segunda-feira, 5 de novembro de 2018

HERMÍNIO CORREA DE MIRANDA[1]


Hermínio Corrêa de Miranda (nascido em Volta Redonda, 5 de janeiro de 1920 e falecido em 8 de julho de 2013) foi um pesquisador e escritor espírita brasileiro. Habitualmente assinava Hermínio C. Miranda.

Formou-se em Ciências Contábeis, tendo trabalhado na Companhia Siderúrgica Nacional até se aposentar.

Seu primeiro livro, “Diálogo com as Sombras”, foi publicado em 1976. Depois vieram muitos outros títulos, sendo que seus direitos autorais foram sempre cedidos a instituições filantrópicas.

Obras publicadas

Em ordem alfabética: A Dama da Noite; A Irmã do Vizir; A Memória e o Tempo; A Noviça e o Faraó - A Extraordinária História de Omm Sety; A Reencarnação na Bíblia; A Reinvenção da Morte; Alquimia da Mente; Arquivos Psíquicos do Egito; As Duas Faces da Vida; As Marcas do Cristo, vol. I e II; As Mil Faces da Realidade Espiritual; As Sete Vidas de Fénelon; Autismo, uma Leitura Espiritual; Candeias na Noite Escura; Com Quem Tu Andas? (com Jorge Andréa e Suely Caldas Schubert); Condomínio Espiritual; Cristianismo: A Mensagem Esquecida; Crônicas de Um e de Outro (com Luciano dos Anjos); De Kennedy ao Homem Artificial (com Luciano dos Anjos); Diálogo com as Sombras; Diversidade dos Carismas; Eu Sou Camille Desmoulins (com Luciano dos Anjos); Guerrilheiros da Intolerância; Hahnemann, o Apóstolo da Medicina Espiritual; Histórias que os Espíritos Contaram; Lembranças do Futuro; Memória Cósmica; Nas Fronteiras do Além; Negritude e Genealidade; Nossos Filhos são Espíritos; O Espiritismo e os Problemas Humanos (com Deolindo Amorim); O Evangelho Gnóstico de Tomé; O Exilado; O Mistério de Patience Worth; O Que é Fenômeno Mediúnico; Os Cátaros e a Heresia Católica; Reencarnação e Imortalidade; Sobrevivência e Comunicabilidade dos Espíritos; e Swedenborg, uma Análise Crítica.

Além destas, Hermínio traduziu e comentou as seguintes obras: A Feira dos Casamentos (de J. W. Rochester, psicografada por Vera Ivanova Kryzhanovskaia); O Mistério de Edwin Drood (de Charles Dickens, com final psicografado por Thomas P. James); e Processo dos Espíritas (de Madame Pierre-Gaëtan Leymarie).

Um dos escritores espíritas mais lidos da atualidade, também tradutor, Hermínio Correa de Miranda tinha um fôlego para pesquisas e leituras tão amplo que não seria de todo equivocado afirmar que é o escritor dos escritores. Equipara-se, talvez, neste aspecto e em certa medida a Ernesto Bozzano. Em sua obra, extensa e também densa, sobressaltam as referências bibliográficas, ao lado de suas preferências temáticas e de uma preocupação constante com as conceituações, que desejava colocar claras para melhor expressão do seu pensamento.

Contribuiu para isso a competente capacidade de ler em diversas línguas e uma memória privilegiada que Miranda demonstrava possuir, valorizando sobremaneira o seu autodidatismo.

Tendo residido por algum tempo nos Estados Unidos, a serviço profissional, aprimorou ali não só os seus conhecimentos do inglês como também o gosto pela literatura profusa do país de Tio Sam, em especial as obras relacionadas aos temas de sua preferência.

Miranda não foi um pesquisador do tipo Ian Stevenson ou Hernani Guimarães Andrade. Enquanto estes se preocupavam com a análise dos fatos em seus detalhes comprováveis, quando trata da reencarnação, Miranda se valia habitualmente de pesquisa biográfica com apoio em bibliografia consistente, em que estão presentes, inclusive, obras de história. É bem verdade que o seu livro mais denso sobre o tema ‒ "Eu sou Camille Desmoulins" ‒ escrito em parceria com o sujet da pesquisa, Luciano dos Anjos, contou com um outro tipo de apoio: a regressão de memória. É também verdadeiro o fato de utilizar as experiências com regressão de memória em outras obras sobre a reencarnação. Sua argumentação, entretanto, privilegia a comparação de dados biográficos, no que foi rigoroso se assim podemos nos expressar.

A seriedade de Miranda, nesta como em outras obras, é incontestável. Correndo o risco de ser contestado, avança ele na defesa de ideias próprias em alguns casos, inovando senão na originalidade do assunto pelo menos na utilização de novas designações para fatos conhecidos, como é o caso de seu "replay", nome que atribui ao fenômeno observado por Ernesto Bozzano em "A Crise da Morte", a respeito das lembranças que o indivíduo repassa no instante da desencarnação.

Seu pensamento foi de que "o historiador ou historiógrafo não deve imaginar fatos inexistentes para preencher lacunas ou justificar a ‘sua’ filosofia da História. Deve limitar-se a narrar os fatos, tal como se apresentam na documentação existente ou na melhor e mais verossímil tradição".

Ao lado de sua farta produção na linha da reencarnação, Miranda revela-se igualmente interessado nos fatos mediúnicos, privilegiado que foi pela convivência com alguns médiuns férteis em material de análise. Sua capacidade de registrar as informações obtidas por esta via, bem como de ampliá-las com pesquisas bibliográficas, permitiu-lhe escrever inúmeros livros, numa relação de que desponta a série “Histórias que os Espíritos Contaram”. Nestas obras surpreende o fato do autor trabalhar com a regressão de memória nos espíritos manifestantes.

Esta relação íntima com o plano invisível, que o autor diz ter durado algumas décadas em ambiente apartado do centro espírita, principiou por uma constatação:

Ao iniciar-se a tarefa, o conceito que eu formulava acerca dos espíritos era o dos livros que estudara durante o período de instrução e formação. Para mim, seriam entidades que, de certa forma, transcendiam a condição humana, quase como abstrações vivas, situadas numa dimensão que meus sentidos não alcançavam. Mas não era nada disso, os espíritos são gente como a gente! Sofrem, amam, riem e choram. Experimentam aflições, desalentos, alegrias, esperanças, tudo igual.

Ainda no plano das vidas sucessivas, Miranda acreditava ser a reencarnação de um dos fiéis colaboradores de Martinho Lutero ao tempo da Reforma, tendo por esta personalidade uma inusitada admiração. Seus estudos sobre vidas anteriores incluem Lutero (este seria a reencarnação de Paulo). Isto talvez explique, entre outras coisas, o também grande interesse de Miranda pela teologia e, em especial, o Cristianismo, valendo destacar aí os dois volumes de “As Marcas do Cristo” e ainda “Cristianismo: A Mensagem Esquecida”.

Não se pode, portanto, deixar de mencionar neste ponto duas coisas: sendo afeito ao estudo da teologia, Miranda não se mostrava um místico do tipo comum; apesar disso, foi francamente partidário do aspecto religioso do Espiritismo, revelando-se aqui um dos poucos momentos de sua obra em que é contundente:

O Espiritismo está coerente com essa mensagem imortal, e, por isso, implantou-se tão solidamente sobre alicerce de três "pilotis": ciência, filosofia e religião. Hoje, examinando os fatos do ponto de vista privilegiado da perspectiva, sabemos que o suporte religioso é o mais importante dos três.

Segue, portanto, a linha emanuelina, em que não se contenta apenas em apontar sua visão, mas destaca o que entende ser o aspecto primordial: o religioso. Eis que o confirma:

"O Espiritismo (...) se resume, em última instância, em uma proposta clara e objetiva de esforço pessoal evolutivo para substituir religiões salvacionistas, dogmáticas e irracionais. Fé racionalizada, purificada e sustentada pela experimentação, continua sendo fé, mais do que nunca. Se isto não é religião, que seria, afinal?

Para finalizar, alguns aspectos curiosos em Hermínio Miranda:

1.      Ele não é um escritor que se poderia dizer popular. Conquanto em alguns instantes demonstre intenções nessa direção, sua linguagem o trai, seu estilo é denso e portador de uma seriedade do tipo que não se permite, leves que sejam, algumas pitadas de jocosidade. Às vezes tenta, mas não logra sucesso. Por isso, seria interessante analisar a razão da excelente vendagem de seus livros;

2.      Miranda abusa das conceituações e dos esclarecimentos tendo por base os dicionários e enciclopédias. Tem-se a impressão de que escreve com o "Aurélio" e a "Britânica" ao lado, a eles recorrendo constantemente. Isso pode significar, por exemplo, uma tendência ao didatismo, ao mesmo tempo em que preocupação com o produto final da recepção do leitor;

3.      Verifica-se, também nele, uma quase excessiva preocupação de convencer o leitor de que não deseja modificar sua opinião acerca de determinados aspectos especialmente ligados à crença. Ao analisar o conjunto de sua obra, este fato se destaca com certa nitidez, contrastando com a firmeza com que defende suas opiniões.

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