quarta-feira, 23 de maio de 2018

Origem e Evolução da Vida Universal[1]




Allan Kardec

Pedistes esclarecimentos sobre certos pontos obscuros da doutrina Druídica. Neste aspecto pus-me em contato com as esferas elevadas a fim de obter alguns indícios sobre o foco superior regenerador da vida e do amor. Três círculos, vós o sabeis, formam as bases da doutrina Céltica por consequência o mais elevado corresponde ao foco divino.
Das explicações fornecidas pelos Espíritos superiores resulta que a inteligência humana não deve conhecer o segredo da fonte suprema da vida. Eis o que vos posso dizer segundo as radiações que me chegam.
Existe para além dos planos formados pelas criaturas, de acordo com a sua evolução através da sua vida pura, uma esfera totalmente vibratória, sem limites, que mergulha na imensidade do universo, mas que não é sentida senão a partir de certa evolução. Esta esfera vibra e a criatura terrestre que a alcançou percebe-a ainda sob a forma de vibrações da consciência no seu eu interior.
As vibrações do grande foco estão em comunhão com a consciência, e, assim que esta está desenvolvida, o sentido místico também o está igualmente. Ele está em relação direta com a evolução da consciência.
O grande foco vibratório anima todo o universo e de grau em grau cada ser recebe as inspirações e as impressões diretas da fonte à qual chamais Deus sobre a terra.
Tereis um dia a definição exata da palavra Eterna e compreendereis a célula viva inicial deste grande círculo superior vibratório. Mas o vosso cérebro humano explodiria se a chave do mistério aí fosse introduzida.
Agora eis o cerne da questão e a admissão do grande círculo superior em que reside o poder criador. As moléculas que daí emanam espalham-se através do espaço como um ramo de fogo de artifício. Espalham-se em ondas que vão formar as centelhas criadoras dos seres. Em redor destas moléculas fundamentais circulam as vibrações que vão formar os focos que representam os mundos. E tudo isto é constantemente recriado.
Todo o sistema criado tem a sua vida própria e subdivide-se ele próprio num sistema específico. Os planetas têm a sua vida, as suas transformações. Os sóis emitem ondas à sua volta. O sistema gasoso forma-se primeiro, seguidamente o mineral, o vegetal, para chegar à criatura humana. Esta, ser pensante, é dirigida pela centelha vinda da grande fonte enquanto que os sistemas minerais e vegetais são criados pelos reflexos de geração secundária.
Tal é a evolução da matéria terminando no envoltório carnal, ao qual se adaptará a vibração inicial da consciência em conexão direta com a centelha suprema. É assim que a projeção se estabelece.
As vibrações do grande Todo não são especiais a uma região como se crê geralmente, mas preenchem todas as regiões do universo. Elas não são perceptíveis para os seres senão na medida do crescimento da sua sensibilidade. As religiões, nas suas concepções de Paraíso e de regiões celestes, apresentam apenas pálidas imagens, enquanto que de certeza as vibrações do pensamento divino animam todo o universo.
Os Espíritos não estão todos em condições de penetrar no azul vibratório porque é necessário um grau suficiente de aperfeiçoamento para perceber e apreciar a beleza e a grandeza da vida superior. Cada sistema planetário tem o seu grau de elevação e, chega um momento em que os seres evoluídos, vivendo nos planetas em vias de progresso, são mergulhados mais diretamente no azul. Os Espíritos comuns roçam os Espíritos luminosos sem os ver; mas em certas condições os Espíritos superiores podem tornar-se visíveis a fim de iluminar os Espíritos menos evoluídos.
Assim que o espírito em vias de evolução pode, pelos seus méritos, entrar em contato com o mundo superior e receber a luz vibratória da fonte suprema, ele recebe uma impressão de força, de poder, e tão depressa o impulso cessa, permanece com a percepção da luz que se junta ao seu grau de evolução. Esta luz traduz-se em milhões de centelhas vibratórias, dotadas de uma radiação intraduzível aos sentidos humanos e que enriquecem o seu perispírito.
* * *
Regressemos à molécula vibratória procedente do círculo de Ceugant[2], criadora de vida. Ela é toda pureza e luz, é a fonte das criações inferiores, a animadora das vidas sucessivas, são esses os elementos que constituem a vida superior.
Os Druidas foram colocados no vosso globo para aí levarem quanta luz fosse possível deste plano superior que refletia a sua consciência.
Nos primeiros tempos a iniciação foi direta dado que a referida consciência era pura.
Esta palavra consciência significa para nós, centro vibratório ainda não maculado e podendo comunicar com o plano divino. É por isso que, no estudo de vossos semelhantes, ainda que os seus atos vos pareçam repreensíveis, se a sua consciência não está destruída, permanece neles um pequeno centro vibratório susceptível de reabilitação.
No início da sua religião, os Druidas gozaram dos benefícios duma comunhão vibratória muito intensa, o que lhes valia o título de Iniciados.
Mas, ao contato da matéria, por refracção, os ensinamentos druídicos foram deformados pelos homens. As consciências obscureceram-se e as intuições encobriram-se, as iniciações fecharam-se.
Por conseguinte, em graus diversos, a consciência humana está muito impregnada do divino. Conservará ela este património? Ao desencarnar, a alma humana coloca-se na luz que ela pode assimilar, consoante o seu grau de recepção e de conservação das vibrações divinas.
Se, na sequência de uma vida terrestre, a molécula divina é paralisada pela matéria, a progressão é suspensa, a lembrança das paixões materiais perturba a consciência e transporta uma espécie de entorpecimento do ser espiritual. É o que os Druidas chamavam o princípio de destruição, dado que a evolução parou.
Para que a evolução retome o seu curso, é necessário que os Espíritos luminosos dissolvam esta espécie de casca passional fluídica para reavivar a centelha consciente, e, o ser espiritual reanimado, retomará a sua marcha através das suas existências. Numerosos são os espíritos desencarnados que se encontram estacionados na sua evolução.
Assim como a luz perde a sua chama logo que é coberta com cinza, a consciência espiritual retorna ao nada quando está demasiado carregada de matéria, esta não sendo do ponto de vista vital mais do que o apoio da essência espiritual.
Sabeis que esta matéria é produzida pela velocidade mais ou menos grande das vibrações entre as diferentes camadas de ondas que emanam de um ponto vibratório. Logo que emanam deste ponto ondas espirituais para a formação de um mundo que deverá conter centelhas conscientes, é necessário como consequência, que as moléculas vibratórias mais pesadas, se transformem em matéria.
No decurso da evolução, chega um momento em que a molécula material se refina suficientemente para tornar-se por sua vez uma molécula vital consciente, e isso produz-se quando esta matéria se liberta de um mundo inferior para voltar ao espaço, unir-se às moléculas vitais de luz. Os Druidas tinham disso a intuição dado que dedicaram um culto a certos objetos materiais.
Terminarei dizendo que a centelha vital consciente, uma vez lançada na imensa arena, deve percorrer um ciclo de existências sucessivas através de mundos e de espaços variados porque, tudo o que muda de forma, muda de meio. A marcha da sua evolução está em relação direta com a conservação e o desenvolvimento da molécula vital consciente.
Assim que esta forneceu um certo número de etapas num sistema planetário, ela refina-se e continua a subir na escala dos mundos em paralelo com as outras centelhas vitais conscientes.
Há, pois duas criações paralelas. A criação da centelha vital consciente, que corresponde ao ser humano, e a evolução da matéria constitutiva dos mundos.

Allan Kardec
15 de Outubro de 1926.



[1] O Gênio Céltico e o Mundo Invisível – Léon Denis
[2] Há três círculos de existência: o círculo da região vazia (ceugant) onde, exceto Deus, não há nada vivo, nem morto e nenhum ser que Deus não possa atravessar; o círculo da migração (abred) onde todo ser animado procede da morte e o homem o atravessou; e o círculo da felicidade (gwynfyd) onde todo ser animado procede da vida e o homem o atravessará no céu.                ( https://allankardecestudosespiritas.wordpress.com/2017/09/23/deus-e-o-universo-os-tres-circulos/ )

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