segunda-feira, 21 de novembro de 2022

WALDO VIEIRA[1]

 

 

            Waldo Vieira nasceu no dia 12 de abril de 1932 em Monte Carmelo, pequeno município do interior de Minas Gerais. Aos 12 anos mudou-se para Uberaba, no mesmo estado, permanecendo no local durante pouco mais de duas décadas, período no qual concluiu a escola básica e cursou duas faculdades: Odontologia e Medicina. Em 1966, transferiu residência para o Rio de Janeiro. No mesmo ano, viajou para o Japão onde especializou-se em Cosmiatria. Em 2000, fixou residência em Foz do Iguaçu. Na cidade paranaense que faz fronteira com Argentina e Paraguai, onde viveu durante 15 anos.

A história de Waldo Vieira é marcada pela aptidão parapsíquica manifesta desde a primeira infância e pela dedicação irredutível e pertinaz em examinar o parapsiquismo detalhadamente e exaustivamente. As pesquisas desenvolvidas durante toda a sua vida, resultaram no corpus da Conscienciologia, ciência experimental por ele proposta no início da década de 90.

As experiências parapsíquicas começaram a ser percebidas quando o garoto tinha apenas 3 anos. A disposição natural para desenvolver e aprimorar habilidades físico-sensoriais era também notável desde a infância. Alfabetizado aos 4 anos, já aos 9 o pequeno Waldo era colecionador de livros, gibis, selos, cartões e objetos, merecendo destaque, dentre as coleções, a biblioteca, embrião da atual Holoteca que reúne na sua sede, em Foz do Iguaçu, quase 1 milhão de itens em Bibliotecologia e Museologia.

Para aprender a lidar com as manifestações parapsíquicas e compreendê-las, os pais recorreram a médiuns próximos à família, dedicaram-se ao estudo da doutrina Espírita e a participar de sessões mediúnicas e, para dar conta de atender as demandas da criança superdotada que interpelava permanentemente os adultos com indagações próprias de uma mente inquieta, curiosa, de inteligência acima da média. Intelectuais bibliófilos da cidade abriram as portas das bibliotecas pessoais para alimentar seu insaciável apetite pelo conhecimento.

Na década marcada pela 2ª Guerra Mundial, pelos bombardeamentos de Hiroshima e Nagasaki, pelo início da Guerra Fria, enfim, pela profunda crise internacional que dificultou o acesso, a produção e a difusão de conhecimento no Brasil; na pequena Monte Carmelo, onde os recursos da educação regular eram ainda mais limitados, o suporte da mãe, professora primária, e dos homens e mulheres de letras, foram a garantia para a excelência na formação educacional e cultural do menino.

Dos 12 aos 26 anos, Waldo viveu em Uberaba, morou no Colégio do Triângulo Mineiro onde trabalhava para custear seus estudos e estadia. No educandário, o adolescente, longe da família, começa a dedicar as noites e os finais de semana ao exercício da psicografia e à investigação de fenômenos extrassensoriais de forma organizada e regular, momentos esses em que a escola funcionava ao modo de um laboratório de experimentação, registro, sistematização e evidenciação das ocorrências parapsíquicas.

Aos 14 anos, já havia arrolado mais de 200 fenômenos, dentre eles a projeção consciente. Os estudos estartados na puberdade, aprofundados continuamente nas décadas seguintes, fundamentaram a Projeciologia, ciência que estuda a experiência fora do corpo e outros fenômenos parapsíquicos, proposta por Waldo Vieira em 1981, através da publicação do tratado Projeciologia: Panorama das Experiências da Consciência fora do Corpo Humano.

As atividades mediúnicas iniciadas aos 15 anos no Centro Espírita Casa do Cinza, assim como sua participação dentre as lideranças da Mocidade Espírita Cristã, revestem a relação de Waldo Vieira com o Espiritismo de um caráter formal que fora acentuado mais tarde na ocasião do encontro com Chico Xavier e dos feitos resultantes de uma década de parceria (1955-1966). Waldo levou Chico Xavier do município de Pedro Leopoldo para Uberaba, deu início a urbanização do bairro Parque das Américas, construiu a casa onde ele e Chico moraram por 7 anos, inaugurou o Centro Comunhão Espírita Cristã e implantou a clínica médica gratuita na qual atendia aproximadamente uma centena de pessoas por dia. Das 26 obras espíritas publicadas por Waldo, 18 foram psicografadas com Chico Xavier. Também juntos desenvolveram inúmeras campanhas de arrecadação e distribuição de donativos e realizaram várias viagens nacionais e internacionais para difusão do Espiritismo.

A trajetória de Waldo no Espiritismo constituiu-se em verdadeira pesquisa social aplicada. Atendeu milhares de pessoas, examinou caso a caso os dilemas presentes no cotidiano de indivíduos, famílias e grupos, a maioria pertencente a comunidades de baixa renda, configurando um vasto repertório fatuístico das situações, contextos e contingências envolvendo perfis humanos, comportamentos e demandas daquelas populações. Pessoas de todos os estados brasileiros deslocavam-se para Uberaba em busca de apoio. As condições precárias, necessidades e privações de toda ordem exigiam dedicação integral. É provável que este tenha sido um dos períodos em que o trabalho voluntário assistencial, praticado por Waldo Vieira durante toda a vida, tenha atingido avultante contingente populacional.  

Waldo estendeu o período planejado para ajudar Chico Xavier de 6 para 10 anos. Ao ingressar no Espiritismo já sabia da dificuldade de conciliar sua propensão à abordagem científica dos fatos e fenômenos parapsíquicos com os dominantes interesses religiosos da doutrina. As práticas assistencialistas do Espiritismo, a devoção a Jesus Cristo, às “entidades” e a aura de benevolência cultivada por Chico Xavier, o mensageiro dos espíritos, mantiveram-se proeminentes em relação à implantação de projetos destinados à educação, desenvolvimento e qualificação parapsíquica.

As experiências e estudos começados na infância e, desde então, jamais interrompidos, por duas décadas, foram levados de eito, intercalados com as demais frentes de incessante atuação no movimento espírita, verdadeira roda-viva. Após seu desligamento do Espiritismo, em 1966, Waldo passa a morar no Rio de Janeiro. Na capital carioca, dedica duas décadas à organização dos achados investigativos acumulados até então, incrementa as fontes de pesquisa, sistematiza o conhecimento processado e publica em 1986, o primeiro tratado, Projeciologia: Panorama das Experiências da Consciência fora do Corpo Humano. No ano de 1994, lança o segundo tratado, 700 Experimentos da Conscienciologia. As duas obras reúnem os fundamentos teóricos e os procedimentos técnico-metodológicos que apresentam a Conscienciologia como ciência experimental.

Em 1981, 5 anos antes do lançamento do tratado Projeciologia, Waldo publica o livro Projeções da Consciência: Diário de Experiências da Consciência fora do Corpo Físico a fim de introduzir a neociência, instaurando e estendendo as discussões e debates sobre o tema. No mesmo ano, abre as portas da própria casa a pesquisadores interessados no assunto. A reunião sistemática deste grupo de estudiosos resulta na implantação do Centro de Consciência Contínua – CCC.

Em 1988, Waldo funda o Instituto Internacional de Projeciologia – IIP, atual Instituto Internacional de Projeciologia e Conscienciologia – IIPC, e institucionaliza a ciência. O IIPC, primeira e mais antiga das atuais 25 instituições que representam especialidades da Conscienciologia, funciona desde a sua implantação administrando centros educacionais, localizados nas principais cidades brasileiras e em alguns polos internacionais, dedicados ao ensino teórico-prático do Paradigma Consciencial. Do final da década de 80 até meados de 2000, Waldo participou de palestras, debates, fóruns, cursos e congressos realizados dentro e fora do Brasil, divulgando a Conscienciologia. Apesar de a agenda transbordar compromissos, mantinha as pesquisas, a escrita, a publicação de livros e os atendimentos ao público e aos voluntários como atividades regulares.

Em 1995, é fundado em Foz do Iguaçu, o Centro de Altos Estudos da Conscienciologia – CEAEC, o primeiro dos atuais 5 campi da Conscienciologia,  construído e mantido por voluntários com a finalidade de acolher e oferecer aos pesquisadores interessados na produção de ideias de vanguarda, ambiente favoravelmente otimizado para o livre exercício intelectual e parapsíquico.

A implantação do CEAEC dá início ao Bairro Cognópolis, proposto por Waldo Vieira para assentamento gradual da comunidade conscienciológica.

Em janeiro de 2000, Waldo fixa residência no Campus CEAEC onde inscreve seu mais audacioso projeto, a Enciclopédia da Conscienciologia. A obra monumental, composta de 30 volumes, com aproximadamente 5.700 verbetes escritos (data-base agosto 2021) conta com a colaboração de mais de 1.700 verbetógrafos que escrevem e defendem verbetes diariamente nas Tertúlias da Conscienciologia. Paralelamente à produção da Enciclopédia, Waldo publicou 5 tratados científicos: Homo sapiens reurbanisatus (2003), Homo sapiens pacificus (2007), Dicionário de Argumentos da Conscienciologia (2011), Dicionário de Neologismos da Conscienciologia  (2014) e Léxico de Ortopensatas – 2 vols. (2014). As obras de referência da Conscienciologia – 5 tradados, 2 dicionários e a enciclopédia – ultrapassavam, em 2015, a marca das 30 mil páginas. Além destas edições, consideradas clássicos da Conscienciologia, escreveu mais 16 livros conscienciológicos. Foi incluído nas publicações Who’s Who in the 21st Century e Dictionary of International Biography organizadas pela instituição inglesa International Biographical Centre.

De novembro de 2002 a 11.06.2013 Waldo ministrou tertúlias à tarde e, de 26.05.2012 a 07.06.2015, realizou tertúlias matinais, ambas abertas ao público. As tertúlias da tarde, transmitidas online pela Internet, surgiram para abordar temas avançados da Conscienciologia, garantindo a discutibilidade e o diálogo crítico necessários ao avanço da ciência e à democratização de saberes. Já as tertúlias matinais eram voltadas a questões de atualidade abarcando experiências parapsíquicas cotidianas do professor e dos demais integrantes da comunidade.

Em abril de 2012, Waldo propõe o Círculo Mentalsomático vindo a participar de 160 edições do evento semanal que reúne para debate no Tertuliarium, aos sábados pela manhã, autores, autorandos e demais interessados no intercâmbio de ideias e pesquisas e nas discussões sobre temas e sentidos da escrita.

Trata-se de pesquisador que incorporou numerosos e distintos territórios, conjunturas, pessoas e grupos em seu repertório evolutivo. Jamais desperdiçou oportunidades. Na vida, planejou tudo o que pode, mas sempre ressaltou que nada é absolutamente previsível, razão pela qual considerava imprevistos como circunstâncias esperadas. Sempre entendeu a fração fortuita e eventual que escapa ao planejamento, como realidade inerente a programação de vida, admitindo e recebendo as intercorrências como parte da trajetória evolutiva, necessária à qualificação da flexibilidade, maleabilidade, adaptabilidade e compreensibilidade da consciência.

A rara e singular capacidade de Waldo estabelecer convergência na administração das atividades e ocupações do dia a dia lhe permitia atender a tudo e a todos na prática cotidiana e ininterrupta da tarefa do esclarecimento, mantendo-se integralmente focado no propósito de estudar a consciência.

Ao designar a consciência como objeto de investigação científica, enfrentou a impossibilidade de estudar fenômenos extrafísicos com limitados parâmetros intrafísicos e decidiu romper com a histórica dicotomia que separa a realidade em 2 mundos (intra e extrafísico), criando bases teóricas (teses), filosóficas (princípios), metodológicas (pesquisas) e tecnológicas (técnicas) da Conscienciologia, paradigma capaz de abarcar realidades e sujeitos extrafísicos como universo de pesquisa.

Na qualidade de pesquisador independente, combateu de forma veemente o academicismo, a indústria mercantilista das publicações, o lobby das corporações editoriais, as técnicas ciensciométricas utilizadas para o ranqueamento dos cientistas e dos periódicos científicos que estão a promover e a fomentar práticas como autoplágio, coautorias negociadas e compadrios de citações dentre outras. Waldo defendeu o pensamento livre, ético e responsável tendo como expressão a pesquisa exaustiva, ampla, complexa e cosmovisiológica comprometida com a evolução das consciências e dos ecossistemas a que pertencem. Pautou sua produção científica tendo em vista este propósito e doou o patrimônio intelectual e material (bens culturais) de uma vida inteira às instituições que criou para este fim.

Em uma sociedade marcada pelo individualismo e pelo materialismo que ameaçam à sociabilidade e os laços de solidariedade e cooperação sociais, Waldo elegeu a interassistencialidade, o voluntariado e a vida em comunidade como o ambiente da ciência e do conhecimento conscienciológico, comprometido com a construção de um mundo mais fraterno, pacífico, justo e equitativo onde a inteligência evolutiva norteia a produção e a reflexão científicas promovendo diálogos e aproximações colaborativas entre pessoas e entre saberes.

Das primeiras manifestações de autodidatismo na infância, chegando à prematura iniciação científica na puberdade, atingindo a polimatia parapsíquica ainda na juventude, à consolidação e sistematização de uma neociência capaz de abarcar a consciência como objeto de pesquisa, não houve qualquer descontinuidade. O cientista da consciência, Waldo Vieira, dedicou toda a vida à Conscienciologia.

Em 11 de junho, de 2015, na cidade de São Paulo, Waldo foi submetido a uma cirurgia programada, de revascularização miocárdia. Dia 25, já em processo de recuperação em Foz do Iguaçu, foi hospitalizado para tratar derrame pleural, ocasião em que houve a drenagem do líquido acumulado no pulmão e o problema foi contornado. Entretanto, na madrugada do dia 26, sofreu o acidente vascular cerebral (AVC) considerado irreversível. Dessomou em 02 de julho de 2015.

O vasto legado de Waldo Vieira é o consistente, vigoroso e inspirador conjunto de ideias concretizadas em monumentos construídos materialmente e energeticamente, prédios e espaços consolidados na criação do Bairro Cognópolis em Foz do Iguaçu, porém, sobretudo concretizadas através de obras registradas por escrito ainda para serem exploradas plenamente. Além disso, Waldo tornou sua vida exemplo de coerência, expondo claramente a abnegação com a qual encarava os propósitos existenciais, de modo criativo, curioso, detalhista, exaustivo e incansável, resultando em incessante produtividade. Evidenciou no dia a dia como é possível viver com lucidez e discernimento, acolhendo a todos com infindável paciência, pacificação e fraternidade, demonstrando na prática o conceito de amizade raríssima.

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