Waldo Vieira nasceu no dia 12 de abril de 1932 em Monte Carmelo, pequeno município do interior de Minas Gerais. Aos 12 anos mudou-se para Uberaba, no mesmo estado, permanecendo no local durante pouco mais de duas décadas, período no qual concluiu a escola básica e cursou duas faculdades: Odontologia e Medicina. Em 1966, transferiu residência para o Rio de Janeiro. No mesmo ano, viajou para o Japão onde especializou-se em Cosmiatria. Em 2000, fixou residência em Foz do Iguaçu. Na cidade paranaense que faz fronteira com Argentina e Paraguai, onde viveu durante 15 anos.
A história de Waldo Vieira é
marcada pela aptidão parapsíquica manifesta desde a primeira infância e pela
dedicação irredutível e pertinaz em examinar o parapsiquismo detalhadamente e
exaustivamente. As pesquisas desenvolvidas durante toda a sua vida, resultaram
no corpus da Conscienciologia, ciência experimental por ele proposta no início
da década de 90.
As experiências parapsíquicas
começaram a ser percebidas quando o garoto tinha apenas 3 anos. A disposição
natural para desenvolver e aprimorar habilidades físico-sensoriais era também
notável desde a infância. Alfabetizado aos 4 anos, já aos 9 o pequeno Waldo era
colecionador de livros, gibis, selos, cartões e objetos, merecendo destaque, dentre
as coleções, a biblioteca, embrião da atual Holoteca que reúne na sua sede, em
Foz do Iguaçu, quase 1 milhão de itens em Bibliotecologia e Museologia.
Para aprender a lidar com as
manifestações parapsíquicas e compreendê-las, os pais recorreram a médiuns
próximos à família, dedicaram-se ao estudo da doutrina Espírita e a participar
de sessões mediúnicas e, para dar conta de atender as demandas da criança
superdotada que interpelava permanentemente os adultos com indagações próprias
de uma mente inquieta, curiosa, de inteligência acima da média. Intelectuais
bibliófilos da cidade abriram as portas das bibliotecas pessoais para alimentar
seu insaciável apetite pelo conhecimento.
Na década marcada pela 2ª Guerra
Mundial, pelos bombardeamentos de Hiroshima e Nagasaki, pelo início da Guerra
Fria, enfim, pela profunda crise internacional que dificultou o acesso, a
produção e a difusão de conhecimento no Brasil; na pequena Monte Carmelo, onde
os recursos da educação regular eram ainda mais limitados, o suporte da mãe,
professora primária, e dos homens e mulheres de letras, foram a garantia para a
excelência na formação educacional e cultural do menino.
Dos 12 aos 26 anos, Waldo viveu
em Uberaba, morou no Colégio do Triângulo Mineiro onde trabalhava para custear
seus estudos e estadia. No educandário, o adolescente, longe da família, começa
a dedicar as noites e os finais de semana ao exercício da psicografia e à
investigação de fenômenos extrassensoriais de forma organizada e regular,
momentos esses em que a escola funcionava ao modo de um laboratório de
experimentação, registro, sistematização e evidenciação das ocorrências
parapsíquicas.
Aos 14 anos, já havia arrolado
mais de 200 fenômenos, dentre eles a projeção consciente. Os estudos estartados
na puberdade, aprofundados continuamente nas décadas seguintes, fundamentaram a
Projeciologia, ciência que estuda a experiência fora do corpo e outros
fenômenos parapsíquicos, proposta por Waldo Vieira em 1981, através da
publicação do tratado Projeciologia: Panorama das Experiências da
Consciência fora do Corpo Humano.
As atividades mediúnicas
iniciadas aos 15 anos no Centro Espírita Casa do Cinza, assim como sua
participação dentre as lideranças da Mocidade Espírita Cristã, revestem a
relação de Waldo Vieira com o Espiritismo de um caráter formal que fora
acentuado mais tarde na ocasião do encontro com Chico
Xavier e dos feitos resultantes de uma década de parceria (1955-1966).
Waldo levou Chico Xavier do município de Pedro Leopoldo para Uberaba, deu
início a urbanização do bairro Parque das Américas, construiu a casa onde ele e
Chico moraram por 7 anos, inaugurou o Centro Comunhão Espírita Cristã e
implantou a clínica médica gratuita na qual atendia aproximadamente uma centena
de pessoas por dia. Das 26 obras espíritas publicadas por Waldo, 18 foram
psicografadas com Chico Xavier. Também juntos desenvolveram inúmeras campanhas
de arrecadação e distribuição de donativos e realizaram várias viagens
nacionais e internacionais para difusão do Espiritismo.
A trajetória de Waldo no
Espiritismo constituiu-se em verdadeira pesquisa social aplicada. Atendeu
milhares de pessoas, examinou caso a caso os dilemas presentes no cotidiano de
indivíduos, famílias e grupos, a maioria pertencente a comunidades de baixa
renda, configurando um vasto repertório fatuístico das situações, contextos e
contingências envolvendo perfis humanos, comportamentos e demandas daquelas
populações. Pessoas de todos os estados brasileiros deslocavam-se para Uberaba
em busca de apoio. As condições precárias, necessidades e privações de toda
ordem exigiam dedicação integral. É provável que este tenha sido um dos
períodos em que o trabalho voluntário assistencial, praticado por Waldo Vieira
durante toda a vida, tenha atingido avultante contingente populacional.
Waldo estendeu o período
planejado para ajudar Chico Xavier de 6 para 10 anos. Ao ingressar no
Espiritismo já sabia da dificuldade de conciliar sua propensão à abordagem
científica dos fatos e fenômenos parapsíquicos com os dominantes interesses
religiosos da doutrina. As práticas assistencialistas do Espiritismo, a devoção
a Jesus Cristo, às “entidades” e a aura de benevolência cultivada por Chico
Xavier, o mensageiro dos espíritos, mantiveram-se proeminentes em relação à
implantação de projetos destinados à educação, desenvolvimento e qualificação
parapsíquica.
As experiências e estudos
começados na infância e, desde então, jamais interrompidos, por duas décadas,
foram levados de eito, intercalados com as demais frentes de incessante atuação
no movimento espírita, verdadeira roda-viva. Após seu desligamento do
Espiritismo, em 1966, Waldo passa a morar no Rio de Janeiro. Na capital
carioca, dedica duas décadas à organização dos achados investigativos
acumulados até então, incrementa as fontes de pesquisa, sistematiza o
conhecimento processado e publica em 1986, o primeiro tratado, Projeciologia:
Panorama das Experiências da Consciência fora do Corpo Humano. No ano de
1994, lança o segundo tratado, 700 Experimentos da Conscienciologia. As
duas obras reúnem os fundamentos teóricos e os procedimentos
técnico-metodológicos que apresentam a Conscienciologia como ciência
experimental.
Em 1981, 5 anos antes do
lançamento do tratado Projeciologia, Waldo publica o livro Projeções da
Consciência: Diário de Experiências da Consciência fora do Corpo Físico a
fim de introduzir a neociência, instaurando e estendendo as discussões e
debates sobre o tema. No mesmo ano, abre as portas da própria casa a
pesquisadores interessados no assunto. A reunião sistemática deste grupo de
estudiosos resulta na implantação do Centro de Consciência Contínua – CCC.
Em 1988, Waldo funda o Instituto
Internacional de Projeciologia – IIP, atual Instituto Internacional de
Projeciologia e Conscienciologia – IIPC, e institucionaliza a ciência. O IIPC,
primeira e mais antiga das atuais 25 instituições que representam
especialidades da Conscienciologia, funciona desde a sua implantação
administrando centros educacionais, localizados nas principais cidades
brasileiras e em alguns polos internacionais, dedicados ao ensino
teórico-prático do Paradigma Consciencial. Do final da década de 80 até meados
de 2000, Waldo participou de palestras, debates, fóruns, cursos e congressos
realizados dentro e fora do Brasil, divulgando a Conscienciologia. Apesar de a
agenda transbordar compromissos, mantinha as pesquisas, a escrita, a publicação
de livros e os atendimentos ao público e aos voluntários como atividades
regulares.
Em 1995, é fundado em Foz do
Iguaçu, o Centro de Altos Estudos da Conscienciologia – CEAEC, o primeiro dos
atuais 5 campi da Conscienciologia,
construído e mantido por voluntários com a finalidade de acolher e
oferecer aos pesquisadores interessados na produção de ideias de vanguarda,
ambiente favoravelmente otimizado para o livre exercício intelectual e
parapsíquico.
A implantação do CEAEC dá início
ao Bairro Cognópolis, proposto por Waldo Vieira para assentamento gradual da
comunidade conscienciológica.
Em janeiro de 2000, Waldo fixa
residência no Campus CEAEC onde inscreve seu mais audacioso projeto, a Enciclopédia
da Conscienciologia. A obra monumental, composta de 30 volumes, com
aproximadamente 5.700 verbetes escritos (data-base agosto 2021) conta com a
colaboração de mais de 1.700 verbetógrafos que escrevem e defendem verbetes
diariamente nas Tertúlias da Conscienciologia. Paralelamente à produção da
Enciclopédia, Waldo publicou 5 tratados científicos: Homo sapiens
reurbanisatus (2003), Homo sapiens pacificus (2007), Dicionário
de Argumentos da Conscienciologia (2011), Dicionário de Neologismos da
Conscienciologia (2014) e Léxico
de Ortopensatas – 2 vols. (2014). As obras de referência da Conscienciologia
– 5 tradados, 2 dicionários e a enciclopédia – ultrapassavam, em 2015, a marca
das 30 mil páginas. Além destas edições, consideradas clássicos da
Conscienciologia, escreveu mais 16 livros conscienciológicos. Foi incluído nas
publicações Who’s Who in the 21st Century e Dictionary of
International Biography organizadas pela instituição inglesa International
Biographical Centre.
De novembro de 2002 a 11.06.2013
Waldo ministrou tertúlias à tarde e, de 26.05.2012 a 07.06.2015, realizou
tertúlias matinais, ambas abertas ao público. As tertúlias da tarde,
transmitidas online pela Internet, surgiram para abordar temas avançados da
Conscienciologia, garantindo a discutibilidade e o diálogo crítico necessários
ao avanço da ciência e à democratização de saberes. Já as tertúlias matinais
eram voltadas a questões de atualidade abarcando experiências parapsíquicas
cotidianas do professor e dos demais integrantes da comunidade.
Em abril de 2012, Waldo propõe o
Círculo Mentalsomático vindo a participar de 160 edições do evento semanal que
reúne para debate no Tertuliarium, aos sábados pela manhã, autores, autorandos
e demais interessados no intercâmbio de ideias e pesquisas e nas discussões
sobre temas e sentidos da escrita.
Trata-se de pesquisador que
incorporou numerosos e distintos territórios, conjunturas, pessoas e grupos em
seu repertório evolutivo. Jamais desperdiçou oportunidades. Na vida, planejou
tudo o que pode, mas sempre ressaltou que nada é absolutamente previsível,
razão pela qual considerava imprevistos como circunstâncias esperadas. Sempre
entendeu a fração fortuita e eventual que escapa ao planejamento, como
realidade inerente a programação de vida, admitindo e recebendo as
intercorrências como parte da trajetória evolutiva, necessária à qualificação
da flexibilidade, maleabilidade, adaptabilidade e compreensibilidade da
consciência.
A rara e singular capacidade de
Waldo estabelecer convergência na administração das atividades e ocupações do
dia a dia lhe permitia atender a tudo e a todos na prática cotidiana e
ininterrupta da tarefa do esclarecimento, mantendo-se integralmente focado no
propósito de estudar a consciência.
Ao designar a consciência como
objeto de investigação científica, enfrentou a impossibilidade de estudar
fenômenos extrafísicos com limitados parâmetros intrafísicos e decidiu romper
com a histórica dicotomia que separa a realidade em 2 mundos (intra e
extrafísico), criando bases teóricas (teses), filosóficas (princípios),
metodológicas (pesquisas) e tecnológicas (técnicas) da Conscienciologia,
paradigma capaz de abarcar realidades e sujeitos extrafísicos como universo de
pesquisa.
Na qualidade de pesquisador
independente, combateu de forma veemente o academicismo, a indústria
mercantilista das publicações, o lobby das corporações editoriais, as técnicas
ciensciométricas utilizadas para o ranqueamento dos cientistas e dos periódicos
científicos que estão a promover e a fomentar práticas como autoplágio,
coautorias negociadas e compadrios de citações dentre outras. Waldo defendeu o pensamento
livre, ético e responsável tendo como expressão a pesquisa exaustiva, ampla,
complexa e cosmovisiológica comprometida com a evolução das consciências e dos
ecossistemas a que pertencem. Pautou sua produção científica tendo em vista
este propósito e doou o patrimônio intelectual e material (bens culturais) de
uma vida inteira às instituições que criou para este fim.
Em uma sociedade marcada pelo
individualismo e pelo materialismo que ameaçam à sociabilidade e os laços de
solidariedade e cooperação sociais, Waldo elegeu a interassistencialidade, o
voluntariado e a vida em comunidade como o ambiente da ciência e do
conhecimento conscienciológico, comprometido com a construção de um mundo mais
fraterno, pacífico, justo e equitativo onde a inteligência evolutiva norteia a
produção e a reflexão científicas promovendo diálogos e aproximações
colaborativas entre pessoas e entre saberes.
Das primeiras manifestações de
autodidatismo na infância, chegando à prematura iniciação científica na
puberdade, atingindo a polimatia parapsíquica ainda na juventude, à
consolidação e sistematização de uma neociência capaz de abarcar a consciência
como objeto de pesquisa, não houve qualquer descontinuidade. O cientista da
consciência, Waldo Vieira, dedicou toda a vida à Conscienciologia.
Em 11 de junho, de 2015, na
cidade de São Paulo, Waldo foi submetido a uma cirurgia programada, de
revascularização miocárdia. Dia 25, já em processo de recuperação em Foz do
Iguaçu, foi hospitalizado para tratar derrame pleural, ocasião em que houve a
drenagem do líquido acumulado no pulmão e o problema foi contornado.
Entretanto, na madrugada do dia 26, sofreu o acidente vascular cerebral (AVC)
considerado irreversível. Dessomou em 02 de julho de 2015.
O vasto legado de Waldo Vieira é
o consistente, vigoroso e inspirador conjunto de ideias concretizadas em
monumentos construídos materialmente e energeticamente, prédios e espaços
consolidados na criação do Bairro Cognópolis em Foz do Iguaçu, porém, sobretudo
concretizadas através de obras registradas por escrito ainda para serem
exploradas plenamente. Além disso, Waldo tornou sua vida exemplo de coerência,
expondo claramente a abnegação com a qual encarava os propósitos existenciais,
de modo criativo, curioso, detalhista, exaustivo e incansável, resultando em
incessante produtividade. Evidenciou no dia a dia como é possível viver com
lucidez e discernimento, acolhendo a todos com infindável paciência,
pacificação e fraternidade, demonstrando na prática o conceito de amizade
raríssima.
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