Orson Peter Carrara
Não se assemelham
Querendo certos experimentadores do Espiritismo, com o
intuito de verificação, fixar as condições de produção dos fenômenos, acumular
os obstáculos e as exigências, nenhum resultado satisfatório obtiveram, e,
desde então, tornaram-se hostis a essa ordem de fatos.
Devemos lembrar que as manifestações
dos Espíritos não poderiam ser assemelhadas às experiências de Física e de
Química. Ainda assim, estão estas submetidas a regras fixas, fora das quais
todo resultado é impossível.
Nas comunicações espíritas, achamo-nos diante não mais de forças
cegas, porém de seres inteligentes,
dotados de vontade e de liberdade, que, não raro, leem em nós, discernem nossas intenções malévolas e, se são de ordem
elevada, cuidam pouco de se prestarem às nossas fantasias.
Resguardar-se dos
embustes
O estudo do mundo invisível exige muita prudência e perseverança.
Somente ao fim de muitos anos de
reflexão e de observação é que se adquire o conhecimento da vida, é que se
aprende a julgar os homens, a discernir o seu caráter, a resguardar-se dos embustes de que está semeado o mundo.
Mais difícil ainda de obter é o conhecimento da Humanidade invisível
que nos cerca e paira acima de nós. O
Espírito desencarnado acha-se, além da morte, tal como ele próprio se fez
durante sua estada neste mundo. Nem melhor nem pior. Para domar uma paixão,
corrigir uma falta, atenuar um vício é, algumas vezes, necessária mais de uma
existência.
Daí resulta que, na multidão dos Espíritos, os caracteres
sérios e refletidos estão, como na Terra, em minoria, e os Espíritos
levianos, amantes de coisas pueris e vãs, formam numerosas legiões.
Pela afinidade é que
se atraem
O mundo invisível é, pois, em
mais vasta escala, a reprodução do mundo terrestre. Lá, como aqui, a verdade e
a Ciência não são partilha de todos.
A superioridade Intelectual e Moral só se obtém por um trabalho lento e
contínuo, pela acumulação de progressos realizados no curso de longa série
de séculos.
Sabemos, entretanto, que esse mundo oculto reage constantemente
sobre o mundo corpóreo. Os mortos influenciam os vivos, os guiam e inspiram
à vontade. Os Espíritos atraem-se em razão de suas afinidades. Os que despiram
as vestes carnais assistem os que ainda estão com elas. Estimulam-nos no caminho do bem; porém, mais vezes ainda, nos impelem
ao do mal.
Superiores e
inferiores
Os Espíritos superiores só se
manifestam nos casos em que sua presença é útil e pode facilitar o nosso
melhoramento. Fogem das reuniões
bulhentas e só se dirigem a homens animados de intenções puras. Pouco lhes
convêm as nossas regiões obscuras. Desde que podem, voltam para os meios menos
carregados de fluídos grosseiros, mas, apesar da distância, não cessam de velar
pelos seus protegidos.
Os Espíritos Inferiores, incapazes de aspirações elevadas, comprazem-se
em nossa atmosfera. Mesclam-se em nossa vida e, preocupados unicamente com
o que cativava seu pensamento durante a existência corpórea, participam dos
prazeres e trabalhos daqueles a quem se sentem unidos por analogias de caráter
ou de hábitos. Algumas vezes mesmo, dominam e subjugam as pessoas fracas que
não sabem resistir às suas influências. Em certos casos, seu império torna-se
tal que podem impelir suas vítimas ao crime e à loucura.
Joguete de Espíritos
pérfidos
É nesses casos de obsessão e possessão, mais comuns do
que se pensa, que encontramos a explicação de numerosos fatos relatados pela
História.
Há perigo para quem se entrega sem reservas às experimentações
espíritas. O homem de coração reto, de razão esclarecida e madura, pode de
aí recolher consolações inefáveis e preciosos ensinos. Mas aquele que só fosse inspirado pelo interesse material ou que só
visse nesses fatos um divertimento frívolo tornar-se-ia fatalmente o objeto de
uma infinidade de mistificações, joguete de Espíritos pérfidos que, lisonjeando
suas inclinações, seduzindo-o por brilhantes promessas, captariam sua
confiança, para, depois, acabrunhá-lo com decepções e zombarias.
Para expelir más
influências
É, portanto, necessária uma grande prudência para se entrar em relação
com o mundo invisível. O bem e o
mal, a verdade e o erro nele se misturam, e, para distingui-los, cumpre
passar todas as revelações, todos os ensinos pelo crivo de um julgamento
severo. Nesse terreno ninguém deve aventurar-se senão passo a passo, tendo nas
mãos o facho da razão. Para expelir as
más influências, para afastar a horda dos Espíritos levianos ou maléficos,
basta tornar-se senhor de si mesmo, jamais abdicar o direito de verificação
e de exame; é bastante procurar, acima de tudo, os meios de se aperfeiçoar no
conhecimento das leis superiores e na prática das virtudes.
Aquele cuja vida for reta, e que procure a verdade com o coração
sincero, nenhum perigo tem a temer. Os Espíritos de luz distinguem, veem suas
intenções, e assistem-no. Os Espíritos enganadores e mentirosos afastam-se
do justo, como um exército diante de uma cidadela bem defendida. Os obsessores atacam de preferência os
homens levianos que descuram das questões morais e que em tudo procuram o
prazer ou o interesse.
Reflexos do passado
Laços cuja origem remonta às existências anteriores unem quase sempre os
obsidiados aos seus perseguidores invisíveis. A morte não apaga as nossas faltas nem nos livra dos inimigos.
Nossas Iniquidades recaem, através dos séculos, sobre nós mesmos, e aqueles que
as sofreram perseguem-nos, às vezes, com seu ódio e vingança, de além-túmulo.
Assim o permite a justiça soberana. Tudo se resgata, tudo se expia. O que, nos
casos de obsessão e de possessão, parece anormal, iníquo muitas vezes não é
senão a consequência das espoliações e das infâmias praticadas no obscuro
passado.
[1] LEON DENIS, Depois
da Morte, cap. 26 – (1ª. edição CELD-RJ,2.000, tradução de Maria Lúcia
Alcântara de Carvalho). Transcrição na
íntegra com subtítulos e divisão do texto por Orson Peter Carrara
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