segunda-feira, 20 de maio de 2019

Nicolas Camille Flammarion[1]





Flammarion foi um homem cujas obras encheram de luzes o século XIX.
Camille Flammarion nasceu em 26 de fevereiro de 1842, em Val-de-Meuse, na França e faleceu em 3 de junho de 1925, na cidade de Juvisy-sur-Orge, também na França onde passou a sua infância. 
Ele era o mais velho de uma família de quatro filhos, entretanto, desde muito jovem se revelaram nele qualidades excepcionais. Queixava-se constantemente que o tempo não lhe deixava fazer um décimo daquilo que planejava. Aos quatro anos de idade já sabia ler, aos quatro e meio sabia escrever e aos cinco já dominava rudimentos de gramática e aritmética. Tornou-se o primeiro aluno da escola onde frequentava.
Para que ele seguisse a carreira eclesiástica, puseram-no a aprender latim com o vigário Lassalle. Aí Flammarion conheceu o Novo Testamento e a Oratória. Em pouco tempo estava lendo os discursos de Massilon e Bonsuet. O padre Mirbel falou da beleza da ciência e da grandeza da Astronomia e mal sabia que um de seus auxiliares lhe bebia as palavras. Esse auxiliar era Camille Flammarion, aquele que iria ilustrar a letra e a significação galo-romana do seu nome - Flammarion: "Aquele que leva a luz".
Nas aulas de religião era ensinado que uma só coisa é necessária: "a salvação da alma", e os mestres falavam: "De que serve ao homem conquistar o Universo se acaba perdendo a alma?"
Foi dura a vida dos Flammarions, e Camille compreendeu o mérito de seu pai entregando tudo aos credores. Reconhecia nele o mais belo exemplo de energia e trabalho, entretanto, essa situação levou-o a viver com poucos recursos.
Camille, depois de muito procurar, encontrou serviço de aprendiz de gravador, recebendo como parte do pagamento casa e comida. Comia pouco e mal, dormia numa cama dura, sem o menor conforto; era áspero o trabalho e o patrão exigia que tudo fosse feito com rapidez. Pretendia completar seus estudos, principalmente a matemática, a língua inglesa e o latim. Queria obter o bacharelado e por isso estudava sozinho à noite. Deitava-se tarde e nem sempre tinha vela. Escrevia ao clarão da lua e considerava-se feliz. Apesar de estudar a noite, trabalhava de 15 a 16 horas por dia. Ingressou na Escola de desenho dos frades da Igreja de São Roque, a qual frequentava todas as quintas-feiras. Naturalmente tinha os domingos livres e tratou de ocupá-los. Nesse dia assistia às conferências feitas pelo abade sobre Astronomia. Em seguida tratou de difundir as associações dos alunos de desenho dos frades de São Roque, todos eles aprendizes residentes nas vizinhanças. Seu objetivo era tratar de ciências, literatura e desenho, o que era um programa um tanto ambicioso.
Aos 16 anos de idade, Camille Flammarion foi presidente da Academia, a qual, ao ser inaugurada, teve como discurso de abertura o tema "As Maravilhas da Natureza". Nessa mesma época escreveu "Cosmogonia Universal", um livro de quinhentas páginas; o irmão, também muito seu amigo, tomou-se livreiro e publicava-lhe os livros. A primeira obra que escreveu foi "O Mundo antes da Aparição dos Homens", o que fez quando tinha apenas 16 anos de idade. Gostava mais da Astronomia do que da Geologia. Assim era sua vida: passar mal, estudar demais, trabalhar em exagero.
Um domingo desmaiou no decorrer da missa, por sinal, um desmaio muito providencial. O doutor Edouvard Fornié foi ver o doente. Em cima da sua cabeceira estava um manuscrito do livro "Cosmologia Universal". Após ver a obra, achou que Camille merecia posição melhor. Prometeu-lhe, então, colocá-lo no Observatório, como aluno-astrônomo. Entrando para o Observatório de Paris, do qual era diretor Levèrrier, muito sofreu com as impertinências e perseguições desse diretor, que não podia conceber a ideia de um rapazola acompanhá-lo em estudos de ordem tão transcendental.
Retirando-se em 1862 do Observatório de Paris, continuou com mais liberdade os seus estudos, no sentido de legar à Humanidade os mais belos ensinamentos sobre as regiões silenciosas do Infinito.
Livre da atmosfera sufocante do Observatório publicou no mesmo ano a sua obra "Pluralidade dos Mundos Habitados", atraindo a atenção de todo o mundo estudioso. Para conhecer a direção das correntes aéreas, realizou, no ano de 1868, algumas ascensões aerostáticas.
Pela publicação de sua "Astronomia Popular", recebeu da Academia Francesa, no ano de 1880, o prêmio Montyon. Em 1870 escreveu e publicou um tratado sobre a rotação dos corpos celestes, através do qual demonstrou que o movimento de rotação dos planetas é uma aplicação da gravidade às suas densidades respectivas.
Ainda jovem e estudante, Flammarion teve o seu primeiro contato com o Espiritismo, associando-se à Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, fundada e dirigida por Allan Kardec. Tornando-se espírita convicto, foi amigo pessoal e dedicado de Allan Kardec. Nessa oportunidade escrevia ele o livro "A Pluralidade dos Mundos Habitados" quando veio a conhecer O Livro dos Espíritos identificando-se de imediato com a obra. Como as sessões da Sociedade eram em parte dedicadas à psicografia, Flammarion iniciou um treinamento, visando desenvolver esta faculdade, e conseguindo, trouxe à luz o trabalho intitulado "Uranografia Geral" assinado por Galileu e que faz parte da obra A Gênese de Allan Kardec. Participando dos principais grupos espíritas parisienses e sendo secretário de um deles Flammarion enriquecia o seu espírito e transcrevia para os livros as maravilhas que os invisíveis lhes transmitiam. "A Terra não tem nenhuma proeminência no sistema solar de maneira a ser o único mundo habitado", comenta ao defender a teoria que muitos outros planetas seriam habitados. Em 1865, sob o título "Forças Naturais Desconhecidas" ele publicou o seu primeiro livro sobre pesquisas psíquicas que era um estudo crítico a propósito dos fenômenos produzidos pelos irmãos Davenport e sobre médiuns em geral.
Quando a 31 de março de 1869 desencarnou Allan Kardec, Flammarion foi convidado para proferir uma das 4 orações à beira do túmulo, o que o fez impressionando a todos ao afirmar o caráter científico do Espiritismo, a excelência do trabalho de Kardec, a realidade das ciências físicas no além, a existência da alma e da sua indestrutibilidade, terminando por considerar o desencarnante como “o bom senso encarnado”. Nesse mesmo ano a Sociedade Dialética de Londres iniciou suas investigações sobre os fenômenos mediúnicos, havendo Flammarion apresentando-se perante a comissão que concluiu como relatório final, ser o assunto digno de mais séria atenção e cuidadosa investigação do que tinha sido até então.
Em 1879 é publicado o seu livro "Astronomia Popular", considerada a melhor obra do gênero do século XIX. Passa então a estudar o fenômeno mediúnico no que resultou mais um livro de sua autoria, que levou o título de "Forças Psíquicas Misteriosas" onde anota:
O fenômeno mediúnico tem para mim a estampa de absoluta certeza e incontestabilidade e amplia o suficiente para provar que as forças físicas desconhecidas existem fora do ordinário e estabelecido domínio da filosofia natural.

Em 1882, já destacado como profissional, instalou um observatório privado, sabedor de que a Ciência, notadamente a Astronomia, como sendo velha conselheira das verdades espirituais, muito ajudaria os homens em suas buscas para encontrar Deus. Nesse mesmo ano ele fundou a revista "A Astronomia" e em 1887 a Sociedade Astronômica da França.
Em 1899, Flammarion começou a fazer um censo sobre alucinação. De 4.280 pessoas consultadas, 1.824 responderam que elas tinham tido visões de fantasmas. Deste total, 786 casos foram coletados como de valor evidencial. Revisados e ampliados, estes artigos formaram a substância do livro "O Desconhecido e os Problemas Psíquicos", reforçando as provas de telepatia, aparições de mortos, sonhos premonitórios e clarividência. Na citada obra, à vista do conjunto dos fatos, Flammarion conclui:
·         a alma existe como personalidade real, independente do corpo;
·         a alma é dotada de faculdades ainda desconhecidas da ciência;
·         ela pode agir e perceber, à distância, sem os sentidos como intermediários;
·         o futuro é de antemão preparado; determinado pelas causas que o produzirão. A alma percebe-o algumas vezes.
Ao mesmo tempo em que se dedicava às pesquisas psíquicas, Flammarion desenvolvia fecundos estudos no campo da Astronomia. Além deste, abordava temas sobre Deus, reformas políticas e sociais, evolução do homem, fenômeno da morte e as pesquisas psíquicas. Mas, evidentemente, que, como popularizador de sua ciência predileta, muitas de suas obras versaram sobre Astronomia. É o caso de "Urânia":
A missão de a Astronomia ser mais elevada ainda. Depois de vos haver feito sentir e dado a conhecer que a Terra não é mais do que uma cidade na pátria celeste, e que o homem é cidadão do céu, ir mais longe. Descobrindo o plano sobre o qual o universo físico está construído, mostrar que o universo moral se acha alicerçado sobre esse mesmo plano; que os dois mundos não formam senão um mesmo mundo, e que o Espírito governa a Matéria. (...) A Astronomia ser é pois, eminentemente e antes de tudo, a diretriz da Filosofia. E a filosofia astronômica ser a religião dos espíritos superiores.

Suas obras, de uma forma geral, giram em torno do postulado espírita da pluralidade dos mundos habitados e são as seguintes: "Os Mundos Imaginários e os Mundos Reais", "As Maravilhas Celestes", "Deus na Natureza", "Contemplações Científicas", "Estudos e Leitura sobre Astronomia", "Atmosfera", "Astronomia Popular", "Descrição Geral do Céu", "O Mundo antes da Criação do Homem", "Os Cometas", "As Casas Mal- Assombradas", "Narrações do Infinito", "Sonhos Estelares", "Urânia", "Estela", "O Desconhecido", "A Morte e seus Mistérios", "Problemas Psíquicos", "O Fim do Mundo" e outras.
Assim foi Flammarion. Um poeta dos céus, de Deus e da natureza, como o denominava Michelet. Um pesquisador que tinha o sonho de tornar a religião científica e a ciência religiosa, equilibrando o espírito em seus voos pelo infinito. Cientista emérito, escritor de brilho, garimpeiro das galáxias, dedicou todo o seu talento em mostrar as maravilhas que Deus criou para que pudéssemos definir e materializar a paz. Com o olho no céu e a mão no papel foi poeta o bastante para transportar as estrelas para a Terra, a fim de que ele viesse a ser apenas um minúsculo mundo perdido no universo. Seu nome brilha entre os estudiosos do Espiritismo como os sóis que pesquisou, e, não há névoa por mais espessa, que um dia lhe venha a ofuscar a magnitude.
Camille Flammarion, segundo Gabriel Delanne, foi um filósofo enxertado em sábio, possuindo a arte da ciência e a ciência da arte. Flammarion tornou-se baluarte do Espiritismo, pois, sempre coerente com suas convicções inabaláveis, foi um verdadeiro idealista e inovador.

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