terça-feira, 30 de junho de 2020

A LEI HUMANA[1]


INSTRUÇÃO DO ESPÍRITO BONNAMY, PAI



A lei humana, como todas as coisas, está submetida ao progresso; progresso lento, insensível, mas constante.
Por mais admiráveis que sejam, para certas pessoas, as legislações antigas dos gregos e dos romanos, são muito inferiores às que governam as populações adiantadas de vossa época!

Com efeito, que vemos na origem de todos os povos?
– Um código de usos e costumes tirando a sua sanção da força e tendo por motor o mais absoluto egoísmo.
Qual o objetivo de todos os legisladores primitivos?
– Destruir o mal e seus instrumentos, para maior paz da sociedade.
Preocupam-se com o criminoso?
– Não.
Ferem-no para corrigi-lo e lhe mostrar a necessidade de uma conduta mais moderada em relação aos seus concidadãos? Têm em vista o seu melhoramento?
– De modo algum; é exclusivamente para preservar a sociedade de seus ataques, sociedade egoísta, que rejeita impiedosamente de seu seio tudo quanto possa perturbar a sua tranquilidade. Assim, todas as repressões são excessivas e a morte é, geralmente, a pena mais aplicada.

Isto é concebível quando se considera a ligação íntima que existe entre a lei e o princípio religioso. Ambos avançam concordes para um objetivo único, amparando-se mutuamente.

Consagra a religião os prazeres materiais e todas as satisfações dos sentidos?
‒ A lei dura e excessiva fere o criminoso para livrar a sociedade de um hóspede importuno.
A religião se transforma, consagra a vida da alma e sua independência da matéria?
‒ Ela reage imediatamente sobre a legislação, demonstra-lhe a responsabilidade que lhe incumbe, no futuro, do violador da lei. Daí a assistência do ministro, seja qual for, nos últimos momentos do condenado. Ainda o ferem, mas já se preocupam com este ser que não morre inteiramente com o seu corpo, e cuja parte espiritual vai receber o castigo que os homens infligiram ao elemento material.

Na Idade Média e desde a era cristã, a legislação recebe do princípio religioso uma influência cada vez mais notável. Ela perde pouco de sua crueldade, mas seus móveis, ainda absolutos e cruéis, mudaram completamente de direção.
Assim como a ciência, a filosofia e a política, a jurisprudência tem suas revoluções, que não se devem operar senão lentamente, para serem aceitas pela generalidade dos seres a quem interessam. Uma nova instituição, para dar frutos, não deve ser imposta. A arte do legislador é preparar os espíritos de maneira a fazê-la desejar e considerar como um benefício... Todo inovador, por melhores que sejam as boas intenções que o animem, por mais louváveis os seus desígnios, será considerado como um déspota, cujo jugo é preciso sacudir, se quiser impor-se, ainda mesmo que por benefícios.  
Por seu princípio, o homem é essencialmente livre e quer aceitar sem constrangimento. Daí as dificuldades que encontram os homens muito avançados para o seu tempo; daí as perseguições com que são esmagados. Vivendo no futuro, com um século ou dois de avanço sobre a massa de seus contemporâneos, não podem senão fracassar e quebrar-se contra a rotina refratária.
Na Idade Média, portanto, já se preocupavam com o futuro do criminoso. Pensavam em sua alma e, para levá-la ao arrependimento, amedrontavam-na com os castigos do inferno, com as chamas eternas que, por um arrastamento culposo, lhe infligiria um Deus infinitamente justo e infinitamente bom!
Não podendo elevar-se à altura de Deus, os homens, para se engrandecer, o rebaixavam às suas mesquinhas proporções! Inquietavam-se com o futuro do criminoso! Pensavam em sua alma, não por ela própria, mas em virtude de uma nova transformação do egoísmo, que consistia em pôr a consciência em repouso, reconciliando o pecador com o seu Deus.
Pouco a pouco, no coração e no pensamento de um pequeno número, a iniquidade de semelhante sistema pareceu evidente. Eminentes espíritos tentaram modificações prematuras, mas que, no entanto, deram fruto, estabelecendo precedentes sobre os quais se baseia a transformação que hoje se realiza em todas as coisas.
Sem dúvida por muito tempo ainda, a lei será repressiva e castigará os culpados. Ainda não chegamos ao momento em que só a consciência da falta será o mais cruel castigo de quem a cometeu. Mas, como vedes todos os dias, as penas se abrandam; tem-se em vista a moralização do ser; criam-se instituições para preparar a sua renovação moral; tornam a sua desonra útil a si próprio e à sociedade. O criminoso não será mais a fera a ser expurgada do mundo a qualquer preço; será a criança extraviada cujo raciocínio, falseado pelas más paixões e pela influência de um meio perverso, deve ser corrigido!
Ah! O magistrado e o juiz não são os únicos responsáveis e os únicos a agir neste caso. Todo homem de coração, príncipe, senador, jornalista, romancista, legislador, professor e artesão, todos devem pôr a mão na obra e trazer o seu óbolo para a regeneração da Humanidade.
A pena de morte, vestígio infamante da crueldade antiga, desaparecerá pela força das coisas. A repressão, necessária no estado atual, abrandar-se-á paulatinamente e, em algumas gerações, a única condenação, a colocação fora da lei de um ser inteligente, será o último grau da infâmia, até que, de transformação em transformação, a consciência de cada um fique como único juiz e carrasco do criminoso.
E a quem se deverá todo esse trabalho? Ao Espiritismo que, desde o começo do mundo, age por suas revelações sucessivas, como mosaísmo, cristianismo e espiritismo propriamente dito! Por toda parte, em cada período, sua benéfica influência brilha a todos os olhos, e ainda há seres bastante cegos para não o reconhecer, bastante interessados para derrubá-lo e negar a sua existência! Ah! Esses devem ser lamentados, porque lutam contra uma força invencível: o dedo de Deus!

Bonnamy, pai (Médium: Sr. Desliens)




[1] Revista Espírita – Março/1866 – Allan Kardec

segunda-feira, 29 de junho de 2020

ALFRED RUSSEL WALLACE[1]




O naturalista Alfred Russel Wallace nasceu em 8 de janeiro de 1823, Llanbadoc, Reino Unido e faleceu em 7 de novembro de 1913, Broadstone, Reino Unido. Formou-se na Richard Hale School (1828–1836). Era casado Annie Mitten (desde 1866) com quem teve 3 filhos, Violet Wallace, Herbert Wallace, William Wallace
Ficou famoso por, junto com Charles Darwin, ter sido o fundador da teoria da Seleção Natural.
Foi também, na Inglaterra, um grande defensor do Espiritismo. Um de seus livros, o "Les Miracles et le Modern Spiritualisme", ajudou muito na difusão do Espiritismo naquele país, chamando a atenção dos cientistas para a observação e estudo dos fenômenos espíritas.
Wallace foi um dos fundadores, em 1864, da Sociedade Dialética de Londres, dedicada ao estudo dos fenômenos espíritas. O rigor científico de seus relatórios, incentivaram Crookes para investigar estes fenômenos. Wallace realizou sessões com alguns médiuns, dentre eles, Slade, o qual testemunhou o fenômeno da escrita direta sobre lousas.
Foi um dos maiores cientistas que investigaram a sobrevivência e a comunicabilidade dos Espíritos; daí porque Wallace jamais deve ser esquecido.
Em 1865, investigou os fenômenos das mesas girantes ainda tão em voga na Europa; a mediunidade de Mr. Marshall, de Mr. Cuppy e outras, estabelecendo, mais tarde, que os fenômenos espíritas "são inteiramente comprovados tão bem como quaisquer fatos que são provados em outras ciências".
Também participou com o entomólogo Henry Bates de uma expedição à Amazônia, que deu origem a uma importante obra de sua extensa bibliografia.

sábado, 27 de junho de 2020

O QUE HÁ POR DETRÁS DA IRRITAÇÃO E DA IMPACIÊNCIA?[1]



Paulo Velasco

A maior parte das pessoas impacienta-se e irrita-se com facilidade, seja com uma manifestação corriqueira ou acidental.
Determinadas pessoas ainda desconhecem a dessemelhança entre a irritabilidade e a irritação.
A irritabilidade consiste somente de uma condição do estado de espírito predisposto, ao passo que a irritação é o próprio impulso que precipita a irritabilidade. As características essenciais da irritação são manifestações de impaciência em total desestabilização, criadas até mesmo, por insignificantes questões. Em alguns casos, o indivíduo submetido ao experimento de situações circunstanciais de aborrecimentos pode não se importar e conservar-se imune diante de tais dificuldades. Todavia, não é capaz de travar o impulso da impaciência diante de um simplório episódio pouco expressivo. O mesmo indivíduo pode manifestar total tranquilidade perante a desencarnação de um familiar muitíssimo amado, mas, contraditoriamente, pode perder a paciência se alguém esbarrar em seu corpo sem intenção. Essa oscilação de temperamento evidencia que a irritação é um consumo desnecessário de energia gerada por eventos sem relevância.
A irritação pode originar-se pela intervenção de pequenos pormenores. Isto não quer dizer que os mesmos pormenores sejam o agente direto da irritação, mas somente a ponte para desenvolvê-la. O motivo da irritação, em questão, habita dentro da própria pessoa. É o resultado da colisão de dois trajetos nervosos, que geram este conflito. Quando este choque passa a existir, tornam-se visíveis os sintomas da irritação.
Ainda que a irritação consista em estimular uma descarga de crise nervosa, ela é dotada de uma incumbência:

Corresponder pela descarga nervosa a intervenção de sua procedência, como contrapeso ao dano que uma intervenção qualquer acarretou ao nosso amor-próprio, ou mexeu com nossos brios. Ela busca menosprezar o elemento originário dessa irritação.

Sabemos que perder a cabeça é uma coisa que se tornou rotineira nos dias de hoje: pressões no trabalho, problemas da casa, situações financeiras, tudo isso contribui para momentos de irritação e nervosismo. Mas há algumas maneiras de controlar a situação. Muitas técnicas ajudam pessoas que têm problemas de irritação acima da média. Você é uma delas e ainda não achou a melhor maneira de controlar momentos de irritação? Eis aqui algumas técnicas que ajudarão a acalmar a sua mente e contribuirão para uma vida melhor no dia a dia: harmonia espiritual, terapias complementares, meditações e exercícios físicos.
O problema normalmente se dá quando a pessoa perde o controle do estado emocional e começa a reagir intensamente sobre algo que não tem essa devida proporção. Por consequência de outros sentimentos que surgem muitas vezes ao mesmo tempo, como ansiedade, agitação, pressa e descontrole emocional, ocorrem alterações fisiológicas, como: tremor, falta de ar, dor muscular, coração acelerado, pelos arrepiados etc.
O que desencadeia a irritação pode ser algo interno ou externo. Existem diversas causas que podem provocar irritabilidade e descontrole emocional; muitas vezes a causa está no mau funcionamento do cérebro, e do estado emocional que a pessoa se encontra por consequência das escolhas e pensamentos que ela tem sobre a vida. Quando pensamos e agimos de forma irritada recebemos vários feedbacks, respostas e estímulos de outras pessoas por consequência de nossos atos e isso pode se tornar uma bola de neve negativa.
Os acontecimentos em si não são justificativas para um ato grosseiro ou mesmo irritadiço. Na verdade, não são os outros que nos irritam, mas nós que nos irritamos e nos incomodamos com as pessoas e situações à nossa volta. O controle está em nossas mãos, cada um pode fazer diferente com novas ferramentas emocionais e atitudes. Lembre-se “As pessoas sempre fazem o melhor que podem, segundo seus recursos disponíveis em cada momento.” Assim como você faz seu melhor no momento, as outras pessoas também fazem. E a partir da aceitação disso, você pode buscar melhorias, um estado de melhor resultado e qualidade naquilo que você quer. Todos fazem o que podem, com as informações que dispõem no momento. Depois que o tempo passou é mais fácil ver e refletir sobre o que passou, mas não se pode aplicar essa percepção injustamente, pois agimos segundo o presente. Por isso, todo e qualquer julgamento pode ocorrer distorções, generalizações ou equívocos, as atitudes podem dar margem para interpretação impensada e errada.
A impaciência, por sua vez, não está instalada no seu DNA, nem na sua constituição como ser humano. Trata-se de um padrão de conduta aprendido. Desse ponto de vista, também é possível reeducar as emoções para que correspondam a uma forma de agir mais construtiva. Existem diferentes formas de conseguir isso, mas uma das mais eficazes é simplesmente praticar a paciência.
O espiritismo acrescenta que a paciência é a virtude de suportar calmamente as dificuldades físicas e morais, para vencê-las. Foi exatamente o que Jesus exemplificou durante toda a Sua vida aqui na Terra; afinal, Ele é o modelo e guia oferecido por Deus à humanidade. Nessa condição, o Mestre nos ensinou que “é na paciência que ganhareis as vossas almas” (Lucas, 21:19). Isto quer dizer que a criatura impaciente, que perde a calma e é incapaz de manter o controle emocional, acaba perdendo sua alma nos labirintos da perturbação.
E caso você precise vencer a impaciência, ore assim como Bezerra de Menezes nos orientou no livro “Preces Espíritas”, do autor Pompílio Possera de Eufrásio, Ed. Eco:
Pai de Amor e Bondade. Dá-me forças para suportar com paciência as provas por que passo; ilumina minha alma para compreender o próximo que tudo faz para me irritar; ajuda-me sempre, Senhor, a ficar calado na hora de qualquer conflito; ampara-me, a fim de não tomar qualquer decisão precipitada na vida e vir a me arrepender depois; e que eu tenha, Senhor, muita paciência para perseverar na edificação do bem, mantendo a calma em todos os momentos da vida.
Assim Seja!

Fonte: Correio Espírita




[1] https://gecasadocaminhosv.blogspot.com/2020/06/o-que-ha-por-detras-da-irritacao-e-da.html

sexta-feira, 26 de junho de 2020

O CENTRO ESPÍRITA APÓS A PANDEMIA[1]



Ivan Franzolim

Este é um exercício livre de pensar, sem o amparo indiscutível de dados e pesquisas que muitos contribuiriam.
É uma simples opinião que tenta enxergar o Movimento Espírita Brasileiro com a maioria das casas espíritas (70%), localizadas fora das capitais e as mudanças que poderão surgir ou se intensificar, pela ação de seus dirigentes, trabalhadores e frequentadores, levando em consideração as diversas mensagens e ações de espíritas e espíritos referentes a esse período de pandemia que proliferam nas redes sociais. Compartilho algumas para a análise de todos.

Religiosismo
Essa é a marca do espiritismo brasileiro. As pessoas se sentem mais confortáveis de vivenciar seus postulados mais pelo coração do que pela razão. Isso deve aumentar.

Mentores
Segundo Pesquisa para Espíritas 2018, 80,7% dos Centros Espíritas possuem um mentor conhecido e 74% recebem mensagens dele. Isso deve aumentar para o bem e para a ingerência e criação de dependência.

Seguidores de Espíritos
Muitos espíritas gostam de acompanhar as comunicações de determinados espíritos, independentemente de serem autênticas ou de apresentarem conteúdo de qualidade em harmonia com o Espiritismo, como Ismael, Emmanuel, André Luiz, Bezerra de Menezes, Joseph Gleber, Luiz Sérgio e muitos outros. Isso deve aumentar.

Caridade
Essa é uma característica do nosso Movimento Espírita que deve ser intensificada, o que poderia ser algo positivo, mas provavelmente ocorrerá em detrimento do tempo e esforço para o estudo da Doutrina.

Leitura de livros espíritas
O brasileiro espírita lê mais do que a média do país de 2 livros por ano. Isso deve aumentar, mas a procura será de romances, que já é o gênero mais lido, e de livros mediúnicos, conforme Mercado Editorial Espírita 2017. Ambos os tipos de livros possuem obras muito relevantes, mas são minoria e a tendência é de que médiuns e espíritos que publicaram mensagens sem preocupação doutrinária, sejam estimulados a escreverem mais, devido à demanda receptiva.

Estudo do Espiritismo
Segundo a Pesquisa para Espíritas 2017, 83,1% dos espíritas declaram terem feito algum curso sobre a Doutrina Espírita e apenas 0,8% das casas espíritas não disponibilizam cursos. A avaliação dos cursos é positiva, 43% consideram acima e muito acima do esperado. Os participantes também entendem que tiveram bom aproveitamento dos cursos (90,6%). Apesar desses índices, a análise das manifestações dos espíritas demonstra que o conhecimento é superficial e falho em muitos aspectos. Mais ainda, carregam o desinteresse em aprofundar o estudo e em acompanhar as recentes descobertas de documentos históricos que influem nesse conhecimento.

Sentido de Moral Espírita
Hoje, como demonstrando pelo livro Autonomia – A História Jamais Contada do Espiritismo, de Paulo Henrique de Figueiredo, o senso moral comum é consequência da formação espírita do brasileiro, que no final do século 18 e início do século 19, foi influenciado com interpretações equivocadas de espíritas formadores de opinião, influenciados pelo religiosismo das ideias de Jean Baptista Roustaing e de mensagens de espíritos usando nomes famosos que se manifestaram por médiuns imprevidentes. Isso deve continuar partindo da constatação que nas comunicações espíritas sobre a pandemia, prepondera a ação sempre externa de Deus, Jesus e agentes que cuidariam do destino dos humanos, particularmente dos bons, que a exemplo da história bíblica, mereceriam um tratamento especial do Criador, como se estes não tivessem responsabilidade pela situação atual.

Práticas doutrinárias virtuais
Muitas casas espíritas disponibilizaram práticas e serviços para compensar o isolamento social. Algumas poucas são muito bem-vindas, como os cursos à distância, mas vieram outras de validade duvidosa, como: pedido de vibração, passe e cirurgia à distância, oração coletiva online, cartas de parentes de desencarnados, desobsessão, evangelização infantil etc.

Conclusão
É uma análise fria e pessimista com os indícios que consegui captar atravessando os meus filtros mentais imperfeitos. Ações e iniciativas de muitos espíritas e instituições certamente influenciarão de modo positivo e podem aprumar o rumo. Tenho fortes esperanças. E você? O que acha?



Fonte: Casa Espírita Nova Era

quinta-feira, 25 de junho de 2020

A CRIANÇA DEPOIS DA MORTE[1]



Miramez

Com a morte da criança o Espírito retoma imediatamente o seu vigor primitivo?
‒ Assim deve ser, pois que está desembaraçado do seu envoltório carnal; entretanto, ele não retoma a sua lucidez primitiva enquanto a separação não estiver completa, ou seja, enquanto não desaparecer toda a ligação entre o Espírito e o corpo.
Questão 381/O Livro dos Espíritos

A criança depois da morte, em se desligando do corpo físico, readquire o vigor que antes tinha, notadamente quando é o Espírito mais ou menos evoluído; no entanto, a alma em estado de atraso espiritual, onde as paixões inferiores invadem por completo seus sentimentos, tolhendo suas faculdades espirituais, essa, depois do desenlace, volta ao seu estado primitivo que, por vezes, era de inconsciência.
Tudo depende da evolução do Espírito. É falando da grandeza da alma que já despertou para a vida espiritual, que nos curvamos ante Jesus, que pelo seu amor à humanidade desceu de planos que desconhecemos para traçar para todos nós roteiros onde sentimos a esperança e adquirimos a certeza da felicidade.
O Evangelho veio nos acordar do sono milenar e à consciência nos fazer viver na plenitude do amor. A criança, quando ligada ao fardo que lhe serve de instrumento no mundo material, apaga de certa forma sua consciência, de modo a não poder manifestar no corpo as suas qualidades espirituais. Somente com o crescimento do corpo, os outros corpos espirituais vão filtrando seus impulsos e a mente expressando o que o Espírito é, mostrando sua brandura, se a possui, ou a inquietação que ele traz dos próprios desequilíbrios.
A Doutrina dos Espíritos, revivendo Jesus na sua amplitude de amor, convida os pais das crianças a se comportarem com dignidade frente aos filhos, para que eles recebam dos seus genitores o exemplo da serenidade e de amor. A criancinha com dias de existência, ou ainda mesmo no ventre da mãe, já absorve o comportamento dos pais, por via de impulsos espirituais, e guarda nos departamentos da razão, a desabrocharem, esses laços do bem ou do mal que se recebeu dos pais e do ambiente que se encontra.
Eis porque a grande responsabilidade de um lar. Dessa forma devemos sublimar a atmosfera onde habitamos, com pensamentos e conduta na sintonia do Evangelho, porque onde o Cristo se encontra somente a luz vive. O homem do futuro, ao sugar do seio da mãe o alimento renovador, está absorvendo os próprios sentimentos da sua genitora, e se houver descuido da mãe, entregando-se ao ciúme e ao ódio, estará matando seus filhos aos poucos com cargas magnéticas que insufla no seu próprio leite. Quantas crianças morrem por ignorância dos pais?
Os pais devem se dedicar ao Culto do Evangelho no Lar, mas, não ficar somente no culto exterior; que procurem assimilar o seu conteúdo, esforçando-se para aplicar os ensinamentos na vida diária, mesmo que haja alguma resistência do corpo físico ou espiritual. Não podemos fugir às lutas, aquelas mais difíceis da vida – a batalha interior – capazes de renovar o homem, iluminando-lhe a mente. Nós todos devemos investir nas crianças até o ponto em que elas suportem, fazendo nossa obrigação mediante as necessidades dos que chegam à Terra pelos processos da reencarnação. Estaremos, assim, cooperando com a vida, na certeza de que acenderá a luz nas trevas, aparecendo o paraíso prometido, dando felicidade para todas as criaturas.
Quem desleixa as crianças certamente receberá o plantio da indiferença. Não deixemos desgovernar nossos pensamentos, principalmente no que se refere ao lar. Não deixemos que o nosso verbo tome outra direção que não seja a da palavra de Jesus, e que nossos passos não se esqueçam de seguir os passos do Mestre do mestres, porque nessa comunhão com o bem, seremos uma semente permanente do Amor com Deus e de paz com o Cristo. Não esqueçamos a criança, quando essa estiver em nossos braços.




[1] Filosofia Espírita – Volume 8 -  João Nunes Maia

quarta-feira, 24 de junho de 2020

ASPECTOS ESPIRITUAIS DA REPRODUÇÃO ASSISTIDA[1]



Por Wilson Ayub Lopes - Associação Médico-Espírita do Brasil

Compreende-se como reprodução assistida a todos os procedimentos e técnicas empregados para auxiliar as mulheres que não estão conseguindo engravidar pelos métodos naturais.
O ano de 1978 marcou um fato importante para a reprodução humana. Nasceu naquele ano, na Inglaterra, Louise Brown, o primeiro bebê de proveta, ou seja, um bebê que iniciou sua vida num tubo de ensaio, acenando com uma nova possibilidade para os 15% de casais inférteis do mundo.
Desde então, várias técnicas foram surgindo, que vão da inseminação artificial, passando pela fertilização in vitro (os chamados bebês de proveta), o GIFT, o ZIFT, as gestações de substituição (barrigas de aluguel) e por último, recentemente, já se conseguiu a reprodução de um animal (ovelha) através de uma célula adulta (clonagem), com possibilidade de ser efetuada na raça humana.

A visão espírita
O homem, servindo de instrumento da Misericórdia Divina, tem auxiliado a mulher na nobre tarefa de procriar por diversas maneiras.
O que acontece, frequentemente, é que muitas mulheres e homens ainda carregam um certo grau de desequilíbrio e desarmonia no contexto sexual, consequência de um passado de negligências, nesta ou em outras vidas, e, embora possam estar arrependidos e superados daqueles erros e desvios, isso ainda não foi traduzido num restabelecimento completo do seu aparelho reprodutor. Dessa forma, necessitam do auxílio de técnicas e procedimentos laboratoriais para que alcancem o êxito de gerar o seu próprio filho.
Considerando que os desequilíbrios energéticos no contexto sexual  são frequentemente causas de insucesso nas tentativas de engravidar, o primeiro passo seria se harmonizar, se equilibrar, buscando os recursos de meditação, do autocontrole, da oração, do trabalho junto às crianças carentes e do auxílio através do passe magnético e tratamento espiritual ministrados nos centros espíritas.
Geralmente, o processo de reprodução, seja ele natural ou não, possui assistência do Plano Espiritual.
Assim, o termo reprodução assistida poderia ser estendido a todas as formas de reprodução, sob o aspecto espiritual.
Vemos nas citações de André Luiz, no livro “Missionários da Luz”, que existe no Plano Espiritual um departamento que cuida do processo reencarnatório, que ele denominou de Ministério da Reencarnação. Ele relatou, na sua obra, como a Espiritualidade Superior interferiu na reencarnação de Segismundo, preparando o casal que o iria acolher, estabelecendo sintonia vibratória do espírito reencarnante com a futura mãe, logo a seguir com o óvulo, magnetizando-o envolvendo-o pelos seus fluidos perispirituais. Por sua vez, o espermatozoide que será o eleito, entre milhões contidos numa ejaculação, para fecundar o óvulo, será aquele que mais sintonizar energeticamente com o mesmo, sintonia essa que vai determinar não o mais apto, mas o que carrega a carga genética mais apropriada para aquela futura reencarnação.
Esse fato já vem sendo demonstrado pela Ciência oficial. O jornal “O Globo”, em uma edição de 1991, estampou a seguinte manchete: “Óvulos falam com espermatozoides”. A matéria tratava do trabalho realizado por cientistas dos Estados Unidos e Israel, descobrindo que óvulos maduros comunicam-se com espermatozoides, enviando-lhes sinais para guiá-los até às trompas de Falópio, propiciando a fecundação[2].

Religião x Ciência
Existem muitas pessoas e seitas religiosas que são contrárias ao emprego desses métodos auxiliares da fecundação, alegando que os homens estão violando um processo natural. Argumentam que são técnicas frias, realizadas em laboratório, carecendo do amor e da relação sexual entre os parceiros. “Mas, só quem convive com um casal que passa por cima de vários obstáculos para ter um filho é que tem capacidade de quantificar o Amor que depositam neste ato”, afirmou o biólogo Irineu Degasperi, da Clínica de Reprodução Huntington, em Vitória.
O avanço das técnicas de reprodução assistida e da engenharia genética é visto com naturalidade pela doutrina espírita. Kardec deixou claro que o Espiritismo caminharia junto com a Ciência, portanto, não há porque se opor ao seu desenvolvimento. Deus, através da evolução intelectual da humanidade, permite que surjam técnicas novas para auxiliar a natureza no seu processo criativo. O homem evolui intelectualmente, descobrindo e compreendendo como funciona a natureza, em suas várias manifestações, e, através do conhecimento das leis naturais, passa a interferir e contribuir com Deus, tornando-se co-criadores. Contudo, os cientistas devem ter a humildade de reconhecer que estão somente manuseando e favorecendo processos naturais, mas não criando vida.
A doutrina espírita ressalta que as descobertas devem servir para o bem da humanidade e as pesquisas devem ter a finalidade de enobrecer o ser humano. Infelizmente, muitas vezes o homem as utiliza de forma inadequada.
Em O Livro dos Espíritos, pergunta 780, encontramos que o progresso moral segue o intelectual, mas nem sempre imediatamente. À medida que progredimos com as descobertas científicas, torna-se maior a nossa responsabilidade. Assim aconteceu com a energia nuclear, que inicialmente foi utilizada para fins bélicos (bomba atômica) e atualmente serve como fonte riquíssima de energia, e com outras descobertas científicas.
As descobertas científicas não são boas ou más em si mesmas. Bom ou mal é o uso que se faz delas.
No livro “Uma Janela para a Vida”, Emmanuel foi inquirido sobre se os espíritos que reencarnavam através da reprodução assistida vinham precedidos de um preparo espiritual, e ele respondeu que sim, desde que a Ciência, na Terra, evitasse abusos e extravagâncias nas suas experimentações.
Certa vez, perguntaram a Chico Xavier se o ser humano seria desenvolvido no laboratório. Ele respondeu:

Olha gente, a Ciência vai desenvolver o ser humano no laboratório. Eles (os cientistas) vão fabricar um enorme ‘útero’ no laboratório e aí dentro vão gerar o ser[3]. Levarão talvez de duzentos a quatrocentos anos até conseguirem realizar. Mas vão realizar. Aí, libertarão a mulher do parto.
E tem outra coisa. Nesse útero, os espíritos vão reencarnar, tudo direitinho, sem problema. Esse fato não vai alterar coisa alguma, a Ciência vai conseguir isso.
Ora, o avanço da Ciência é obra da Espiritualidade através dos missionários[4].

Não importa de que modo a criança tenha vindo ao mundo, se por meio naturais ou não; o que importa é se vai ser bem recebida e criada com amor e dedicação.

O congelamento de embriões
Durante o procedimento da fertilização in vitro (FIV), geralmente são fecundados diversos óvulos, com a formação de um número excessivo de embriões. Como a lei brasileira só permite que sejam implantados no útero materno, no máximo quatro embriões por vez, os embriões excedentes são congelados a uma temperatura de –196°C. Poderão ser utilizados posteriormente na própria mãe doadora do óvulo ou serem implantados em outra mãe receptora.
O que fazer com esses embriões? Essa pergunta vem intrigando cientistas, médicos, religiosos e juristas do mundo todo. A polêmica se acendeu na Inglaterra, onde existe uma lei em vigor desde 1991, que estabelece um prazo máximo de cinco anos para a conservação desses embriões. Os primeiros lotes já foram dissolvidos em água e álcool.
No centro da polêmica, está a complicada questão sobre o momento em que começa a vida. Embriões humanos podem ser destruídos impunemente, como um objeto qualquer, um subproduto de laboratório ou estaríamos diante de um aborto?
Nós sabemos, através da pergunta 344 de O Livro dos Espíritos e do capítulo XI, de A Gênese, que a união da alma ao corpo começa no momento da concepção, quando o espírito se sente atraído por uma força irresistível e se liga ao corpo por um laço fluídico, que nada mais é que uma expansão do seu perispírito.
Sabemos também que essa união é definitiva, no sentido de que um outro espírito não poderá substituir aquele que está designado para este corpo.
Por outro lado, vamos encontrar na pergunta 356 que podem existir natimortos que jamais tiveram espíritos designados para os seus corpos, podendo inclusive chegar a termo, porém não sobrevivem.
É descrito que embriões congelados podem permanecer viáveis por vários anos, com relato do caso de uma mulher que gerou um filho a partir de um embrião congelado por cinco anos. Como a união do espírito ao corpo se faz no momento da concepção, deduzimos que o espírito permaneceu ligado a esse corpo (embrião), durante todo esse tempo.
O espírito que está ligado ao embrião pode também recuar diante da prova, e romper os laços que o prende; nesse caso, o embrião não sobrevive.
Na pergunta 351, de O Livro dos Espíritos, vamos encontrar que o espírito, durante o desenvolvimento do feto, goza parcialmente de suas faculdades no plano espiritual. Ele se encontra num estado de perturbação que vai crescendo até o nascimento, à medida que o laço fluídico vai se apertando.
Conforme a doutrina espírita, o espírito que vai animar aquele corpo tem existência fora dele, ou seja, ele ainda não está encarnado, mas apenas ligado ao novo corpo. Então, concluímos que, como o espírito reencarnante está apenas ligado por um cordão fluídico ao embrião, ele usufrui de certo grau de liberdade, de acordo com o seu estado evolutivo, como confirma Emmanuel no livro “O Consolador”. Isso permite que, mesmo se encontrando com certo grau de perturbação, ele possa desenvolver algumas atividades no plano espiritual.
Outra possibilidade, aventada por Raul Teixeira num artigo publicado na “Revista Espírita Allan Kardec”, seria que

entidades espirituais devedoras da sociedade se oferecem para vir atender ao progresso da Ciência. Dessa forma, são ligadas a esses embriões para que vivam hermeticamente vinculadas a eles, num processo de mutismo, enquanto o embrião estiver congelado. Nesse trabalho de servir à Ciência, possam conseguir o progresso, ao invés de renascerem na Terra e sofrerem situações de enfermidades variadas durante largos anos.

De qualquer forma, analisando à luz da doutrina espírita, não podemos aceitar, sob qualquer pretexto, a eliminação pura e simples desses embriões, assim como somos contra o aborto ou qualquer outro ato contrário à vida.
Talvez, os cientistas consigam congelar óvulos maduros e espermatozoides, minimizando os problemas éticos e espirituais relativos ao congelamento de embriões.
Outra linha de pesquisa que já se comenta é a possibilidade de detectar se já existe um espírito ligado ao embrião, através das emanações do seu perispírito, mas ainda não existe nada desenvolvido.

A utilização das células-tronco em pesquisas científicas
A equipe da Revista Cristã de Espiritismo aproveitou a presença do médium e orador Divaldo Pereira Franco no 3º Encontro Amigos da Boa Nova, realizado no dia 21 de abril, para perguntar sua opinião sobre a utilização das células-tronco em pesquisas científicas.
Alguns companheiros espíritas têm se manifestado receosos em relação à questão das células-tronco, pelo fato de um espírito poder estar ligado ao embrião. Como o senhor analisa essas pesquisas que a Ciência vem desenvolvendo na área?
Os espíritos nobres são unânimes em abençoar os esforços da Ciência quando procura dignificar a criatura humana, promovendo o progresso da sociedade e tornando o mundo melhor. Toda descoberta recente torna-se polêmica porque estão, ainda, os investigadores, nos pródromos de suas próprias propostas.
É natural que, não possuindo ainda resultados determinantes, tudo se encontre no plano do plausível e do possível. Os espíritos são unânimes em dizer que interromper a vida do ser em formação, seja sob qual pretexto que se apresente, é aborto delituoso. No entanto, a própria Ciência, que encontra no zigoto as células mais favoráveis para a adaptação e a formação dos órgãos, já consegue detectá-las na medula óssea do próprio paciente, assim como também no cordão umbilical do recém-nascido.
Aguardamos que no momento próprio os cientistas consigam novas descobertas que possam contribuir para libertar a criatura de resgates profundamente angustiantes, como anomalias de diversas naturezas, mas sem que se torne necessário para tanto a interrupção da vida do ser em formação.
E no caso de alguns seres desenvolverem a formação de um corpo sem espírito unido (bebês natimortos), como aborda a questão 136 de O Livro dos Espíritos?
A dificuldade é saber discernir entre o corpo que é apenas fenômeno biológico da fatalidade molecular, daquele que já traz o vínculo com o espírito. Desde o momento em que o espermatozoide invade o óvulo e dá lugar à célula ovo, começa a reencarnação. A pílula do dia seguinte ou outro instrumento qualquer que interrompa a vida são considerados aborto.
Kardec respondeu a essa questão demonstrando que a matéria é espontânea e podem acontecer fenômenos em que os elementos moleculares se aglutinem e por falta de alma não tenham vida. É provável que também tenha se referido à fecundação na trompa, quando normalmente acontece o que nós podemos chamar de uma espécie de tumor, mas não nos é licito generalizar.
O senhor acredita que essa resposta só virá quando existir uma união maior entre a Ciência e a Espiritualidade Superior?
Não necessariamente. O que falta é uma bioética para que sejam estabelecidos os limites até onde a investigação seja ética.
Quando Adolf Hitler tornou-se o primeiro mandatário da Alemanha, em 1935, de imediato tornou o aborto legal. Na chamada “noite dos cristais” ele liberou o assassinato em massa de milhões de indivíduos e a seguir, pediu aos pais que se tivessem filhos deficientes, que os mandassem para as câmaras de gás. Então, crianças foram mortas em nome de uma super raça que estava apenas na imaginação delirante do psicopata.
A função da doutrina religiosa não é dizer à Ciência o que fazer. Quando os cientistas acreditarem na existência de Deus, saberão onde avançar, mas não cabe aos espíritos dizerem se determinado corpo em formação está ou não unido a um espírito. A ética será: matar jamais!




[2] Vide ESPERMATOZOIDE FECUNDA O ÓVULO, CERTO? NÃO É TÃO SIMPLES ASSIM, publicado neste blog em 08/01/2020.
[3] Vide ÚTERO ARTIFICIAL. FOI CRIADO, TESTADO E FUNCIONA, publicado neste blog em 26/06/2019.
[4] Esse fato foi narrado por Ranieri no livro: “Chico Xavier – o Santo de Nossos Dias” (2ª edição – 1973).

terça-feira, 23 de junho de 2020

NOVO E DEFINITIVO ENTERRO DO ESPIRITISMO[1]



Allan Kardec

Quantas vezes já disseram que o Espiritismo estava morto e enterrado! Quantos escritores já se gabaram de lhe haver dado o golpe de misericórdia, uns porque tinham dito palavrões temperados com sal grosso, outros porque haviam descoberto um charlatão enfarpelando-se com o nome de espírita, ou alguma imitação grosseira de um fenômeno! Sem falar de todos os sermões, pastorais e brochuras da mesma fonte, de onde o menor julgava ter lançado o raio, o aparecimento dos espectros nos teatros foi saudado com um hurra! Em toda a linha. “Temos o segredo desses espíritas”, diziam sem trégua os jornais, pequenos e grandes, desde Perpignan até Dunquerque; “jamais eles se erguerão dessa bordoada!” Os espectros passaram e o Espiritismo ficou de pé.
Depois vieram os irmãos Davenport[2], apóstolos e sumos sacerdotes do Espiritismo, que eles não conheciam e que nenhum espírita conhecia. Aí, ainda, o Sr. Robin teve a glória de salvar, pela segunda vez, a França e a Humanidade, tocando muito bem os negócios de seu teatro. A imprensa teceu coroas a esse corajoso defensor do bom-senso, a esse sábio que havia descoberto as astúcias do Espiritismo, como o Sr. Dr. Jobert (de Lamballe) tinha descoberto o segredo do músculo estalante. Contudo, os irmãos Davenport partiram sem as honras da guerra; o músculo estalante fez água e o Espiritismo vai sempre muito bem. Evidentemente isto prova uma coisa: é que ele não consiste nem nos espectros do Sr. Robin, nem nas cordas e nos tambores bascos dos Srs. Davenport, nem no músculo pequeno perônio[3]. É, pois, mais um golpe que falha. Mas desta vez, eis o bom, o verdadeiro, e é impossível que o Espiritismo se levante: são o Événement, o Opinion nationale e o Grande Journal que nos informam e o afirmam. Uma coisa muito estranha é que o Espiritismo se apraz em reproduzir todos os fatos que lhe opõem e que, segundo seus adversários, devem matá-lo. Se os julgasse muito perigosos, ele os calaria. Eis de que se trata:

O célebre ator inglês Sothem acaba de escrever a um jornal de Glasgow uma carta que dá o último golpe no Espiritismo. Esse jornal o censurava por atacar sem a menor consideração os irmãos Davenport e os adeptos das influências ocultas, depois de ele próprio ter dado sessões de Espiritismo na América, sob o nome de Sticart, que então era o seu pseudônimo de teatro. O Sr. Sothem confessa perfeitamente ter mostrado muitas vezes aos seus amigos que era capaz de executar todas as habilidades dos espíritas e mesmo ter feito proezas ainda mais maravilhosas; mas jamais suas experiências foram executadas fora de um pequeno círculo de amigos e conhecidos. Jamais fez que alguém pagasse um vintém qualquer; ele próprio cobria as despesas de suas experiências, depois das quais ele e os amigos se reuniam num alegre jantar.
Com o concurso de um americano muito ativo, obteve os mais curiosos resultados: aparição de fantasmas, ruído de instrumentos, assinaturas de Shakespeare, mãos invisíveis passando pelos cabelos dos espectadores e lhes aplicando tapas etc., etc.
O Sr. Sothem sempre disse que todas essas mágicas resultavam de combinações engenhosas, de habilidade e de astúcia, sem que os Espíritos do outro mundo nelas tomassem qualquer parte.
Em suma, o célebre artista declara que desafia os Hume, os Davenport e todos os espíritas do mundo, a fazerem alguma manifestação que ele não possa superar.
Ele jamais pretendeu fazer profissão de sua habilidade, mas apenas confundir os velhacos, que ultrajam a religião e roubam o dinheiro do público, fazendo-o crer que têm um poder sobrenatural, que mantêm relações com o outro mundo, que podem evocar as almas dos mortos. O Sr. Sothem não faz rodeios para dizer sua opinião; diz as coisas por seus nomes; chama um gato de gato e os Rollets... de vigaristas.”

Os Srs. Davenport tinham contra si duas coisas que os nossos adversários reconheceram: as exibições teatrais e a exploração. Crendo de boa-fé – pelo menos gostamos de assim pensar – que o Espiritismo consiste em malabarismos da parte dos Espíritos, os adversários esperavam que os espíritas fossem tomar partido por esses senhores; ficaram um pouco desapontados quando os viram, ao contrário, condenar esse gênero de manifestações como prejudicial aos princípios da doutrina, e demonstrar que é ilógico admitir que os Espíritos estejam a toda hora às ordens do primeiro que chegar querendo servir-se deles para ganhar dinheiro. Certos críticos até fizeram, de moto-próprio, valer este argumento contra os Srs. Davenport, sem suspeitar que defendiam a causa do Espiritismo. A ideia de pôr os Espíritos em cena e fazê-los servir de comparsas com vistas ao interesse, provocou um sentimento geral de aversão, quase de repulsa, mesmo nos incrédulos, que se disseram: “Não cremos nos Espíritos; mas se os há, não é em tais condições que devem mostrar-se; e devemos tratá-los com mais respeito.” Não acreditavam em Espíritos vindo a tanto por sessão e nisto tinham completa razão; donde se pode concluir que a exibição de coisas extraordinárias e a exploração são os piores meios de fazer prosélitos. Se o Espiritismo patrocinasse tais coisas, este seria o seu lado fraco; seus adversários o compreendem tão bem, que é sobre este que não perdem nenhuma ocasião de ferir, crendo atingir a doutrina. O Sr. Gérôme, do Univers illustré, respondendo ao Sr. Blanc de Lalésie (ver nossa Revista de dezembro), que o censurava por falar do que não conhecia, disse:

Praticamente estudei o Espiritismo com os irmãos Davenport, e isto me custou 15 francos. É verdade que os irmãos Davenport hoje trabalham a preços mais suaves: por 3 ou 5 francos pode-se ver suas farsas; preços de Robin, ainda bem!

O autor do artigo sobre a jovem cataléptica da Suábia[4], que não é espírita (vide o número de janeiro), tem o cuidado de ressaltar, como prova de confiança nesses fenômenos extraordinários, que os pais não pensam absolutamente em tirar partido das estranhas faculdades de sua filha.
A exploração da ideia espírita é, pois, um motivo de descrédito. Os espíritas condenam a especulação, e é por isto que se tem o cuidado de apresentar o ator Sothem como completamente desinteressado, na expectativa de torná-lo um argumento vitorioso. É sempre essa ideia que o Espiritismo só vive de fatos maravilhosos e de trapaças.
Que a crítica bata quanto queira nos abusos; que desmascare os truques e as astúcias dos charlatães. O Espiritismo, que não usa nenhum método secreto e cuja doutrina é toda moral, não poderá senão ganhar em se ver livre dos parasitas que dele fazem um degrau e dos que lhe desnaturam o caráter.
O Espiritismo teve como adversários homens de real valor, em saber e em inteligência, que contra ele empregaram, sem sucesso, todo um arsenal de argumentação. Vejamos se o ator Sothem terá mais êxito que os outros para enterrá-lo. Ele o estaria a muito tempo se tivesse repousado nos absurdos que lhe atribuem. Se, pois, depois de haver matado o charlatanismo e desacreditado as práticas ridículas, ele existe sempre, é que há nele algo de mais sério, que não foi possível atingir.




[1] Revista Espírita – Fevereiro/1866 – Allan Kardec
[2] Vide IRMÃOS DAVENPORT, publicado neste blog em 10/12/2018
[3] Vide O MÚSCULO ESTALANTE, publicado neste blog em 16/06/2020.
[4] Vide A JOVEM CATALÉPTICA DA SUÁBIA, publicado neste blog em 09/06/2020.

segunda-feira, 22 de junho de 2020

ALEXANDRE JOSÉ DE MELO MORAIS[1]




Alexandre José de Melo Morais nasceu em 23 de julho de 1816, em Maceió, Alagoas e desencarnou em 06 de setembro de 1882, no Rio de Janeiro.
Apesar das dificuldades familiares formou-se em Medicina.
Ao tomar conhecimento do tratamento pela homeopatia, iniciou uma ferrenha propaganda contrária. Entretanto passou a estudá-la, vindo a se convencer da eficiência terapêutica da Homeopatia, passando a ser um propagandista dessa especialidade da medicina Hahnemanniana.
Jornalista, professor e político foi deputado. Tornou-se um espírita fervoroso, aceitando bem a codificação kardequiana.

Obras[2]
Biographia do Senador Diogo Antonio Feijó / escripta pelo Mello Moraes (A. J. de) (Rio de Janeiro : J. J. Do Patrocinio, 1861).
Chronica geral do Brazil, pelo Dr. Mello Moraes (A.J. de) systematisada e com uma introducção por Mello Moraes filao... (Rio de Janeiro, B.L. Garnier, 1886).
Diccionario de medicina e therapeutica homoeopathica... (Rio de Janeiro, Typographia nacional, 1872).
Historia do Brasil-reino e Brasil-imperio comprehendo: A historia circumstanciada dos ministerios, pela ordem chronologica dos gabinetes ministeriaes, seus programmas, revoluções politicas que se derão, e cores com que apparecerão, desde a dia 10 março de 1808 até 1871 ... Pelo Dr. Mello Moraes (A. J. de) (Rio de Janeiro, Typ. de Pinheiro & c., 1871-73).
História do Brasil-Reino e Brasil-Império. Tomo 1 e Tomo 2. Belo Horizonte: Editora Itatiaia; São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1982.

sábado, 20 de junho de 2020

É NECESSÁRIO MORRER[1]


Túmulo de Allan Kardec - Peré-Lachaise - Paris - França



Quando iremos morrer?
O simples mencionar dessa pergunta causa calafrios, medo ou repulsa a muitas pessoas.
A grande maioria de nós nos recusamos mesmo a pensar em tal assunto.
Seja por medo, por desconhecimento, por fatores culturais ou aspectos religiosos, a morte nos surge como um grande tabu.
Por isso, poucas vezes, refletimos ou percebemos a morte como um processo natural e necessário para a vida.
Nas florestas, árvores centenárias perdem o vigor, morrem para ceder espaço para outras, que crescem frondosas, se alimentando da matéria orgânica decomposta dessas.
Nas tempestades, sob ventos fortes, galhos e folhas se desprendem dos troncos, dando espaço para outros, que surgirão, com maior viço e pujança.
Esse é o ciclo da vida: a decadência cede lugar à nova vida, para logo mais a morte prenunciar novo ciclo.
A morte não é sinônimo de fim, de conclusão ou de eliminação.
Ela sempre será o prenúncio de nova etapa, de momento que se inicia.
Assim pode se dar com nosso mundo íntimo.
Há muita coisa que precisa fenecer, perecer, morrer em nossa intimidade para dar vazão a outras possibilidades.
Há muitos valores que nos prejudicam, que atrapalham nossa felicidade, que perturbam nosso caminhar.
É importante empreender todo esforço para a morte desses valores.
Ao morrerem, darão lugar a possibilidades de outras paisagens, de outros conceitos.
Nesse raciocínio, percebemos ser inadiável que façamos morrer o egoísmo que carregamos.
Dessa forma, o nos preocuparmos com o outro, nos doarmos ao próximo, permitirá que, aos poucos, nosso egoísmo perca força e morra em nossa intimidade. Seremos, então, mais solidários e fraternos.
O empenho que empreguemos para perdoar, ou compreender o outro, ter empatia em relação às suas falhas e limitações, irá acabando com nosso eu orgulhoso, pretensioso, arrogante.
Somente com a morte lenta e gradual desses sentimentos de difícil lida, é que abriremos espaço para o desabrochar de virtudes.
Portanto, se faz necessário o esforço da morte das paixões inferiores para que se faça nova luz em nossos corações.
Tudo isso nos demonstra que a morte sempre se fará necessária, para dar espaço à renovação, ao novo ciclo, à melhora.
Nada diferente quando falamos da vida física.
A morte, inevitavelmente, visitará nosso corpo físico, impossibilitando a continuidade da vida biológica, orgânica.
Contudo, esse momento, de forma alguma, indicará o fim de tudo. Será apenas o final de um ciclo.
Será a etapa concluída de uma reencarnação, que nos deu inúmeras chances, possibilidades e oportunidades de aprendizado e renovação.
Findo tudo isso, apresenta-se o momento de retornarmos para casa, para o mundo espiritual.
E, como inscrito no dólmen da sepultura do mestre Allan Kardec, em Paris, a lição é de imortalidade e evolução: Nascer, morrer, renascer ainda e progredir sempre, tal é a lei.

Lei da vida, lei de progresso.

Redação do Momento Espírita

sexta-feira, 19 de junho de 2020

O ESPIRITISMO É UMA RELIGIÃO?[1]



Paulo Henrique de Figueiredo

Dúvida antiga e muito incompreendida. Mas a resposta é simples, quando buscamos a resposta em sua origem, nas explicações de Kardec.
A doutrina espírita pode ser útil a todas as religiões. Só não pode tornar-se ela uma delas. Senão sai da condição de conhecimento fundamental e se equipara na disputa pela salvação, como promessa aos fiéis de uma seita.
Nem pode associar-se a um corpo dogmático, senão sincretiza-se e deixa de ser basilar e progressivo. Sua essência é como a Física, Biologia, Cosmologia: um entendimento das leis universais, no caso, pelo ponto de vista dos espíritos sábios.
Além disso, considerando o sentido filosófico do termo “religião”, Kardec se referia a um significado bastante presente em seu tempo, o de religião natural. Vem do fato de naquela época as ciências humanas se fundamentarem no espiritualismo racional, independente de credo religioso. Estando Deus presente na natureza como causa e imanente, estamos todos relacionados naturalmente com ele.
Há quem busque o significado etimológico da palavra no latim religare, que significa religação. Mas esse significado é confuso, pois nunca, jamais nos desligamos de Deus. O sentido que a doutrina espírita promove, pela natureza de sua mensagem, é o laço natural que nos une de forma solidária, entre nós, e entre nós e o Criador.
Dessa forma, o importante está no que ele representa para nós, pois compreendendo o Espiritismo como filosofia de vida, não haverá diferença entre compreensão e ato, ou seja, será uma doutrina vivenciada, transformadora. As religiões tradicionais colocam o fiel em postura de submissão, de espera, de pedinte de recompensas e também temeroso de castigos. Nada disso será encontrado no Espiritismo bem compreendido. É dever daquele que bem o compreendeu divulgar essa visão original, para resgatarmos sua essência primeira!


Fonte: Revolução Espírita