Texto de José Basílio,
baseado no livro “Páginas de Léon Denis” de Sylvio Brito Soares - Adaptado por:
Núcleo Espírita O LEME - Bairro Correia, 4 - 7520 - 111 - Sines - PORTUGAL
Falecimento: Tours, França – 1927
Léon Denis nasceu numa aldeia
chamada Foug, situada nos arredores de Tours, em França, a 1 de Janeiro de
1846, numa família humilde.
Cedo conheceu, por necessidade,
os trabalhos manuais e os pesados encargos da família.
Não era seu hábito desperdiçar
um minuto sequer de seu tempo, com distracções frívolas, às quais a maior parte
dos homens recorre para matar as horas.
Desde os seus primeiros passos
neste mundo, sentiu que os amigos invisíveis o auxiliavam. Ao invés de
participar em brincadeiras próprias da juventude, procurava instruir-se o mais
possível. Lia obras sérias, conseguindo assim, com esforço próprio desenvolver
a sua inteligência. Tornou-se um autodidacta sério e competente.
Aos 12 anos concluiu o curso
primário, mas a situação modesta da sua família não lhe permitiu grandes
estudos. Desde cedo teve problemas de saúde física: com os olhos principalmente.
Aos 16 anos salientou-se como um dos melhores oradores e ardente propagandista.
Aos 18 anos tornou-se
representante comercial da empresa onde trabalhava, facto que o obrigava a
viagens constantes, situação que se manteve até à sua reforma e manteve ainda
depois por mais algum tempo. Adorava a música e sempre que podia assistia a uma
ópera ou concerto. Gostava de dedilhar, ao piano, árias conhecidas e de tirar acordes
para seu próprio devaneio.
Não fumava, era quase
exclusivamente vegetariano e não fazia uso de bebidas fermentadas. Encontrava
na água a sua bebida ideal.
Era seu hábito olhar, com
interesse, para os livros expostos nas livrarias. Um dia, ainda com 18 anos, o
chamado acaso fez com que a sua atenção fosse despertada para uma obra de
título inusitado. Esse livro era “O Livro dos Espíritos” de Allan Kardec.
Dispondo do dinheiro necessário,
comprou-o e, recolhendo-se imediatamente ao lar, recolhendo-se imediatamente ao
lar, entregou-se com avidez à leitura. O próprio Denis disse: “Nele encontrei a
solução clara, completa e lógica, acerca do problema universal. A minha
convicção tornou-se firme. A teoria espírita dissipou a minha indiferença e as
minhas dúvidas”. O seu espírito, nessa hora, sentiu-se sacudido em face dos
compromissos assumidos no Espaço, para iniciar, em breve, o trabalho de propagação
das verdades Kardecianas. “Como tantos outros” - disse ele - “procurava provas,
factos precisos, de modo a apoiar a minha fé, mas esses factos demoraram muito
a chegar. A princípio insignificantes, contraditórios, mesclados de fraudes e mistificações,
que não me satisfizeram, aponto de, por vezes, pensar em não mais prosseguir as
minhas investigações. Mas, sustentado, como estava, por uma teoria sólida e de
princípios elevados, não desanimei. Parece que o invisível deseja experimentar-nos,
medir o nosso grau de perseverança, exigir certa maturidade de espírito antes
de entregar-nos aos seus segredos”.
Encontrava-se nos seus trabalhos
de experimentações, quando importante acontecimento se verificou na sua vida:
Allan Kardec viera passar alguns dias na pacata cidade de Tours, com seus
amigos. Todos os espíritas turenses foram convidados a recebê-lo e a saudá-lo.
As viagens eram para ele uma
fonte de alegria e de aprendizado. Em França e no estrangeiro aproveitava as
oportunidades que poderiam enriquecer materialmente o patrão sem desprezar tudo
o que poderia contribuir para o conhecimento próprio.
Interessavam-lhe as praças, os
monumentos, o povo, os hábitos, os costumes e a meditação entre os velhos
caminhos das montanhas. Delicia-se com os bosques, com os rios e os lagos.
Estas longas horas de meditação solitária no seio da Natureza conduziram-no a
uma mais completa compreensão de Deus.
Em 1880, pelas cidades e vilas
que percorria, por força dos seus afazeres profissionais, pronunciava
conferências e fundava círculos e bibliotecas populares. É incalculável o número
de conferências por ele proferidas em França, no propósito de propagar a “Liga de
Ensino”, fundada por Jean Macé. Na Argélia, onde esteve várias vezes em
serviço, também desenvolveu uma intensa actividade de divulgação doutrinária.
O ano de 1882 marca, em
realidade, o início do seu apostolado, durante o qual teve que enfrentar
sucessivos obstáculos: o materialismo e o positivismo que olham para o Espiritismo
com ironia e risadas e os crentes das demais correntes religiosas, que não hesitam
em aliar-se aos ateus, para o ridicularizar e enfraquecer. Léon Denis porém, como
bom paladino, enfrenta a tempestade. Os companheiros invisíveis colocam-se ao seu
lado para o encorajar e exortá-lo à luta.
“Coragem, amigo” - diz-lhe o
espírito de Jeanne - “estaremos sempre contigo para te sustentar e inspirar.
Jamais estarás só. Meios ser-te-ão dados, em tempo, para bem cumprires a tua
obra”.
A 2 de Novembro de 1882, dia de
Finados, um evento de capital importância produziu-se na sua vida: a
manifestação, pela primeira vez, daquele Espírito que, durante meio século,
havia de ser o seu guia, o seu melhor amigo, o seu pai espiritual - Jerónimo de
Praga - que lhe disse: “Vai meu filho. Pela estrada aberta diante de ti.
Caminharei atrás de ti para te sustentar”. E como Léon Denis indagasse se o seu
estado de saúde o permitiria estar à altura da tarefa, recebeu esta outra
afirmativa: “Coragem, a recompensa será mais bela.”
A partir de 1884, achou
conveniente fazer palestras visando à maior difusão das ideias espíritas.
Escreveu, em 1885, o trabalho “O Porquê da Vida”, no qual explica, com nitidez
e simplicidade, o que é o espiritismo.
Em 1892, recebeu um convite da
duquesa de Pomar, para falar de espiritismo na sua residência, numa dessas
manhãs célebres, em que se reunia quase toda a Paris. Ele ficou indeciso e
temeroso. Depois de muito meditar as responsabilidades, aceitou o convite.
“Le Journal” de Paris publicou,
acerca da reunião na casa da duquesa, a seguinte notícia: “A reunião de ontem,
para ouvir a conferência de Léon Denis sobre a Doutrina Espírita, foi uma das
mais elegantes. De uma eloquência muito literária, o orador soube encantar o
numeroso auditório, falando-lhe do destino da alma, que pode, diz ele,
reencarnar até à sua perfeita depuração. Ele possui a alma de um Bossuet e
soube criar um entusiasmo espiritualista”.
O êxito do seu livro “Depois da
Morte” situara-o como escritor de primeira ordem. Os grandes jornais e revistas
eclécticas solicitavam-no e as tiragens sucessivas desse livro esgotavam-se
rapidamente.
A principal obra literária de
Denis foi a concernente ao Espiritismo, mas escreveu, outrossim, segundo o
testemunho de Henri Sausse, várias outras, como: Tunísia, Progresso, Ilha de
Sardenha, etc., certamente fruto das suas memórias de viagem.
A partir de 1910, a visão de
Léon Denis foi, dia a dia, enfraquecendo. A operação a que se submetera, dois
anos antes, não lhe proporcionara nenhuma melhora, mas suportava, com calma e
resignação, a marcha implacável desse mal que o castigava desde a juventude.
Aceitava tudo com estoicismo e resignação. Jamais o viram queixar-se.
Todavia, bem podemos avaliar
quão grande devia ser o seu sofrimento.
Mantinha volumosa
correspondência. Jamais se aborrecia. Amava a juventude, possuía a alegria da
alma. Era inimigo da tristeza.
O mal físico, para ele, devia
ser bem menor do que a angústia que experimentava pelo facto de não mais poder
manejar a pena. Secretárias ocasionais substituíam-no nesse ofício. No entanto,
a grande dificuldade para Denis, consistia em rever e corrigir as novas edições
dos seus livros e dos seus escritos. Graças, porém, ao seu espírito de ordem e
à sua incomparável memória, superava todos esses contratempos, sem molestar ou
importunar os amigos.
Depois da morte da sua genitora,
uma empregada cuidava da sua pequena habitação. Ele só exigia uma coisa: o
absoluto respeito às suas numerosas notas manuscritas, as quais ele arrumava
com meticulosa precaução. E foi justamente por causa dessa sua velha mania que
a duquesa de Pomar o denominara “o homem dos pequenos papéis”.
Em 1911, após despender não
pequeno esforço, no preparo da nova edição d’ “O Problema do Ser, do destino e
da Dor”, ficou gravemente doente com uma pneumonia; foi o tratamento atempado
do seu médico que, num curto espaço de tempo, o colocou de novo em pé.
Contudo uma grande e profunda
dor lhe estava reservada: veio a Guerra de 1914-18 e o seu espírito condoía-se
ao ver partir para a frente de batalha a maioria dos seus amigos.
Léon padecia, então, de uma
doença intestinal e estava parcialmente cego.
Pela incorporação, os seus
amigos do Espaço e, entre eles, um Espírito eminente, comunicavam-lhe, de
tempos em tempos, as suas opiniões sobre essa terrível guerra, considerada nos
seus dois aspectos: o visível e o oculto.
Estas comunicações levaram-no a
escrever um certo número de artigos, publicados na “Revue Spirite”, na “Revue
Suisse des Sciences Psychiques” e no “Echo Fid”, onde transparece, dentro da
lei de causa e efeito, o seu grande amor pela terra onde nasceu.
Quando a Guerra se aproximava do
fim, a “Revue Spirite” passou a publicar, em todos os seus números, artigos de
Léon Denis.
Após a 1ª Grande Guerra,
aprendeu braille, o que lhe permitiu fixar no papel os elementos de capítulos
ou artigos que lhe vinham ao espírito, pois, nesta época da sua vida, estava,
por assim dizer, quase cego.
Em 1915 iniciava ele uma nova
série de artigos, repassados de poesia profunda e serena, sobre a voz das
coisas, preconizando o retorno à Natureza.
Nesta época, um forte vento
soprava contra o Kardecismo. O fenomenismo metapsiquista espalhava aos quatro
ventos a doutrina do filósofo puro. P. Heuzé fazia muito barulho através do “L’
Opinion”, com as suas entrevistas e comentários tendenciosos. Afirmava,
prematuramente, que, à medida que a metapsíquica fosse avançando, o Espiritismo
iria, a par e passo, perdendo terreno. A sua profecia, no entanto, ainda não se
realizou.
Após a vigorosa resposta de Jean
Meyer na “Revue Spirite”, Léon Denis por sua vez, entrou na discussão, na
qualidade de presidente de honra da União Espírita Francesa, numa carta
endereçada ao “Matin”, na qual estabelecia, com admirável nitidez, a diferença
entre Espiritismo e Metapsiquismo.
A partir desse momento, Léon
Denis teve que exercer grande actividade jornalística para responder às
críticas e ataques de altos membros da Igreja Católica, saindo-se, como era de
esperar, de maneira brilhante.
Em Março de 1927, com 81 anos de
idade, terminara o manuscrito que intitulou de “O Génio Céltico e o Mundo
Invisível”. Neste mesmo mês a “Revue Spirite” publicava o seu derradeiro
artigo.
Terça-feira, 12 de Março de 1927
pelas 13 horas, respirava Denis com grande dificuldade. A pneumonia atacava-o
novamente. A vida parecia abandoná-lo, mas o seu estado de lucidez era
perfeito. As suas últimas palavras, pronunciadas com extraordinária calma,
apesar da muita dificuldade, foram dirigidas à sua empregada Georgette: “É
preciso terminar, resumir e... concluir”. Fazia alusão ao prefácio da nova edição
biográfica de Kardec. Neste preciso momento, faltaram-lhe completamente as forças,
para que pudesse articular outras palavras. Às 21.00 horas o seu espírito
alou-se.
O seu semblante parecia ainda em
êxtase.
As cerimónias fúnebres
realizaram-se a 16 de Abril. A seu pedido, o enterro foi modesto e sem o ofício
de qualquer Igreja confessional. Está sepultado no cemitério de La Salle, em
Tours.
Abaixo, alguns livros de Léon
Denis:
· Cristianismo e Espiritismo (Ed.
FEB)
· Depois da Morte (Ed. FEB)
· Espíritos e Médiuns (Ed. CELD)
· Joana D’Arc, Médium (Ed. FEB)
· O Além e a Sobrevivência do Ser
(Ed. FEB)
· O Espiritismo na Arte (Ed. FEB)
· O Porquê da Vida (Ed. FEB)
· O Problema do Ser, do Destino e
da Dor (Ed. FEB)
· Socialismo e Espiritismo (Ed.
“O Clarim”)
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