Miramez
O Espírito encarnado conserva algum traço das percepções
que teve e dos conhecimentos que adquiriu nas existências anteriores?
‒ Resta-lhe uma vaga
lembrança, que lhe dá o que chamamos ideias inatas.
a. A teoria das ideias inatas não é quimérica?
‒ Não, pois os
conhecimentos adquiridos em cada existência não se perdem; o Espírito, liberto da
matéria, sempre se recorda. Durante a encarnação pode esquecê-los em parte, momentaneamente,
mas a intuição que lhe fica ajuda o seu adiantamento. Sem isso, ele sempre
teria de recomeçar. A cada nova existência, o Espírito toma como ponto de
partida aquele em que se achava na precedente.
b. Deve então haver uma grande conexão entre duas
existências sucessivas?
‒ Nem sempre tão
grande como podias pensar, porque as posições são quase sempre muito diferentes,
e no intervalo de ambas o Espírito pôde progredir. (Ver a Questão 216 – O Livro dos Espíritos).
Questão
218/Livro dos Espíritos
Certamente que o Espírito quando
encarnado tem vaga lembrança daquilo que ele foi em reencarnação passada. A
consciência registra tudo o que pensamos e fazemos, como sendo um livro divino.
Quando na Terra, movendo-se em um corpo de carne, aparecem, de vez em quando,
na mente, as ideias chamadas inatas; são pensamentos guardados na sensibilidade
espiritual, de modo a irradiar-se, quando preciso, para a mente ativa, e essa,
sendo educada nos conceitos de luz de Nosso Senhor Jesus Cristo, dá-lhes
guarida ou expulsa-os de seu mundo mental, quando indesejado. Eis aí a limpeza
que devemos fazer dentro de nós mesmos para estabelecer-se a harmonia
consciencial.
Alimentamos, por vezes, muitos
erros, inspirando-nos em velhas ideias que emergem do passado para o nosso
presente. Em casos diversos sendo o encarnado um espírita, ele aponta logo como
culpados, os irmãozinhos das sombras, atribuindo a responsabilidade aos obsessores.
Na verdade, as ideias são filhas do próprio "obsediado". Algumas
religiões põem culpa no satanás e procuram expulsá-lo com gritarias e orações.
Cada religioso procura uma desculpa, se esquecendo de que somente atraímos para
nós segundo o que somos.
As nossas ideias têm vida,
muitos sabem desta verdade. Quem as cria, torna-se seu pai, e mesmo se elas
saem de nós, ficam sempre vinculadas à casa paterna. Procuremos, pois, mudar a
nossa vida, baseando compará-la com a vida de Cristo. Todo esforço neste
sentido é válido, e sempre temos companhias que nos ajudam nas transformações
das trevas para a luz.
Quando o Espírito reencarna,
traz consigo seu mundo mental, e quando parte deste para o além, também leva o
que construiu pelos pensamentos, palavras e obras. Os nossos testemunhos são
nossos agentes, que nos libertam ou nos escravizam. A Doutrina dos Espíritos,
pode-se dizer, é a misericórdia dos céus para a Terra, porque ela nos avisa, antecipadamente,
a verdade, de modo a começarmos, mesmo na Terra, a sentir e a viver a luz da
espiritualidade superior.
Impossível descrever todos os
acontecimentos como sendo iguais na pauta das reencarnações dos Espíritos. Há
muitos deles que em uma existência não tem conexão alguma com a anterior, dada
à incrustação da sua ignorância; outros, às vezes, por piedade dos guias espirituais,
não conseguem fixar essas ideias inatas, para não complicar mais a vida
presente.
Quando necessário, os
benfeitores estimulam as ideias do passado a flutuar na mente presente, como
meio de educação e limpeza do magnetismo inferior que por vezes, se esconde nas
dobras da consciência, por séculos. Não podemos dizer aqui que os Espíritos das
sombras não inspiram as criaturas na Terra; isso se processa frequentemente,
mas, sempre sob vigilância da Luz. Ninguém carrega fardo que não suporte. Na
verdade, a Luz se encontra na Terra com muito mais fulgor do que se pensa. Onde
quer que estejamos, a nossa visão vê e nossos ouvidos escutam a mensagem de
entendimento espiritual. Basta observarmos, desde o nascimento até a entrada
nas fronteiras do que chamamos "desconhecido".
O Espiritismo veio completar o
que Jesus não podia dizer naquela época, nos dando a segurança, de modo a
compreendermos o valor da Sua ressurreição e da comunicação dos Espíritos, os
mesmos homens que viveram na Terra.
Procuremos vigiar, analisando
todas as ideias que surgirem em nossa mente. Quer sejam ideias inatas, ou
provindas de irmãos das sombras, não importa; importa que devemos destruí-las, quando
inconvenientes.
Procuremos pensar no bem e
vivê-lo; pensemos no amor, amando, que neste esforço permanente, as mãos
invisíveis ajudar-nos-ão a concretizar o nosso ideal de iluminação interior.
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