sábado, 3 de outubro de 2020

UM CASO DE TRANSFIGURAÇÃO[1]

 


Edson Luiz Wachholz - setembro/2020

 

Em todas as épocas, a Humanidade tem tido à conta de sobrenatural tudo aquilo que não consegue explicar. Allan Kardec, reforçando o caráter esclarecedor da Doutrina Espírita, desenvolve em O Livro dos Médiuns, no capítulo intitulado Do Maravilhoso e do Sobrenatural, uma série de argumentos com a finalidade de esclarecer a perfeita integração entre os fenômenos mediúnicos e as leis naturais. Como o bom professor que leva seus alunos a pensar por si próprios, questiona Kardec[2]:

 

Mas, que entendeis por sobrenatural?

O que é contrário às leis da Natureza.

Conheceis, porventura, tão bem essas leis, que possais marcar limite ao poder de Deus?

 

Mais adiante, o Codificador assevera que[3] (…) os fatos que o Espiritismo produz nos revelam leis novas e nos dão a explicação de um mundo de coisas que pareciam sobrenaturais.

É a narrativa de um desses fatos tomados, a priori, como sobrenaturais, mas que a Doutrina Espírita explica à luz da razão, que encontramos no Evangelho de Mateus[4]. Jesus chama Pedro, Tiago e João e dirige-se para um monte a fim de ficarem sozinhos. Em determinado momento, os discípulos admirados observam que o rosto de Jesus brilhava como o sol e suas roupas haviam se tornado brancas como a luz.

Kardec nos esclarece[5] que a transfiguração consiste na mudança do aspecto de um corpo vivo.  Relata o caso ocorrido entre 1858 e 1859, de um menina de 15 anos que transfigurava-se, tomando a aparência de pessoas desencarnadas. O fenômeno era tão intenso que a menina apresentava semelhança fisionômica, no olhar, no tom de voz e na maneira de falar.

Nos dias de hoje, com maior ou menor intensidade, observamos principalmente acompanhando os fenômenos de psicofonia, a transfiguração dos médiuns, que modificam seus traços fisionômicos ou o timbre da voz, em perfeita sintonia com o Espírito comunicante.

É o relato de um desses casos que encontramos em pesquisa de documentos históricos que, oportunamente, realizamos na sede da União Regional Espírita 2ª região, com sede em Ponta Grossa.

Em texto datilografado, a Sra. Maria Margarete[6] inicia seu relato dizendo que nada conhecia, anteriormente, sobre a Doutrina Espírita ou sobre os fenômenos mediúnicos.

Conta que na noite de 4 de outubro de 1975, atendendo a um convite de seu esposo, que era espírita, dirigiu-se com ele à sede da Sociedade Espírita Francisco de Assis de Amparo aos Necessitados – SEFAN, em Ponta Grossa, para assistir a uma palestra do orador baiano Divaldo Pereira Franco.

Após a brilhante palestra, foram, ela e o esposo, convidados pelo Sr. Guaracy Paraná Vieira, para se dirigirem à Organização Espírita Irmã Scheilla, instituição fundada pelo próprio Divaldo, nessa cidade.

Depois da reunião informal, na qual Divaldo relatou diversos casos, com seu bom humor característico, os presentes buscaram a prece para agradecer a Deus a oportunidade.

A Sra. Maria Margarete confessa que não estava acostumada com aquela prática e decidiu manter os olhos abertos, observando tudo o que se passava ao redor.

Aqueles que temos tido a oportunidade de acompanhar Divaldo, em suas conferências, presenciamos amiúde, durante o encerramento, o fenômeno da psicofonia, quando o médium altera seu timbre de voz, trazendo-nos a mensagem consoladora dos imortais.

Foi nesse momento, que ela percebeu uma mudança significativa na voz do médium baiano.

Também se deu conta que os traços fisionômicos dele começaram a se modificar. Importante salientar que, à época, Divaldo estava com 48 anos.

Relata a senhora que, inicialmente sua pele foi ficando envelhecida e quase encarquilhada. No seu rosto, antes liso, começou a crescer barba que foi aumentando, branca, abundante, levemente ondulada. Igualmente seus cabelos ficaram grisalhos e cresceram dando-lhe o aspecto de um velho. (sic)

Ao lermos o texto original, percebemos, quiçá pelos sentidos extrafísicos, toda a emoção que o insólito fenômeno lhe causava.

Continua dizendo que a bela mensagem prosseguiu e eu via na minha frente uma outra criatura. Quando a preleção foi terminando, assisti a outra metamorfose, agora em sentido inverso: os cabelos foram diminuindo e escurecendo, a barba igualmente foi encurtando até desaparecer de todo e, quando Divaldo encerrou, sua figura era a mesma de sempre e sua voz era a de costume.

Confessa a Sra. Maria Margarete que, diante do fato de que a metamorfose de Divaldo não causasse estranheza ou curiosidade nos demais, imaginou ser um fenômeno comum e rotineiro.

Chegando em casa e comentando o acontecido com o marido espírita, recebeu o esclarecimento de que a transfiguração completa, tal qual ela havia presenciado, não era algo corriqueiro.

Não fosse um fato singular, acontecido a posteriori, poderíamos até objetar que, tocada em sua emoção, a senhora teria sido vítima de uma ilusão.

Afirma que posteriormente, folheando umas revistas espíritas vim a identificar a fisionomia na qual eu vira Divaldo Pereira Franco transformar-se naquela noite. Era o Dr. Bezerra de Menezes, que vim a saber fora grande vulto do Espiritismo. Apenas havia uma pequena diferença, na fisionomia do Espírito que eu vi os cabelos eram um pouco mais escuros e a barba era um pouco mais ondulada do que a da fotografia. No mais era tudo idêntico. (sic)

É ainda Allan Kardec que esclarece definitivamente a questão, quando assevera que[7] poderá então o perispírito mudar de aspecto, fazer-se brilhante, se tal for a vontade do Espírito e se este dispuser de poder para tanto. Um outro Espírito, combinando seus fluidos com os do primeiro, poderá, a essa combinação de fluidos, imprimir a aparência que lhe é própria, de tal sorte, que o corpo real desapareça sob um envoltório fluídico exterior, cuja aparência pode variar à vontade do Espírito. Esta parece ser a verdadeira causa do estranho fenômeno e raro, cumpra se diga, da transfiguração.

Os fenômenos mediúnicos são de todos os tempos e repetem-se incontáveis vezes, chamando-nos a atenção para a imortalidade da alma. A Doutrina Espírita, cumprindo seu papel de consolo e esclarecimento, traz-nos a luz através da qual podemos compreender a sua completa integração com as Leis Divinas.



[2] KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns. Rio de Janeiro: FEB, 2013. pt.1, cap. II, item 7.

[3] Op. cit. pt. 1, cap. II, item 17.

[4] BÍBLIA, N. T. Mateus. Português. O novo testamento. Tradução de João Ferreira de Almeida. Rio de Janeiro: Imprensa Bíblica Brasileira, 1966. cap. 17, vers. 1 a 8.

[5] KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns. Rio de Janeiro: FEB, 2013. pt. 2, cap. VII, item 122.

[6] Inobstante o original apresentar o nome completo da Sra. Maria Margarete, preferimos manter sigilo quanto ao sobrenome. Pelas pesquisas realizadas a referida senhora já desencarnou e não conseguimos contato com seus filhos para solicitar a devida autorização para a citação completa do nome.

[7] Op. cit. pt. 2, cap. VII, item 123.

Nenhum comentário:

Postar um comentário