Edson Figueiredo de Abreu[1]
É sem dúvida alguma que o
advento da internet propiciou uma modernização nas “comunicações” em suas mais
variadas formas de operação, vindo a alterar expressivamente as relações
humanas através de diferentes mídias sociais. O cidadão moderno, mais
“antenado” como se diz, tanto em casa, como em trânsito ou ainda no local de
trabalho, é bombardeado por informações as mais diversas, fazendo com que a
mídia digital o influencie de forma exacerbada. Isso a tal ponto, que fez o
sociólogo Zygmunt Bauman cunhar a frase “somos inundados de informação e
famintos de sabedoria”.
Esta questão da “influência
digital” em nossas vidas me fez refletir, se não podemos ‒ sem o perceber ‒
estar sendo obsidiados digitalmente. Sim, caros leitores, até que ponto sem o
percebermos estamos sendo “dirigidos” digitalmente? Lembrando a questão 459 de O livro dos Espíritos quando Kardec
pergunta:
“Influem os Espíritos em nossos pensamentos e em nossos
atos”?
E recebe como resposta:
“Muito mais do que imaginais. Influem a tal
ponto, que, de ordinário, são eles que vos dirigem e vós nem o percebeis”.
Penso eu que Kardec ‒ se vivo
fosse – incluiria um apêndice à pergunta 459 e perguntaria o seguinte:
“Além dos
espíritos, que outras influências sofremos em nossos pensamentos e em nossos
atos”?
E a resposta com certeza seria:
“Os espíritos até
influem, mas, na atualidade, estes estão perdendo para o marketing de consumo,
os noticiários sensacionalistas, programas de tv, influenciadores digitais e os
algoritmos das redes sociais. Na verdade, para quem está inserido nas redes
sociais, os algoritmos e os robôs digitais na maioria das vezes os dirigem e
vós nem o percebeis”.
Vocês podem pensar que eu esteja
exagerando, mas na realidade precisamos entender que, no atual mundo digital em
que vivemos, somos percebidos e perseguidos pelos algoritmos, somos
interpretados como números nas redes sociais, onde cada pequeno comportamento online nosso, vira um dado matemático
importantíssimo para corporações e pessoas interessadas.
Quando você ‒ por exemplo – faz
uma pesquisa online, percorre seus feeds sociais ou busca gêneros musicais
em um aplicativo, está sendo “observado” e é posteriormente “guiado” por um
algoritmo que entende seus hábitos, talvez até mais do que você, e recomenda
músicas, notícias, produtos, vídeos e postagens que atendam seu gosto. Na
verdade, cálculos matemáticos estão “influenciando” suas decisões mais do que
você possa perceber. É isso que chamo de obsessão
digital.
Outra coisa que é importante
entender neste processo obsessivo moderno é a ação dos chamados “bots”, que
são, na realidade, aplicações autônomas também conhecidas como “robôs” que
rodam na Internet enquanto desempenham algum tipo de tarefa pré-determinada. Especialistas
estimam que os robôs representam mais de 60% do tráfego nas redes sociais. Eles
podem ser úteis e inofensivos para os usuários em geral, mas também podem ser
usados de forma abusiva por pessoas que queiram influenciar as “massas não
pensantes” de acordo com as convicções de quem produz as ideias a serem
propaladas.
É assim que nascem as chamadas
polarizações que, sem que a grande maioria das pessoas percebam, as incentivam
e as fazem aderir a isto ou aquilo, por não perceberem alternativas. Ou é um ou
o outro, quando na realidade, fora da bolha criada digitalmente, existem
opções.
Então, caros leitores, nós, em
grande maioria, estamos sendo obsidiados digitalmente e nem o percebemos, pelo
contrário, até gostamos. E, interessante, como nos processos obsessivos
clássicos narrados pelo espiritismo, se tentarem nos tirar isso, dificilmente
aceitaremos e sofreremos, pois que adoramos, afinal essa situação nos é
agradável e nos faz sentir muito bem.
Este assunto é tão sério que até
alguns dos criadores dos algoritmos estão revendo suas posições e muitos,
inclusive, estão assustados com o que criaram, pois acreditam que a situação
saiu do controle. Eles mesmos perceberam o perigo que as redes sociais
representa para si próprios e seus filhos. Vários desses criadores declaram
seus medos e arrependimentos num interessante documentário da Netflix cujo
título é “O Dilema das Redes”.
A sinopse de apresentação deste
documentário diz o seguinte:
O “Dilema das Redes”
apresenta o impasse de diversos responsáveis pela indústria da tecnologia, a
partir de seus próprios dilemas éticos e pessoais, já que também sofrem com o
vício e as consequências do uso das redes sociais.
Para quem ainda não viu, vale a
pena assistir e tirar suas próprias conclusões sobre o perigo que estamos
correndo.
Outro fato que se faz necessário
entender, para quem pensa por si mesmo ‒ é claro ‒, é que o advento das redes
sociais ajudou a amplificar o comportamento inadequado de uma boa parte das
pessoas que, antes, não se arriscariam a demonstrar suas perfídias e agora se
sentem encorajadas pelo anonimato. Como, nas mídias sociais existe a ilusão e
ideia de uma falsa proteção, favorece a sensação de que é possível falar tudo e
fazer qualquer coisa por estar “protegido” e “oculto” pela rede, como se a
pessoa nunca fosse ser pega e nem responder por seus atos. Isso facilita a
existência de comportamentos condenáveis e a propagação dos chamados “Haters”.
Os Haters ou “odiadores” numa
tradução literal, são pessoas que praticam o que se convencionou chamar de
cyberbullying. Adotando um comportamento aparentemente sem motivo, que intriga
os estudiosos do assunto, os Haters não tem qualquer preocupação com ética ou
moral, pois postam comentários ofensivos carregados de ódio, criticam sem muito
critério tudo o que lhes parece contrário aos seus próprios interesses, porém,
com conteúdo carregado de agressividade e ofensas que podem levar a
consequências negativas para a vida das suas vítimas, as quais, na maioria das
vezes, não conhecem pessoalmente. Inclusive, temos notícias de casos de
suicídios provocados por comentários de Haters.
No pseudo anonimato, as redes
sociais acabam se tornando um celeiro para pessoas covardes, desajustadas e
frustradas que se sentem recompensadas em agredir, pois que enxergam ali uma
oportunidade de burlar as regras, fazendo coisas que não fariam nas relações
sociais francas e abertas. Já que dificilmente encontraremos, por exemplo, uma
pessoa agredindo ou ofendendo outra “verbalmente” e pessoalmente, uma vez que,
estando presente, o agredido pode revidar.
O interessante é que, o hater
não percebe que seu comportamento desajustado pode ser fruto de frustrações
vaidosas carregadas de orgulho mal trabalhado. Muitos querem fazer com que suas
ideias e convicções prevaleçam sobre as ideias do outro. Se sentem os donos da
verdade, a qual, inclusive, querem impor nem que seja pela força.
A situação obsessiva destas
pessoas é tão intensa e absurda que algumas até criaram ou criam perfis falsos
nas redes sociais, apenas para melhor destilar seu veneno sem serem realmente
descobertas. É a covardia extrema e falta de moral falando mais alto.
São, na realidade, espíritos
imperfeitos e estagiam numa das menores escalas evolutivas apresentadas pelos
espíritos a Allan Kardec (vide questões 100 a 113 de O livro dos Espíritos), pois que dificilmente encontraremos uma
pessoa “equilibrada” e “medianamente evoluída” agredindo outra por não
concordar com suas ideias. Espíritos equilibrados também não impõem suas
ideias, as apresenta e aguarda que as pessoas as possam absorver, cada uma no
seu devido tempo, é claro!
Sem perceberem, então, os Haters
dão vazão e ajudam na amplificação do processo obsessivo digital. Obcecados que
estão por sua persona agressiva e seu ego inflado pela presunção, se ligam a espíritos
que vibram na mesma faixa de pensamentos. Espíritos estes tão infelizes,
covardes e incautos quanto o seu hospedeiro mental.
No entanto, da mesma forma que
as redes sociais incentivam os incautos, também possibilita que as pessoas
minimamente conscientes escolham o que querem ver, assistir, ouvir ou replicar.
Assim sendo, não há justificativa para os Haters. Pois existe a possibilidade
de burlar os robôs e os algoritmos nas redes sociais e até o bloqueio de
pessoas, sites, páginas e grupos, aliado a alternativa de ocultar postagens
indesejadas.
Então, o exercício do “livre
arbítrio” na rede é o melhor antídoto contra os processos obsessivos digitais.
Mas, para isso, se faz necessário que essas possibilidades de “aceitação” e
“bloqueio” de processos obsessivos digitais sejam amplamente discutidas e
divulgadas, a fim de ser aceito e entendido pelo maior número possível de
pessoas.
Por fim, encerro este artigo
convidando vocês leitores a analisarem seus comportamentos na rede e concluir
se você, individualmente, pode ser enquadrado como um “obsidiado digital” ou
ainda como um “hater”. E, por favor, nos seus possíveis comentários a este
artigo, peço que não haja como um hater, mas como alguém ponderado que ao menos
considerou como válidas as ideias aqui expostas.
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