Rogério Coelho
Esquecido de seu passado o Espírito é mais senhor de si.
“O passado é a causa viva, mas não soluciona o presente.” – Emmanuel
Quando Jesus[2]
nos conclama a amar aos inimigos, bendizer aos que nos maldizem, fazer o bem
aos que nos odeiam e orar pelos que nos maltratam e perseguem, é porque se faz
necessário desatar todos os nós que nos prendem aos equívocos passados.
A necessidade do perdão e os
trâmites evolutivos são dois fatos emergentes de imediato quando se trata do
esquecimento do passado. Se Deus achou por bem ocultar de todos nós o passado
em cada experiência reencarnatória, de nossa parte, devemos envidar os esforços
necessários para esquecer os prejuízos e males mais recentes da presente
reencarnação, isto é, ministrar o perdão incondicional, como Jesus o fez e
ensinou, a fim de livrar nossa economia espiritual do lixo cármico[3].
Escrevendo aos romanos, Paulo de
Tarso concita-nos a tratar com caridade aos nossos inimigos, porque fazendo isto, amontoaremos brasas de
fogo sobre a cabeça deles. Nada mais certo e lógico, pois os nossos
inimigos, observando nossa atitude cristã e positiva no sentido de acertar os
desentendimentos, ficarão propensos a não mais oferecer nutrição às situações
de beligerância.
Já nossa evolução ficará bem
solucionada condicionando-a ao esquecimento do passado de forma a aplicarmos
nossas energias e potencialidades na direção certa, sem os prejuízos dos liames
que nos agrilhoariam às nossas seculares defecções, libertando-nos assim, para
nossas missões que têm como denominador comum a aplicação da legítima caridade
que não só ensinaremos mas que principalmente praticaremos.
Mateus registra em suas
anotações[4],
que nada há encoberto que não haja de
revelar-se, nem oculto que não haja de saber-se. Assim, no momento azado,
quando a maturidade chegar, haveremos de saber o que hoje ainda é conveniente
que permaneça oculto. O próprio Cristo nos dá notícia de que existem coisas que
necessitam aguardar o concurso do tempo e da ocasião propícia para que possamos
entendê-las. Ao Seu tempo dizia: Tenho
ainda muitas coisas para vos dizer, mas por hora não as suportaríeis.
O passado, portando, não deve
ser causa de maiores preocupações. Isso não nos desobriga a fazer um exame
minucioso de nossas atuais tendências mais íntimas, vez que elas nos mostram as
próprias leiras de serviço, isto é, onde devemos trabalhar em nossa própria
intimidade para vencer os remanescentes de uma sementeira passada irresponsável
e descuidada.
Enquanto encarnado, João Batista
desconhecia que ele próprio era a reencarnação de Elias. Quando lhe perguntaram[5]:
Quem és? És Elias? Ele respondeu: não.
Vemos, assim que até mesmo aos
grandes missionários o passado não é revelado. Seu esquecimento é algo mais
abrangente do que podemos imaginar e transcende o plano material. Os
Benfeitores da humanidade disseram[6]
a Allan Kardec que (…) muitas vezes um
Espírito recém desencarnado não se lembra de nomes de pessoas que lhe eram
caras, nem uma porção de coisas importantes. É que tudo isso, pouco lhe
importando, logo caiu em esquecimento. Ele só se recorda perfeitamente bem dos
fatos principais que concorrem para a sua melhoria.
O Mestre Lionês aborda o tema a
partir da questão de número 392, de O
Livro dos Espíritos, de onde extratamos alguns itens para oportunas
elucidações: não pode o homem, nem deve,
saber tudo. Deus assim o quer em Sua sabedoria. Sem o véu que lhe oculta certas
coisas, ficaria ofuscado, como quem, sem transição, saísse do escuro para o
claro. Esquecido de seu passado ele é mais senhor de si.(…)
Gravíssimos inconvenientes teria
o nos lembrarmos das nossas individualidades anteriores. Em certos casos,
humilhar-nos-ia sobremaneira; em outros nos exaltaria o orgulho, peando-nos, em
consequência, o livre-arbítrio. Para nos melhorarmos, dá-nos Deus exatamente o
que nos é necessário e basta: a voz da consciência e os pendores instintivos.
Priva-nos do que nos prejudicaria. Acrescentemos que, se nos recordássemos dos
nossos precedentes atos pessoais, igualmente nos recordaríamos dos outros
homens, do que resultariam talvez os mais desastrosos efeitos para as relações
sociais. Nem sempre podendo honrar-nos do nosso passado, melhor é que sobre ele
um véu seja lançado.
Por outro lado, muitas criaturas
que contestam a reencarnação perguntam: Como
posso pagar por uma coisa da qual não tenho a mais vaga lembrança?
Evidentemente esta pergunta é até compreensível para quem ainda não estudou a
Doutrina dos Espíritos, havendo portando dificuldade em compreender e aceitar
algo cujo fundamento permanece desconhecido. A solução é oferecer a tais
criaturas um caminho de acesso a essas informações, chamando-lhes a atenção
para o fato insofismável de que Deus é justo e bom e impossível seria conciliar
Sua justiça e bondade com os desníveis sociais que vemos à nossa volta. A
unicidade da existência jamais poderá explicá-los. Por que sorte tão diversa na
vida de Seus filhos? Por que uns nascem em berço de ouro e outros nas mansardas
infectas? Por que uns são inteligentes e outros apoucados? Só a reencarnação
pode conciliar e justificar situações tão antagônicas e aparentemente injustas.
Segundo Allan Kardec[7],
o esquecimento do passado não constitui obstáculo a que se possa aproveitar da
experiência de vidas anteriores. Havendo Deus entendido de lançar um véu sobre
o passado, é que há nisso vantagem. Sabemos que a evolução se processa de baixo
para cima, isto é, o Espírito nasce simples e ignorante e caminha na direção da
perfeição relativa. Assim, para que rebuscar no passado os fatos que devem
presentemente ficar esquecidos?!
Segundo Emmanuel, (…) é no corpo que dispomos daquele bendito
anestésico do esquecimento temporário com que a cirurgia da vida, nos hospitais
do tempo, nos suprime as chagas morais instaladas por nós mesmos, no campo
íntimo; nele reencontramos os desafetos de passadas reencarnações, nas teias da
consanguinidade ou nas obrigações de grupo de serviço para a quitação
necessária de nossos débitos, perante a lei que nos governa os destinos.
Quão salutar e providencial é o
esquecimento do passado que nos enseja a possibilidade de resgatar, sem
humilhação, os débitos junto daqueles que prejudicamos ou nos prejudicaram!… No
passado que se perde na noite dos tempos, está a causa de grande parte dos
sofrimentos humanos e o fulcro da questão está no fato de sempre termos
fracassado na administração do perdão incondicional. Estamos sempre nos lugares
certos e com as pessoas certas. Cabe-nos aceitar e procurar compreender o que devemos
fazer para aproveitar ainda nesta oportunidade reencarnatória o ensejo
abençoado da reconciliação com os adversários d`antanho.
Esqueçamos o que passou; não nos
assentemos na esquina do remorso e tampouco nos enveredemos em meio aos cipoais
da amargura. Sigamos em frente, de olhos postos no futuro feliz que nos aguarda
a todos, construindo esse porvir ditoso desde já sob as bênçãos de Jesus.
Fonte: Agenda Espírita Brasil
[1]
https://gecasadocaminhosv.blogspot.com/2020/10/esquecimento-do-passado-rogerio-coelho.html
[2] Mateus, 5:44.
[3] Resultado da Lei de Causa e Efeito
[4] Mt., 10:26.
[5] João, 1:21.
[6] KARDEC, Allan. O
Livro dos Espíritos. 88.ed. Rio [de Janeiro]: FEB, 2006, q. 307.
[7] KARDEC, Allan. O Evangelho Seg. o Espiritismo. 129.ed.
Rio [de Janeiro]: FEB, 2009, cap. V, item 11
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