sábado, 31 de julho de 2021

JULGAR OU NÃO JULGAR... EIS A QUESTÃO![1]

 

José Lucas – Óbidos, Leiria – Portugal – 17/07/2021

 

A Doutrina Espírita ou Espiritismo não é mais uma religião nem mais uma seita, mas uma filosofia de vida, assente na observação dos factos mediúnicos, na filosofia e na moral que Jesus de Nazaré deixou à Humanidade.

Os ensinamentos de Jesus são de tal modo profundos e universais que atravessaram o tempo e nele se perpectuam. Podemos resumi-los, em fazer ao próximo o que desejaríamos que nos fizessem, se estivéssemos no seu lugar.

Nos seus três anos de activismo social, Jesus ensinou, falando e fazendo.

Todos temos na memória o episódio da mulher adúltera que ia ser lapidada e, com a intervenção de Jesus, salvou-se do apedrejamento habitual naquela Sociedade.

“Vai e não voltes a falhar”, moralmente falando, terá aconselhado Jesus, referindo que também ele não a julgava.

A ética e a moral de Jesus de Nazaré são o mote pacificador e transversal a toda a Humanidade. Se colocadas em prática, conduzem à fraternidade, solidariedade, colaboração, à desculpa, ao perdão, ao Amor ao próximo.

Temos aqui o roteiro existencial da Sociedade do futuro, quando na Terra estiverem maioritariamente Espíritos espiritualizados, colocando em prática esta filosofia de vida, base para o bem-estar social e a felicidade possível.

Não julgar é precioso ensinamento da doutrina espírita, não julgar o próximo, as suas escolhas, as suas opiniões. É um não julgar no sentido de não criar dissensões, não criar inimizades, aversões, guerras, mal-estar, entendendo que cada um de nós tem o seu nível de evolução próprio e, não podemos exigir dos outros aquilo que eles ainda não conseguem dar. Também nós temos as nossas limitações, as nossas falhas, as nossas ideias que causam discórdia nos outros.

É um ensinamento e uma prática essenciais para a pacificação social, para a evolução espiritual do Homem e, consequentemente das Sociedades em que está inserido, culminando na evolução do planeta que habitamos.

Se isto nos parece pacífico de entender, outras situações causam algumas divergências de opinião.

Por um lado, existem pessoas que, sendo apologistas das ideias de Jesus, pensam que devem ser activos socialmente, procurando fazer a sua parte para que a Sociedade seja melhor. Nesses, enquadram-se aqueles que pugnam por uma Sociedade mais justa, sem corrupção, sem desigualdades, sem mentiras, sem privilégios sociais.

Ser cristão não é a falsa santificação de quem ignora os problemas sociais, mas uma actividade digna e pacífica, em prol de uma Sociedade mais justa, onde todos sejam tratados como irmãos.

Para tal desiderato, têm de falar e agir em conformidade, dentro dos parâmetros da boa educação, da não violência. Acção sem omissão.

Se Jesus deitou as bancas comerciais ao chão, no Templo, chamando hipócritas aos que se serviam da religião para fazerem ali negócios, Gandhi foi um exemplo bem mais recente, de como deve agir socialmente um cristão (ele era hindu, embora profundo admirador de Jesus de Nazaré): agir, desobedecer, se necessário, perante o erro, mas pacificamente, sem o íntimo maculado de baixas paixões, sem ódio, sem aversão, agindo por aquilo que se acredita, em prol de um bem-comum maior e melhor.

Por outro lado, temos aqueles que acham que o cristão não se deve meter “nessas coisas” (reencarnámos precisamente para ajudar a mudar o tecido social), que deve meter a cabeça debaixo da areia, em oração e esperar que Deus e o Tempo tudo resolvam.

Tal atitude demonstra um desconhecimento do que é ser cristão, bem como do Espiritismo e do seu impacto social, profundo, dinâmico, activo.

Bastaria um pouco de bom-senso, longe do fanatismo religioso para entender isso.

No livro O Evangelho Segundo o Espiritismo, Allan Kardec pergunta aos Espíritos superiores se nos é lícito julgar alguém e colocar em público os erros alheios.

A resposta não poderia ser mais bela e profunda de sentido ético e moral: depende da intenção com que o façamos e do alcance.

Se o nosso julgamento, divulgação pública dos erros alheios tem por objectivo o bem-comum da Sociedade e salvar vidas que, de outro modo seriam prejudicadas, então isso é lícito. Se tem apenas por objectivo expor as mazelas alheias não nos é lícito.

O Espiritismo é um amplo movimento cultural, um movimento revolucionário do ponto de vista moral, que visa auxiliar o Homem no seu desenvolvimento intelectual e moral, desabrochando assim a sua espiritualidade (diferente de religião) e, desse modo, aproximando o Homem mais rapidamente de Deus.

Não temos o direito de julgar ninguém, mas temos o dever de pugnar pela justiça social.

Como fazer? Mohandas Gandhi, tal como Jesus de Nazaré, deixou uma dica que ressoa no nosso íntimo: Não há um caminho para a paz, a paz é o caminho.

sexta-feira, 30 de julho de 2021

A VIDÊNCIA ESQUECIDA[1]

 

Humberto de Campos

 

Benício Fernandes era assíduo frequentador de um grupo espiritista, mas, nunca se furtara à enorme contrariedade por não participar da visão direta dos quadros movimentados da esfera invisível. Desejava, ardentemente, os dons mediúnicos mais avançados. Fazia inúmeros exercícios para obtê-los. Iniciavam-se os trabalhos habituais e lá estava o nosso amigo em profunda concentração, ansioso por surpreender as visões reveladoras. Tudo, porém, em torno do seu mundo sensorial, era expectação e silêncio. Terminada a reunião, ouvia, velando a própria mágoa, certas descrições de alguns companheiros. Este observara a presença de Espíritos amigos, aquele contemplara maravilhoso quadro simbólico. Falava-se de mensagens, de painéis, de luzes entre vistas. Dentre os visitantes comuns, de passagem pelo grupo, surgiam preciosos casos de fatos vividos. Havia sempre alguém a comentar um acontecimento inesquecível, de sabor doutrinário, ocorrido no seio da família.

Benício não conseguia disfarçar a inveja e o desgosto e despedia-se, quase bruscamente, nervoso, fisionomia estranha e taciturna, para entregar-se em casa a pensamentos angustiosos.

Por que razão não conseguia perceber as manifestações do plano espiritual? Seria justo acompanhar o esforço dos companheiros, quando, a seu ver, se sentia desatendido em suas necessidades?

A coisa ia assumindo caráter de terrível obsessão. Nosso amigo não mais ocultava o mal-estar íntimo. Se alguém, depois de uma prece, o interrogava sobre as observações próprias, esclarecia em tom desabrido: “Nada vi, nada sinto. Acredito que sou uma pedra”!

Aquelas atitudes revelavam profunda desesperação aos companheiros preocupados. A situação agravava-se cada vez mais, quando, uma noite, Benício sonhou que aportava ao mundo espiritual, convocado por um amigo desejoso de receber suas notícias diretas. Na paisagem de intraduzível beleza, o desvelado mentor abraçou-o e cogitou das suas amarguras. O pobre homem estava deslumbrado com o que via, sem encontrar meio de expressar a sensação de gozo que lhe ia na alma; toda via, respondeu sem hesitação:

‒ Meu grande benfeitor, não me posso queixar das minhas lutas terrenas, mas não devo ocultar minha grande mágoa.

A respeitável entidade fez um gesto interrogativo, enquanto Benício continuava:

‒ Desgraçadamente, para mim, embora participe dos esforços de uma nobre agremiação de estudos evangélicos, nunca vi os Espíritos!

‒ Mas não estás com a luta temporária da cegueira! Objetou o amigo venerando, afavelmente. Esqueces, acaso, que teu plano de trabalho está igualmente povoado de Espíritos em diversos graus da ascensão evolutiva?! Crês, porventura, que, os habitantes da Terra sejam personalidades, estranhas à comunidade universal?

Benício Fernandes experimentou imenso choque. Aquela interpretação inesperada lhe desnorteava os pensamentos. Como desejasse retificar o engano de suas cogitações, acentuou com algum desapontamento:

‒ Sinto ânsia ardente de contemplar os Espíritos protetores, beijar-lhes as mãos todos os dias, manifestando-lhes meu reconhecimento.

‒ Esqueceste tua velha mãezinha? - perguntou o mentor solícito.

‒ Há quanto tempo não te recordas de orar com ela, osculando-lhe as mãos carinhosas? Acreditas, talvez, que os cabelos brancos dispensam os carinhos? E teu tio; esgotado nos trabalhos mais grosseiros do mundo, por ajudar tua mãe, na viuvez? Olvidaste, Benício, esses Espíritos protetores de tua vida?

O discípulo da Terra experimentou frio cortante na alma; no entanto, prosseguiu:

‒ Compreendo... Mas não me posso furtar ao desejo de entrar em contato com as nobres entidades que dirigem ali tarefas e conhecer-lhes os superiores desígnios.

‒ Não recordas teu chefe de trabalho diário? Interrogou o benfeitor venerável.

‒ Ele é um bom Espírito dirigente. Supões que a tua oficina e a sua administração estivessem no mundo, a esmo? Não desdenhes a possibilidade de integrares elevados programas de ação do teu diretor de trabalhos terrestres. Auxilia-o com a boa-vontade sincera. Antes de examinar-lhe as decisões com pruridos de crítica, procura algum meio de contribuir com o teu esforço, honrando-lhe os propósitos.

E como o interlocutor estivesse, agora, profundamente emocionado, o amoroso mensageiro continuou:

‒ Olvidaste os diretores da instituição doutrinária onde buscas benefícios? Aqueles irmãos muitas vezes são caluniados e incompreendidos. Considera-lhes os sacrifícios. Quase sempre sofrem os ataques da malícia humana e necessitam de companheiros abnegados para a obra generosa de suas fundações fraternais. É justo que não sejas apenas mero sócio contribuinte de despesas, materiais, e sim participante ativo do trabalho evangélico, isto é, sincero sócio de Jesus-Cristo.

O aprendiz da Terra sentia-se extremamente envergonhado. Suas ideias modificavam-se em ritmo vertiginoso. Entretanto, na sua feição de homem do mundo, pouco inclinado a ceder das próprias opiniões, redarguiu em tom 'de mágoa:

‒ Sim, meu bondoso amigo, reconheço a justiça e a grandeza das vossas observações; entretanto, nas minhas atividades terrenas, queria ver, pelo menos, algum Espírito sofredor, alguma entidade necessitada, ou ignorante. . .

Valendo-se da pausa que se fizera espontânea com os derradeiros argumentos, o carinhoso emissário voltou a dizer:

‒ Almas desalentadas, entre feridas e angústias? Seres necessitados de assistência e de luz? Não te lembras mais dos filhinhos que o Céu te concedeu? Penetras cegamente os portais da tua instituição, a ponto de não veres os enfermos e derrotados da sorte que ali procuram o socorro do Evangelho de Jesus-Cristo? Nunca viste os que se aproximam da fonte das bênçãos, tomados de intenções mesquinhas e criminosas, terríveis obsessores dos operários fiéis?

Benício estava agora extático, demonstrando haver afinal compreendido.

‒ Andas assim tão esquecido da vidência preciosa que Deus te confiou? - prosseguia o mentor espiritual, solicitamente. Se ainda não pudeste contemplar os Espíritos benfeitores, ou malfeitores, que te rodeiam na Terra, como queres conhecer e classificar as potências do Céu? Volta para casa e procura ver!...

Nesse instante, Benício sentiu-se perturbado pela explosão de um ruído imenso.

Era o relógio que o despertava. Acordou, esfregou os olhos e preparou-se para tomar o trem suburbano, dentro de alguns minutos.

Nessa manhã, Benício Fernandes levantou-se, tomou o café, abraçou mais afetuosamente a esposa e os filhinhos. Cada coisa da sua modesta habitação apresentava, agora, aos seus olhos, uma expressão diferente e mais preciosa. Antes de sair foi beijar as mãos de sua mãe paralítica, o que há muito não fazia; perguntou pelo velho tio que saíra mais cedo, e, engolfado em grandiosos pensamentos, dirigiu-se para o trabalho, meditando na Providência Divina que lhe havia permitido receber uma lição para o resto da vida.



[1] Reportagens de Além-Túmulo – Francisco C. Xavier

quinta-feira, 29 de julho de 2021

TEMPESTADES[1]

 


Miramez

 

Na produção de certos fenômenos, das tempestades, por exemplo, é somente um Espírito que age ou se reúnem em massa?

‒ Em massas inumeráveis.

Questão 539/O Livro dos Espíritos

 

Os ventos são como que o sopro de Deus para a renovação da atmosfera. Eles são guiados por inúmeros Espíritos, muitas falanges de Entidades sob a direção dos engenheiros siderais que conhecem todos os fenômenos e sabem guiá-los para determinados objetivos.

Deus está atento a todos os movimentos da vida na criação.

As tempestades são forças renovadoras que limpam a atmosfera, para que a vida se esplenda com mais segurança, e os Espíritos encarregados disto sabem dosar seus valores, de modo a servir a humanidade. Mas, muitos dos Espíritos que trabalham nesta renovação são inconscientes dos fatos, assim como o servente e o pedreiro não têm consciência das leis que garantem o aprumo do prédio.

Os choques das nuvens são dirigidos por mentes capacitadas, os raios obedecem a comandos na direção que Deus determinar. Se eles causam alguns danos para os homens, não passam de simples arranhões, diante do bem que produzem, além de que esses ditos danos podem ter sido opção dos próprios Espíritos envolvidos, enquanto no mundo espiritual.

As nuvens são como mãos de Deus a verter águas na Terra, e onde elas não caem há um justo sentido, no cumprimento das provas e expiações das criaturas que ali se encontram, como no caso do nordeste brasileiro, onde as chuvas são escassas. Se a população daquela região se mudasse toda para o sul, ali passaria a não receber chuvas, mudando o clima imediatamente. As provas não são da Terra e, sim, das criaturas que ali se encontram. Quando o carma coletivo se aliviar, o fardo tornar-se-á leve, o jugo suave e tudo se normalizará, na paz do Senhor. Então, os Espíritos encarregados desse trabalho, passarão a desenvolver outras atividades, as nuvens se estenderão como uma colcha de luz a abençoar toda a Terra e ela se tornará um verdadeiro paraíso, onde principia a felicidade.

Os trabalhos para os Espíritos em um planeta como o nosso, onde vivemos encarnados e desencarnados, requer muita ação dos Espíritos superiores e mesmo inferiores, ao passo que, se a Terra já tivesse alcançado mais um grau na escala dos mundos, o serviço diminuiria para todos nós, devido à harmonia dos pensamentos de todos, o que contribuiria com as nossas operações em favor dos que ainda se encontrassem no mundo.

Ao veres sinais de tempestades, não temas; ora, ajudando aos Espíritos encarregados dessas operações difíceis, porque Deus quer que assim aconteça para o bem e a paz de todas as criaturas. Se há alguns danos, é para o bem; a programação é divina e não humana. Falamos de carma, de dívidas, no entanto, podes aliviar até mesmo a ação coletiva desses distúrbios pela oração e pelo bom procedimento. Vê no Evangelho que o Cristo fez parar a tempestade que se arrojava nas águas.

As forças do Espírito nascem ou começam a nascer, de qualquer um conceito do Evangelho, na sua simplicidade, como este mencionado por Mateus:

Dá a quem te pede, e não voltes as costas ao que deseja que lhe emprestes. (Mateus, 5:42)

Começa a praticar esses ensinamentos, que a luz surgirá em teu coração, em busca de outros preceitos que têm a capacidade de libertar as criaturas. Se somos sabedores dessa verdade, passamos a respeitar esse trabalho e mesmo a ajudar os Espíritos pelo modo que podemos, pelo respeito e pela oração.



[1] Filosofia Espírita – Volume 11 – João Nunes Maia

quarta-feira, 28 de julho de 2021

7 MITOS E MEIO SOBRE O CÉREBRO DERRUBADOS[1]

 


Dalia Ventura - BBC News Mundo - 18 julho 2021

 

Existem ideias que duram porque têm o potencial de revelar conceitos surpreendentes, enquanto outras não sobrevivem ao rigor científico.

No século 4 a.C., Aristóteles (384 a.C. — 322 a.C.) considerava o cérebro um órgão secundário que servia para resfriar o sangue que o coração usava para funções mentais. Mas era também um lugar onde o espírito circulava livremente e onde estava, em sua visão, o sensus communis (ou "senso comum").

Séculos de pesquisa depois, o médico romano Galeno de Pérgamo (130 ‒ 210) concluiu que o cérebro era o grande responsável por nossas funções mentais e não o coração, como Aristóteles havia sugerido.

O sensus communis, no entanto, sobreviveu. No século 16, quando Leonardo da Vinci (1452 ‒ 1519) estava desenhando e estudando o cérebro, um de seus objetivos era encontrar sua localização; filósofos como Tomás de Aquino, Locke e Kant o exploraram; a psicologia o acolheu, e os cientistas continuaram a testar o conceito daquele sexto sentido que refina a informação percebida por nossos cinco sentidos até hoje.

Mas há outras noções que, embora a ciência já tenha determinado que estão erradas, permanecem teimosamente ressoando, não graças às evidências, mas à repetição e à crença.

O cérebro, aquela "obra-prima da criação", como disse o cientista dinamarquês Nicolaus Steno, em 1669, é um daqueles campos minados de tais falsos conhecimentos e imprecisões.

Como não estamos imunes a isso, consultamos a renomada neurocientista Lisa Feldman Barrett, autora do livro “Seven and a Half Lessons About the Brain" (Sete lições e meia sobre o cérebro), no qual ela desmistifica "aquela grande massa cinzenta entre nossas orelhas".

Perguntamos a ela se é verdade, por exemplo, que nascemos com certo número de neurônios, que eles não se renovam, já que não se reproduzem como as outras células do corpo.

 

½ Neurônios limitados

Isso é quase verdade.

Os humanos perderam a capacidade de regenerar neurônios... exceto em alguns lugares do cérebro, assinala a neurocientista.

E não apenas nós.

Animais de vida longa tendem a perder essa capacidade porque, quando novos neurônios substituem os antigos, as memórias são perdidas.

Não é que cada neurônio guarde uma memória, mas se trata de um conjunto que se comunica, ou seja, se um falta, essa relação molecular se perde e com ela parte do que foi aprendido.

O engraçado é que outros animais regeneram neurônios constantemente ao longo de sua vida.

Os pássaros são animais muito interessantes porque há partes do cérebro deles, nas quais os neurônios se regeneram a cada ano para aprender novas canções para atrair parceiros. Na verdade, foi assim que a plasticidade (do cérebro) foi descoberta.

Na Universidade Rockefeller (Estados Unidos), pesquisadores notaram que o tamanho dos núcleos cantantes — os núcleos em seus cérebros que são responsáveis por controlar sua respiração e seu aparelho vocal e seus corpos para que possam cantar — estavam se expandindo e diminuindo a cada ano, e constataram que eles estavam criando novos neurônios naquela época do ano.

Os pesquisadores presumiram então que a criação de neurônios só ocorria nas aves, mas não nos mamíferos. Na verdade, ela não só ocorre nos mamíferos, mas também nos primatas e até nos humanos, embora apenas em partes específicas do cérebro como o hipocampo[2], por exemplo.

Em todo caso, você já deve ter ouvido falar que só usamos parte dos neurônios daqueles que temos. Isso é verdade?

 

1. Neurônios desperdiçados

A ideia de que usamos apenas 5% ou 10% dos nossos neurônios simplesmente não é verdade.

Entre outras coisas, seria metabolicamente ineficiente. Seu cérebro é seu órgão mais dispendioso: responde por cerca de 20% de seu gasto metabólico diariamente. Imagine desperdiçar 90% de sua capacidade!

Isso é um absurdo e não faz o menor sentido.

Usamos o cérebro o tempo todo e não um neurônio, mas milhões e milhões a cada momento.

Claro, armazenando tudo que nossos sentidos percebem, não?

 

2. Seus olhos veem, seus ouvidos ouvem, sua pele sente

Não exatamente.

Todas as nossas sensações são interpretações do cérebro.

Você precisa de algum tipo de superfície sensorial, algum tipo de receptor, para levar informações para o cérebro, como as orelhas, a pele, o nariz, os olhos.

Mas esses sinais — ondas de luz, som — que eles captam não fazem sentido até que o cérebro os processe.

É por isso que existem condições como a cegueira cortical, em que os olhos funcionam bem, mas há danos nas partes do cérebro que são importantes para criar a visão.

Você não vê com os olhos, nem ouve com os ouvidos, nem sente com a pele: você o faz com o cérebro, que combina o que está na sua cabeça e os dados sensoriais detectados pelos seus órgãos.

Mas não é só isso...

 

3. Suas emoções estão em seu coração

Quando a emoção o invade, quando você sente o batimento cardíaco, não o sente no peito, mas na cabeça.

É difícil de entender, mas você não sente nada em seu corpo, tudo o que você sente está em seu cérebro.

A dor, a alegria... tudo, porque o cérebro é quem escreve a história, ele é o narrador.

E abriga as paixões nas profundezas de sua parte mais antiga... Uma 'besta interior' que explica nossas ações irracionais?

 

4. Você tem uma 'besta interior'

Bem... não é assim.

É verdade que existe um modelo conhecido como "cérebro trino", que consiste no complexo reptiliano, no sistema límbico e no neocórtex, sendo que o primeiro controla o comportamento e o pensamento instintivo para a sobrevivência, o segundo encarrega-se de regular as emoções, a memória e as relações sociais, e o terceiro é responsável pelas funções mais sofisticadas.

Por anos, os cientistas pensaram que a parte reptiliana envolvida no circuito límbico era o lar de nossa besta interior, a parte mais reativa de seu ser que tinha que ser controlada pela razão.

Segundo essa hipótese, seu cérebro é um campo de batalha entre sua besta interior e seu eu racional superior. Quando a racionalidade vence, você é moral, virtuoso e saudável, mas quando sua besta interior vence, você é imoral, porque não se esforçou o suficiente ou você está doente, porque a racionalidade não conseguiu controlar sua besta interior.

Toda essa narrativa é um mito completo.

Mas o que é realmente interessante é que as regiões do cérebro que foram marcadas como sua besta interior são, na verdade, aquelas que controlam seu corpo — seus pulmões, seu coração, seu sistema imunológico, seu metabolismo... seu corpo físico inteiro. E alguns de eles estão no centro da memória, tomada de decisão, racionalidade e percepção.

Essas regiões estão praticamente envolvidas em tudo que seu cérebro faz.

Então, elas estão envolvidas na função principal do cérebro, o raciocínio?

 

5. O cérebro é para pensar

Se você se pergunta para que o cérebro é importante, pode responder "pensar" ou "sentir" ou "a capacidade de perceber o mundo".

Na verdade, a tarefa mais importante do seu cérebro é mantê-lo vivo. Pense, sinta e perceba para controlar os sistemas internos do seu corpo para que você sobreviva, se mantenha saudável e, eventualmente, procrie — do ponto de vista evolutivo — e/ou prospere — do ponto de vista individual.

O curioso é que para fazer isso...

 

6. Seu cérebro reage

Uma das coisas que mais surpreendeu Lisa Feldman Barrett foi aprender que o cérebro funciona por meio de previsões.

Não pude acreditar porque não gasto meu tempo fazendo previsões e depois reagindo a elas, mas experimentando algo e reagindo naquele momento.

Mas a verdade é que você não reage às coisas do mundo.

Seu cérebro está executando um padrão interno que aprendeu, contingências dos sinais sensoriais aos quais foi exposto ao longo de sua vida, e está constantemente adivinhando o que vai acontecer.

Ele faz isso automaticamente, disparando sinais de seus próprios neurônios para antecipar os dados dos sentidos de seus serviços sensoriais. Então, quando os dados chegam, ele faz comparações.

Não é que você nunca encontre coisas novas, mas você não sai por aí se surpreendendo a vida inteira.

Quando há uma surpresa, o que acontece é que seu cérebro tenta prever, como sempre, mas os sinais não são previstos, e essa é uma oportunidade de aprender algo novo.

E finalmente...

 

7. Seu cérebro trabalha sozinho

Acontece que seu cérebro trabalha secretamente com o de outras pessoas.

Sua família, amigos, vizinhos e até estranhos contribuem para a estrutura e a função de seu cérebro e ajudam a manter seu corpo funcionando.

Experimentos mostraram que mudanças no corpo de uma pessoa frequentemente causam mudanças em outra, quer vocês dois estejam romanticamente envolvidos, sejam apenas amigos ou estranhos se encontrando pela primeira vez.

Quando você está com alguém de quem gosta, sua respiração e seus batimentos cardíacos são sincronizados. Esse tipo de conexão física ocorre entre bebês e seus cuidadores, entre terapeutas e seus pacientes e entre pessoas que fazem uma aula de ioga ou cantam juntas em um coral.

Se, por outro lado, as pessoas não se bicam, seus cérebros são como parceiros de dança que não param de pisar em seus pés.



[2] O hipocampo é uma estrutura do cérebro encaixada profundamente no lóbulo temporal de cada córtice cerebral. É uma parte importante do sistema límbico, de uma região cortical que regule a motivação, emoção, aprendendo, e de memória. https://www.news-medical.net/health/Hippocampus-Functions-(Portuguese).aspx

terça-feira, 27 de julho de 2021

EMPREGO DA PALAVRA MILAGRE[1]

 

Allan Kardec

 

O jornal Vérité, de Lyon, de 16 de setembro de 1866, num artigo intitulado Renan e sua escola, continha as reflexões seguintes, a propósito da palavra milagre.

Renan e sua escola nem se dão ao trabalho de discutir os fatos; rejeitam todos a priori, qualificando-os erroneamente de sobrenaturais e, portanto, impossíveis e absurdos, opondo-lhes um fim de não aceitação absoluto e um desdém transcendente. Acerca disto Renan disse uma palavra eminentemente verdadeira e profunda: “O sobrenatural não seria outra coisa senão o superdivino”. Aderimos com toda a nossa energia a esta grande verdade, mas fazemos observar que a própria palavra milagre (mirum, coisa admirável e até então inexplicável) não quer dizer interversão das leis da Natureza; longe disso: antes significa flexibilidade dessas mesmas leis, ainda desconhecidas do espírito humano. Diremos mesmo que sempre haverá milagres, porque a ascensão da Humanidade para o conhecimento cada vez mais perfeito sendo sempre progressivo, esse conhecimento necessitará constantemente ser superado e aguilhoado por fatos que parecerão maravilhosos na época em que se produzirem e não serão compreendidos e explicados senão mais tarde. Um escritor muito acreditado de nossa escola deixou-se tomar por essa objeção; (Allan Kardec) repete em muitas passagens de suas obras que não há maravilhoso, nem milagres; é uma inadvertência resultante do falso sentido de sobrenatural, repelido completamente pela etimologia da palavra. Dizemos nós que se a palavra milagre não existisse, para qualificar fenômenos ainda em estudo e saindo da ciência vulgar, seria preciso inventá-la, como a mais apropriada e a mais lógica.

Nada é sobrenatural, repetimos, porque fora da Natureza criada e incriada não há absolutamente nada de concebível; mas há o sobre-humano, isto é, fenômenos que podem ser produzidos por seres inteligentes outros que não os homens, segundo as leis de sua natureza, ou produzidos, quer mediatamente, quer imediatamente por Deus, conforme sua natureza ainda e conforme suas relações naturais com suas criaturas.

Philaléthès

 

Graças a Deus não ignoramos o sentido etimológico da palavra milagre. Temo-lo provado em muitos artigos e, notadamente, no da Revista Espírita do mês de setembro de 1860. Não é, pois, nem por engano, nem por inadvertência que repelimos a sua aplicação aos fenômenos espíritas, por mais extraordinários que possam parecer à primeira vista, mas com perfeito conhecimento de causa e intencionalmente.

Em sua acepção usual a palavra milagre perdeu sua significação primitiva, como tantas outras, a começar pelo vocábulo filosofia (amor à sabedoria), da qual se servem hoje para exprimir as ideias mais diametralmente opostas, desde o mais puro espiritualismo até o materialismo mais absoluto. Não é duvidoso para ninguém que, no pensamento das massas, milagre implica a ideia de um fato extranatural. Perguntai a todos os que acreditam nos milagres se os encaram como efeitos naturais. A Igreja está de tal modo fixada neste ponto que anatematiza os que pretendem explicar os milagres pelas leis da Natureza. A Academia mesma assim define este vocábulo: Ato do poder divino, contrário às leis conhecidas da Natureza. – Verdadeiro, falso milagre – Milagre comprovado – Operar milagres – O dom dos milagres.

Para ser compreendido por todos, é preciso falar como todo o mundo. Ora, é evidente que se tivéssemos qualificado os fenômenos espíritas de miraculosos, o público ter-se-ia enganado quanto ao seu verdadeiro caráter, a menos que empregasse de cada vez um circunlóquio e dissesse que há milagres que não são milagres, como geralmente se os entendem. Desde que a generalidade a isto liga a ideia de uma derrogação das leis naturais, e que os fenômenos espíritas não passam de aplicação dessas mesmas leis, é muito mais simples e, sobretudo, mais lógico dizer claramente: Não, o Espiritismo não faz milagres. Desta maneira, nem há engano, nem falsa interpretação. Assim como o progresso das ciências físicas destruiu uma porção de preconceitos, e fez entrar na ordem dos fatos naturais um grande número de efeitos outrora considerados como miraculosos, o Espiritismo, pela revelação de novas leis, vem restringir mais ainda o domínio do maravilhoso; dizemos mais: dá-lhe o último golpe, razão por que não é mal visto em parte alguma, tanto quanto não o são a astronomia e a geologia.

Se os que creem nos milagres entendessem esta palavra em sua acepção etimológica (coisa admirável), admirariam o Espiritismo, em vez de lhe lançar anátema; em lugar de aprisionar Galileu por ter demonstrado que Josué não podia ter parado o Sol, ter-lhe-iam tecido coroas por haver revelado ao mundo coisas de outro modo admiráveis, e que atestam infinitamente melhor a grandeza e o poder de Deus.

Pelos mesmos motivos, repelimos a palavra sobrenatural do vocabulário espírita. Milagre ainda teria sua razão de ser em sua etimologia, salvo em determinar a sua acepção; sobrenatural é uma insensatez do ponto de vista do Espiritismo.

O vocábulo sobre-humano, proposto por Philaléthès, em nossa opinião é igualmente impróprio, porque os seres que são agentes primitivos dos fenômenos espíritas, embora no estado de Espíritos, não deixam de pertencer à Humanidade. A palavra sobre-humano tenderia a sancionar a opinião longamente acreditada, e destruída pelo Espiritismo, que os Espíritos são criaturas à parte, fora da Humanidade. Uma outra razão peremptória é que muitos desses fenômenos são o produto direto dos Espíritos encarnados, por conseguinte, homens, e em todo o caso, requerem quase sempre o concurso de um encarnado; portanto, não são mais sobre-humanos que sobrenaturais.

Uma palavra que também se afastou completamente de sua significação primitiva é demônio. Sabe-se que, entre os Antigos, dizia-se daimon dos Espíritos de uma certa ordem, intermediários entre os homens e aqueles que eram chamados deuses. Esta denominação não implicava, na origem, nenhuma qualidade má; ao contrário, era tomada em bom sentido. O demônio de Sócrates certamente não era um Espírito mau, ao passo que, segundo a opinião moderna, saída da teologia católica, os demônios são anjos decaídos, seres à parte, essencialmente e perpetuamente votados ao mal.

Para ser consequente com a opinião de Philaléthès, seria preciso, em respeito pela etimologia, que o Espiritismo também conservasse a qualificação de demônios. Se o Espiritismo chamasse os seus fenômenos de milagres e os Espíritos de demônios, seus adversários teriam o queijo e a faca na mão! Seria repelido por três quartos dos que hoje o aceitam, porque nele veriam um retorno a crenças que já não são de nosso tempo. Vestir o Espiritismo com roupas usadas seria uma inabilidade, um golpe funesto na doutrina, que se veria em dificuldade para dissipar as prevenções que denominações impróprias tivessem alimentado.



[1] Revista Espírita – Maio/1867 – Allan Kardec

segunda-feira, 26 de julho de 2021

DJALMA MONTENEGRO DE FARIAS[1]

 

 

Nascido no dia 09 de outubro de 1900, em Recife, filho de conceituado educador, prof. Delmiro Sérgio de Farias e Sra. Maria Leopoldina Montenegro de Farias, contraiu matrimônio em 22/12/1928 com a Sra. Dulce Lira de Farias. Desse casamento não houve filhos.

Fez os estudos preparatórios no Ginásio Pernambucano, atual Colégio Estadual de Pernambuco e colou grau de professor aos 20 anos, pela Escola Normal Oficial. Foi professor da Escola de Agronomia. Cursou o 1º ano da Faculdade de Medicina, não tendo concluído o curso devido ao desaparecimento de seu pai, assim como pelo seu estado de saúde.

Djalma Farias ingressou na Prefeitura do Recife, por concurso, alcançando a primeira colocação. Possuindo o título de contador, graças aos seus esforços e conhecimentos, chegou ao cargo de contador dessa repartição. Na gestão do prefeito Dr. Novais Filho, desempenhou, em comissão, o cargo de diretor da Fazenda e, quando da renúncia do prof. José dos Anjos, exerceu, interinamente, a função de prefeito da Capital.

Era sócio efetivo da Associação de Imprensa de Pernambuco. Maçon, fez parte da Loja "Segredo e Amor da Ordem", onde foi vice-tesoureiro, Venerável e Orador.

Convertido à Doutrina Espírita muito jovem, dedicou-se ao estudo do Espiritismo com tal valor que dentro em pouco iniciava o seu apostolado na tribuna e na Imprensa.

Espírita perquiridor, estudioso, fez uma apreciável cultura geral, adentrando-se na arte de bem escrever, tendo ocupado com realce uma cadeira do Cenáculo Pernambucano de Letras.

Realizou conferências em outros Estados e sua voz era acatada na Federação Espírita Brasileira.

Colaborou na revista "A Verdade", editada pela Federação Espírita Pernambucana; manteve uma coluna espírita no jornal Diário da Noite e a revista "Reformador" sempre contou com sua preciosa cooperação. Foi, ainda, colaborador assíduo da Imprensa "Vida Espírita", no Diário da Noite, do Recife.

Foi presidente do Instituto Espírita João Evangelista e da Federação Espírita Pernambucana, fundando em 23/10/1947 a Comissão Estadual de Espiritismo, CEE, da qual foi o seu primeiro presidente.

Foi também um dos fundadores da Casa dos Espíritas de Pernambuco. Aderiu em todos os sentidos ao célebre "Pacto Áureo" de 05/10/1949. Dias após, em visita à Liga Espírita do Brasil, posteriormente Liga Espírita do Estado da Guanabara e hoje Federação Espírita do Rio de Janeiro ‒ proferiu também uma vibrante palestra, em meio a qual perdeu a voz ‒ era o espectro da moléstia que o advertia da sua imprudência, mas, num esforço extraordinário, conseguiu imprimir forças à matéria que não mais podia acompanhar a eloquência do seu verbo. Finalizou, contudo, essa sua alocução, que seria a última proferida por esse íntegro apóstolo do Espiritismo, entre aplausos da assistência.

Membro da "Liga Estadual Prol Estado Leigo", participou dos vários movimentos pela manutenção do Pensamento Livre, sob a ação da Coligação Nacional. Em 1943, publicou precioso opúsculo sob o título "Ensaio Sobre a Reencarnação" (recentemente relançado pelo Grupo Espírita Djalma Farias), desenvolvendo esse complexo quanto importante tema, com o poder de uma clarividência de Mestre.

Reconhecendo-lhe os méritos como cidadão e espírita, duas ruas existem em Pernambuco (na Capital e na cidade de Moreno) com o seu nome, assim como dois Centros Espíritas o têm como patrono e orientador espiritual, fazendo-lhe referência expressa em suas denominações (Grupo Espírita Djalma Farias, em Recife, e Centro Espírita Nove de Outubro, em Moreno).

Djalma Farias foi um marco do Espiritismo em Pernambuco e seu nome e sua obra ultrapassam os limites do seu Estado. Em 6 de maio de 1950, em Recife, desencarnou, aos 49 anos de idade, o grande trabalhador da Seara de Jesus, abnegado divulgador do Espiritismo ‒ Professor Djalma Montenegro de Farias.

sábado, 24 de julho de 2021

A OBSESSÃO DIGITAL E OS HATERS

 

Edson Figueiredo de Abreu[1]

 

É sem dúvida alguma que o advento da internet propiciou uma modernização nas “comunicações” em suas mais variadas formas de operação, vindo a alterar expressivamente as relações humanas através de diferentes mídias sociais. O cidadão moderno, mais “antenado” como se diz, tanto em casa, como em trânsito ou ainda no local de trabalho, é bombardeado por informações as mais diversas, fazendo com que a mídia digital o influencie de forma exacerbada. Isso a tal ponto, que fez o sociólogo Zygmunt Bauman cunhar a frase “somos inundados de informação e famintos de sabedoria”.

Esta questão da “influência digital” em nossas vidas me fez refletir, se não podemos ‒ sem o perceber ‒ estar sendo obsidiados digitalmente. Sim, caros leitores, até que ponto sem o percebermos estamos sendo “dirigidos” digitalmente? Lembrando a questão 459 de O livro dos Espíritos quando Kardec pergunta:

“Influem os Espíritos em nossos pensamentos e em nossos atos”?

E recebe como resposta:

 “Muito mais do que imaginais. Influem a tal ponto, que, de ordinário, são eles que vos dirigem e vós nem o percebeis”.

Penso eu que Kardec ‒ se vivo fosse – incluiria um apêndice à pergunta 459 e perguntaria o seguinte:

 “Além dos espíritos, que outras influências sofremos em nossos pensamentos e em nossos atos”?

E a resposta com certeza seria:

“Os espíritos até influem, mas, na atualidade, estes estão perdendo para o marketing de consumo, os noticiários sensacionalistas, programas de tv, influenciadores digitais e os algoritmos das redes sociais. Na verdade, para quem está inserido nas redes sociais, os algoritmos e os robôs digitais na maioria das vezes os dirigem e vós nem o percebeis”.

Vocês podem pensar que eu esteja exagerando, mas na realidade precisamos entender que, no atual mundo digital em que vivemos, somos percebidos e perseguidos pelos algoritmos, somos interpretados como números nas redes sociais, onde cada pequeno comportamento online nosso, vira um dado matemático importantíssimo para corporações e pessoas interessadas.

Quando você ‒ por exemplo – faz uma pesquisa online, percorre seus feeds sociais ou busca gêneros musicais em um aplicativo, está sendo “observado” e é posteriormente “guiado” por um algoritmo que entende seus hábitos, talvez até mais do que você, e recomenda músicas, notícias, produtos, vídeos e postagens que atendam seu gosto. Na verdade, cálculos matemáticos estão “influenciando” suas decisões mais do que você possa perceber. É isso que chamo de obsessão digital.

Outra coisa que é importante entender neste processo obsessivo moderno é a ação dos chamados “bots”, que são, na realidade, aplicações autônomas também conhecidas como “robôs” que rodam na Internet enquanto desempenham algum tipo de tarefa pré-determinada. Especialistas estimam que os robôs representam mais de 60% do tráfego nas redes sociais. Eles podem ser úteis e inofensivos para os usuários em geral, mas também podem ser usados de forma abusiva por pessoas que queiram influenciar as “massas não pensantes” de acordo com as convicções de quem produz as ideias a serem propaladas.

É assim que nascem as chamadas polarizações que, sem que a grande maioria das pessoas percebam, as incentivam e as fazem aderir a isto ou aquilo, por não perceberem alternativas. Ou é um ou o outro, quando na realidade, fora da bolha criada digitalmente, existem opções.

Então, caros leitores, nós, em grande maioria, estamos sendo obsidiados digitalmente e nem o percebemos, pelo contrário, até gostamos. E, interessante, como nos processos obsessivos clássicos narrados pelo espiritismo, se tentarem nos tirar isso, dificilmente aceitaremos e sofreremos, pois que adoramos, afinal essa situação nos é agradável e nos faz sentir muito bem.

Este assunto é tão sério que até alguns dos criadores dos algoritmos estão revendo suas posições e muitos, inclusive, estão assustados com o que criaram, pois acreditam que a situação saiu do controle. Eles mesmos perceberam o perigo que as redes sociais representa para si próprios e seus filhos. Vários desses criadores declaram seus medos e arrependimentos num interessante documentário da Netflix cujo título é “O Dilema das Redes”.

A sinopse de apresentação deste documentário diz o seguinte:

O “Dilema das Redes” apresenta o impasse de diversos responsáveis pela indústria da tecnologia, a partir de seus próprios dilemas éticos e pessoais, já que também sofrem com o vício e as consequências do uso das redes sociais.

Para quem ainda não viu, vale a pena assistir e tirar suas próprias conclusões sobre o perigo que estamos correndo.

Outro fato que se faz necessário entender, para quem pensa por si mesmo ‒ é claro ‒, é que o advento das redes sociais ajudou a amplificar o comportamento inadequado de uma boa parte das pessoas que, antes, não se arriscariam a demonstrar suas perfídias e agora se sentem encorajadas pelo anonimato. Como, nas mídias sociais existe a ilusão e ideia de uma falsa proteção, favorece a sensação de que é possível falar tudo e fazer qualquer coisa por estar “protegido” e “oculto” pela rede, como se a pessoa nunca fosse ser pega e nem responder por seus atos. Isso facilita a existência de comportamentos condenáveis e a propagação dos chamados “Haters”.

Os Haters ou “odiadores” numa tradução literal, são pessoas que praticam o que se convencionou chamar de cyberbullying. Adotando um comportamento aparentemente sem motivo, que intriga os estudiosos do assunto, os Haters não tem qualquer preocupação com ética ou moral, pois postam comentários ofensivos carregados de ódio, criticam sem muito critério tudo o que lhes parece contrário aos seus próprios interesses, porém, com conteúdo carregado de agressividade e ofensas que podem levar a consequências negativas para a vida das suas vítimas, as quais, na maioria das vezes, não conhecem pessoalmente. Inclusive, temos notícias de casos de suicídios provocados por comentários de Haters.

No pseudo anonimato, as redes sociais acabam se tornando um celeiro para pessoas covardes, desajustadas e frustradas que se sentem recompensadas em agredir, pois que enxergam ali uma oportunidade de burlar as regras, fazendo coisas que não fariam nas relações sociais francas e abertas. Já que dificilmente encontraremos, por exemplo, uma pessoa agredindo ou ofendendo outra “verbalmente” e pessoalmente, uma vez que, estando presente, o agredido pode revidar.

O interessante é que, o hater não percebe que seu comportamento desajustado pode ser fruto de frustrações vaidosas carregadas de orgulho mal trabalhado. Muitos querem fazer com que suas ideias e convicções prevaleçam sobre as ideias do outro. Se sentem os donos da verdade, a qual, inclusive, querem impor nem que seja pela força.

A situação obsessiva destas pessoas é tão intensa e absurda que algumas até criaram ou criam perfis falsos nas redes sociais, apenas para melhor destilar seu veneno sem serem realmente descobertas. É a covardia extrema e falta de moral falando mais alto.

São, na realidade, espíritos imperfeitos e estagiam numa das menores escalas evolutivas apresentadas pelos espíritos a Allan Kardec (vide questões 100 a 113 de O livro dos Espíritos), pois que dificilmente encontraremos uma pessoa “equilibrada” e “medianamente evoluída” agredindo outra por não concordar com suas ideias. Espíritos equilibrados também não impõem suas ideias, as apresenta e aguarda que as pessoas as possam absorver, cada uma no seu devido tempo, é claro!

Sem perceberem, então, os Haters dão vazão e ajudam na amplificação do processo obsessivo digital. Obcecados que estão por sua persona agressiva e seu ego inflado pela presunção, se ligam a espíritos que vibram na mesma faixa de pensamentos. Espíritos estes tão infelizes, covardes e incautos quanto o seu hospedeiro mental.

No entanto, da mesma forma que as redes sociais incentivam os incautos, também possibilita que as pessoas minimamente conscientes escolham o que querem ver, assistir, ouvir ou replicar. Assim sendo, não há justificativa para os Haters. Pois existe a possibilidade de burlar os robôs e os algoritmos nas redes sociais e até o bloqueio de pessoas, sites, páginas e grupos, aliado a alternativa de ocultar postagens indesejadas.

Então, o exercício do “livre arbítrio” na rede é o melhor antídoto contra os processos obsessivos digitais. Mas, para isso, se faz necessário que essas possibilidades de “aceitação” e “bloqueio” de processos obsessivos digitais sejam amplamente discutidas e divulgadas, a fim de ser aceito e entendido pelo maior número possível de pessoas.

Por fim, encerro este artigo convidando vocês leitores a analisarem seus comportamentos na rede e concluir se você, individualmente, pode ser enquadrado como um “obsidiado digital” ou ainda como um “hater”. E, por favor, nos seus possíveis comentários a este artigo, peço que não haja como um hater, mas como alguém ponderado que ao menos considerou como válidas as ideias aqui expostas.

 

 

https://www.youtube.com/watch?v=-RzSdF1yTf8&t=1960s



[1] Presidente do Grupo Espírita Manuel Bento

sexta-feira, 23 de julho de 2021

REENCARNAÇÃO: A MAIOR PROVA DA INFINITA BONDADE DE DEUS[1]

 

Eduardo Battel[2]

 

O conceito da reencarnação não é exclusivo da Doutrina Espírita, ele existe há muito tempo e é descrito em várias filosofias e religiões, mas o Espiritismo nos explica o porquê e como esse processo ocorre. A questão número 171 de O Livro dos Espíritos nos ensina sobre ele:

Todos os Espíritos tendem para a perfeição e Deus lhes faculta os meios de alcançá-la pelas provações da vida corpórea. Mas, em sua justiça, Ele lhes concede realizar, em novas existências, o que não puderam fazer ou concluir numa primeira prova.

Se só existisse uma vida e quem agisse de forma incorreta fosse condenado a sofrer, sendo castigado por toda a eternidade, onde estaria a bondade de Deus? Se Jesus nos ensinou que devemos perdoar todos os erros de nossos irmãos, seria Deus então inferior ao homem por não fazer isso? Conforme nos disse Chico Xavier, na sua grandiosa sabedoria:

Sem a ideia da reencarnação, sinceramente, com todo respeito às demais religiões, eu não vejo uma explicação sensata, inclusive, para a existência de Deus.

Caso tivéssemos uma só vida corpórea, nós seríamos criados por Deus antes dela. Por que algumas pessoas nascem com um corpo biológico saudável, em um lar com pais amorosos e não tem grandes dificuldades durante a sua existência e, já outros, nascem com defeitos físicos, ou tem alguma doença grave já na infância, ficando com sequelas e tendo uma existência breve ou vivem em uma condição social difícil, passando por muitas tribulações? Por que Deus daria privilégios a alguns e dificuldades a outros? Se só houvesse uma existência, seria Ele que escolheria quem teria uma vida mais fácil ou mais difícil. Isso seria justo e imparcial? A única coisa que explica essas e outras questões sobre nossas vidas é a reencarnação.

A doutrina da reencarnação corresponde à ideia que fazemos da Justiça de Deus. Ela nos evidencia como O Criador é infinitamente bom, justo, imparcial e ama a todos indistinta e igualmente. Somos criados simples e ignorantes e temos o livre-arbítrio para que sejamos livres. Porém, todos estamos submetidos às leis universais, como a de causa e efeito ou plantio e colheita, ou seja, nós escolhemos o que iremos plantar, mas colheremos obrigatoriamente tudo aquilo que plantarmos. Assim, os percalços que todos nós temos e as adversidades pelas quais passamos, uns mais outros menos, são em decorrência de nossas escolhas feitas em nossa atual ou em pretéritas encarnações.

A pluralidade das nossas existências nos oferece a oportunidade de evoluirmos conforme nos explica a questão número 167 de O Livro dos Espíritos: “Qual a finalidade da reencarnação? Resposta: Expiação, melhoramento progressivo da Humanidade. Sem isso, onde estaria a Justiça?”. Quando desencarnamos, retornamos à dimensão Espiritual, ou Mundo dos Espíritos, ficamos lá por determinado período e voltamos a nascer na dimensão material, quantas vezes forem necessárias para a nossa evolução. Quando atingirmos um determinado estágio evolutivo, não necessitaremos mais encarnar para progredirmos, embora ainda possamos fazer isso, mas em caráter missionário.

Existem três tipos principais de reencarnações e elas ocorrem de acordo com a nossa necessidade. Pode ser para expiação, que é o resgate, por meio da dor, de erros cometidos em outras existências. Para provação, que são provas voluntariamente solicitadas pelo Espírito, as quais, se bem suportadas, resultarão em seu progresso espiritual. E, por último, em missão, que é a realização de qualquer tarefa, de pequena ou grande relevância.

Todas as nossas encarnações são planejadas, por nós ou por Espíritos que nos auxiliam. Nós nascemos com o corpo que precisamos, na família correta, passamos por certas situações, convivemos com determinadas pessoas, ou seja, tudo ocorre nas condições mais adequadas para, muitas vezes, estarmos com as pessoas certas para ajustarmos os nossos corações e resolvermos os nossos problemas. Na reencarnação ninguém erra de endereço”.

 

Fonte: Agenda Espírita Brasil



[2] Frequentador do Centro Espírita Nova Luz e Centro Espírita João Batista em Jundiaí/SP. Expositor Espírita. Coordenador da Liga de Medicina e Espiritualidade da Faculdade de Medicina de Jundiaí, SP.

quinta-feira, 22 de julho de 2021

ESCOLHA DO SEXO[1]

 

Miramez

 

Quando somos Espíritos, preferimos encarar num corpo de homem ou de mulher?

‒ Isso pouco importa ao Espírito; depende das provas que ele tiver de sofrer.

Os Espíritos encarnam-se homens ou mulheres, porque não tem sexo. Como devem progredir em tudo, cada sexo, como cada posição social, oferece-lhes provas e deveres especiais e novas ocasiões de adquirir experiências. Aquele que fosse sempre homem, só saberia o que sabem os homens.

Questão 202/O Livro dos Espíritos

 

Muitos sentem dificuldades em aceitar a expressão Espírito errante, pois ela deixa a ideia de que o Espírito não tem pouso certo, estando a perambular pelo espaço, sem obrigações que lhe correspondem à personalidade. Contudo, a Doutrina dos Espíritos nos mostra, através dos tempos, as condições dos Espíritos, suas moradas e o que fazem no mundo espiritual, construindo a sociedade de Espíritos após o túmulo. Convém a todos os espíritas estudarem e meditarem na vida futura, para que novos conhecimentos venham a cair em suas mãos.

Não podemos generalizar o assunto. Tem almas que ficam onde determinar sua conduta, porém, os sérios se encontram sempre em colônias, trabalhando para seu adiantamento, em favor dos homens e dos Espíritos desencarnados sem condições de compreenderem o objetivo primordial da vida, que poderiam ser aqueles classificados como errantes. Assim como os homens civilizados vivem em sociedades, obedecendo a leis que eles acham mais convenientes, que assegurem a paz e protejam a comunidade assim são os Espíritos desencarnados. As organizações humanas são cópias imperfeitas trazidas do mundo espiritual. Todos os reinos, para terem vida melhor, se organizam e obedecem às leis daquela faixa.

O Espírito, no mundo espiritual nem sempre escolhe as modalidades da sua reencarnação; ele precisa passar pelos processos que lhe trazem a paz espiritual. Seja como homem ou como mulher, assegura a consciência iluminada que todos os caminhos nos levam à tranquilidade espiritual. O fator tempo é o mestre de todos os dias, e por ele vamos acordando todos os valores que Deus nos deu por misericórdia.

Em toda época de fechamento de ciclo, como a que se aproxima da Terra, aparecem grandes tribulações. É a concessão de Deus aos Espíritos, de várias qualidades morais, que descem à Terra, e muitos deles se melhoram no ambiente de esperança. Também no mundo espiritual a movimentação é muito grande nesse sentido. Os benfeitores já sabem o que vai acontecer e estão preparando lugar para a avalanche de Espíritos que irão desencarnar de uma vez, dentro de provações coletivas, preparando Espíritos para trabalharem no socorro espiritual. O trabalho é gigantesco, mas a casa é grande e Deus é sempre Pai amoroso. Nas proximidades do planeta, já se encontram milhares de pronto-socorro espirituais preparados.

É nesse sentido que o amor cresce, e a fraternidade toma caráter amplo, na sua amplitude de ser a caridade em ação permanente.

Toda catástrofe traz melhoras em si, pelo susto e, por vezes, o medo. Os homens procuram melhores caminhos e, no arrependimento e na busca, encontram Jesus com os braços abertos, dizendo: Vinde a mim, que Eu vos aliviarei. Além de aliviar, Ele, o Mestre dos mestres instrui e nos dá condições para conquistar a felicidade. Esse é o objetivo da vida.



[1] Filosofia Espírita – Volume 4 – João Nunes Maia

quarta-feira, 21 de julho de 2021

POR QUE SENTIR GRATIDÃO FAZ BEM À SAÚDE[1]

 


Michael Mosley - Da série "Just One Thing", da BBC - 11 julho 2021

 

Escrever um "diário da gratidão" pode parecer brega, antiquado ou até positivo demais. Talvez seja. Mas entrar no hábito de expressar gratidão pode não apenas nos fazer sentir melhor, como também reprogramar nosso cérebro com efeitos duradouros e provocar mudanças benéficas em nosso corpo.

E você pode fazer isso de uma maneira bem fácil: escrevendo uma lista das coisas pelas quais sente gratidão. Pode ser à noite, antes de dormir, ou de manhã, antes de começar o dia.

A "ciência da gratidão" explica que ela pode te fazer mais feliz, diminuir sua pressão sanguínea e melhorar seu sono.

Expressar gratidão faz parte do movimento da "psicologia positiva", que tem muitos estudos feitos nos Estados Unidos.

Uma dessas pesquisas foi realizada com 200 estudantes e revelou que escrever listas de gratidão durante nove semanas resultou em maiores taxas de felicidade e menos doenças físicas. Os alunos também começaram a fazer mais exercícios, porque estavam se sentindo melhor com a vida.

Em outro estudo, pediu-se que pacientes que sofrem de uma série de doenças neuromusculares escrevessem cinco coisas pelas quais eram gratos todos os dias, durante três semanas. Aqueles que contaram suas bênçãos relataram significativamente menos dor, bem como um sono melhor do que o grupo de controle.

E, talvez o mais surpreendente de todos, um estudo em que as pessoas foram solicitadas a cultivar sentimentos de gratidão observou maior ativação no córtex pré-frontal, a área do cérebro associada à tomada de decisões e recompensa social.

É importante ressaltar que nem todos os estudos produziram resultados extremamente positivos e, se você tiver preocupações sobre sua saúde mental, é importante falar com um especialista.

 

Sentir gratidão

A pesquisadora Fuschia Sirois, da Universidade de Sheffield, na Inglaterra, estuda a gratidão, a compaixão e o papel de ambas em nossa saúde e bem-estar.

"Muitas das pesquisas que fiz sobre a gratidão examinam os benefícios potenciais da gratidão em situações de estresse contínuo ‒ especificamente em pessoas que vivem com condições de saúde crônicas. Quem vive com uma condição de saúde crônica, muitas vezes vive um estresse contínuo, com muita dor e limitações funcionais", explica.

Nessas pesquisas, ela pede que os participantes pensem em três coisas pelas quais são gratos. Em alguns casos, propõe um "diário de gratidão", em que as pessoas diariamente, ou a cada dois dias, escrevem itens pelos quais sentem gratidão.

Muitas vezes, as pessoas expressam gratidão por eventos que são acionados por outras pessoas.

"Nos referimos a isso como gratidão desencadeada por benefícios, quando alguém faz algo de bom para nós que nos faz nos sentir gratos", diz.

Em outras ocasiões, as pessoas expressam "um sentimento geral de gratidão". Acordar sem interagir muito com outras pessoas, por exemplo, mas notar que o dia está ensolarado e ficar grato por isso e pela oportunidade de sair de casa e aproveitar o dia é um desses casos.

Sirois também estuda a gratidão como uma "tendência de disposição".

"Você pode pensar na gratidão como algo contínuo. Há momentos específicos em que nos sentimos gratos, mas com o tempo, podemos desenvolver uma mentalidade mais disposta à gratidão".

Em outras palavras, ao praticar gratidão, podemos desenvolver uma perspectiva mais fixa de maior gratidão diante da vida.

 

Por que 'praticar' a gratidão traz efeitos positivos?

Há muitas teorias diferentes para explicar por que praticar a gratidão traz efeitos positivos para nossa saúde, diz Sirois.

Um dos efeitos positivos é no sono.

"As pesquisas sugerem que isso acontece porque a gratidão nos coloca em um estado mais positivo, abrindo nossa perspectiva e permitindo com que a gente se concentre mais nas coisas positivas e as aprecie, em vez de se concentrar nas preocupações do dia ‒ algo que pode interferir no nosso sono".

Outro resultado positivo é o alívio da dor.

"Algumas das pesquisas que fizemos sobre comportamentos de saúde mostram que há redução de estresse e de pensamentos e sentimentos negativos, enquanto há ampliação de sentimentos positivos que as pessoas têm sobre si mesmas e como veem o mundo".

Um terceiro efeito positivo é sobre o sistema imune.

"A expressão de gratidão pode reduzir nossos níveis de estresse porque nos faz ver as coisas de uma perspectiva mais ampla e não a partir de uma visão estreita das coisas. Regular nossa resposta ao estresse também tem um impacto positivo em nosso corpo ‒ um deles sendo a inflamação, que é um marcador importante para o risco de desenvolvimento de uma série de doenças crônicas".

Por último, a gratidão pode alterar nossa tendência a fazer coisas saudáveis.

Sirois analisou elementos como ter uma boa noite de sono, alimentação saudável, fazer exercícios regulares, controlar o estresse, reduzir comidas sem qualidade e o consumo de cafeína. Em resumo, comportamentos saudáveis ligados ao bem-estar.

Seu grupo analisou esses elementos em 17 amostras diferentes, com quase 5 mil pessoas.

"O que descobrimos é que, em cada uma das amostras, se você tivesse mais probabilidade de uma atitude de gratidão, também estaria mais propenso a se envolver em comportamentos saudáveis, o que alguns outros estudos também já sugeriram".

Para entender por que isso acontecia, a pesquisadora analisou a "orientação para o futuro" das pessoas. Isso se refere à probabilidade de elas pensarem sobre o seu futuro ou de serem voltadas para o futuro.

"Descobrimos que a ligação entre ser grato e ter melhores práticas de comportamentos de saúde foi explicada em parte por esse maior pensamento sobre o futuro", diz a pesquisadora.

Nos estudos de mudanças neurais de pessoas que são gratas, as áreas do cérebro que são ativadas quando as pessoas experimentam gratidão ou quando passam por uma intervenção de gratidão são as mesmas áreas do cérebro que controlam nossa capacidade de pensar sobre o resultado de nossas ações, ou seja, nosso pensamento futuro. "Parece haver alguma sobreposição", diz.

Sirois observa que há quem veja a gratidão como um mecanismo de enfrentamento. Outros acham que tem mais a ver com regulação do humor.

"Há uma variedade de efeitos diferentes. Não fomos capazes de identificar um só mecanismo. A gratidão opera por meio de uma série de mecanismos diferentes para trazer benefícios potenciais para a saúde e o bem-estar".

O que se sabe é que ela pode ter efeitos duradouros em nossa saúde física e mental. Vale a pena tentar. Gratidão.