sexta-feira, 25 de novembro de 2016

CONSELHOS SOBRE A MEDIUNIDADE CURADORA[1]



(Paris, 12 de março de 1867, grupo Oesliens; Médium Sr. Desliens).
 

          Como vos foi dito muitas vezes, em diferentes instruções, a mediunidade curadora, com a ajuda da faculdade vidente, está chamada a desempenhar um grande papel no período atual da revelação. São os dois agentes que cooperam com maior força para a regeneração da Humanidade, e à fusão de todas as crenças em uma única crença, tolerante, progressiva, universal.

          Quando, recentemente, comuniquei-me em uma reunião da Sociedade, onde se me havia evocado, eu o disse e repito, todo o mundo possui, mais ou menos, a faculdade curadora, e se cada um quisesse se consagrar seriamente ao estudo desta faculdade, aqueles médiuns que se ignoram poderiam prestar serviços úteis aos seus irmãos em humanidade. O tempo não me permitiu então desenvolver todo o meu pensamento a este respeito; aproveitaria do vosso pedido para fazê-lo hoje.

          Em geral, aqueles que procuram a faculdade curadora têm por único desejo o restabelecimento da saúde material, de dar a liberdade de sua ação a tal órgão impedido em suas funções por uma causa material qualquer. Mas, sabei-o bem, aí está o menor dos serviços que esta faculdade está chamada a prestar, e não a conheceríeis senão em suas premissas e de maneira inteiramente rudimentar, se lhe assinalais este único papel... Não, a faculdade curadora tem uma missão mais nobre e mais extensa!... Se ela pode dar aos corpos o vigor da saúde, deve também dar às almas toda a pureza das quais sejam suscetíveis, e é somente neste caso que ela poderá ser chamada curativa no sentido absoluto da palavra.

          Foi-vos dito com frequência, e vossos instrutores não saberiam mais repeti-lo, o efeito aparentemente material, o sofrimento, tem quase constantemente uma causa mórbida e material, residindo no estado moral do Espírito. Se, pois, o médium curador ataca o corpo, ele não ataca senão o efeito, e a causa primeira do mal permanecendo, o efeito pode se reproduzir, seja sob sua forma primordial, seja sob qualquer aparência. Frequentemente, aí está uma das razões pelas qual tal doente, subitamente curado pela influência de um médium, reaparece com todos os seus acidentes, desde que a influência benfazeja se afaste, porque não fica nada, absolutamente nada para combater a causa mórbida.

          Para evitar esses retornos, é preciso que o remédio espiritual ataque o mal em sua base, como o fluido material o destrói em seus defeitos; é preciso, em uma palavra, tratar ao mesmo tempo o corpo e a alma. Para ser bom médium curador, é preciso que não só o corpo esteja apto a servir de canal aos fluidos materiais reparadores, mas é preciso ainda que o Espírito possua uma força moral que ele não pode adquirir senão pela sua própria melhoria.

          Para ser médium curador, é preciso, pois, para isto se preparar, não só pela prece, mas pela depuração de sua alma, a fim de tratar fisicamente o corpo por meios físicos, e de influenciar a alma pela força moral.

          Uma última reflexão. Aconselha-se-vos procurar de preferência os pobres que não têm outros recursos do que a caridade do hospital; eu não sou inteiramente desta opinião. Jesus dizia que o médico tem por missão cuidar dos doentes e não daqueles que estão saudáveis; lembrai-vos que em caso de saúde moral, ha doentes por toda a parte, e que o dever do médico é de ir por toda a parte onde seu socorro é necessário.
 

Abade Príncipe de Hohenlohe.
 

Revista Espírita – Outubro/1867 - Allan Kardec

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