Allan Kardec
Pedistes esclarecimentos sobre
certos pontos obscuros da doutrina Druídica. Neste aspecto pus-me em contato
com as esferas elevadas a fim de obter alguns indícios sobre o foco superior
regenerador da vida e do amor. Três círculos, vós o sabeis, formam as bases da
doutrina Céltica por consequência o mais elevado corresponde ao foco divino.
Das explicações fornecidas pelos
Espíritos superiores resulta que a inteligência humana não deve conhecer o
segredo da fonte suprema da vida. Eis o que vos posso dizer segundo as
radiações que me chegam.
Existe para além dos planos
formados pelas criaturas, de acordo com a sua evolução através da sua vida pura,
uma esfera totalmente vibratória, sem limites, que mergulha na imensidade do
universo, mas que não é sentida senão a partir de certa evolução. Esta esfera
vibra e a criatura terrestre que a alcançou percebe-a ainda sob a forma de
vibrações da consciência no seu eu interior.
As vibrações do grande foco
estão em comunhão com a consciência, e, assim que esta está desenvolvida, o
sentido místico também o está igualmente. Ele está em relação direta com a
evolução da consciência.
O grande foco vibratório anima todo
o universo e de grau em grau cada ser recebe as inspirações e as impressões diretas
da fonte à qual chamais Deus sobre a terra.
Tereis um dia a definição exata
da palavra Eterna e compreendereis a célula viva inicial deste grande círculo
superior vibratório. Mas o vosso cérebro humano explodiria se a chave do
mistério aí fosse introduzida.
Agora eis o cerne da questão e a
admissão do grande círculo superior em que reside o poder criador. As moléculas
que daí emanam espalham-se através do espaço como um ramo de fogo de artifício.
Espalham-se em ondas que vão formar as centelhas criadoras dos seres. Em redor
destas moléculas fundamentais circulam as vibrações que vão formar os focos que
representam os mundos. E tudo isto é constantemente recriado.
Todo o sistema criado tem a sua
vida própria e subdivide-se ele próprio num sistema específico. Os planetas têm
a sua vida, as suas transformações. Os sóis emitem ondas à sua volta. O sistema
gasoso forma-se primeiro, seguidamente o mineral, o vegetal, para chegar à
criatura humana. Esta, ser pensante, é dirigida pela centelha vinda da grande
fonte enquanto que os sistemas minerais e vegetais são criados pelos reflexos
de geração secundária.
Tal é a evolução da matéria
terminando no envoltório carnal, ao qual se adaptará a vibração inicial da
consciência em conexão direta com a centelha suprema. É assim que a projeção se
estabelece.
As vibrações do grande Todo não
são especiais a uma região como se crê geralmente, mas preenchem todas as
regiões do universo. Elas não são perceptíveis para os seres senão na medida do
crescimento da sua sensibilidade. As religiões, nas suas concepções de Paraíso
e de regiões celestes, apresentam apenas pálidas imagens, enquanto que de
certeza as vibrações do pensamento divino animam todo o universo.
Os Espíritos não estão todos em
condições de penetrar no azul vibratório porque é necessário um grau suficiente
de aperfeiçoamento para perceber e apreciar a beleza e a grandeza da vida
superior. Cada sistema planetário tem o seu grau de elevação e, chega um
momento em que os seres evoluídos, vivendo nos planetas em vias de progresso,
são mergulhados mais diretamente no azul. Os Espíritos comuns roçam os
Espíritos luminosos sem os ver; mas em certas condições os Espíritos superiores
podem tornar-se visíveis a fim de iluminar os Espíritos menos evoluídos.
Assim que o espírito em vias de
evolução pode, pelos seus méritos, entrar em contato com o mundo superior e
receber a luz vibratória da fonte suprema, ele recebe uma impressão de força,
de poder, e tão depressa o impulso cessa, permanece com a percepção da luz que
se junta ao seu grau de evolução. Esta luz traduz-se em milhões de centelhas
vibratórias, dotadas de uma radiação intraduzível aos sentidos humanos e que
enriquecem o seu perispírito.
*
* *
Regressemos à molécula
vibratória procedente do círculo de Ceugant[2],
criadora de vida. Ela é toda pureza e luz, é a fonte das criações inferiores, a
animadora das vidas sucessivas, são esses os elementos que constituem a vida
superior.
Os Druidas foram colocados no
vosso globo para aí levarem quanta luz fosse possível deste plano superior que refletia
a sua consciência.
Nos primeiros tempos a iniciação
foi direta dado que a referida consciência era pura.
Esta palavra consciência
significa para nós, centro vibratório ainda não maculado e podendo comunicar
com o plano divino. É por isso que, no estudo de vossos semelhantes, ainda que
os seus atos vos pareçam repreensíveis, se a sua consciência não está
destruída, permanece neles um pequeno centro vibratório susceptível de
reabilitação.
No início da sua religião, os
Druidas gozaram dos benefícios duma comunhão vibratória muito intensa, o que
lhes valia o título de Iniciados.
Mas, ao contato da matéria, por
refracção, os ensinamentos druídicos foram deformados pelos homens. As
consciências obscureceram-se e as intuições encobriram-se, as iniciações
fecharam-se.
Por conseguinte, em graus
diversos, a consciência humana está muito impregnada do divino. Conservará ela
este património? Ao desencarnar, a alma humana coloca-se na luz que ela pode
assimilar, consoante o seu grau de recepção e de conservação das vibrações
divinas.
Se, na sequência de uma vida
terrestre, a molécula divina é paralisada pela matéria, a progressão é
suspensa, a lembrança das paixões materiais perturba a consciência e transporta
uma espécie de entorpecimento do ser espiritual. É o que os Druidas chamavam o
princípio de destruição, dado que a evolução parou.
Para que a evolução retome o seu
curso, é necessário que os Espíritos luminosos dissolvam esta espécie de casca
passional fluídica para reavivar a centelha consciente, e, o ser espiritual
reanimado, retomará a sua marcha através das suas existências. Numerosos são os
espíritos desencarnados que se encontram estacionados na sua evolução.
Assim como a luz perde a sua
chama logo que é coberta com cinza, a consciência espiritual retorna ao nada
quando está demasiado carregada de matéria, esta não sendo do ponto de vista
vital mais do que o apoio da essência espiritual.
Sabeis que esta matéria é
produzida pela velocidade mais ou menos grande das vibrações entre as
diferentes camadas de ondas que emanam de um ponto vibratório. Logo que emanam
deste ponto ondas espirituais para a formação de um mundo que deverá conter
centelhas conscientes, é necessário como consequência, que as moléculas
vibratórias mais pesadas, se transformem em matéria.
No decurso da evolução, chega um
momento em que a molécula material se refina suficientemente para tornar-se por
sua vez uma molécula vital consciente, e isso produz-se quando esta matéria se
liberta de um mundo inferior para voltar ao espaço, unir-se às moléculas vitais
de luz. Os Druidas tinham disso a intuição dado que dedicaram um culto a certos
objetos materiais.
Terminarei dizendo que a
centelha vital consciente, uma vez lançada na imensa arena, deve percorrer um
ciclo de existências sucessivas através de mundos e de espaços variados porque,
tudo o que muda de forma, muda de meio. A marcha da sua evolução está em
relação direta com a conservação e o desenvolvimento da molécula vital
consciente.
Assim que esta forneceu um certo
número de etapas num sistema planetário, ela refina-se e continua a subir na
escala dos mundos em paralelo com as outras centelhas vitais conscientes.
Há, pois duas criações
paralelas. A criação da centelha vital consciente, que corresponde ao ser
humano, e a evolução da matéria constitutiva dos mundos.
Allan Kardec
15 de Outubro de 1926.
[2] Há três círculos de existência: o círculo da região
vazia (ceugant) onde, exceto Deus, não há nada vivo, nem morto e nenhum ser que
Deus não possa atravessar; o círculo da migração (abred) onde todo ser animado
procede da morte e o homem o atravessou; e o círculo da felicidade (gwynfyd)
onde todo ser animado procede da vida e o homem o atravessará no céu. ( https://allankardecestudosespiritas.wordpress.com/2017/09/23/deus-e-o-universo-os-tres-circulos/
)
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