quarta-feira, 14 de outubro de 2020

MUITOS RESULTADOS NEGATIVOS NA ANÁLISE DE CARTAS PSICOGRAFADAS POR MÉDIUNS BRASILEIROS[1]

 


Jader Sampaio

 

Os pesquisadores Elizabeth Schmitt Freire, Alexandre Caroli Rocha, Victor Scio Tasca, Mateus Moreira Marnet e Alexander Moreira-Almeida publicaram na revista “Explore” um artigo intitulado “Testando a escrita alegadamente mediúnica: um estudo experimental controlado” (Testing alleged mediumistic writing: na experimental controlled study).

Essencialmente, foram estudados oito médiuns psicógrafos cujo nome não foi divulgado, em função do anonimato previsto pela ética de pesquisa. Foram fornecidos a eles 98 fotos de pessoas desencarnadas, fornecidas pelos parentes à pesquisa, com uma média de 7 a 46 fotos por sessão (p. 3). Os médiuns só tinham acesso às fotos no início da sessão, e o pesquisador que as levava não teve contato com os familiares das pessoas. Os médiuns pegavam na mesa as fotografias das pessoas que eles julgavam perceber e psicografavam uma carta aos parentes. A grande maioria dos médiuns comentou espontaneamente “que se sentiu confortável durante as sessões e que se sentiu confiante que foi capaz de entrar em contato com o desencarnado”.  Os pesquisadores gravaram os comentários que os médiuns fizeram acerca das comunicações e os transcreveram, criando o que chamaram de “descrições”.

Após a coleta de dados, produziram-se 78 cartas e 64 descrições a partir de 18 sessões mediúnicas. Cada consulente (sitter) recebeu um conjunto de seis cartas e seis descrições, sendo uma das cartas e uma das descrições atribuídas ao parente ou amigo do qual ele desejaria ter notícias. As cinco outras cartas e as cinco outras descrições eram de desencarnados com o mesmo gênero e idade aproximada.

Essencialmente os consulentes avaliaram as cartas e as descrições com uma escala que tem 4 itens que vão de “estou certo que esta carta não se refere ao meu parente ou amigo” a “estou certo de que esta carta se refere ao meu parente ou amigo”. O mesmo foi feito com as descrições. Há classificações intermediárias, como “possivelmente se refere” e “possivelmente não se refere”.

Havia também uma escala para avaliar os itens de informação, mas não houve muita informação objetiva (informação que pudesse ser verificada, como profissão, roupas que vestia, instituições que participou, qualquer coisa que pudesse identificar objetivamente o espírito ou não) no conteúdo das cartas em geral (p. 5).

A análise das cartas e descrições (apenas as que seriam referentes aos desencarnados em questão) apontam, em geral, para sua não identificação. Vinte cartas não foram consideradas dos desencarnados ou provavelmente não o seriam. 19 descrições também ficam  nesse grupo. 4 cartas foram classificadas como provavelmente ou certamente escritas pelos desencarnados que se desejava contatar. 6 descrições provavelmente seriam dos desencarnados.

Os dados acima podem ser vistos no gráfico de colunas acima:

Figura 1: Escores obtidos dos consulentes referentes às cartas e descrições dos desencarnados que eles desejavam contatar, realizada a partir da Escala de Avaliação Global.

Os pesquisadores concluem pela incapacidade da maioria dos médiuns em fornecer “informação anômala” sobre os desencarnados em condições experimentais rigorosas. Três hipóteses explicativas são aventadas para a explicação desses resultados:

1.      Os médiuns não são capazes de obter informações anômalas;

2.      Alguns médiuns são capazes de obter informações anômalas, mas os que foram estudados não;

3.      Os médiuns participantes do estudo não obtiveram informações anômalas porque as condições da pesquisa foram muito restritivas e artificiais.

 

Os autores levantaram algumas condições que poderiam ser observadas nos próximos estudos com  médiuns psicógrafos em busca de melhores resultados.

Independente do resultado obtido, o estudo merece a leitura dos espíritas, especialmente os que praticam a mediunidade, no sentido de possibilitar debates e reflexões sobre as reuniões que mantemos, as capacidades reais de nossos médiuns e o que podemos ou não oferecer ao grande público com segurança, em matéria de informação.

Outros estudos com médiuns já mostraram resultados com informações objetivas fornecidas por médiuns que não poderiam tê-las obtido por aprendizagem ou mesmo fraude, mesmo em estudos experimentais controlados. Que possamos aprender com os fatos e desenvolver mais os cuidados que dispensamos na identificação, desenvolvimento e educação dos médiuns, bem como com a avaliação, confirmação e divulgação de informações obtidas pela via mediúnica.

 

Elizabeth Schmitt Freire, Alexandre Caroli Rocha, Victor Scio Tasca, Mateus Moreira Marnet e Alexander Moreira-Almeida, Testing alleged mediumistic writing: na experimental controlled study, “Explore”, New York, Elsevier, 2020 (article in press)

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