quarta-feira, 30 de novembro de 2022

A IMPORTÂNCIA DA EDUCAÇÃO DO PENSAMENTO PARA UM TRABALHO MEDIÚNICO PROFÍCUO[1]

 


Carlos Gomes – Núcleo Espírita Fraternidade e Amor – NEFA, Itajubá, MG - 24/05/2017

 

— RESUMO —

Este artigo tem por objetivo apresentar algumas pesquisas em relação ao pensamento, de acordo com a ciência e o espiritismo. A escolha do tema justifica-se pela dificuldade de alguns grupos mediúnicos em realizar um trabalho de qualidade. Assim, tendo em vista que a comunicação mediúnica se dá via pensamento, pensou-se em discutir o assunto. Para esse propósito foi utilizado como metodologia a revisão bibliográfica, selecionando alguns autores que pesquisam o assunto como Miguel Nicolelis, José e Maria de Lourdes Andreeta, Mauro Maldonato, Hermínio Miranda, Suely Caldas Schubert, dentre outros. Autores espíritas e não espíritas. Ao se realizar a leitura de forma qualitativa constata-se que ainda há muitas dúvidas sobre a formação do pensamento e sua transmissão. No entanto, alguns pontos em comum podem ser observados, como o fato de o pensamento ser emitido em forma de ondas e vibrações e, ainda, ser capaz de sintonizar-se com outras ondas. Esse fato leva à conclusão de que, para um trabalho mediúnico profícuo cabe ao médium procurar melhorar sua faixa vibratória, lendo sempre livros doutrinários, observando as suas faculdades e se auto corrigindo. Deve recolher-se na oração e preocupar-se com o seu aperfeiçoamento e abnegação, com a cultura e o desinteresse, para que sejam mais sutilizados os pensamentos e aguçando as percepções mediúnicas.

 

Palavras-chave: pensamento, mediunidade, espiritismo.

 

INTRODUÇÃO

O século atual tem sido considerado o século da comunicação ou da informação. Nunca se falou com tanta gente, de tão variadas regiões e em tão pouco espaço de tempo. A tecnologia vem pesquisando formas cada vez mais avançadas de facilitar o processo de comunicação. De acordo com Hoyos Guevara (2007) em uma sociedade cada vez mais digitalizada, parece que alimentar o cérebro de informação passa a ser tão natural como alimentar o físico para desempenhar as funções fisiológicas.

No entanto, há uma forma de comunicação tão antiga quanto o próprio homem e que necessita ser investigada e compreendida, a comunicação via pensamento. Com toda essa tecnologia apresentada o homem ainda não compreende como se forma o pensamento, nem tampouco que a comunicação mental seja possível. Faltam à ciência, instrumentos para averiguar esse processo.

Sob o ponto de vista espiritual, o Espiritismo, codificado por Allan Kardec há 160 anos vem apresentar elementos científicos que contribuem para essa questão. Hoje já existem vários pesquisadores nessa área, com a edição de vários livros sobre o assunto.

O neurocientista Miguel Nicolelis é um dos pesquisadores nessa área e revelou que ainda não se conseguiu chegar a uma abrangente teoria do pensar. Ainda se atribui ao neurônio, como célula do sistema nervoso, a responsabilidade sobre o processamento de sinais de comunicação em todo o sistema, mas não consegue, por si só, emitir sequer um pensamento ou mesmo gerar um comportamento.

Para a ciência materialista, reducionista e cartesiana, as conexões neurais (sinapses) seriam as responsáveis pela formação do pensamento. Entretanto, em livros didáticos de fisiologia médica, autores como Arthur Guyton e outros, admitem não ser possível ainda conhecer os mecanismos neurais do pensamento e da memória.

Pesquisadores espíritas como Hermínio Miranda, não acreditam que o pensamento seja gerado no cérebro e pelo cérebro. Para ele o pensamento apenas percorre os circuitos cerebrais, como um reflexo, não como origem.

Diante da presente discussão e sabendo-se que uma reunião mediúnica acontece utilizando-se tão somente dos pensamentos dos médiuns em conexão com os pensamentos dos Espíritos comunicantes, pensou-se em discutir essa questão no presente artigo, mesmo porque, alguns dirigentes de trabalhos mediúnicos relatam certa dificuldade em relação à equipe de trabalhadores que, em geral, não tem correspondido ao que se espera de um trabalho mediúnico de qualidade.

Estabelece-se assim a seguinte questão:

A partir do estudo do pensamento, como utilizá-lo de forma eficaz, mormente para um trabalho mediúnico?

A metodologia utilizada foi a revisão bibliográfica, em livros que abordam pesquisas da ciência tradicional e da ciência espírita com autores como Miguel Nicolelis, Fritijof Capra, Mauro Maldonato, Núbor Facure, Hermínio Miranda, Allan Kardec, dentre outros.

O objetivo do trabalho é apresentar a formação do pensamento no indivíduo, sob a perspectiva científica e espiritual, bem como a forma de qualificá-lo para que se torne uma boa via de conexão com outros pensamentos, tornando o trabalho mediúnico mais profícuo.

Procurou-se dividir o artigo nos seguintes itens: o pensamento, segundo a ciência, trazendo alguns conceitos científicos; recentes pesquisas científicas, incluindo a questão quântica; a visão espírita do pensamento, segundo alguns pesquisadores; a importância do pensamento em um trabalho mediúnico; finalizando com a função do médium na qualificação dos pensamentos, as considerações finais e referências bibliográficas.

 

 O Pensamento segundo a Ciência

“Penso, logo existo”, disse Descartes em seu livro “Discurso do Método”, publicado em 1637, dando início ao racionalismo científico que tem, desde então, influenciado gerações e gerações no mundo ocidental, colocando a razão humana como única forma de existência. Uma visão reducionista que, por mais pesquisa se realize, ainda não consegue dar todas as respostas aos fenômenos da natureza, mormente no que se refere à vida.

Segundo Nicolelis (2011), os avanços científicos e clínicos obtidos durante o século passado, aplicando a visão reducionista, não conseguiram atingir o mais cobiçado de todos os objetivos da neurociência: uma abrangente teoria do pensar. Para ele, enquanto o neurônio individual constitui a unidade anatômica como elemento básico de processamento de sinais do sistema nervoso, ele não é capaz, por si só, de gerar nenhum comportamento e, em última análise, nem sequer um pensamento.

 Para Andreeta (2010), mesmo dispondo de técnicas e aparelhagens sofisticadas, os cientistas ainda não conseguiram desvendar satisfatoriamente a questão do relacionamento entre o cérebro e a mente.

Toda essa discussão tem origem em 1810 quando Gall publica sua “Anatomia e Fisiologia do Sistema Nervoso em geral e do Cérebro em especial”. Nesse momento surge, efetivamente, a ciência do cérebro. Ele atribui assim ao encéfalo, mais particularmente aos hemisférios cerebrais, a sede de todas as faculdades intelectuais e morais.

Ainda hoje a discussão dos neurocientistas gira em torno dos neurônios como a base para o pensamento. Chegam a afirmar que a unidade neural do pensamento são os neurônios, e o conjunto de neurônios ou a rede neural são os responsáveis por influenciar os comportamentos e por produzir processos cognitivos, como raciocínio, abstração, memória, atenção, entre outras funções. Assim, as conexões neurais (sinapses) seriam as responsáveis pela formação do pensamento.

Dessa forma, o córtex cerebral (a porção mais superficial do cérebro, conhecida também como substância cinzenta) desempenharia os papeis principais do pensamento, pois é ali que eles seriam elaborados e se tornariam conscientes.

Os livros acadêmicos que se utilizam da pesquisa científica moderna, apresentam dificuldade em discutir o fenômeno da consciência, dos pensamentos e da aprendizagem, porque, ainda não é possível conhecer os mecanismos neurais do pensamento e da memória (Guyton & Hall, 2002).

Como ciência de investigação objetiva, as evidências encontradas apontam que a destruição de grandes porções do córtex cerebral não impede a pessoa de ter pensamentos, mas reduz a profundidade dos pensamentos e, também, o grau de percepção do ambiente.

Segundo esses autores, o pensamento é a consequência de um ‘padrão’ de estimulação de muitas partes do sistema nervoso ao mesmo tempo e com uma sequência definida, provavelmente envolvendo de modo mais importante o córtex, o tálamo, o sistema límbico e a formação reticular superior do tronco encefálico. Essa é a chamada teoria holística do pensamento.

Para Maldonato (2006), os conhecimentos atuais não têm condições de explicar a mente em termos de leis físicas; nem em seu conjunto, nem em seus processos isoladamente. Para esse autor existe um afastamento profundo entre o conhecimento do mundo físico e os próprios limites da mente. Sendo assim, o tipo de explicação apresentada pelas ciências físicas não pode ser aplicado aos eventos mentais.

Jonhson (1994), por sua vez, aponta que o cérebro tem sido comparado a um computador. Cada neurônio recebe impulsos elétricos através dos dendritos, cujas milhares de ramificações minúsculas levam sinais para dentro do corpo da célula. Se os sinais excitatórios excederem os inibitórios, o neurônio é estimulado, enviando seu próprio impulso através do prolongamento chamado axônio. Este alimenta, através de junções chamadas sinapses, os dendritos de outras células. Um simples neurônio pode receber sinais de milhares de outros neurônios; seu axônio pode se ramificar repetidamente, enviando sinais para mais outros milhares.

Segundo esse autor, o que se sabe é que o cérebro quando exposto a um novo acontecimento, um único padrão de neurônio é ativado de algum modo. Dentro da vasta rede de células do cérebro, uma constelação é estimulada. Considerada sua unidade anatomofisiológica, estima-se que no cérebro humano exista aproximadamente 15 bilhões destas células, responsáveis por todas as funções do sistema através de trilhões de sinapses.

Facure (2001) explica que o fluxo do pensamento é contínuo, produzindo ideias e imagens que atingem a consciência numa profusão como ondas de maior ou menor intensidade. Certos estados emocionais aumentam significativamente o fluxo do pensamento. A meditação ou a simples reflexão aquieta a mente e o pensamento parece flutuar lentamente.

Miranda (2010) não acredita que o pensamento seja gerado no cérebro e pelo cérebro. Para ele o pensamento apenas percorre seus circuitos a velocidade ultra luminosas, praticamente instantâneas. Ele afirma que o cérebro não trabalha com substâncias materiais e sim com impulsos de energia, embora possa comandar a produção de substâncias em diferentes partes do organismo.

No entanto, embora as pesquisas realizadas pela ciência caminhem no sentido de relacionar o pensamento ao funcionamento dos neurônios, no cérebro, não há ainda evidências suficientes para se comprovar que essa seja a sua origem. Talvez essa dificuldade esteja no fato apontado por Boaventura de Souza Santos (2006) de que ainda nos alimentamos do modelo racional dominante da ciência moderna desde a revolução científica do século XVI.

 Para esse autor aquilo que não é quantificável não é relevante para a ciência. Conhecer significa, então, dividir e classificar para depois determinar relações sistemáticas entre o que se separou. Esse modelo é também totalitário, na medida em que nega o caráter racional a todas as formas de conhecimento que se não pautarem pelos seus princípios epistemológicos e pelas suas regras metodológicas.

 

O que há de novo na Ciência

Para os conhecimentos antigos (Andreeta, 2010) a consciência é uma energia em vibração. A consciência seria, assim, um instrumento da manifestação de uma Consciência Maior. Fisicamente o autor conceitua consciência como um conjunto de valores e conhecimentos que se expressam através de campos de energias organizadas. Assim sendo, o conceito ensinado pelos antigos e demonstrado atualmente pela Física Quântica é de que a Consciência Cósmica se manifesta no mundo físico através dos seres humanos, através da vontade consciente de um observador.

A partir do advento da Física Quântica e da explicação de que o mundo é quântico Andreeta (2010) conclui que a consciência humana passou a ser mais importante do que a matéria, propriamente dita. Para essa ciência a mente parece ser a origem de tudo que está manifestado.

A Física Quântica surge a partir dos resultados experimentais obtidos no início do século XX que mostravam que a luz possuía um estranho comportamento quando incidia sobre a matéria. Nesses experimentos a luz parecia se comportar como um feixe de partículas, não como uma onda como previam os conhecimentos tradicionais.

Andreeta (2010) explica que a luz se movimenta de um lado a outro em forma de onda, mas, quando interage com a matéria, apresenta sua face corpuscular. Assim, é preciso admitir que elementos de dimensões mais sutis possam interferir nos fenômenos físicos. O planeta está constantemente sendo bombardeado por pacotes de energia, os quanta, e que são trocados constantemente uns com os outros, com tamanhos e frequências diferentes.

O mundo, de acordo com as novas descobertas, é formado, em sua essência, por ondas. É preciso voltar os olhares para esse novo mundo e para novas formas de pensar desde então. O mundo passa a ser classificado como quântico.

 Outra descoberta importante citada pelo autor é que “todos os corpos materiais possuem as suas frequências próprias de vibração e entram em ressonância com uma onda externa quando essa possui a mesma frequência. Todos os corpos, portanto, emitem e recebem a mesma frequência de vibração.” (ibid., p. 110).

Zohar (2004) acredita que a consciência humana desempenha um papel criativo na formação da realidade física. Ela também afirma que a teoria quântica deverá finalmente contribuir para uma nova visão de mundo, com suas próprias e distintas dimensões epistemológicas, morais e espirituais.

Para a autora, a visão de mundo cartesiana foi necessária ao cultivo da física de Newton e a todo progresso tecnológico que seguiu em sua esteira, mas numa cultura pós-cristã ela é filosófica e espiritualmente estéril.

Quanto à consciência, Zohar (2004) reforça que aqueles que estão procurando uma sede fixa para ela presumem que sua fonte deve estar na capacidade funcional do cérebro em si. Havendo, então, um vínculo necessário entre os estados físicos do cérebro e a consciência ou os estados mentais, embora a natureza exata dessa ligação ainda seja um dos grandes mistérios tanto da ciência, quanto da filosofia.

Supõe a autora que haja um elo vital entre o processo do pensamento e o processo quântico, entre nós e os elétrons. Para ela a dualidade mente-corpo (mente-cérebro) no homem é um reflexo da dualidade onda-partícula, que é subjacente a tudo que existe. Assim, o ser humano seria um minúsculo microcosmo do ser cósmico.

Capra (2003) anuncia que está surgindo uma concepção unificada da vida, da mente e da consciência. Para ele a consciência humana encontra-se inextricavelmente ligada ao mundo social da cultura e dos relacionamentos interpessoais.

O autor afirma ainda que nos últimos anos, o estudo da mente a partir da perspectiva sistêmica floresceu e se tornou um grande campo interdisciplinar de estudos, chamados de ciência da cognição, que transcende as estruturas tradicionais da biologia, da psicologia e da epistemologia. Com os resultados desses estudos, a nova concepção sobre cognição envolveria todo o processo da vida, incluindo a percepção, as emoções e o comportamento.

O que há em comum entre as pesquisas apresentadas é que a mente, o pensamento, seria transmitido através de ondas, que se associam com outras ondas mentais, as quais se encontram em sintonia vibratória. Embora sua origem ainda necessite de mais pesquisas, os seus efeitos já podem ser comprovados.

 

 O que diz o Espiritismo

Denis (2012) ressalta que o pensamento se exterioriza por radiações em harmonia com a sua própria natureza. Que adquirem maior potência e brilho à medida que essas radiações são mais elevadas.

Ele destaca também que quando um Espírito deseja se comunicar com um encarnado, ele aciona, por suas forças intuitivas, o aparelho vibratório que nele existe. Havendo equilíbrio nos fenômenos a comunhão dos pensamentos será realizada. O pensamento do Espírito, antes de penetrar o cérebro do médium, contorna-o, e, somente quando encontra um ponto vulnerável, é que faz vibrar suas células.

Para Franco (2015) o pensamento não procede do cérebro, sua função é a de registrá-lo e externá-lo. O pensamento é a exteriorização da mente, que independe da matéria e se origina no Espírito. O Espírito expressa o pensamento em todas as direções e utiliza-se do cérebro para comunicar suas ideias com as outras pessoas.

Cerqueira Filho (2010) diz que o pensamento é a estrutura profunda, originado na mente do Espírito, decodificado de uma forma superficial, por meio verbal, que é a mensagem, as palavras usadas para decodificar o pensamento. A energia mental é um atributo do Espírito que, no entanto, necessita do cérebro para se manifestar.

Schubert (2010) explica que, quando se pensa são emitidas vibrações que traduzem os desejos daquele que pensa, tendências e impulsos, vibrações que entram em sintonia com outros que se encontram na mesma faixa. Porque os seres humanos encontram-se imersos num imenso oceano de pensamentos e vibrações, ao qual dá-se nome de psicosfera do planeta.

No livro “Entre a Terra e o Céu” (FEB, 2015) há uma explicação espiritual de que o corpo do Espírito é constituído de matéria rarefeita, sendo regido pelos centros de força que, vibrando em sintonia uns com os outros, com o influxo da mente, criam um campo eletromagnético, no qual o pensamento vibra em um circuito fechado. Assim sendo, cada ser vibra em determinada onda, e, dependendo da mente, maior ou menor será o influxo vibratório do pensamento. Esse influxo está sempre de acordo com as experiências adquiridas e arquivadas no Espírito.

Pires (1995) conceitua mente como um centro espiritual de controle e comunicação, que se manifesta através do cérebro. As ideias e sentimentos são permutadas com pessoas que vivem juntas e com espíritos afins. Ele cita a descoberta da antimatéria e dos universos paralelos, que reforçam essa ideia dizendo que o mundo material e o antimaterial se interpenetram.

Em se tratando de comunicação mediúnica o autor afirma que as vibrações psíquicas do Espírito, irradiadas do seu corpo energético, atingem o corpo energético (períspirito) do médium, estabelecendo-se a empatia entre ambos. Essa indução acontece de forma tão intensa que os pensamentos e as emoções do Espírito refletem-se no comportamento mediúnico.

 

A importância do Pensamento em um Trabalho Mediúnico

Em O Livro dos Espíritos, capítulo IX, de acordo com as informações recebidas, Kardec afirma que os Espíritos influem em nossos pensamentos, de tal forma que há situações em que são eles que nos dirigem. Essa afirmação foi obtida dos próprios Espíritos:

Vossa alma é um Espírito que pensa; não ignorais que muitos pensamentos vos ocorrem, a um só tempo, sobre o mesmo assunto, e frequentemente bastante contraditórios. Pois bem; nesse conjunto há sempre os vossos e os nossos, e é isso o que vos deixa na incerteza, porque tendes em vós duas ideias que se combatem. (KARDEC, 2001).

Kardec (1992) faz uma analogia entre as ondas e raios sonoros existentes no ar, com as ondas e raios de pensamento existentes na substância etérea ou nos fluidos, no qual todo o universo encontra-se imerso. Sendo assim, o pensamento seria capaz de criar imagens fluídicas, que se refletem no envoltório do Espírito, como num vidro. Por isso um Espírito pode “ler” o que o outro está pensando, e ver o que não é perceptível aos olhos do corpo.

Ainda segundo esse autor, os fluidos são influenciados pelo pensamento, podendo estar impregnados de qualidades boas ou más, de acordo com a vibração, pureza ou impureza dos sentimentos. Os fluidos que cercam os maus Espíritos são viciados, enquanto que aqueles que recebem a influência dos bons Espíritos são puros.

O pensamento do Espírito encarnado age sobre os fluidos espirituais como o dos Espíritos desencarnados; ele se transmite de Espírito a Espírito pela mesma via, e, segundo seja bom ou mau, saneia ou vicia os fluidos circundantes. (KARDEC, 1992, p. 249).

A partir dessa afirmativa é importante enfatizar que os fluidos do ambiente são modificados pela projeção dos pensamentos do Espírito. Sendo assim, numa reunião de pessoas são irradiados pensamentos diversos. Se o conjunto é harmonioso, a impressão é agradável, se é discordante, a impressão é penosa.

Kardec (1992) explica também que o homem procura as reuniões homogêneas ou simpáticas, onde sabe que pode haurir novas forças morais, recuperando, inclusive, as perdas fluídicas, que tem pela irradiação diária dos seus pensamentos, assim como recupera, pelos alimentos, as perdas do corpo material.

Cada indivíduo (Kardec, 1989) caminha com um grupo de companheiros invisíveis, de acordo com seu caráter, gostos e comportamento. Quando o médium participa de uma reunião mediúnica, leva consigo esses companheiros que influenciam a assembleia e as comunicações. Por isso o autor reforça que uma reunião perfeita seria aquela em que todos os membros, imbuídos de igual amor ao bem e à caridade, conduzissem com eles os bons Espíritos.

Uma reunião é um ser coletivo, cujas qualidades e propriedades são as resultantes de todas as dos seus membros, e formam como um feixe; ora, esse feixe terá tanto mais força quanto for mais homogêneo. (KARDEC, 1989, p. 392)

Assim, para que uma reunião mediúnica alcance resultados sérios e úteis, deve primar pela homogeneidade de pensamentos. Para isso faz-se mister o recolhimento e a comunhão de pensamentos. Nessas reuniões a afinidade dos pensamentos do médium com o Espírito comunicante é fundamental. Caso contrário, o médium pode alterar as respostas e assimilá-las às suas próprias ideias e inclinações.

 

O Papel do Médium na Qualificação dos Pensamentos

Miranda (1998) esclarece que, embora as reuniões mediúnicas contem com a proteção e o amparo de Espíritos de boa vontade, não se pode esquecer da parte que compete aos encarnados. Segundo ele, o que garante a estabilidade de um bom grupo mediúnico é o equilíbrio psíquico, emocional dos seus membros.

O autor enfatiza o papel do pensamento do médium em seu procedimento diário, porque forma uma “atmosfera psíquica” em volta de cada um. Em consequência disso, o médium deve estar em constante vigilância consigo mesmo e com os seus pensamentos.

Miranda (1998) adverte também que o médium, mais do que qualquer outro, precisa estar vigilante, atento, ligado a algum grupo de trabalho sério, lendo sempre livros doutrinários, observando suas faculdades e se auto corrigindo. Ele é um ser humano ultrassensível, de psicologia complexa, incumbido de interpretar e transmitir o pensamento de um desencarnado, podendo suas faculdades sofrer várias influências.

Xavier e Vieira (1973), sob a inspiração do Espírito André Luiz alertam sobre o fato do desconhecimento, no mundo, da Lei do Campo Mental, que rege a moradia energética do Espírito, possibilitando às criaturas assimilarem as influências afins. Sendo assim, um médium nunca agirá à feição de um autômato, mas como uma consciência limitada às suas possibilidades e às disposições da própria vontade.

Admitida ao círculo da atividade espiritual, recolherá na oração o reflexo condicionado específico para exteriorizar as oscilações mentais próprias, no rumo da entidade desencarnada que mais de perto lhe comungue as ideações. (XAVIER, VIEIRA, 1973, p.132)

Quanto mais o médium se preocupar com o seu aperfeiçoamento e abnegação, com a cultura e o desinteresse, mais lhe serão sutilizados os pensamentos, aguçando as percepções mediúnicas.

Os autores afirmam que a conjugação de ondas mentais surge em todos os fatos mediúnicos. A mente do médium passa a emitir as oscilações que lhe são próprias, às quais se entrosam aquelas da entidade comunicante, com vistas a certos fins.

Quase toda a exteriorização fisiológica no intercâmbio pertence ao médium, cujos traços característicos assinalam as manifestações. O pensamento do médium age e reage com os pensamentos do Espírito comunicante, irradiando para este seu estado psíquico que varia de acordo com seu estado emocional e de conduta a que se afeiçoe.

No estágio atual em que o ser humano se encontra o seu pensamento sempre capta vibrações subalternas que o assaltam, levando-o à fadiga e à irritação. Essas ondas podem vir de Espíritos desencarnados, que se encontram em posição de angústia e que se afinizam com eles ou dos próprios encarnados que se encontrem desequilibrados.

Para isso forçoso é utilizarem-se do mecanismo da prece, para elevar suas próprias vibrações para planos mais sublimados, a fim de recolherem as ideias transformadoras de Espíritos amigos e benevolentes, que contribuem com a evolução de todos os seres.

 

Métodos da Pesquisa

Para a execução dessa pesquisa foi escolhido o método de revisão bibliográfica. Procurou-se, a partir da leitura de livros e artigos a respeito do tema a fundamentação teórica.

Esta metodologia tem caráter qualitativo e apresenta como objetivo selecionar conceitos resultantes de pesquisas, procurando no presente contexto, realizar reflexões sobre o problema em questão.

 

Considerações Finais

Após a leitura de diferentes autores na área pode-se concluir que ainda são necessárias mais pesquisas sobre o tema, pois, os próprios pesquisadores afirmam que o mecanismo de formação dos pensamentos ainda é desconhecido pela ciência, mesmo com os avanços da neurociência nos últimos tempos.

Enquanto a ciência tradicional, cartesiana e reducionista continua explicando o pensamento através do funcionamento dos neurônios e suas conexões (ou sinapses), há outros pesquisadores afirmando que o estudo da mente transcende as estruturas tradicionais da biologia, da psicologia e da epistemologia.

Com o advento da física quântica, novos olhares foram acrescentados à explicação sobre a formação do pensamento. Para essa ciência a mente parece ser a origem de tudo que está manifestado. A partir dessa descoberta admite-se que elementos de dimensões mais sutis possam interferir nos fenômenos físicos. O mundo passa a ser formado, em sua essência, por ondas, permitindo com que todos os corpos emitam e recebam frequências vibratórias.

Para o Espiritismo a mente se origina no Espírito e independe da matéria para se manifestar. O cérebro teria a função de registrá-lo, não de originá-lo. Essa doutrina afirma, ainda, que existe na Terra uma camada formada pelo conjunto de pensamentos e vibrações, denominada psicosfera. As vibrações oriundas do pensamento de cada indivíduo, circulando nessa camada, entrariam em sintonia com outros de mesma faixa vibratória.

Mesmo que a ciência não tenha a resposta final sobre o pensamento, é possível identificar alguns pontos em comum, principalmente no que diz respeito a sua imaterialidade e sua emissão por meio de ondas e vibrações, sendo capaz de sintonizar com outras ondas.

O pensamento, de acordo com o Espiritismo, é capaz de criar imagens fluídicas, que se refletem no envoltório do Espírito, encarnado ou não. Sendo assim, numa reunião de pessoas são irradiados pensamentos diversos. Se o conjunto é harmonioso, a impressão é agradável, se é discordante, a impressão é penosa.

Para a questão formulada nesse artigo, conclui-se que o médium, por formar uma “atmosfera psíquica” em volta de si, deve, por consequência, estar em constante vigilância consigo mesmo e com os seus pensamentos. Cabe aos médiuns procurar ligar-se a algum grupo de trabalho sério, lendo sempre livros doutrinários, observando suas faculdades e se auto corrigindo.

 O médium deve também conscientizar-se de que é um ser humano ultrassensível, de psicologia complexa, incumbido de interpretar e transmitir o pensamento de um desencarnado, podendo suas faculdades sofrer várias influências.

No compromisso de uma atividade espiritual, deve recolher-se na oração e preocupar-se com o seu aperfeiçoamento e abnegação, com a cultura e o desinteresse, para que sejam mais sutilizados os pensamentos, aguçando as percepções mediúnicas. Eis aí a forma, apresentada pelos próprios Espíritos, de se educar os pensamentos para um trabalho mediúnico profícuo.

 

Literatura

§  ANDREETA, José P. e ANDREETA, Maria de Lourdes. Princípios Herméticos comSciência: um compreensível mergulho no mundo quântico em que vivemos e nos conhecimentos milenares sobre o nosso universo. São Paulo: ProLíbera, 2010.

§  CAPRA, F. As Conexões Ocultas: ciência para uma vida sustentável. Trad. Marcelo B. Cipolla. 3ª ed. São Paulo: Cultrix, 2003.

§  CERQUEIRA FILHO, Alírio de. Energia Mental e Autocura. Santo André, SP: EBM Editora, 2010.

§  DENIS, L. O Espiritismo e as forças radiantes. Trad. Cícero Pimentel. 2ª ed. Rio de Janeiro: CELD, 2012.

§  FACURE, Núbor O. O Cérebro e a mente: uma conexão espiritual. São Paulo: FE Editora Jornalística Ltda., 2001

§  FRANCO, D. (Joanna de Ângelis, Espírito). Autodescobrimento: uma busca interior. 17ª ed. Salvador: LEAL, 2015 (série psicológica, vol. 6)

§  GUYTON, Arthur C. e HALL, John E. Fisiologia Médica. Trad. Charles A. Esbérard e outros. 10ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2002.

§  HOYOS GUEVARA, Arnold J.de e DIB, Vitória C. Da sociedade do conhecimento à sociedade da consciência. São Paulo: Saraiva, 2007.

§  JOHNSON, G. Nos palácios da Memória. Trad. Conceição C. Gimenez. São Paulo: Siciliano, 1994

§  KARDEC, A. O Livro dos Médiuns. Trad. Salvador Gentile. 9ª ed. Araras, SP: IDE, 1989.

§  ____________A Gênese: os milagres e as predições segundo o Espiritismo. Trad. Salvador Gentile. Araras, SP: IDE, 1992.

§  ___________ O Livro dos Espíritos. Trad. José Herculano Pires. 62ª ed. São Paulo: LAKE, 2001

§  MALDONATO, Mauro A mente plural: biologia, evolução e cultura. Trad. Roberta Barni. São Paulo: Unimarco, 2006.

§  MIRANDA, Hermínio C. Diálogo com as Sombras: teoria e prática da doutrinação. 12ª ed. Rio de Janeiro: FEB, 1998.

§  ___________________ Alquimia da Mente. 3ª ed. Bragança Paulista, SP: Três de outrubro, 2010.

§  NICOLELIS, Miguel. Muito Além do nosso Eu: a nova neurociência que une cérebro e máquinas e como ela pode mudar nossas vidas. São Paulo: Cia das Letras, 2011.

§  PIRES, J. Herculano. O Espírito e o Tempo: introdução antropológica ao espiritismo. 7ª ed. Sobradinho, DF:: EDICEL, 1995

§  SCHUBERT, Suely Caldas. Os Poderes da Mente. 3ª ed. São Paulo: ed. Bezerra de Menezes, 2010.

§  SOUSA SANTOS, Boaventura. Um discurso sobre as ciências. 4ª ed. São Paulo: Cortez, 2006.

§  XAVIER, Chico e VIEIRA, Valdo. Mecanismos da Mediunidade. 4ª ed. Rio de Janeiro: FEB, 1973.

§  XAVIER, Chico e LUIZ, André (espírito). Entre a Terra e o Céu. 27ª ed. Brasília: FEB, 2015.

§  ZOHAR, Danah O Ser Quântico: uma visão revolucionária da natureza humana e da consciência, baseada na nova física. Trad. Maria Antônia Van Acker 14. ed. São Paulo: Best Seller, 2004.

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