Espírito Eugênia por meio da
mediunidade de Benjamim Teixeira[2]
Eugênia, seria abusivo perguntar sobre masturbação?
– Claro que não. A
forma de me perguntar já revela a necessidade de se ventilar a temática. Tudo
deve ser falado, sob a perspectiva da Espiritualidade, principalmente o que é
foco de tabu, porque, então, os automatismos neuróticos e destrutivos, bem como
as fixações culturais e sociais, agem mais livremente a prejuízo de comunidades
e indivíduos.
No passado, Eugênia, tratava-se a masturbação como pecado ou
como desequilíbrio que até poderia causar distúrbios mentais e físicos. A medicina
(auxiliada pela psicologia e pela sexologia) eliminou os fundamentos de tais
crendices populares (que tiveram muito apoio de gente instruída, em tempos
idos), mas, no meio espírita, ainda se considera a masturbação como vampirismo
ou desvio de função das energias sexuais, um desperdício, qual se todo ato
masturbatório indicasse uma queda em tentação. Poderia nos falar algo sobre
estas considerações?
– Sim. É gritantemente
necessário que o postulado básico de acompanhar a ciência seja lembrado entre
aqueles que desejam, sinceramente, desposar o Espiritismo como filosofia de
vida. Apegar-se a velhos conceitos, por tradição, por medo de enfrentar o novo
ou por receio de ser plenamente responsável pelos próprios atos, é de tal modo
descompassado com a modernidade, que nos eximimos de expender mais comentários
a respeito. Importante lembrar que médiuns acabam filtrando, inconscientemente,
o pensamento das entidades que se manifestam por seu corpo mental, de modo que
refrações sutis e graves podem se dar (e se dão sempre, em algum nível). Eis
por que a vigilância deve ser acentuada, sobremaneira quando condicionamentos
culturais e convenções muito cristalizadas estão envolvidos.
O que tem dito a
ciência sobre o assunto? Que a masturbação é algo natural e até desejável para
o indivíduo adulto; e que, mesmo entre aqueles que já têm a vida afetiva
disciplinada nos corredores da educação conjugal, é compreensível aconteça o
fenômeno do onanismo (para os dois gêneros), que se revela mesmo imperioso, amiúde,
quando os ritmos sexuais dos parceiros não se alinham, a fim de que um não
incomode o outro na satisfação de suas necessidades de fundo psicofisiológico,
nem alguém se frustre na quota de libido que lhe não seja possível
imediatamente canalizar para atividades não-sexuais, sem gerar recalques
indesejáveis.
Seja na tenra idade,
seja em idade avançada, para solteiros ou casados, hétero ou homossexuais, o
fenômeno masturbatório pode ser comparado à ida ao banheiro para a excreção dos
detritos alimentares. Há abusos, sem dúvida, como os há em tudo na existência
humana. Os ritmos sexuais podem ser exacerbados, na compulsão, ainda que se não
tenha parceiro para a prática. Cada caso é um caso, e, somente com profundo
autoconhecimento, a criatura descobre o sistema apropriado ao seu modo de ser,
em função do bem-estar geral, da produtividade, da criatividade e do sentimento
de equilíbrio íntimo, que constituem alguns dos resultados da vida sexual
resolvida.
Quanto ao vampirismo,
pode acontecer também na vida afetiva a dois, sempre que os desajustes da
perversão e da promiscuidade invoquem, para a alcova do casal, presenças
extrafísicas de baixo calão vibratório, pelo próprio diapasão de desequilíbrio
em que se expressam em seu momento de intimidade.
Que bom, Eugênia! Creio que estas suas colocações
esclarecedoras vão ajudar muitas pessoas. Entretanto, você aludiu a
“perversão”, e este conceito me parece muito amplo e difuso, pelo mesmo motivo
de os preconceitos adentrarem este departamento valorativo. Temos muita
dificuldade em aceitar e conviver com nosso lado animal, e muitos são os que
têm vergonha e não se soltam em funções elementares de sua própria fisiologia,
tudo tendo como sinal de depravação, primitivismo e imoralidade. O que você
quis dizer por “perversão”? Digo, porque, inclusive, na temática “masturbação”,
está em jogo, normalmente, o fator “fantasia”, que pode incluir itens que não
sejam desejados também na relação concretizada a dois – estou certo?
– O tema é muito
complexo, e, sem dúvida, não o esgotaremos nesta nossa primeira fala a
respeito. Por outro lado, não somos autorizados por Nossos Maiores, ainda, a
discorrer abertamente sobre o assunto, porque mentes menos amadurecidas,
levianas, despreparadas para nos ouvir, poderiam fazer mau uso de nossas
afirmações. O que podemos dizer é que tudo que lese física, emocional ou
moralmente alguém pode ser enquadrado no capítulo “perversão”, ao passo que
tudo quanto promova o bem-estar biopsíquico, o crescimento psicológico e a boa
relação entre as criaturas não pode ser considerado como distúrbio moral ou
patologia psíquica.
O quesito “fantasia” é
ainda mais intrincado, porque, frequentemente, melhor que se liberem certos conteúdos
indesejados (e ainda não de todo domesticáveis) da psique, por meio das
ferramentas imagéticas, do que fazê-los colapsarem no próprio comportamento, em
surtos que se chamam, em psicologia junguiana, de “possessão pela sombra”. Os
princípios de civilização, entretanto, devem sempre reger tais processos
mentais, na promoção da educação e da melhoria progressiva dos indivíduos, dos
mais ínfimos aos maiores gestos, dos mais secretos aos públicos. A gerência de
tais impulsos – que, como disse, não podem, em sua totalidade, ser de pronto
sublimados – corre por conta da responsabilidade de cada um, em função do
próprio e do bem comum.
Algo mais desejaria dizer, por ora?
– Que se procure, em
tudo, o ponto de vista do bom senso, do equilíbrio, da visão de conjunto, e
dificilmente se incorrerá em erros graves de conduta, seja consigo mesmo, seja
nas relações interpessoais.
[2] Benjamin Teixeira de Aguiar (Aracaju, 26 de outubro de
1970) é um médium psicógrafo e psicofônico, apresentador de TV, palestrante,
professor e presidente-fundador do Instituto Salto Quântico (ISQ), organização
sem fins lucrativos e desvinculada de qualquer movimento religioso formal,
iniciada em 1988, com o objetivo de promover, por meios de comunicação de
massa, os ideais de fraternidade, felicidade e espiritualidade. (Wikipédia)
Belo texto, bem esclarecedor.
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