Allan Kardec
Se a crença nos Espíritos e nas
suas manifestações representasse uma concepção singular, fosse produto de um
sistema, poderia, com visos de razão, merecer a suspeita de ilusória.
Digam-nos, porém, por que com
ela deparamos tão vivaz entre todos os povos, antigos e modernos, e nos livros
santos de todas as religiões conhecidas? É, respondem os críticos, porque,
desde todos os tempos, o homem teve o gosto do maravilhoso. – Mas, que
entendeis por maravilhoso? – O que é sobrenatural. – Que entendeis por
sobrenatural? – O que é contrário às leis da Natureza. – Conheceis, porventura,
tão bem estas que possais marcar limite ao poder de Deus? Pois bem! Provai
então que a existência dos Espíritos e suas manifestações são contrárias às
leis da Natureza; que não é, nem pode ser uma destas leis.
Acompanhai a Doutrina Espírita e
vede se todos os elos, ligados uniformemente à cadeia, não apresentam todos os
caracteres de uma lei admirável, que resolve tudo o que as filosofias até agora
não puderam resolver.
O pensamento é um dos atributos
do Espírito; a possibilidade, que eles têm de atuar sobre a matéria, de nos
impressionar os sentidos e, por conseguinte, de nos transmitir seus
pensamentos, resulta, se assim nos podemos exprimir, da constituição
fisiológica que lhes é própria. Logo, nada há de sobrenatural neste fato, nem
de maravilhoso.
Entretanto, objetarão, admitis
que um Espírito possa suspender uma mesa e mantê-la no espaço sem ponto de
apoio.
Não constitui isto uma
derrogação da lei de gravidade? – Constitui, mas da lei conhecida; porém, já a
Natureza disse a sua última palavra? Antes que se houvesse experimentado a
força ascensional de certos gases, quem diria que uma máquina pesada,
carregando muitos homens, fosse capaz de triunfar da força de atração? Aos
olhos do vulgo, tal coisa não pareceria maravilhosa, diabólica? Por louco
houvera passado aquele que, há um século, se tivesse proposto a transmitir um
telegrama a 500 léguas de distância e a receber a resposta, alguns minutos
depois. Se o fizesse, toda gente creria ter ele o diabo às suas ordens, pois
que, àquela época, só ao diabo era possível andar tão depressa. Por que, então,
um fluido desconhecido não poderia, em dadas circunstâncias, ter a propriedade
de contrabalançar o efeito da gravidade, como o hidrogênio contrabalança o peso
do balão? Notemos, de passagem, que não fazemos uma assimilação, mas apenas uma
comparação, e unicamente para mostrar, por analogia, que o fato não é
fisicamente impossível.
Ora, foi exatamente por quererem
proceder por assimilação, ao observarem estas espécies de fenômenos, que os
sábios se transviaram.
Em suma, o fato aí está. Não há,
nem haverá negação que possa fazer não seja ele real, porquanto negar não é
provar.
Para nós, não há coisa alguma
sobrenatural. É tudo o que, por agora, podemos dizer.
Se o fato ficar comprovado,
dirão, aceitá-lo-emos; aceitaríamos mesmo a causa a que o atribuís, a de um
fluido desconhecido. Mas, quem nos prova a intervenção dos Espíritos?
Aí é que está o maravilhoso, o
sobrenatural.
Far-se-ia mister aqui uma
demonstração completa, que, no entanto, estaria deslocada e, ao demais,
constituiria uma repetição, visto ressaltar de todas as outras partes do
ensino.
Todavia, resumindo-a nalgumas
palavras, diremos que, em teoria, ela se funda neste princípio: todo efeito
inteligente há de ter uma causa inteligente; e, do ponto de vista prático, na
observação de que, tendo os fenômenos ditos espíritas dado provas de
inteligência, fora da matéria havia de estar a causa que os produzia, e que,
não sendo essa inteligência a dos assistentes – o que a experiência atesta –
havia de lhes ser exterior. Pois que não se via o ser que atuava, necessariamente
era um ser invisível.
Assim foi que, de observação em
observação, se chegou ao reconhecimento de que esse ser invisível, a que deram
o nome de Espírito, não é senão a alma dos que viveram corporalmente, aos quais
a morte arrebatou o grosseiro invólucro visível, deixando-lhes apenas um
envoltório etéreo, invisível no seu estado normal. Eis, pois, o maravilhoso e o
sobrenatural reduzidos à sua mais simples expressão.
Uma vez comprovada a existência
de seres invisíveis, a ação deles sobre a matéria resulta da natureza do
envoltório fluídico que os reveste. É inteligente essa ação, porque, ao
morrerem, eles perderam tão-somente o corpo, conservando a inteligência que
lhes constitui a essência mesma. Aí está a chave de todos esses fenômenos tidos
erradamente por sobrenaturais. A existência dos Espíritos não é, portanto, um
sistema preconcebido, ou uma hipótese imaginada para explicar os fatos: é o
resultado de observações e a consequência natural da existência da alma. Negar
essa causa é negar a alma e seus atributos. Dignem-se de apresenta-la os que
pensam poder dar desses efeitos inteligentes uma explicação mais racional e,
sobretudo, apontar a causa de todos os
fatos; só então será possível discutir-se o mérito de cada uma.
Para os que consideram a matéria
a única potência da Natureza, tudo o que
não pode ser explicado pelas leis da matéria é maravilhoso, ou sobrenatural,
e, para eles, maravilhoso é sinônimo
de superstição. Se assim fosse, a
religião, que se baseia na existência de um princípio imaterial, seria uma
colcha de superstições. Não ousam dizê-lo em voz alta, mas dizem-no baixinho e
julgam salvar as aparências ao admitirem que uma religião seja necessária ao
povo e às crianças, para que se tornem ajuizados. Ora, uma de duas, ou o
princípio religioso é verdadeiro, ou falso. Se é verdadeiro, ele o é para toda
gente; se falso, não tem maior valor para os ignorantes do que para os
instruídos.
Os que atacam o Espiritismo, em
nome do maravilhoso, se apoiam geralmente no princípio materialista, porquanto,
negando qualquer efeito extramaterial, negam, ipso facto, a existência da alma. Sondai-lhes, porém, o fundo das
consciências, perscrutai bem o sentido de suas palavras e descobrireis quase
sempre esse princípio, se não categoricamente formulado, germinando por baixo
da capa com que o cobrem, a de uma pretensa filosofia racional. Se abordardes
claramente, perguntando-lhes se acreditam ter uma alma, talvez não ousem dizer
que não, mas responderão que nada sabem ou não têm certeza. Lançando à conta do
maravilhoso tudo o que decorre da existência da alma, são, pois, consequentes
consigo mesmos: não admitindo a causa, não podem admitir os efeitos. Daí, entre
eles, uma opinião preconcebida, que os torna impróprios para julgar com lisura
o Espiritismo, visto que o princípio donde partem é o da negação de tudo o que
não seja material.
Quanto a nós, dar-se-á aceitemos
todos os fatos qualificados de maravilhosos, pela simples razão de admitirmos
os efeitos que são a consequência da existência da alma? Dar-se-á sejamos campeões
de todos os sonhadores, adeptos de todas as utopias, de todas as
excentricidades sistemáticas? Quem assim pensar demonstrará bem minguado
conhecimento do Espiritismo.
Mas os nossos adversários não
atentam nisto muito de perto. O de que menos cuidam é da necessidade de
conhecerem aquilo de que falam.
Segundo eles, o maravilhoso é
absurdo; ora, o Espiritismo se apoia em fatos maravilhosos; logo, o Espiritismo
é absurdo. E consideram sem apelação esta sentença. Acham que opõem um
argumento irretorquível quando, depois de terem procedido a eruditas pesquisas
acerca dos convulsionários de Saint-Médard, dos fanáticos de Cevenas, ou das
religiosas de Loudun, chegaram à descoberta de patentes embustes, que ninguém
contesta. Semelhantes histórias, porém, serão o Evangelho do Espiritismo? Terão
seus adeptos negado que o charlatanismo há explorado, em proveito próprio,
alguns fatos? Que outros sejam frutos da imaginação? Que muitos tenham sido
exagerados pelo fanatismo? Tão solidário é ele com as extravagâncias que se cometem
em seu nome, quanto a verdadeira ciência com os abusos da ignorância, ou a
verdadeira religião com os excessos do sectarismo. Muitos críticos se limitam a
julgar do Espiritismo pelos contos de fadas e pelas lendas populares que lhe
são as ficções. O mesmo fora julgar da História pelos romances históricos, ou
pelas tragédias.
Em lógica elementar, para se
discutir uma coisa, preciso se faz conhecê-la, porquanto a opinião de um
crítico só tem valor quando ele fala com perfeito conhecimento de causa. Então,
somente, sua opinião, embora errônea, poderá ser tomada em consideração. Que
peso, porém, terá quando ele trata do que não conhece? A legítima crítica deve
demonstrar não só erudição, mas também profundo
conhecimento do objeto que versa, juízo reto e imparcialidade a toda prova,
sem o que, qualquer menestrel poderá arrogar-se o direito de julgar Rossini, e
um pinta-monos[3]
o de censurar Rafael.
Assim, o Espiritismo não aceita
todos os fatos considerados maravilhosos ou sobrenaturais. Longe disso, demonstra
a impossibilidade de grande número deles e o ridículo de certas crenças, que
constituem a superstição propriamente dita.
É exato que, no que ele admite,
há coisas que, para os incrédulos, são puramente do domínio do maravilhoso, ou
por outra, da superstição. Seja. Mas, ao menos, discuti apenas esses pontos,
porquanto, com relação aos demais, nada há que dizer e pregais em vão.
Porém, até onde vai a crença do
Espiritismo? Perguntarão. Lede, observai e sabê-lo-eis. Só com o tempo e o estudo
se adquire o conhecimento de qualquer ciência. Ora, o Espiritismo, que toca nas
mais graves questões de filosofia e em todos os ramos da ordem social, que
abrange tanto o homem físico quanto o homem moral, é, em si mesmo, uma ciência,
uma filosofia, que já não podem ser aprendidas em algumas horas, como nenhuma
outra ciência.
Tanta puerilidade haveria em se
querer ver todo o Espiritismo numa mesa girante, como toda a física nalguns brinquedos
de criança. A quem não se limite a ficar na superfície, são necessários não
somente algumas horas, mas meses e anos, para lhe sondar todos os arcanos. Por
aí se pode apreciar o grau de saber e o valor da opinião dos que se atribuem o
direito de julgar, porque viram uma ou duas experiências, as mais das vezes por
distração ou divertimento. Dirão eles com certeza que não lhes sobram lazeres para
consagrarem a tais estudos todo o tempo que reclamam. Está bem; nada a isso os
constrange. Mas, quem não tem tempo de aprender uma coisa não deve discorrer
sobre ela e, ainda menos, julgá-la, se não quiser que o acusem de leviano. Ora,
quanto mais elevada a posição que ocupamos na ciência, tanto menos escusável é
tratarmos, levianamente, de um assunto que não conhecemos.
Resumimos nas proposições
seguintes o que havemos expendido:
1º Todos os
fenômenos espíritas têm por princípio a existência da alma, sua sobrevivência
ao corpo e suas manifestações.
2º Fundando-se numa
lei da Natureza, esses fenômenos nada têm de maravilhosos, nem de
sobrenaturais, no sentido vulgar dessas palavras.
3º Muitos fatos são
tidos por sobrenaturais, porque não se lhes conhece a causa; atribuindo-lhes
uma causa, o Espiritismo os repõe no domínio dos fenômenos naturais.
4º Entre os fatos
qualificados de sobrenaturais, muitos há cuja impossibilidade o Espiritismo
demonstra, incluindo-os em o número das crenças supersticiosas.
5º Se bem reconheça
um fundo de verdade em muitas crenças populares, o Espiritismo de modo algum dá
sua solidariedade a todas as histórias fantásticas que a imaginação há criado.
6º Julgar do
Espiritismo pelos fatos que ele não admite é dar prova de ignorância e tirar
todo valor à opinião emitida.
7º A explicação dos
fatos que o Espiritismo admite, de suas causas e consequências morais, forma
uma verdadeira ciência e toda uma filosofia, que reclamam estudo sério,
perseverante e aprofundado.
8º O Espiritismo não
pode considerar crítico sério, senão aquele que tudo tenha visto, estudado e
aprofundado com a paciência e a perseverança de um observador consciencioso;
que do assunto saiba tanto quanto qualquer adepto instruído; que haja, por
conseguinte, haurido seus conhecimentos algures, que não nos romances da
ciência; aquele a quem não se possa opor fato algum que lhe seja desconhecido,
nenhum argumento de que já não tenha cogitado e cuja refutação faça, não por
mera negação, mas por meio de outros argumentos mais peremptórios; aquele,
finalmente, que possa indicar, para os fatos averiguados, causa mais lógica do
que a que lhes aponta o Espiritismo. Tal crítico ainda está por aparecer.
Nem é preciso dizer que os
críticos do maravilhoso, com mais forte razão, relegam os milagres para o
âmbito das quimeras da imaginação. Algumas palavras a respeito, embora colhidas
de um artigo precedente, encontram aqui seu lugar natural, e não será inútil
lembrá-las[4]:
Na sua acepção primitiva, e por
sua etimologia, a palavra milagre significa coisa extraordinária, coisa
admirável de ver. Mas, como
tantas outras, esta palavra perdeu o sentido original e hoje se diz, segundo a
Academia, de um ato do poder divino contrário às leis comuns da Natureza.
Tal, com efeito, a acepção vulgar, de modo
que só por comparação e por metáfora a palavra se aplica às coisas vulgares que
nos surpreendem, e cuja causa é desconhecida. Não entra de modo algum em nossas
cogitações se Deus poderia julgar útil, em certas circunstâncias, derrogar leis
por ele mesmo estabelecidas. Nosso objetivo é apenas demonstrar que os fenômenos
espíritas, por mais extraordinários que sejam, não derrogam absolutamente essas
leis, não têm nenhum caráter miraculoso, como não são maravilhosos ou
sobrenaturais. O milagre não se explica; os fenômenos espíritas, ao contrário, explicam-se
da maneira mais racional. Não são, pois, milagres, mas simples efeitos que têm
sua razão de ser nas leis gerais. Outro caráter do milagre é o ser insólito,
isolado. Ora, logo que um fenômeno se reproduz, por assim dizer, à vontade e
por diversas pessoas, não pode ser um milagre.
Aos olhos dos ignorantes, a
Ciência faz milagres todos os dias. Eis por que, outrora, os que sabiam mais
que o vulgo passavam por feiticeiros. E como acreditavam que toda ciência sobre-humana
vinha do diabo, eram queimados. Hoje, que estamos muito mais civilizados,
contentamo-nos de os enviar para os hospícios.
Se um homem, que se ache
realmente morto, for chamado à vida por intervenção divina, haverá verdadeiro
milagre, por ser esse um fato contrário às leis da Natureza. Mas, se em tal homem
houver apenas aparências da morte, se lhe restar uma vitalidade latente e a Ciência, ou uma ação magnética, conseguir reanimá-lo,
para as pessoas esclarecidas ter-se-á dado um fenômeno natural, mas, para o
vulgo ignorante, o fato passará por miraculoso. Lance um físico, do meio de
certas campinas, um papagaio elétrico e faça que o raio caia sobre uma árvore e
certamente esse novo Prometeu será tido por armado de diabólico poder; mas
Josué, detendo o movimento do Sol, ou, antes, da Terra, eis o verdadeiro
milagre, porquanto não conhecemos nenhum magnetizador dotado de tão grande
poder, para realizar tamanho prodígio.
De todos os fenômenos espíritas,
um dos mais extraordinários, sem dúvida, é o da escrita direta, e um dos que demonstram
da maneira mais patente a ação das inteligências ocultas; mas, pelo fato de o
fenômeno ser produzido por seres ocultos, não é mais miraculoso que todos os
outros fenômenos devidos a agentes invisíveis, porque esses seres ocultos que
povoam os espaços são uma das forças da Natureza, cuja ação é tão incessante
sobre o mundo material, quanto sobre o mundo moral.
Esclarecendo-nos quanto a essa
força, o Espiritismo nos dá a chave de uma porção de coisas inexplicáveis, e inexplicadas
por qualquer outro meio e que puderam, em tempos remotos, passar por prodígios.
Assim como o magnetismo, ele revela uma lei, se não desconhecida, ao menos mal
compreendida ou, melhor dizendo, da qual se conheciam os efeitos, porque se produziam
em todos os tempos, mas não se conhecia a lei, e foi essa ignorância da lei que
engendrou a superstição. Conhecida essa lei, o maravilhoso desaparece e os
fenômenos entram na ordem das coisas naturais. Eis por que os espíritas não
operam mais milagres fazendo girar uma mesa ou um morto escrever, do que o
médico fazendo reviver um moribundo ou o físico fazendo cair o raio. Aquele
que, auxiliado por essa ciência, pretendesse fazer milagres, ou seria um ignorante do assunto ou um charlatão.
Os fenômenos espíritas, assim
como os fenômenos magnéticos, devem ter passado por prodígio, antes que se lhes
conhecessem a causa. Ora, como os cépticos, os espíritos fortes, isto é, os que
têm o privilégio exclusivo da razão e do bom-senso, não creem que uma coisa
seja possível desde que não a compreendem. Eis por que todos os fatos reputados
como prodigiosos são objeto de suas zombarias; e como a religião contém grande
número de fatos desse gênero, não creem na religião, e daí à incredulidade
absoluta há apenas um passo. Explicando a maioria desses fatos, o Espiritismo
lhes dá uma razão de ser. Ele vem, pois, em auxílio à religião, ao demonstrar a
impossibilidade de certos fatos que, por não mais terem caráter miraculoso, não
são menos extraordinários. Deus não é menos grande, nem menos poderoso por não
ter derrogado suas leis. De quantos gracejos não foram objeto as levitações
de São Cupertino? Ora, a suspensão no ar dos corpos pesados é um fato
explicado pelo Espiritismo; deles pessoalmente
fomos testemunha ocular, e o Sr.
Home, como outras pessoas de nosso conhecimento, repetiram várias vezes o
fenômeno produzido por São Cupertino. Assim, esse fenômeno entra na ordem das
coisas naturais.
No número dos fatos desse gênero
deve-se colocar, em primeira linha, as aparições, por serem os mais frequentes.
A de Salette, que divide o próprio clero, para nós nada tem de insólita. Certamente
não podemos afirmar que o fato ocorreu, pois não temos a prova material. Para
nós, contudo, é possível, desde que milhares de fatos análogos recentes são do nosso conhecimento. Cremos
neles, não só porque sua realidade foi por nós constatada, mas, sobretudo, por
que nos damos conta perfeitamente da maneira por que se produzem. Queiram
reportar-se à teoria que demos, das aparições[5],
e verão que tal fenômeno se torna tão simples e tão plausível quanto uma porção
de fenômenos físicos, que não são prodigiosos senão pela falta de sua chave.
Quanto à personagem que se apresentou em Salette, é outra questão; sua identidade
de modo algum foi demonstrada; apenas constatamos que pode ter havido uma
aparição; o resto não é de nossa competência. A respeito, cada um pode guardar
as suas convicções, com as quais o Espiritismo nada tem de se ocupar. Apenas
dizemos que os fatos produzidos pelo Espiritismo nos revelam leis novas e nos
dão a chave de uma porção de coisas que pareciam sobrenaturais. Se algumas
delas que passavam por miraculosas, agora encontram uma explicação lógica, é
motivo para não haver pressa em negar aquilo que não se compreende.
Os fatos do Espiritismo são
contestados por certas pessoas, precisamente porque parecem escapar à lei
comum, e porque elas não os compreendem. Dai-lhes uma base racional e a dúvida
cessará. Neste século onde não se poupam palavras, a explicação é, pois, um
poderoso elemento de convicção. Assim, diariamente vemos pessoas que não
testemunharam nenhum fato, que nem viram uma mesa girar, nem um médium
escrever, e que estão tão convencidas quanto nós, unicamente porque leram e compreenderam.
Se só devêssemos acreditar no que viram os nossos olhos, nossas convicções se
reduziriam a bem pouca coisa.
[1] Revista
Espírita – Setembro/1860 – Allan
Kardec
[2] N. do T.:
Este artigo foi incluído por Allan Kardec em O Livro dos Médiuns, cuja primeira edição apareceu em 1861.
Corresponde ao capítulo II, Primeira Parte, do livro citado.
[3] Pintor menos hábil.
[4] N.
do T.: Com algumas modificações, Allan Kardec inseriu parte deste texto no
capítulo XIII de A Gênese, derradeiro livro da Codificação Espírita, publicado
em 1868. (Características dos Milagres).
[5] N. do T.: Teoria exposta na Revista Espírita,
fascículo de dezembro de 1858.
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