Iso Jorge Teixeira[2]
Natureza da vida depois da morte
O Espiritismo é uma Doutrina
consoladora por excelência, ele demonstra por fatos patentes a imortalidade da
alma, a sua individualidade após a morte e a necessidade de reencarnação para o
aperfeiçoamento, pois somos perfectíveis. Todos esses princípios estão
resumidos nas questões 149, 150, 152, 166, 166-a, 166-b, 166-c e 223 de O Livro dos Espíritos de Allan Kardec.
Destino das Almas
depois da Morte
Que acontece com a alma após a
morte? A dos bons irão para o céu e a dos maus para o inferno? Haveria um purgatório,
um lugar determinado para a ascensão ao céu ou como preparativo para a
reencarnação daquelas almas necessitadas de purificação?…
Essas perguntas, exceto a
primeira, seriam respondidas com um sim
pela maioria dos religiosos brasileiros… Inclusive DANTE ALIGHIERI em sua A
Divina Comédia, descreve minuciosamente INFERNO, PURGATÓRIO e CÉU, de maneira
genial, embora com os ensinamentos e os conhecimentos “científicos” e míticos
medievais e o não menos genial GUSTAVO DORÉ ilustrou magistralmente tal obra, a
bico-de-pena.
Curiosamente, alguns confrades
sincretizam tais conceitos de céu, inferno e purgatório e admitem coisas
semelhantes àquelas descritas n’ A Divina Comédia – do obscurantismo medieval
–dizendo que após a morte seremos encaminhados para um “Pronto – Socorro
Espiritual” e daí, para “colônias espirituais”. No entanto, não é isso que está
explícito e implícito na Doutrina dos Espíritos; por isso, julgamos importante
tratar aqui da questão básica relativa à erraticidade e dos Espíritos errantes…
Que seremos ao
desencarnarmos?
Estamos encarnados na Terra para
provas e expiações, por isso somos, na esmagadora maioria, Espíritos
inferiores. Ao desencarnarmos seremos, na quase totalidade, Espíritos errantes
e isso está bem claro na resposta à questão 224 de O Livro dos Espíritos de ALLAN KARDEC, ou seja, nos intervalos das
encarnações a alma é um “Espírito errante, que aspira a um novo destino e o
espera”.
A erraticidade não é um sinal de
inferioridade entre os Espíritos, pois estes ali existem em todos os graus (cf.
resposta à questão 225, op.cit.), mas somente os Espíritos Puros não são
errantes, pois seu estado é definitivo (cf. resposta à questão 226, op. cit.).
Enfim, Espíritos errantes são
aqueles em trânsito, que esperam uma oportunidade de reencarnação em nosso
planeta ou em outro… Embora possamos evoluir no estado errante – através do
estudo do nosso passado e observando os lugares que percorrermos, ouvindo os
homens esclarecidos e captando os conselhos dos espíritos mais elevados (cf.
resposta à questão 227, op. cit.) –, é através da existência corpórea que pomos
em prática as ideias adquiridas na erraticidade (resposta à questão 230 ‘in
fine’).
Ora, há uma série de livros
mediúnicos em que aparecem Espíritos, com falsa modéstia indisfarçável, que se
dizem “imperfeitos” e que estariam “ajudando os irmãozinhos encarnados”,
durante séculos na erraticidade. Como um deles, num Centro em que frequentamos,
que dizia ser o “pai Joaquim”, que – após uma troca de ideias, preparatória,
para uma sessão mediúnica –, dirigiu-se diretamente a nós, dizendo:
–– Dr., o Sr. tem preconceito
contra os pretos – velhos?
Ao que respondemos, então:
–– É por não ter preconceito que
não entendo porque o Sr. se intitula “pai Joaquim”!
Em seguida, ele fez uma longa
explanação, aliás repetida em muitos Centros, de que a encarnação preferida
dele foi a de um escravo, por isso se intitulava assim. E finalmente disse:
–– Estou aqui neste plano há
mais de 300 anos, tenho muitas imperfeições, mas procuro ajudar os irmãozinhos
encarnados.
Retrucamos, então:
–– Se está há tanto tempo aí, e
com imperfeições, por que não reencarna?…
A seguir, ele (não sei se o
Espírito ou o médium) mostrou-se desconcertado, hesitante, sem graça; tropeçou
nas palavras e não trouxe nenhum ensinamento novo, somente frases – feitas…
Ou seja, determinados livros
mediúnicos estão afastando cada vez mais as pessoas da Doutrina dos Espíritos,
pois algumas excrescências doutrinárias são tidas como verdadeira Doutrina…
As chamadas “colônias
espirituais” são de existência questionável
Há uma grande falha em nosso
movimento espírita ao admitir que fiquemos, quase enclausurados em “colônias
espirituais”, a receber conselhos de Espíritos, como se aí estivéssemos
encarnados, como naquelas imagens de DORÉ sobre a Divina Comédia de DANTE… Até
um tal “vale dos suicidas” é creditado como verdadeira Doutrina dos Espíritos!…
Contudo, nas obras de KARDEC não há a menor referência nem às colônias
espirituais nem ao vale dos suicidas. Seria uma omissão imperdoável da Espiritualidade
Superior!
Acreditamos em que, ao
desencarnarmos, a nova vida é eminentemente espiritual, nada de mundos
especiais, “cópias aperfeiçoadas dos objetos da Terra”, como dizem alguns
confrades. O mundo da erraticidade é um mundo de reflexão em que nos preparamos
para uma nova encarnação, mas essa preparação não tem nada de material.
Alguns argumentam que aqueles
Espíritos mais terra-a-terra não conseguiriam viver sem a matéria !!! Ora, se
não conseguirem viver sem a matéria, ao desencarnarem não sairão daqui do orbe
terrestre, é o que se infere do início da resposta à questão 232 de O Livro dos Espíritos, isto é:
“(…) Quando o Espírito deixou o
corpo ainda não está completamente desligado da matéria e PERTENCE ao mundo em
que viveu ou um mundo do mesmo grau (…)“– o destaque é nosso.
Espíritos superiores
não podem reencarnar-se?
Nunca devemos esquecer-nos de
que estamos rodeados de espíritos desencarnados, errantes, e são eles que nos
dão boas ou más inspirações. Embora aqui na Terra predominem os maus espíritos,
temos também Espíritos Superiores, em menor número, é o caso dos Espíritos –
Guias de cada um de nós…
A propósito, é um sofisma
afirmar-se que um Espírito Superior teria dificuldade de vir à Terra e seria
impossível, em determinado caso, a sua reencarnação terrena; pois, argumentam,
o seu fluido é muito diáfano para suportar os fluidos terrenos. Ora, o
perispírito é extraído do planeta em que o indivíduo está encarnado (cf.
questão 94, op. cit.) ou situado; obviamente, há variações individuais, mas a
sua constituição é sempre a mesma para cada orbe.
A Doutrina dos Espíritos é bem
clara neste aspecto, ela nos diz em relação aos Espíritos Superiores, os de
segunda ordem: “Quando, por exceção, se encarnam na Terra, é para cumprir uma
missão de progresso e, então, nos oferece o tipo de perfeição a que a
humanidade pode aspirar neste mundo.” (cf. item 111, ‘in fine’, de O Livro dos Espíritos). Um exemplo
maravilhoso deste caso foi a encarnação de JESUS (cf. questão 625 , op. cit.) e
a este respeito disse KARDEC:
“Jesus é para o homem o tipo de
perfeição moral a que pode aspirar a humanidade na Terra (…)” (cf. Comentário ab initio à questão 625, op. cit.).
Sabemos que o assunto é polêmico
em relação a JESUS, pois alguns julgam-no um Espírito Puro, de primeira ordem
e, por isso, não mais sujeito à encarnação. Mesmo admitindo que JESUS seja um
Espírito Puro, qual a impossibilidade de sua encarnação ?… Em nosso modo de
entender não há nenhuma impossibilidade, tanto assim que ele reencarnou de fato
e há provas disso. Mas não entraremos nesta discussão, pois não é o escopo
deste estudo.
Enfim, na erraticidade não
existe céu, inferno nem purgatório, em lugares determinados; eles existem sim,
na consciência individual. Muitas vezes esses Espíritos atraem-se por sintonia,
mas, como Espíritos não são capazes de formar quadrilhas, como do Comando
Vermelho, Terceiro Comando, aqui da Terra. São espíritos cujo “inferno”
consiste – quando renitentes no mal –, em não poderem por em prática os seus
maus pendores e isto está bem claro na resposta à questão 970, ‘in fine’, de O Livro dos Espíritos:
“Desejam todos os gozos e não
podem satisfazê-los. É isso que os tortura”.
Muitos confrades temem os
obsessores numa reunião mediúnica, alegando até que alguns são chefes de
falanges infernais!… Mais importante que doutrinar o obsessor (o que é mais
fácil) é levar o obsidiado a desprender-se da sintonia que o liga ao seu algoz,
pois afinal de contas ambos são algozes - vítimas.
EPÍLOGO
O Céu, o Inferno, o Purgatório,
as Colônias espirituais, são fantasias espirituais sem nenhuma sustentação
científico – doutrinária, são elucubrações místicas de Espíritos ainda apegados
à matéria e de algumas pessoas simplórias que não conseguem conceber o mundo
espiritual sem materialidade.
Ao desencarnarmos na Terra, um
planeta inferior, por melhores que sejamos não atingiremos , imediatamente, a
condição de Espíritos Puros e por mais obstinados que sejamos no mal, não
ficaremos eternamente nessa condição de “legionários infernais”, pois a
Providência Divina nos dá o livre-arbítrio, propiciando-nos o arrependimento. A
Lei Divina é Misericordiosa…
[2] CREMERJ:52-14472-7 - Psiquiatra. Livre-Docente de
Psicopatologia e Psiquiatria da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da
Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).
Muito bom, sempre sempre tive minhas dúvidas em relação às colônias espirituais
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