Edson Luiz Wachholz - setembro/2020
Em todas as épocas, a Humanidade
tem tido à conta de sobrenatural tudo aquilo que não consegue explicar. Allan
Kardec, reforçando o caráter esclarecedor da Doutrina Espírita, desenvolve em O Livro dos Médiuns, no capítulo
intitulado Do Maravilhoso e do Sobrenatural, uma série de argumentos com a
finalidade de esclarecer a perfeita integração entre os fenômenos mediúnicos e
as leis naturais. Como o bom professor que leva seus alunos a pensar por si
próprios, questiona Kardec:
Mas,
que entendeis por sobrenatural?
O
que é contrário às leis da Natureza.
Conheceis,
porventura, tão bem essas leis, que possais marcar limite ao poder de Deus?
Mais adiante, o Codificador
assevera que
(…) os fatos que o Espiritismo produz nos revelam leis novas e nos dão a
explicação de um mundo de coisas que pareciam sobrenaturais.
É a narrativa de um desses fatos
tomados, a priori, como sobrenaturais, mas que a Doutrina Espírita explica à
luz da razão, que encontramos no Evangelho de Mateus.
Jesus chama Pedro, Tiago e João e dirige-se para um monte a fim de ficarem
sozinhos. Em determinado momento, os discípulos admirados observam que o rosto
de Jesus brilhava como o sol e suas roupas haviam se tornado brancas como a
luz.
Kardec nos esclarece
que a transfiguração consiste na mudança do aspecto de um corpo vivo. Relata o caso ocorrido entre 1858 e 1859, de
um menina de 15 anos que transfigurava-se, tomando a aparência de pessoas
desencarnadas. O fenômeno era tão intenso que a menina apresentava semelhança
fisionômica, no olhar, no tom de voz e na maneira de falar.
Nos dias de hoje, com maior ou
menor intensidade, observamos principalmente acompanhando os fenômenos de
psicofonia, a transfiguração dos médiuns, que modificam seus traços
fisionômicos ou o timbre da voz, em perfeita sintonia com o Espírito
comunicante.
É o relato de um desses casos
que encontramos em pesquisa de documentos históricos que, oportunamente,
realizamos na sede da União Regional Espírita 2ª região, com sede em Ponta
Grossa.
Em texto datilografado, a Sra.
Maria Margarete
inicia seu relato dizendo que nada conhecia, anteriormente, sobre a Doutrina
Espírita ou sobre os fenômenos mediúnicos.
Conta que na noite de 4 de
outubro de 1975, atendendo a um convite de seu esposo, que era espírita,
dirigiu-se com ele à sede da Sociedade Espírita Francisco de Assis de Amparo
aos Necessitados – SEFAN, em Ponta Grossa, para assistir a uma palestra do
orador baiano Divaldo Pereira Franco.
Após a brilhante palestra,
foram, ela e o esposo, convidados pelo Sr. Guaracy Paraná Vieira, para se
dirigirem à Organização Espírita Irmã Scheilla, instituição fundada pelo
próprio Divaldo, nessa cidade.
Depois da reunião informal, na
qual Divaldo relatou diversos casos, com seu bom humor característico, os
presentes buscaram a prece para agradecer a Deus a oportunidade.
A Sra. Maria Margarete confessa
que não estava acostumada com aquela prática e decidiu manter os olhos abertos,
observando tudo o que se passava ao redor.
Aqueles que temos tido a
oportunidade de acompanhar Divaldo, em suas conferências, presenciamos amiúde,
durante o encerramento, o fenômeno da psicofonia, quando o médium altera seu
timbre de voz, trazendo-nos a mensagem consoladora dos imortais.
Foi nesse momento, que ela
percebeu uma mudança significativa na voz do médium baiano.
Também se deu conta que os
traços fisionômicos dele começaram a se modificar. Importante salientar que, à
época, Divaldo estava com 48 anos.
Relata a senhora que,
inicialmente sua pele foi ficando envelhecida e quase encarquilhada. No seu
rosto, antes liso, começou a crescer barba que foi aumentando, branca,
abundante, levemente ondulada. Igualmente seus cabelos ficaram grisalhos e
cresceram dando-lhe o aspecto de um velho. (sic)
Ao lermos o texto original,
percebemos, quiçá pelos sentidos extrafísicos, toda a emoção que o insólito
fenômeno lhe causava.
Continua dizendo que a bela
mensagem prosseguiu e eu via na minha frente uma outra criatura. Quando a
preleção foi terminando, assisti a outra metamorfose, agora em sentido inverso:
os cabelos foram diminuindo e escurecendo, a barba igualmente foi encurtando
até desaparecer de todo e, quando Divaldo encerrou, sua figura era a mesma de
sempre e sua voz era a de costume.
Confessa a Sra. Maria Margarete
que, diante do fato de que a metamorfose de Divaldo não causasse estranheza ou
curiosidade nos demais, imaginou ser um fenômeno comum e rotineiro.
Chegando em casa e comentando o
acontecido com o marido espírita, recebeu o esclarecimento de que a
transfiguração completa, tal qual ela havia presenciado, não era algo
corriqueiro.
Não fosse um fato singular,
acontecido a posteriori, poderíamos até objetar que, tocada em sua emoção, a
senhora teria sido vítima de uma ilusão.
Afirma que posteriormente,
folheando umas revistas espíritas vim a identificar a fisionomia na qual eu
vira Divaldo Pereira Franco transformar-se naquela noite. Era o Dr. Bezerra de
Menezes, que vim a saber fora grande vulto do Espiritismo. Apenas havia uma
pequena diferença, na fisionomia do Espírito que eu vi os cabelos eram um pouco
mais escuros e a barba era um pouco mais ondulada do que a da fotografia. No
mais era tudo idêntico. (sic)
É ainda Allan Kardec que
esclarece definitivamente a questão, quando assevera que
poderá então o perispírito mudar de aspecto, fazer-se brilhante, se tal for a
vontade do Espírito e se este dispuser de poder para tanto. Um outro Espírito,
combinando seus fluidos com os do primeiro, poderá, a essa combinação de
fluidos, imprimir a aparência que lhe é própria, de tal sorte, que o corpo real
desapareça sob um envoltório fluídico exterior, cuja aparência pode variar à
vontade do Espírito. Esta parece ser a verdadeira causa do estranho fenômeno e
raro, cumpra se diga, da transfiguração.
Os fenômenos mediúnicos são de
todos os tempos e repetem-se incontáveis vezes, chamando-nos a atenção para a
imortalidade da alma. A Doutrina Espírita, cumprindo seu papel de consolo e
esclarecimento, traz-nos a luz através da qual podemos compreender a sua completa
integração com as Leis Divinas.