Por Wilson Ayub Lopes - Associação Médico-Espírita do Brasil
Compreende-se como reprodução
assistida a todos os procedimentos e técnicas empregados para auxiliar as
mulheres que não estão conseguindo engravidar pelos métodos naturais.
O ano de 1978 marcou um fato
importante para a reprodução humana. Nasceu naquele ano, na Inglaterra, Louise
Brown, o primeiro bebê de proveta, ou seja, um bebê que iniciou sua vida num
tubo de ensaio, acenando com uma nova possibilidade para os 15% de casais
inférteis do mundo.
Desde então, várias técnicas
foram surgindo, que vão da inseminação artificial, passando pela fertilização
in vitro (os chamados bebês de proveta), o GIFT, o ZIFT, as gestações de
substituição (barrigas de aluguel) e por último, recentemente, já se conseguiu
a reprodução de um animal (ovelha) através de uma célula adulta (clonagem), com
possibilidade de ser efetuada na raça humana.
A visão espírita
O homem, servindo de instrumento
da Misericórdia Divina, tem auxiliado a mulher na nobre tarefa de procriar por
diversas maneiras.
O que acontece, frequentemente,
é que muitas mulheres e homens ainda carregam um certo grau de desequilíbrio e
desarmonia no contexto sexual, consequência de um passado de negligências,
nesta ou em outras vidas, e, embora possam estar arrependidos e superados
daqueles erros e desvios, isso ainda não foi traduzido num restabelecimento
completo do seu aparelho reprodutor. Dessa forma, necessitam do auxílio de
técnicas e procedimentos laboratoriais para que alcancem o êxito de gerar o seu
próprio filho.
Considerando que os
desequilíbrios energéticos no contexto sexual são frequentemente causas de
insucesso nas tentativas de engravidar, o primeiro passo seria se harmonizar,
se equilibrar, buscando os recursos de meditação, do autocontrole, da oração,
do trabalho junto às crianças carentes e do auxílio através do passe magnético
e tratamento espiritual ministrados nos centros espíritas.
Geralmente, o processo de
reprodução, seja ele natural ou não, possui assistência do Plano Espiritual.
Assim, o termo reprodução
assistida poderia ser estendido a todas as formas de reprodução, sob o aspecto
espiritual.
Vemos nas citações de André
Luiz, no livro “Missionários da Luz”, que existe no Plano Espiritual um
departamento que cuida do processo reencarnatório, que ele denominou de
Ministério da Reencarnação. Ele relatou, na sua obra, como a Espiritualidade
Superior interferiu na reencarnação de Segismundo, preparando o casal que o
iria acolher, estabelecendo sintonia vibratória do espírito reencarnante com a
futura mãe, logo a seguir com o óvulo, magnetizando-o envolvendo-o pelos seus
fluidos perispirituais. Por sua vez, o espermatozoide que será o eleito, entre
milhões contidos numa ejaculação, para fecundar o óvulo, será aquele que mais
sintonizar energeticamente com o mesmo, sintonia essa que vai determinar não o
mais apto, mas o que carrega a carga genética mais apropriada para aquela
futura reencarnação.
Esse fato já vem sendo
demonstrado pela Ciência oficial. O jornal “O Globo”, em uma edição de 1991,
estampou a seguinte manchete: “Óvulos falam com espermatozoides”. A matéria
tratava do trabalho realizado por cientistas dos Estados Unidos e Israel,
descobrindo que óvulos maduros comunicam-se com espermatozoides, enviando-lhes
sinais para guiá-los até às trompas de Falópio, propiciando a fecundação[2].
Religião x Ciência
Existem muitas pessoas e seitas
religiosas que são contrárias ao emprego desses métodos auxiliares da
fecundação, alegando que os homens estão violando um processo natural.
Argumentam que são técnicas frias, realizadas em laboratório, carecendo do amor
e da relação sexual entre os parceiros. “Mas, só quem convive com um casal que
passa por cima de vários obstáculos para ter um filho é que tem capacidade de
quantificar o Amor que depositam neste ato”, afirmou o biólogo Irineu
Degasperi, da Clínica de Reprodução Huntington, em Vitória.
O avanço das técnicas de
reprodução assistida e da engenharia genética é visto com naturalidade pela
doutrina espírita. Kardec deixou claro que o Espiritismo caminharia junto com a
Ciência, portanto, não há porque se opor ao seu desenvolvimento. Deus, através
da evolução intelectual da humanidade, permite que surjam técnicas novas para
auxiliar a natureza no seu processo criativo. O homem evolui intelectualmente,
descobrindo e compreendendo como funciona a natureza, em suas várias
manifestações, e, através do conhecimento das leis naturais, passa a interferir
e contribuir com Deus, tornando-se co-criadores. Contudo, os cientistas devem
ter a humildade de reconhecer que estão somente manuseando e favorecendo
processos naturais, mas não criando vida.
A doutrina espírita ressalta que
as descobertas devem servir para o bem da humanidade e as pesquisas devem ter a
finalidade de enobrecer o ser humano. Infelizmente, muitas vezes o homem as
utiliza de forma inadequada.
Em O Livro dos Espíritos, pergunta 780, encontramos que o progresso
moral segue o intelectual, mas nem sempre imediatamente. À medida que
progredimos com as descobertas científicas, torna-se maior a nossa
responsabilidade. Assim aconteceu com a energia nuclear, que inicialmente foi
utilizada para fins bélicos (bomba atômica) e atualmente serve como fonte
riquíssima de energia, e com outras descobertas científicas.
As descobertas científicas não
são boas ou más em si mesmas. Bom ou mal é o uso que se faz delas.
No livro “Uma Janela para a Vida”,
Emmanuel foi inquirido sobre se os espíritos que reencarnavam através da
reprodução assistida vinham precedidos de um preparo espiritual, e ele
respondeu que sim, desde que a Ciência, na Terra, evitasse abusos e
extravagâncias nas suas experimentações.
Certa vez, perguntaram a Chico
Xavier se o ser humano seria desenvolvido no laboratório. Ele respondeu:
Olha gente, a
Ciência vai desenvolver o ser humano no laboratório. Eles (os cientistas) vão
fabricar um enorme ‘útero’ no laboratório e aí dentro vão gerar o ser[3].
Levarão talvez de duzentos a quatrocentos anos até conseguirem realizar. Mas
vão realizar. Aí, libertarão a mulher do parto.
E tem outra coisa.
Nesse útero, os espíritos vão reencarnar, tudo direitinho, sem problema. Esse
fato não vai alterar coisa alguma, a Ciência vai conseguir isso.
Ora, o avanço da
Ciência é obra da Espiritualidade através dos missionários[4].
Não importa de que modo a
criança tenha vindo ao mundo, se por meio naturais ou não; o que importa é se
vai ser bem recebida e criada com amor e dedicação.
O congelamento de
embriões
Durante o procedimento da
fertilização in vitro (FIV), geralmente são fecundados diversos óvulos, com a
formação de um número excessivo de embriões. Como a lei brasileira só permite
que sejam implantados no útero materno, no máximo quatro embriões por vez, os embriões
excedentes são congelados a uma temperatura de –196°C. Poderão ser utilizados
posteriormente na própria mãe doadora do óvulo ou serem implantados em outra
mãe receptora.
O que fazer com esses embriões?
Essa pergunta vem intrigando cientistas, médicos, religiosos e juristas do mundo
todo. A polêmica se acendeu na Inglaterra, onde existe uma lei em vigor desde
1991, que estabelece um prazo máximo de cinco anos para a conservação desses embriões.
Os primeiros lotes já foram dissolvidos em água e álcool.
No centro da polêmica, está a
complicada questão sobre o momento em que começa a vida. Embriões humanos podem
ser destruídos impunemente, como um objeto qualquer, um subproduto de
laboratório ou estaríamos diante de um aborto?
Nós sabemos, através da pergunta
344 de O Livro dos Espíritos e do
capítulo XI, de A Gênese, que a união
da alma ao corpo começa no momento da concepção, quando o espírito se sente
atraído por uma força irresistível e se liga ao corpo por um laço fluídico, que
nada mais é que uma expansão do seu perispírito.
Sabemos também que essa união é
definitiva, no sentido de que um outro espírito não poderá substituir aquele
que está designado para este corpo.
Por outro lado, vamos encontrar
na pergunta 356 que podem existir natimortos que jamais tiveram espíritos designados
para os seus corpos, podendo inclusive chegar a termo, porém não sobrevivem.
É descrito que embriões
congelados podem permanecer viáveis por vários anos, com relato do caso de uma
mulher que gerou um filho a partir de um embrião congelado por cinco anos. Como
a união do espírito ao corpo se faz no momento da concepção, deduzimos que o
espírito permaneceu ligado a esse corpo (embrião), durante todo esse tempo.
O espírito que está ligado ao
embrião pode também recuar diante da prova, e romper os laços que o prende; nesse
caso, o embrião não sobrevive.
Na pergunta 351, de O Livro dos Espíritos, vamos encontrar
que o espírito, durante o desenvolvimento do feto, goza parcialmente de suas
faculdades no plano espiritual. Ele se encontra num estado de perturbação que
vai crescendo até o nascimento, à medida que o laço fluídico vai se apertando.
Conforme a doutrina espírita, o
espírito que vai animar aquele corpo tem existência fora dele, ou seja, ele ainda
não está encarnado, mas apenas ligado ao novo corpo. Então, concluímos que,
como o espírito reencarnante está apenas ligado por um cordão fluídico ao embrião,
ele usufrui de certo grau de liberdade, de acordo com o seu estado evolutivo,
como confirma Emmanuel no livro “O Consolador”. Isso permite que, mesmo se encontrando
com certo grau de perturbação, ele possa desenvolver algumas atividades no
plano espiritual.
Outra possibilidade, aventada
por Raul Teixeira num artigo publicado na “Revista Espírita Allan Kardec”,
seria que
entidades
espirituais devedoras da sociedade se oferecem para vir atender ao progresso da
Ciência. Dessa forma, são ligadas a esses embriões para que vivam hermeticamente
vinculadas a eles, num processo de mutismo, enquanto o embrião estiver
congelado. Nesse trabalho de servir à Ciência, possam conseguir o progresso, ao
invés de renascerem na Terra e sofrerem situações de enfermidades variadas
durante largos anos.
De qualquer forma, analisando à
luz da doutrina espírita, não podemos aceitar, sob qualquer pretexto, a
eliminação pura e simples desses embriões, assim como somos contra o aborto ou
qualquer outro ato contrário à vida.
Talvez, os cientistas consigam
congelar óvulos maduros e espermatozoides, minimizando os problemas éticos e
espirituais relativos ao congelamento de embriões.
Outra linha de pesquisa que já
se comenta é a possibilidade de detectar se já existe um espírito ligado ao
embrião, através das emanações do seu perispírito, mas ainda não existe nada
desenvolvido.
A utilização das
células-tronco em pesquisas científicas
A equipe da Revista Cristã de
Espiritismo aproveitou a presença do médium e orador Divaldo Pereira Franco no
3º Encontro Amigos da Boa Nova, realizado no dia 21 de abril, para perguntar sua
opinião sobre a utilização das células-tronco em pesquisas científicas.
Alguns companheiros
espíritas têm se manifestado receosos em relação à questão das células-tronco,
pelo fato de um espírito poder estar ligado ao embrião. Como o senhor analisa
essas pesquisas que a Ciência vem desenvolvendo na área?
Os espíritos nobres são unânimes em abençoar os esforços
da Ciência quando procura dignificar a criatura humana, promovendo o progresso
da sociedade e tornando o mundo melhor. Toda descoberta recente torna-se
polêmica porque estão, ainda, os investigadores, nos pródromos de suas próprias
propostas.
É natural que, não possuindo ainda resultados
determinantes, tudo se encontre no plano do plausível e do possível. Os
espíritos são unânimes em dizer que interromper a vida do ser em formação, seja
sob qual pretexto que se apresente, é aborto delituoso. No entanto, a própria
Ciência, que encontra no zigoto as células mais favoráveis para a adaptação e a
formação dos órgãos, já consegue detectá-las na medula óssea do próprio
paciente, assim como também no cordão umbilical do recém-nascido.
Aguardamos que no momento próprio os cientistas consigam
novas descobertas que possam contribuir para libertar a criatura de resgates profundamente angustiantes, como anomalias de diversas naturezas, mas sem que
se torne necessário para tanto a interrupção da vida do ser em formação.
E no caso de alguns
seres desenvolverem a formação de um corpo sem espírito unido (bebês
natimortos), como aborda a questão 136 de O
Livro dos Espíritos?
A dificuldade é saber discernir entre o corpo que é apenas
fenômeno biológico da fatalidade molecular, daquele que já traz o vínculo com o
espírito. Desde o momento em que o espermatozoide invade o óvulo e dá lugar à
célula ovo, começa a reencarnação. A pílula do dia seguinte ou outro
instrumento qualquer que interrompa a vida são considerados aborto.
Kardec respondeu a essa questão demonstrando que a matéria
é espontânea e podem acontecer fenômenos em que os elementos moleculares se
aglutinem e por falta de alma não tenham vida. É provável que também tenha se
referido à fecundação na trompa, quando normalmente acontece o que nós podemos
chamar de uma espécie de tumor, mas não nos é licito generalizar.
O senhor acredita
que essa resposta só virá quando existir uma união maior entre a Ciência e a
Espiritualidade Superior?
Não necessariamente. O que falta é uma bioética para que
sejam estabelecidos os limites até onde a investigação seja ética.
Quando Adolf Hitler tornou-se o primeiro mandatário da
Alemanha, em 1935, de imediato tornou o aborto legal. Na chamada “noite dos
cristais” ele liberou o assassinato em massa de milhões de indivíduos e a
seguir, pediu aos pais que se tivessem filhos deficientes, que os mandassem
para as câmaras de gás. Então, crianças foram mortas em nome de uma super raça
que estava apenas na imaginação delirante do psicopata.
A função da doutrina religiosa não é dizer à Ciência o que
fazer. Quando os cientistas acreditarem na existência de Deus, saberão onde avançar,
mas não cabe aos espíritos dizerem se determinado corpo em formação está ou não
unido a um espírito. A ética será: matar
jamais!
[2] Vide
ESPERMATOZOIDE FECUNDA O ÓVULO, CERTO? NÃO É TÃO SIMPLES ASSIM, publicado neste
blog em 08/01/2020.
[3] Vide ÚTERO
ARTIFICIAL. FOI CRIADO, TESTADO E FUNCIONA, publicado neste blog em 26/06/2019.
[4] Esse fato foi narrado por Ranieri no livro: “Chico
Xavier – o Santo de Nossos Dias” (2ª edição – 1973).
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