quinta-feira, 1 de dezembro de 2022

INFERIORIDADE MORAL[1]

 

Cândido Portinari - Enterro


Miramez

 

De onde pode vir, para certas pessoas, o desejo de serem enterradas antes num lugar do que noutro? Voltam a ele com mais satisfação, após a morte? E essa importância dada a uma coisa material é sinal de inferioridade do Espírito?

− Afeição do Espírito por certos lugares: inferioridade moral. O que representa um pedaço de terra, mais do que outro, para o Espírito elevado? Não sabe ele que a sua alma se reunirá aos que ama, mesmo que os seus ossos estejam separados?

A reunião dos despojos mortais de todos os membros de uma família deve ser considerada como futilidade?

− Não. É um costume piedoso e um testemunho de simpatia pelos entes amados. Se essa reunião pouco representa para os Espíritos, é útil para os homens: suas recordações se concentram melhor.

Questão 325/O Livro dos Espíritos

 

Muitos e muitos Espíritos encarnados, quando percebem a aproximação da desencarnação, desejam que seus corpos sejam enterrados em tal ou qual lugar, principalmente onde nasceram. Isso caracteriza a condição espiritual de quem se aproxima do túmulo. O corpo é corpo e não retém o Espírito junto a si. Depois que esse deixa a veste física, ele volta para o meio de onde veio, a mãe natureza, e vai servir em outras áreas como manda o progresso.

Quanto a reunir todos os restos mortais de uma família em determinado lugar, é inspiração do amor limitado dos que lhes foram entes queridos. Convém notar que esse gesto não interfere na evolução do Espírito imortal. São laços que estão ligados aos velhos costumes, que é preciso sejam desatados por novas filosofias. A verdade, disse Jesus, liberta. Devemos todos conhecê-la, para nos tornarmos livres.

O Espírito elevado sabe que os Espíritos que lhe foram antepassados não estão ligados aos restos mortais nem moram em cemitérios. Para que inspirar os encarnados para ajuntarem os ossos de todos os familiares que passaram para o mundo dos Espíritos? Trasladar simplesmente ossos de um lugar para outro nada significa para o sossego dos Espíritos que foram ocupantes daqueles corpos, que necessitam, acima de tudo, de harmonia espiritual.

Pela lei da reencarnação, sabemos que um Espírito já usou muitos corpos. Certamente que, se esse fosse o caminho para a sua felicidade, justo seria reunir todos eles em um só lugar.

O Espiritismo, codificado por Allan Kardec, veio para ajudar os homens e os próprios Espíritos desencarnados na educação espiritual. As suas mensagens, quando inspiradas no Cristo, despertam a alma para a luz de todos os entendimentos, de maneira que encontramos o que procuramos dentro de nós. Jesus já falava que o céu está dentro de nós.

Verdadeiramente, a nossa felicidade é interna, porque é no mundo íntimo que construímos a nossa paz eterna, aquela onde não falta o trabalho com amor. Os nossos sentimentos, para que sejam nobres, na nobreza do amor, haverão de ter analogia com os sentimentos do Mestre Jesus, e a similitude com o Evangelho. Dessa maneira, o Espírito começa a mostrar a sua liberdade sem negar e esquecer seus deveres para com a sua própria consciência.

Quando falamos que o Espírito não sente felicidade quando os encarnados fazem tudo para ajuntar os restos mortais, tratamos de Espíritos elevados, que não atribuem importância maior ao fato, pois o seu amor é universal. Somos filhos do mesmo Deus e irmãos uns dos outros, na plenitude do amor.

Aqueles que vivem de recordações ficam paralisados no tempo e no espaço. A canção que diz que “recordar é viver” não esclarece que depende do que recordarmos. Recordar as ideias luminosas dos grandes astros que passaram pela Terra nos faz bem, assim como se copiamos seus grandes feitos. Não podemos ignorar que o apego aos bens materiais e aos restos mortais de parentes e amigos é inferioridade moral. Livremo-nos disso o quanto antes, para que possamos subir mais um degrau na escala espiritual e ter olhos para ver e sentir as leis que dirigem e orientam todos.

Repetir Jesus é muito bom para nós. Vejamos o que Ele nos disse, com toda a propriedade moral:

Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo.

(Mateus, 22, 37:40).

Toda a lei e os profetas estão contidos nesses dois mandamentos. O resto vem por acréscimo de misericórdia.



[1] Filosofia Espírita – Volume 7 – João Nunes Maia

Nenhum comentário:

Postar um comentário