso da verdade.

Infiltrando-se o Espiritismo cada vez mais nas ideias, e tendo já um lugar reservado entre as crenças reveladas, não está longe o tempo em que não será mais permitido a nenhum homem esclarecido ignorar, exatamente, o que é essa doutrina, do mesmo modo que hoje não pode ignorar os primeiros elementos das ciências. Ora, como ele toca em todas as questões científicas e morais, compreender-se-á melhor uma porção de coisas que, à primeira vista, aí pareciam estranhas. É assim, por exemplo, que o médico aí descobrirá a verdadeira causa de certas afecções, que o artista colherá numerosos temas de inspiração, que será em muitas circunstâncias uma fonte de luz para o magistrado e para o advogado.

É neste sentido que o aprecia o Sr. Jaubert, o honrado vice-presidente do tribunal de Carcassonne. Nele é mais que um conhecimento adicionado aos que possui, é uma questão de convicção, pois lhe compreende o alcance moral. Embora jamais tenha ocultado sua opinião a esse respeito, convencido de estar certo e da força moralizadora da doutrina, hoje que a fé se extingue no cepticismo, ele quis dar-lhe o apoio da autoridade do seu nome, no momento mesmo em que ela era atacada com mais violência, afrontando resolutamente a zombaria e mostrando aos seus adversários o pouco caso que faz de seus sarcasmos. Em sua posição e dadas as circunstâncias, a carta que nos pediu que publicássemos, e que inserimos no número de janeiro último, é um ato de coragem, do qual todos os espíritas sinceros guardarão preciosa lembrança. Ela marcará na História o estabelecimento do Espiritismo.

A carta seguinte, que igualmente estamos autorizados a publicar, tem lugar reservado ao lado da do Sr. Jaubert. É uma dessas adesões explícitas e motivadas, à qual a posição do autor dá tanto mais peso quanto é espontânea, já que não tínhamos a honra de conhecer esse senhor. Ele julga a doutrina tão-só pela impressão das obras, pois nada tinha visto. É a melhor resposta à acusação de inépcia e de trapaça lançada indistintamente contra o Espiritismo e seus aderentes.

21 de novembro de 1865.

Senhor,

Permiti-me, como novo e fervoroso adepto, testemunhar-vos todo o meu reconhecimento por me terdes iniciado, pelos vossos escritos, à ciência espírita. Por curiosidade, li O Livro dos Espíritos; mas, após uma leitura atenta, a admiração, depois a mais inteira convicção sucederam em mim a uma desconfiada incredulidade. Com efeito, a doutrina que dele decorre dá a mais lógica solução, a mais satisfatória para a razão, de todas as questões que tão seriamente preocuparam os pensadores de todos os tempos, para definir as condições da existência do homem nesta Terra e determinar seus fins últimos. Esta admirável doutrina é, incontestavelmente, a sanção da mais pura e da mais fecunda moral, a exaltação demonstrada da justiça, da bondade de Deus e da obra sublime da criação, assim como a base mais segura e mais firme da ordem social.

Não testemunhei as manifestações espíritas, mas este elemento de prova, de modo algum contrário aos ensinamentos de minha religião (a religião católica), não é necessário à minha convicção. Antes de mais, basta-me encontrar na ordem da Providência a razão de ser da desigualdade das condições nesta Terra, numa palavra, a razão de ser do mal material e do mal moral.

Com efeito, minha razão admite plenamente, como justificando a existência do mal material e moral, a alma saindo simples e ignorante das mãos do Criador, enobrecida pelo livrearbítrio, progredindo por provas e expiações sucessivas e não chegando à soberana felicidade senão adquirindo a plenitude de sua essência etérea, pela libertação completa das constrições da matéria, que, alterando as condições da beatitude, deve ter servido para o seu adiantamento.

E, nesta ordem de ideias, que de mais racional que os Espíritos, nas diversas fases de sua depuração progressiva, se comuniquem entre si, de um a outro mundo, encarnado ou invisível, para se esclarecerem, se ajudarem mutuamente, concorrerem reciprocamente para o seu avanço, facilitarem suas provas e entrarem na via reparadora do arrependimento e da volta a Deus! Que de mais racional, digo eu, que numa tal continuidade, um tal fortalecimento dos laços de família, de amizade e de caridade que, unindo os homens em sua passagem por esta Terra, devem, como último objetivo, reuni-los um dia numa só família no seio de Deus!

Que traço de união sublime: o amor partindo do céu, para abraçar com o seu sopro divino a Humanidade inteira, povoando o imenso Universo, e a reconduzir a Deus para fazê-la participar da beatitude eterna, do qual este amor é a fonte! Que de mais digno da sabedoria, da justiça e da bondade infinita do Criador! Que grandiosa ideia da obra cuja harmonia e imensidade o Espiritismo revela, ao levantar uma ponta do véu que ainda não permite ao homem penetrar-lhe todos os segredos! Quanto os homens não tinham restringido sua incomensurável grandeza, encerrando a Humanidade num ponto imperceptível, perdido no espaço, e não concedendo senão a pequeno número de eleitos a felicidade eterna reservada a todos! Assim, rebaixaram o divino artífice às proporções ínfimas de suas percepções, das aspirações tirânicas, vingativas e cruéis inerentes às suas imperfeições.

Enfim, basta à minha razão encontrar nesta santa doutrina a serenidade da alma, coroando uma existência conformada às tribulações providenciais de uma vida honestamente preenchida pelo cumprimento de seus deveres e pela prática da caridade, a firmeza na sua fé, pela solução das dúvidas que restringem as aspirações para Deus e, finalmente, esta plena e inteira confiança na justiça, na bondade e na misericordiosa e paternal solicitude de seu Criador.

Dignai-vos, senhor, contar-me no número dos vossos irmãos em Espiritismo, e aceitar etc.

Bonnamy, juiz de instrução

 

Uma comunicação dada pelo Espírito do pai do Sr. Bonnamy provocou a carta seguinte. Não reproduzimos essa comunicação por causa de seu caráter íntimo e pessoal, mas a seguir publicamos outra, que é de interesse geral.

Senhor e caro mestre, mil vezes obrigado por ter tido a bondade de evocar meu pai. Há tanto tempo que não ouvia essa voz amada! Extinta para mim há tantos anos, ela revive hoje! Assim se realiza o sonho de minha imaginação entristecida, sonho concebido sob a impressão de nossa separação dolorosa. Que doce, que consoladora revelação, tão cheia de esperanças para mim! Sim, vejo meu pai e minha mãe no mundo dos Espíritos, velando por mim, prodigalizando-me o benefício dessa ansiosa solicitude com que me cercavam na Terra. Minha santa mãe, em sua terna preocupação pelo futuro, penetrando-me com seu eflúvio simpático para me levar a Deus e mostrar-me o caminho das verdades eternas, que para mim cintilavam num longínquo nebuloso!

 Como eu seria feliz se, conforme o desejo expresso por meu pai, de se comunicar novamente, sua comunicação pudesse ser julgada útil ao progresso da ciência espírita, e entrar na ordem dos ensinamentos providenciais reservados à obra! Assim eu encontraria, em vosso jornal, os elementos de instruções espíritas, por vezes misturados às doçuras das conversas familiares. É um simples voto, bem o compreendeis, caro mestre; levo em grande conta as exigências da missão que vos incumbe, para fazer de tal voto uma prece.

Dou plena autorização à publicação de minha carta. De boa vontade levarei meu grão de areia à inauguração do edifício espírita; feliz se, ao contato de minha convicção profunda, as dúvidas de alguns se dissipassem e se os incrédulos pensassem em refletir mais seriamente!

Permiti-me, caro mestre, dirigir-vos algumas palavras de simpatia e de encorajamento por vosso duro labor. O Espiritismo é um farol providencial, cuja luz deslumbrante e fecunda deve abrir todos os olhos, confundir o orgulho dos homens, comover todas as consciências; sua irradiação será irresistível. E que tesouros de consolação, de misericórdia e de amor, de que sois o distribuidor!

Aceitai etc.

Bonnamy



[1] Revista Espírita – Março/1866 – Allan Kardec

[2] Sina, fortuna, sorte.

segunda-feira, 29 de novembro de 2021

ELISEU DE SIQUEIRA[1]

 

 

Nasceu em Santo Aleixo, Rio de Janeiro, no dia 16 de junho de 1889. Filho de Franklin Carvalho Siqueira e de Rosalina Caldas Siqueira. Exerceu as profissões de correeiro e tecelão; foi também mestre numa fábrica de tecidos do lugar.

Como espírita desde a mocidade, fundou o Centro Espírita em que a Casa-Assistencial teve origem, de cuja Diretoria participou algumas vezes.

Tinha por hábito visitar os enfermos e sonhava fundar um hospital. Era médium e realizava trabalhos mediúnicos em seu lar. Gostava de música e foi clarinetista.

Participou ativamente do Centro Espírita União, Amor e Caridade tendo participado de diversas diretorias. Implantou nessa instituição um serviço assistencial muito atuante na região.

Muito dedicado ao estudo, implantou na instituição o estudo das obras de Kardec e outro de divulgação do Espiritismo. Após a sua desencarnação o Cento Espírita União, Amor e Caridade, passou por difícil fase, com grandes dificuldades para ajudar os seus assistidos. Apelaram para o Lar Fabiano de Cristo, e novos rumos foram tomados, vencendo galhardamente as dificuldades.

Casado e pai de dez filhos, Eliseu foi exemplar chefe de família. Seu falecimento foi ocasionado por câncer no esôfago, moléstia durante a qual deu mostras de grande resignação, tendo ainda pedido que os seus se abstivessem de chorá-lo quando chegasse a hora do desenlace. Desencarnou em 25 de março de 1953.

sábado, 27 de novembro de 2021

PERIGOS DO ESPIRITISMO[1], [2]

 

Orson Peter Carrara

 

Não se assemelham

Querendo certos experimentadores do Espiritismo, com o intuito de verificação, fixar as condições de produção dos fenômenos, acumular os obstáculos e as exigências, nenhum resultado satisfatório obtiveram, e, desde então, tornaram-se hostis a essa ordem de fatos.

Devemos lembrar que as manifestações dos Espíritos não poderiam ser assemelhadas às experiências de Física e de Química. Ainda assim, estão estas submetidas a regras fixas, fora das quais todo resultado é impossível.

Nas comunicações espíritas, achamo-nos diante não mais de forças cegas, porém de seres inteligentes, dotados de vontade e de liberdade, que, não raro, leem em nós, discernem nossas intenções malévolas e, se são de ordem elevada, cuidam pouco de se prestarem às nossas fantasias.

 

Resguardar-se dos embustes

O estudo do mundo invisível exige muita prudência e perseverança. Somente ao fim de muitos anos de reflexão e de observação é que se adquire o conhecimento da vida, é que se aprende a julgar os homens, a discernir o seu caráter, a resguardar-se dos embustes de que está semeado o mundo.

Mais difícil ainda de obter é o conhecimento da Humanidade invisível que nos cerca e paira acima de nós. O Espírito desencarnado acha-se, além da morte, tal como ele próprio se fez durante sua estada neste mundo. Nem melhor nem pior. Para domar uma paixão, corrigir uma falta, atenuar um vício é, algumas vezes, necessária mais de uma existência.

Daí resulta que, na multidão dos Espíritos, os caracteres sérios e refletidos estão, como na Terra, em minoria, e os Espíritos levianos, amantes de coisas pueris e vãs, formam numerosas legiões.

 

Pela afinidade é que se atraem

O mundo invisível é, pois, em mais vasta escala, a reprodução do mundo terrestre. Lá, como aqui, a verdade e a Ciência não são partilha de todos.

A superioridade Intelectual e Moral só se obtém por um trabalho lento e contínuo, pela acumulação de progressos realizados no curso de longa série de séculos.

Sabemos, entretanto, que esse mundo oculto reage constantemente sobre o mundo corpóreo. Os mortos influenciam os vivos, os guiam e inspiram à vontade. Os Espíritos atraem-se em razão de suas afinidades. Os que despiram as vestes carnais assistem os que ainda estão com elas. Estimulam-nos no caminho do bem; porém, mais vezes ainda, nos impelem ao do mal.

 

Superiores e inferiores

Os Espíritos superiores só se manifestam nos casos em que sua presença é útil e pode facilitar o nosso melhoramento. Fogem das reuniões bulhentas e só se dirigem a homens animados de intenções puras. Pouco lhes convêm as nossas regiões obscuras. Desde que podem, voltam para os meios menos carregados de fluídos grosseiros, mas, apesar da distância, não cessam de velar pelos seus protegidos.

Os Espíritos Inferiores, incapazes de aspirações elevadas, comprazem-se em nossa atmosfera. Mesclam-se em nossa vida e, preocupados unicamente com o que cativava seu pensamento durante a existência corpórea, participam dos prazeres e trabalhos daqueles a quem se sentem unidos por analogias de caráter ou de hábitos. Algumas vezes mesmo, dominam e subjugam as pessoas fracas que não sabem resistir às suas influências. Em certos casos, seu império torna-se tal que podem impelir suas vítimas ao crime e à loucura.

 

Joguete de Espíritos pérfidos

É nesses casos de obsessão e possessão, mais comuns do que se pensa, que encontramos a explicação de numerosos fatos relatados pela História.

Há perigo para quem se entrega sem reservas às experimentações espíritas. O homem de coração reto, de razão esclarecida e madura, pode de aí recolher consolações inefáveis e preciosos ensinos. Mas aquele que só fosse inspirado pelo interesse material ou que só visse nesses fatos um divertimento frívolo tornar-se-ia fatalmente o objeto de uma infinidade de mistificações, joguete de Espíritos pérfidos que, lisonjeando suas inclinações, seduzindo-o por brilhantes promessas, captariam sua confiança, para, depois, acabrunhá-lo com decepções e zombarias.

 

Para expelir más influências

É, portanto, necessária uma grande prudência para se entrar em relação com o mundo invisível. O bem e o mal, a verdade e o erro nele se misturam, e, para distingui-los, cumpre passar todas as revelações, todos os ensinos pelo crivo de um julgamento severo. Nesse terreno ninguém deve aventurar-se senão passo a passo, tendo nas mãos o facho da razão. Para expelir as más influências, para afastar a horda dos Espíritos levianos ou maléficos, basta tornar-se senhor de si mesmo, jamais abdicar o direito de verificação e de exame; é bastante procurar, acima de tudo, os meios de se aperfeiçoar no conhecimento das leis superiores e na prática das virtudes.

Aquele cuja vida for reta, e que procure a verdade com o coração sincero, nenhum perigo tem a temer. Os Espíritos de luz distinguem, veem suas intenções, e assistem-no. Os Espíritos enganadores e mentirosos afastam-se do justo, como um exército diante de uma cidadela bem defendida. Os obsessores atacam de preferência os homens levianos que descuram das questões morais e que em tudo procuram o prazer ou o interesse.

 

Reflexos do passado

Laços cuja origem remonta às existências anteriores unem quase sempre os obsidiados aos seus perseguidores invisíveis. A morte não apaga as nossas faltas nem nos livra dos inimigos. Nossas Iniquidades recaem, através dos séculos, sobre nós mesmos, e aqueles que as sofreram perseguem-nos, às vezes, com seu ódio e vingança, de além-túmulo. Assim o permite a justiça soberana. Tudo se resgata, tudo se expia. O que, nos casos de obsessão e de possessão, parece anormal, iníquo muitas vezes não é senão a consequência das espoliações e das infâmias praticadas no obscuro passado.



[1] LEON DENIS, Depois da Morte, cap. 26 – (1ª. edição CELD-RJ,2.000, tradução de Maria Lúcia Alcântara de Carvalho).  Transcrição na íntegra com subtítulos e divisão do texto por Orson Peter Carrara

sexta-feira, 26 de novembro de 2021

AS RELIGIÕES (NÃO FAZEM) FALTA?[1]

 

José Lucas – Óbidos, Leiria, Portugal

 

Nestes momentos conturbados do planeta Terra, a guerra tem sido o grande carrasco do ser humano. Como resquícios dos mundos primitivos, o Homem continua a matar por qualquer razão, todas elas tendo como causa o egoísmo, que por sua vez é a mãe de todos os defeitos morais do Homem.

Da guerra mental, verbal, física, familiar ou não, guerras periféricas até às guerras mundiais, temos tido de tudo um pouco, desde que o Homem é Homem.

Se a ganância, o orgulho, o egoísmo têm sido os grandes verdugos da Humanidade, conduzindo a guerras permanentes, a sofrimentos atrozes, as marcas físicas e psicológicas sem fim, as religiões têm, igualmente, sido fontes de conflitos nas mais diversas Eras da Humanidade.

Vendo bem as coisas, as religiões são como os partidos políticos, os clubes de futebol: todas elas se acham a melhor entre todas, a única que possui a verdade e, como tal, tornam-se sectárias (seitas, que separam uns dos outros) promovendo disputas e, amiúde, ódios, guerras e vinganças sem fim, tudo isto em nome de Deus que, cada uma apelida como deseja.

No ponto extremo temos o radicalismo religioso, religiões mais ou menos bárbaras, que nada condizem com a noção de espiritualidade, paz, humanismo, fraternidade, solidariedade, Amor.

Jesus de Nazaré foi o Espírito mais evoluído que esteve à face da Terra, dizem os Espíritos superiores, nas pesquisas efectuadas por Allan Kardec, aquando da codificação da Doutrina dos Espíritos (Espiritismo ou Doutrina Espírita) em 1857.

Pela árvore se vê o fruto e, de facto, apenas com Jesus de Nazaré encontramos noções de vivência em Sociedade transversais a toda a Humanidade, sem distinção de povos ou raças, pregando e praticando o Amor ao próximo, deixando esse roteiro como o único caminho seguro para a Humanidade.

Jesus de Nazaré é o expoente máximo que esteve na Terra,

cujos ensinos se destinam a todos os homens, povos e raças.

 

Jesus não criou o cristianismo, nem as religiões cristãs, isso foi fruto da Humanidade que o adaptou às suas idiossincrasias. Ele foi o grande psicoterapeuta da Humanidade, no dizer do Espírito Joanna de Ângelis, não fundou nenhuma religião.

As religiões são contra-natura, dividem, separam, criam dissensões, guerras, não são um pólo de união entre os Homens e, como tal, nos dias que correm, não são um bem para a Humanidade.

Se é certo que existem muitas pessoas de boa vontade dentro das religiões, é mais que sabido que as estruturas das mesmas se tornaram fontes de poder, de miséria e de discórdia.

O Espiritismo não é mais uma religião ou seita, mas uma filosofia de vida, universal e universalista, sendo que, qualquer pessoa, em qualquer parte do mundo, pode estudar e praticar o espiritismo.

Em pleno século XXI é inadmissível o terror dos radicais islâmicos (entre outros), cujas intenções primitivas e destruidoras visam o regresso à Idade Média, numa tentativa de destruir a civilização Ocidental. Está em risco a evolução da Humanidade, os Direitos do Homem, uma civilização mais fraterna, onde a igualdade, fraternidade, colaboração e espiritualidade sejam o ponto de encontro entre as diversas civilizações.

Nestes tempos de dor, em que os cristãos voltam a ser mártires, perante as atrocidades terroristas fundamentadas no radicalismo religioso, precisamos relembrar os primeiros cristãos, a sua coragem e, com a certeza da imortalidade, assente na razão, na pesquisa, não abdicarmos das conquistas civilizacionais do Ocidente.

Vivemos tempos de pandemia espiritual, em que obsessões espirituais, colectivas, de Espíritos atrasados, se operam sobre a Humanidade, cuja fonte de ligação é, precisamente, a violência, o egoísmo, o orgulho, a agressividade.

A espiritualidade (entendimento da vida, ligação à Divindade) é o que se deseja, hoje em dia, e para o futuro da Humanidade, onde as religiões sejam recordadas como os primeiros passos do Homem, até que se entendesse que, afinal, elas não eram precisas para nada… havendo espiritualidade!

Nas pegadas de Jesus de Nazaré, o hindu Mohandas Gandhi especificou, também falando e agindo:

“Não há um caminho para a paz, a paz é o caminho”.

quinta-feira, 25 de novembro de 2021

SENSIBILIDADE ÀS BELEZAS[1]

 

Miramez

 

Os Espíritos são sensíveis às belezas naturais?

‒ As belezas naturais dos vários globos são tão diversas que estamos longe de conhecê-las.

Sim, são sensíveis a elas, segundo as suas aptidões para apreciá-las e compreender. Para os Espíritos elevados há belezas de conjunto, diante das quais se apagam, por assim dizer, as belezas dos detalhes.

Questão 252/O Livro dos Espíritos

 

A natureza nos mostra o assopro da sua harmonia interna para que possamos sentir a alegria de viver, e viver com alegria. Deus se encontra em toda parte, sorrindo para a Sua criação, de forma a dotá-la de paz, com as vibrações que Lhe são próprias, e os Espíritos, como Seus filhos do coração, são sensíveis às belezas da natureza. Sentem eles o encanto das formas como mensagem da perfeição, induzindo-os a serem perfeitos em tudo o que operam.

Todos os mundos são dotados de encantos peculiares à sua evolução, na escala das moradas universais. Os mundos superiores mostram a harmonia das suas formas na faixa que já atingiram, na escala da perfeição. Os acordes das visões nos planetas são diferentes entre uns e outros, porque diferentes são as humanidades neles estagiadas.

Entra nesse campo visual dos mundos o merecimento dos que ali se encontram encarnados, e mesmo desencarnados, mostrando a natureza o que os Espíritos suportam dentro das suas sensibilidades espirituais. Os Espíritos elevados não procuram as particularidades mais íntimas diante das belezas: sentem mais o conjunto, pois ele impressiona, com mais acerto, falando na intimidade no silêncio da visão.

O Belo é o trabalho do Senhor, e é nesse sentido que Jesus ensinava e fazia todas as coisas com harmonia, a nos falar da perfeição. Ao fazermos alguma coisa, mesmo as mais simples, lembremo-nos com interesse da perfeição; ela dará uma conotação de graciosidade e fará lembrar o artista com amor. Todos são sensíveis às belezas das formas e, ao senti-las, irradiam forças que, certamente, por lei, buscam o seu autor.

A imperfeição, pela mesma lei, atrai para junto do seu portador, coisas imperfeitas, que lhe fazem sofrer os desacertos das linhas em desarmonia. Se os Espíritos superiores são sensíveis às belezas, também os inferiores, em menor expressão, gostam e sabem escolher as coisas boas. Isso são lições para que eles, no amanhã, sejam impulsionados a fazer os seus deveres com mais perfeição.

Tudo que existe vibra na perfeição e com a perfeição de Deus; o que se encontra em desarmonia são as ações dos Espíritos que não acordaram para a realidade. É, por assim dizer, como se dormissem ainda no berço da ignorância.

A Doutrina dos Espíritos, que tem a missão de acordar a humanidade para a perfeição, irradia na Terra todos os processos para que os homens usem suas mãos no serviço do amor. Nesse labor, a caridade aflora nos seus caminhos, iluminando os sentimentos como sendo Deus abençoando todos os seus esforços.

Todos os pensamentos puros são formas, ainda que invisíveis ao mundo de belezas, que conduzem à harmonia celestial. Assim, as ideias bem ordenadas e as palavras na faixa do Cristo são reflexos das belezas imortais da criação do Pai Celestial.

Podemos mostrar a harmonia pelos gestos, a grandeza do coração pelo olhar e a perfeição pelo que fazemos da oportunidade que nos é concedida. Devemos aureolar todos os nossos feitos no ambiente da verdade, pois ele tem a força de Deus que liberta, envolvendo a alma com a defesa dos poderes do Espírito em forma de luz d'Aquele que nos criou no silêncio do Seu coração, que pulsa na intimidade dos Seus feitos por amor.



[1] Filosofia Espírita – Volume 5 – João Nunes Maia

quarta-feira, 24 de novembro de 2021

APARIÇÕES RECÍPROCAS[1]

 

James G. Matlock – 15/11/2021

 

Aparições recíprocas são aparições para as quais existem relatos correspondentes de percipientes e agentes. As aparições recíprocas são frequentemente conectadas a experiências fora do corpo e de quase morte e foram relatadas por agentes e percepientes em diferentes estados mentais. Os teóricos dividem-se entre considerá-los como indícios da exteriorização da consciência para além do corpo ou como decorrência da transmissão telepática de informações e imagens.

 

Natureza das aparições recíprocas

O termo apparition é usada em pesquisa psi para o que são popularmente chamados fantasmas. As aparições diferem das alucinações porque representam pessoas reais; muitos são verídicos de alguma forma. Normalmente são apresentações visuais vistas em boa luz e são confundidas com a pessoa que representam, embora possam ser imagens parciais dela, e podem ser estritamente auditivas, táteis, olfativas ou (pelo menos em princípio) gustativas, em vez de ou além de visual. As aparições podem aparecer em sonhos, bem como em visões de vigília.

Aparição recíproca é o termo usado para designar uma aparição para a qual existe (normalmente) um relato correspondente da pessoa percebida, o agente presumido. Aparições recíprocas são comumente conectadas a experiências fora do corpo e experiências de quase morte: O agente sente que sua consciência deixou seu corpo e viajou para um local distante onde sua aparição é vista ou ouvida. Algumas aparições recíprocas resultam de esforços intencionais para projetar a consciência de alguém para um lugar distante. As aparições recíprocas podem ter agentes falecidos e foram relatadas em memórias de intervalo, onde um sujeito de caso de reencarnação lembra de ter estado onde sua aparição foi percebida.

Várias aparições recíprocas foram descritas no clássico Phantasms of the Living , publicado em 1886[2]. Outras foram coletadas em um estudo posterior por Eleanor Sidgwick em 1922[3]. Hornell e E.B. Hart analisaram uma série de aparições recíprocas uma década depois[4]. Exemplos mais recentes são apresentados por Titus Rivas e colegas e por Tricia Robertson[5]. A aparição de Wilmot, tratada em uma entrada separada na Enciclopédia Psi , é uma aparição recíproca bem conhecida. O caso de Maung Yin Maung (veja abaixo) relatado por Ian Stevenson inclui uma aparição recíproca relacionada a uma memória de intervalo.

 

Exemplos de aparições recíprocas

Connie e Margaret

Este caso recíproco de Phantasms of the Living apresenta uma aparição auditiva coletiva. Connie e Margaret, boas amigas de treze e quatorze anos, corriam por um caminho perto de uma cerca viva quando ambas ouviram distintamente seus nomes serem chamados, duas vezes seguidas, assim: 'Connie, Margaret - Connie, Margaret'. Elas não conseguiram ver ninguém no pomar adjacente, então foram até a casa, presumindo que um dos irmãos de Margaret as tivesse chamado de lá. No entanto, a mãe de Margaret assegurou-lhes que ninguém as tinha chamado e então presumiram que deviam ter alucinado os seus nomes.

Enquanto isso, o irmão de Connie, Ted, estava na cama em sua casa, febril e delirando. Quando a mãe de Margaret foi no dia seguinte perguntar por ele, disseram-lhe que, em seu delírio, ele subitamente sentou-se, apontou com entusiasmo e declarou que viu Connie e Margaret correndo pela cerca viva da casa de Margaret. Ele chamou seus nomes, mas elas não lhe deram atenção. A mãe de Margaret perguntou em que horas isso havia acontecido. Acontece que já passava do meio-dia, na mesma hora em que Connie e Margaret haviam entrado em casa, dizendo que tinham ouvido seus nomes serem chamados[6].

 

Sra. Smith

Este caso também foi incluído em Phantasms of the Living . O agente era uma estudante de um grande colégio interno que se retirou para se casar com o ex-diretor da escola, o Sr. Smith. Eles se mudaram e, por insistência do marido, ela interrompeu todo contato com os colegas de escola. Seis meses depois de casada, ela acordou de um sonho em que parecia estar de volta ao dormitório da escola com quatro meninas, duas delas desconhecidas. Uma das meninas desligou o gás e elas se retiraram para dormir. Ela seguiu as duas para o quarto e as observou se preparando para dormir. Então ela foi até uma delas, pegou-a pela mão e disse: 'Bessie, sejamos amigas'. Ao despertar do sonho, a Sra. Smith confidenciou imediatamente ao marido, que lia ao lado dela na cama.

Três meses depois, a Sra. Smith visitou sua mãe e descobriu que ela havia recebido uma carta de Bessie, que estava escrevendo para perguntar se a Sra. Smith estava viva ou morta. Sua mãe não havia enviado a carta, sem abrir, porque ela havia sido avisada de que não deveria haver comunicação entre a Sra. Smith e suas amigas da escola. O Sr. Smith posteriormente procurou e entrevistou Bessie, sem revelar o sonho, e soube que, aparentemente na mesma noite, Bessie tinha ido para a cama quando de repente gritou que tinha acabado de ver a Sra. Smith, que a tocou e disse 'Vamos ser amigas.' O Sr. Smith também soube que as outras duas meninas no dormitório eram recém-chegadas e não seriam conhecidas pela Sra. Smith quando ela estava na escola[7].

 

Sr. L

Este é outro caso recíproco de Phantasms of the Living , com o agente no estado de vigília no momento em que sua aparição foi percebida. O marido inválido de Augusta Parker estava sendo tratado com passes magnéticos nas costas e nas pernas pelo Sr. L, um mesmerista americano visitante. Certa tarde, o marido de Augusta pediu para ficar mais tempo do que de costume no jardim, em sua cadeira de rodas. Depois do almoço, pouco depois das 14 horas, Augusta o observava da janela de sua casa quando viu um homem estranhamente vestido se aproximar e parecer falar com ele. Quando seu marido chegou pouco depois, ela perguntou quem era o homem, mas ele não sabia do que ela estava falando. Ninguém se aproximou dele ou falou com ele, afirmou.

Na visita seguinte do Sr. L, dois dias depois, ele contou que tinha experimentado duas vezes uma sensação estranha, enquanto em outro lugar inteiramente, de estar perto do marido de Augusta, uma vez em sua sala de estar e outra vez no jardim. Augusta percebeu que ele estava vestido da mesma maneira que a figura que ela havia percebido com o marido. Ela perguntou quando isso ocorreu pela última vez e o Sr. L disse dois dias antes. Ela tinha acabado de comer e estava sentada diante do fogo lendo um jornal, quando de repente era como se ela estivesse diante do marido em sua cadeira de rodas no jardim. Ela lembrava a hora perfeitamente: Era pouco depois das 14h. Augusta mais tarde perguntou ao marido se ele havia contado ao Sr. L sobre sua visão, mas ele garantiu que não[8]. 

 

Olga Gearhardt

Em um caso recíproco mais recente, Olga Gearhardt quase morreu quando seu coração transplantado não funcionou corretamente. Durante várias horas de ressuscitação, ela teve o que acreditava ser um "sonho estranho", no qual sentiu sua consciência deixar seu corpo. Por alguns minutos, ela observou os médicos operando-a, depois foi para a sala de espera, onde viu membros de sua grande família presente. Frustrada por sua incapacidade de se comunicar com eles, ela deixou o hospital e foi para a casa de um membro da família que não estava lá ‒ um genro que tinha um medo extremo de hospitais.

O genro acordou por volta das 2 horas e 15 minutos com Olga parada ao pé de sua cama. Pensando que por algum motivo a cirurgia dela havia sido adiada e ela tinha ido à sua casa, ele se sentou e perguntou como ela estava. 'Estou bem', respondeu ela. 'Eu vou ficar bem. Não há nada com que se preocupar. Com isso, Olga desapareceu, e ele percebeu que ela não tinha estado lá pessoalmente. Ele saiu da cama e escreveu a hora e exatamente o que ela havia dito a ele. Mais tarde, quando a filha de Olga ligou para ele para dizer que a operação foi um sucesso, ele respondeu: 'Sei que ela está bem. Ela mesma já me disse[9].

 

Jenny

Tricia Robertson descreveu outro caso recente, envolvendo uma mulher escocesa que ela chama de Jenny, cujo filho se mudou para a África do Sul quando se casou. Ele tinha um filho, que Jenny vira uma vez como um recém-nascido, mas não por dois anos e meio. Ela sentia falta do neto e estava ansiosa para ver como ele era na época, então decidiu tentar se projetar fora do corpo e visitá-lo. A primeira vez que fez isso, ela se viu em um espaço escuro, olhando para uma luz vaga ao longe; assustada, ela rapidamente voltou para seu corpo. Algumas noites depois, ela tentou novamente, com mais sucesso. Ela visualizou a sala de estar da casa do filho e se concentrou nela. Ela se imaginou ali, mas o viu vazio de todos os móveis. No dia seguinte, ela ligou para o filho e soube que ele havia se mudado e que a casa que ela havia visitado agora estava vazia.

Sem contar ao filho o que estava se esforçando para fazer, Jenny decidiu ir para a casa dos sogros dele, que ela havia visitado em sua viagem anterior à África do Sul. Da perspectiva do teto, ela viu o sogro de seu filho sentado em uma cadeira, lendo um jornal. O homem ergueu os olhos lentamente e, aparentemente ao vê-la, gritou: 'Você não pode me tocar, eu sou cristão!' Mais divertida do que alarmada, Jenny rapidamente voltou o seu corpo. Depois de mais perguntas, ela determinou a localização da nova casa de seu filho e fez outra tentativa de viajar para lá fora do corpo. Desta vez, ela se encontrou em uma casa que era desconhecida para ela. Ela notou o estilo e as cores da suíte lounge, as cortinas e outros móveis antes de voltar ao seu corpo. No dia seguinte, ela escreveu ao filho, pedindo-lhe que descrevesse sua suíte, entre outras coisas.

Ainda sem contar ao filho sobre o empreendimento, Jenny fez outra tentativa, desta vez para ver o neto, onde quer que ele estivesse. Ela se viu na beira de um parque olhando para as crianças brincando. Ela escolheu um garotinho que sentiu ser ele. O menino ergueu os olhos, puxou a saia da mãe, apontou para Jenny com um sorriso e disse: "Olhe para a senhora". Sua mãe olhou na direção que ele apontava, mas não viu nada; ela disse a ele que não, pois não havia ninguém lá[10].

 

Sr. e Sra. EJ

Este caso incluído por Eleanor Sidgwick em sua revisão de 1922 tem uma percepção coletiva de uma pessoa morta há muito tempo; embora não tenhamos relato do agente falecido, é natural classificá-lo como caso recíproco. O Sr. e a Sra. E.J. sonharam independentemente com a mãe do Sr. E.J., que morrera dezessete anos antes. O Sr. E.J. sonhou que ela entrava no quarto deles, passava por sua cama, olhava para ele e se dirigia ao pé da cama de sua esposa. Sua esposa sonhou que a mulher entrou no quarto, inclinou-se ao pé da cama com os braços cruzados da maneira que tinha sido seu hábito em vida, e disse-lhe que tinha ouvido falar do falecido irmão do Sr. E.J., Fred, e que ela não percebeu quão doente sua própria mãe estava; ela não viveria mais três meses. No caso, a mãe da Sra. E.J. viveu mais seis meses antes de morrer[11].

 

Maung Yin Maung

Ian Stevenson relatou o caso birmanês de um homem que aparentemente renasceu de seu irmão e cunhada depois de morrer quando seu avião leve caiu não muito longe de sua casa. Uma noite, pouco depois de sua morte, sua cunhada precisou usar o banheiro; quando ela saiu, ela ouviu o portão do complexo deles ranger, virou-se e o viu entrar e caminhar em sua direção, depois parar. A princípio ela acreditou que ele estava fisicamente presente, mas depois se lembrou de que ele estava morto. Ela falou com ele, dizendo que como parecia que ele tinha uma fixação por eles, ele era bem-vindo a reencarnar em sua família, desde que não ficasse desfigurado pelo acidente.

Seu marido, de dentro de casa, a ouviu falar e perguntou com quem ela estava conversando. Ela explicou, ao que ele respondeu, 'Você deve estar louca', mas quando ele se juntou a ela e eles olharam novamente, a aparição havia sumido. Naquela noite, porém, ele apareceu no sonho da mulher. No sonho, ele estava dormindo na cama que ela e o marido normalmente ocupavam, enquanto eles se sentavam próximos. Então ela viu sua mãe e uma de suas irmãs entrarem na sala. Eles imploraram que ele fosse para casa com elas, mas ele recusou, dizendo que, em vez disso, ficaria com seu irmão e ela.

Quando Maung Yin Maung teve idade suficiente para falar, ele deu sua versão complementar da história. Depois de morrer, ele primeiro ficou naquele local, então de alguma forma se viu no portão da casa de seu irmão. Ele se lembra de ter visto sua cunhada (agora sua mãe) emergir da privada e 'se mostrar' a ela como uma aparição. Ele caminhou em sua direção até sentir que não poderia avançar mais. Ele se lembra dela dizendo: 'Se você tem tanta fixação por nós, por que não se torna minha filha?' Ele também se lembra de ter se comunicado com sua mãe e irmã em vidas passadas, que lhe pediram para voltar com elas, mas ele disse que ficaria com seu irmão e sua cunhada. Como se viu, na vida anterior Maung Yin Maung teve um desentendimento com sua irmã quando ela se casou com um homem que ele não aprovava[12].

 

Explicando Aparições Recíprocas

As aparições recíprocas podem ser explicadas mais diretamente como a projeção da consciência, inconsciente ou deliberadamente, para um lugar distante. Foi assim que foram entendidos por F.W.H.Myers, um dos autores de Phantasms of the Living . Em seu clássico Personalidade Humana e sua Sobrevivência da Morte Corporal , Myers forneceu exemplos notáveis ​​de "aparições experimentais", como são chamadas aquelas relacionadas com a projeção intencional da consciência, depois disse:

Nessas autoprojeções que temos diante de nós, não digo as mais úteis, mas a mais extraordinária realização da vontade humana. O que pode estar mais além de qualquer capacidade conhecida do que o poder de fazer com que uma aparência de si mesmo apareça à distância? (…) De todos os fenômenos vitais, digo, este é o mais significativo; essa autoprojeção é o único ato definido que parece que um homem pode desempenhar igualmente bem antes e depois da morte corporal[13].

O ponto de vista de Myers não é unânime na pesquisa psíquica, entretanto. O primeiro autor de Phantasms , Edmund Gurney , acreditava que tais casos poderiam ser melhor descritos como transmissões telepáticas. Sobre o caso de Connie e Margaret, ele concluiu:

Parece que temos, por parte das duas meninas, uma alucinação telepática, reproduzindo as palavras exatas que estavam na boca e no ouvido do menino doente; e, de sua parte, uma visão refletida de suas mentes, e mais uma vez ilustrando como o que pode ser descrito como clarividência pode ser uma verdadeira variedade de transferência de pensamento[14].

Gurney pensava que o agente telepático era provavelmente a pessoa no estado de consciência mais "anormal", independentemente de ser o agente aparente ou percipiente. Assim, no caso da Sra. Smith, ele pensou que era mais provável que ela fosse o agente do que Bessie, que estava acordada quando viu a aparição[15]. Ele lutou um pouco com o Sr. L, mas concluiu que a transmissão telepática muito provavelmente se originou com ele, uma vez que, ao admitir, ele se encontrava em um estado ligeiramente alterado na época[16].

Eleanor Sidgwick estava inclinada a concordar com Gurney quanto à base telepática das aparições coletivas e recíprocas[17], mas C.D. Broad estava menos confiante. Broad considerou que, com as aparições recíprocas, a teoria telepática 'é muito menos plausível como um relato das experiências da pessoa cuja aparição é ostensivamente vista do que como um relato das experiências daqueles que a veem ostensivamente . A teoria telepática tem que minimizar, ou interpretar de uma maneira muito forçada, os relatos de experiências excursivas feitas por um grande número de pessoas que as tiveram e relataram '[18].

Os Harts também favoreciam a posição de Myers[19], assim como Stevenson, que, como Myers, observou que, em casos recíprocos:

'O agente frequentemente tem um forte desejo ou intenção de ir ao percipiente no momento da aparição; se aceitarmos a pretensão de atividade (e frequentemente de iniciativa) do agente vivo na experiência combinada, não podemos negar facilmente a possibilidade de um papel semelhante em pelo menos alguns casos em que o agente morreu[20].

 

Literatura

Broad, C.D. (1962). Lectures on Psychical Research. London: Routledge & Kegan Paul.

Gurney, E., Myers, F.W.H., & Podmore, F. (1886). Phantasms of the Living (2 vols). Vol. 2. London: Society for Psychical Research.

Hart, H., & Hart, E.B. (1932–1933). Visions and apparitions collectively and reciprocally perceived. Proceedings of the Society for Psychical Research 41, 205-49.

Morse, M., with Perry, P. (1994). Parting Visions: Uses and Meanings of Pre-Death, Psychic, and Spiritual Experiences. New York: Villard Books.

Myers, F.W.H. (1903). Human Personality and Its Survival of Bodily Death (2 vols.). London: Longmans, Green and Co.

Rivas, T., Dirven, A., & Smit, R.H. (2016). The Self Does Not Die: Verified Paranormal Phenomena from Near-Death Experiences. Durham, North Carolina, USA: International Association for Near-Death Studies.

Robertson, T. J. (2015). More Things You Can Do When You’re Dead: What Can You Truly Believe? Guildford, Surrey, UK: White Crow Books.

Sidgwick, E.M. (1922). Phantasms of the living. Proceedings of the Society for Psychical Research 33/86, 23-429.

Stevenson, I. (1982). The contribution of apparitions to the evidence for survival. Journal of the American Society for Psychical Research 76, 341-58.

Stevenson, I. (1983). Cases of the Reincarnation Type. Volume IV: Twelve cases in Thailand and Burma. Charlottesville, Virginia, USA: University Press of Virginia.

 

 

Traduzido por Google Tradutor

[1] Ver em https://www.spr.ac.uk/ - Publicações / Gravações / Webevents – Psy Encyclopedia.

[2] Gurney, Myers, & Podmore (1886), vol. 2, 153-67; casos 303-308.

[3] Sidgwick (1922), 354-423.

[4] Hart & Hart (1932-1933).

[5] Rivas, Dirven, & Smit (2016), 157-70; Robertson (2015), 91-92.

[6] Gurney, Myers, & Podmore (1886), vol. 2, 164-65; caso 308

[7] Gurney, Myers, & Podmore (1886), vol. 2, 159-62; caso 306.

[8] Gurney, Myers, & Podmore (1886), vol. 2, 162-64; caso 307.

[9] Morse com Perry (1994), 22-24.

[10] Robertson (2015), 91-92.

[11] Sidgwick (1922), 358-59.

[12] Stevenson (1983), 280-81. 288-89.

[13] Myers (1903), vol. 1, 296-97. Seus relatos de aparições experimentais aparecem em 292-96.

[14] Gurney, Myers, & Podmore (1886), vol. 2, 165.

[15] Gurney, Myers, & Podmore (1886), vol. 2, 161.

[16] Gurney, Myers, & Podmore (1886), vol. 2, 164.

[17] Sidgwick (1922), 354-423.

[18] Broad (1962), 238; itálico no original.

[19] Hart & Hart (1932-1933).

[20] Stevenson (1982), 352-53.