sábado, 31 de agosto de 2019

CULPA E SENTIMENTO DE REJEIÇÃO[1]



Jorge Hessen

Ante os delitos morais cometidos, há pessoas que introjetam a autorrejeição, implantando na consciência a chaga da culpa. Por efeito disso, sentem-se rejeitadas por todos, ao invés de trabalharem pela reparação do erro. Até porque se não o fizer de imediato arremessará para a encarnação seguinte os conflitos conscienciais incrustados.
Há os que arriscam camuflar os delitos, porém ocultar conflitos culposos não libera a consequência do desacerto, porquanto as desordens íntimas surgirão na forma de enfermidade física, emocional ou psicológica. Por conseguinte, projetarão suspeitas infundadas nos outros, receando serem identificados e desmascarados.
Na atual existência existem diversos casos de autorrejeição dos transgressores das leis divinas da consciência. São aqueles que na juventude, na “calada da noite”, fizeram abortos criminosos e receiam serem descobertos. Há os que cometeram vis adultérios e buscam esconder-se dos outros e sob a chibata da culpa temem ser revelados a qualquer momento. Esses são casos infrequentes, os menos raros são os culpados por crimes esquecidos de reencarnações anteriores. Daqueles que trazem a mácula perante a consciência e como não se superaram nas vidas anteriores, permanecem hoje alimentando culpas.
Mesmo que os demais não descubram seus crimes e os desmascarem, o movimento de autorrejeição delonga a expansão. Quando não se tem consciência desse processo e não há coragem (ação pelo coração) para reparação do erro, o mecanismo de autorrejeição se aprofunda e o culpado cria inimigos em todos os lugares. Guiados pelo imaginário, permanecem em estado de paranoia culposa. Por consequência, conservam os níveis egocêntricos, neuróticos e transformam uma situação imaginária em acontecimento real.
Desse modo, encharcados pelo psiquismo autodefensivo agridem os outros. Sentem-se sucessivamente invadidos na intimidade e atacam o próximo. Sob o mecanismo psicológico de projeção creem que os outros os julgam, condenam e punem, razão pelo qual vivem se precavendo contra tudo e contra todos.
No estado paranoico da culpa, decorrente dos crimes cometidos no passado, mesmo que esquecidos, o culpado se sente criminoso e entende que a qualquer momento será desmascarado e sob nessa alucinação acredita que os outros o estão perseguindo.
As leis divinas não são punitivas, elas são amorosas, educativas (provacionais) e reeducativas (expiatórias). Certamente violações às leis morais incidirão na economia espiritual, precisando de reparação dos agravos. Não necessariamente numa reencarnação imediata, até porque, atualmente, muitos poderão estar reparando crimes de dez encarnações anteriores. Ademais, será necessária a dor para reparação dos erros? Cremos que não. O caminho seguro será o desenvolvimento das virtudes do coração, atuando com autoamor e amor ao próximo.
A autoconsciência e o autoperdão são mecanismos que tornam dispostos os infratores para reparação do delito. Sendo que a evolução espiritual ocorre tanto na horizontal como na vertical da vida. A dor é o aguilhão que impele a evolução na horizontal. O transgressor sofre até o limite do cansaço e no esfalfamento observa que não há outra alternativa, senão fazer o BEM, decidindo daí galgar na vertical da vida.
Nos casos em que os conflitos culposos são muito intensos, são necessários tratamentos psicoterápicos para recuperação. Dificilmente o culpado se liberta sozinho das desordens conscienciais, porque a culpa incrustada na mente pesa muito no psiquismo, daí a necessidade terapêutica para que o culpado compreenda a realidade como ela é e não da forma como crê que seja.
O estado de culpa acarreta a obsessão. O processo obsessivo, de modo geral, não começa no obsessor, porém nas matrizes conscienciais do culpado autorejeitado que se movimenta psicologicamente no autojulgamento, autocondenação e autopunição, cunhando aí o plugue mental, quando esbugalha a mente para o complexo obsessivo. Metaforicamente expondo, a culpa é o plugue mental que favorece a obsessão.
Na verdade, muitos processos obsessivos não são evidentes, porém sutis e intensos. A intensidade é a alienação e a sutilidade é a intervenção sorrateira do obsessor sem que o obsedado perceba. Deste modo é hipnotizado e condicionado a práticas malsãs, passando uma existência espiritual e sutilmente perseguido. Muitas vezes só se dá conta da obsessão após a desencarnação.
A melhor terapia para a culpa é o exercício do Evangelho como convite para afastar-se do egocentrismo e centrar-se na essência divina que É. Esse é o caminho para a libertação dos movimentos egocêntricos e egoicos. A prática da leitura edificante, os afazeres da caridade necessariamente para consigo, e em seguida a caridade real com o próximo “sem assistencialismos inócuos”, a participação das atividades do centro espírita , em geral podem promover o espírito imortal e auxiliar todos os envolvidos.
Quando dissemos “sem assistencialismos inócuos” afirmamos que a maior caridade não é a material, mas a espiritual que precisa ser exercida sob o símbolo da benevolência para com todos, indulgência para com as faltas alheias e perdão das ofensas. Que são exercícios práticos para que as pessoas se desvencilhem da monoideia da culpa. Nesse movimento de exercícios espíritas cristãos, a mente não mais permite a introdução das ideias dos obsessores e a pessoa realiza as ações práticas, que são bastante trabalhosas, mas impulsionam a evolução na vertical da vida. É como ascender numa escada aprumada e muito íngreme , mas poucos são aqueles que se dispõem a elevar-se , a maioria permanece rezingando dizendo que a vida é “madrasta” sem fazer esforços reais para a ascensão.
Com as práticas cristãs as pessoas realizam ações concretas consigo mesmas e com o próximo, trabalhando não mais no movimento paranoico da culpa, porém no movimento harmonizador de si mesmas e dos outros, porém isso não se consegue por promessas labiais, mas por ações efetivas. À medida que vamos amadurando a consciência, priorizamos o que é essencial e colocamos o ego a serviço do eu espírito imortal.
Nas condições humanas ainda temos uma estrutura egoica, todavia somos essência divina. Contudo, acreditamos que somos o ego, mas não somos. Quando expandimos a consciência percebemos que temos um ego, mas somos essência divina. Ter o chamado ego não é problema. Embora ele ainda traga a sua ignorância, porquanto moureja na dimensão do não saber, do não sentir e do não vivenciar as leis divinas, o ego precisa ser iluminado pela essência divina que somos.
A autorrejeição comumente não surge de forma evidente, porém veladamente. Surge muitas vezes na condição de complexos de inferioridade ou de superioridade. Aparece com a tendência de solidão , de rejeição ou por inveja dos outros.
O culpado rejeita todos os que trabalham pela autorrenovação. Porque estes estão dando exemplo para ele. Identifica nos outros um “espelho” retratando o comportamento que deveria ter, mas que não se dispõe a tal. Em face disso, rejeita e repudia o “espelho” , arremessa-lhe pedra para fragmentá-lo, para não ver a imagem da renovação que deveria buscar. Deste modo, mantém-se preguiçoso e acovardado para a autorrenovação moral. O “espelho” saindo da sua vista não ficará todo momento recomendando e cobrando o que deve fazer.
Em síntese, é urgente que afastemo-nos da chaga chamada culpa e utilizemos a razão para o equilíbrio íntimo, a fim de que possamos reparar o mal que fizemos no passado. Trabalhemos com penhor e segurança pelo progresso individual e coletivo, até porque a culpa nos transforma em pesos mortos na economia ativa da sociedade e não conseguiremos realizar nada de bem, belo e bom para ninguém sob o guante da culpa.


Fonte: A Luz na Mente




[1] Fonte: Projeto Espiritizar / FEEMT – Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=_7HRHX1Z-MI&list=PL1r1wspRthZQrAp3ok5owfAPGldFn79nV&index=3  acesso 22/07/2019.

sexta-feira, 30 de agosto de 2019

APRENDA A ESCUTAR[1]



Vania Mugnato de Vasconcelos


A capacidade de ouvir é resultado de um processo fisiológico que se inicia a partir da 26ª semana de gestação, quando, no ventre materno, a criança passa a perceber sons como, por exemplo, a voz de seus pais.
Ouvir é uma aptidão física a qual o ser humano empregará durante toda sua vida. Assim, é coerente dizer que a não ser que alguém tenha uma limitação ou cessação da saúde auditiva, todos ouvirão sons – palavras, acordes musicais, barulhos diversos, enfim.
Contudo, especialmente no relacionamento humano, nas atividades que exigem interação com o outro, é preciso mais do que ouvir, é preciso escutar. É que, ao contrário do que muitos pensam, enquanto ouvir é perceber através dos canais auditivos os sons que estão à volta, escutar é o processo de ouvir com interesse, concentrado no que está sendo dito, buscando o significado intrínseco das palavras emitidas por outrem.
Destarte, a diferença básica entre uma palavra e a outra é bastante significativa, pois enquanto ouvir é uma aptidão física, escutar é uma disposição mental positiva, proativa, na intenção de atribuir às palavras um sentido aprofundado. Por isso é preciso aprender a escutar. É preciso prestar atenção para que sejamos capazes de interpretar o mais fielmente possível o que está sendo dito.
Nesse sentido, relacionamentos produtivos comumente são os que se baseiam no diálogo, criando um intercâmbio de ideias, compreensões, conhecimentos e sentimentos. E para haver diálogo deverá existir aquele que fala e aquele que escuta, alternadamente, com cuidado e interesse, buscando alcançar além das palavras, enxergando a alma.
Aliás, na parábola do semeador, Jesus encerra suas explicações pronunciando sugestiva observação: “aquele, porém, que recebe a semente em boa terra, é aquele que escuta a palavra, que nela presta atenção e produz frutos, e rende cem, ou sessenta, ou trinta por um”. (Mateus, 13:18 a 23)
Também disse na mesma parábola “quem tem ouvidos para ouvir, ouça”, ou seja, perceba além do que está sendo dito, compreenda meus ensinamentos, minhas lições, para que sua vida seja espiritualmente mais proveitosa.
Num mundo onde as fronteiras físicas e a distância são derrubadas pela comunicação tecnológica, urge reavaliar comportamentos. Muitos só querem falar, ouvir sem dar atenção, sem sentir amor, sem escutar.


Fonte: Espiritismo na Rede

quinta-feira, 29 de agosto de 2019

O SIGNIFICADO DOS SONHOS[1]



Miramez

Que pensar da significação atribuída aos sonhos?
‒ Os sonhos não são verdadeiros, como entendem os ledores da sorte, pelo que é absurdo admitir que sonhar com uma coisa anuncia outra. Eles são verdadeiros no sentido de apresentarem imagens reais para o Espírito, mas que, frequentemente, não têm relação com o que se passa na vida corpórea. Muitas vezes ainda, como já dissemos, é uma recordação.
Podem ser, enfim, algumas vezes, um pressentimento do futuro, se Deus o permite, ou a visão do que se passa no momento em outro lugar, a que a alma se transporta. Não tendes numerosos exemplos de pessoas que aparecem em sonhos para advertir parentes e amigos do que lhes está acontecendo? O que são essas aparições, senão a alma ou o Espírito dessas pessoas que se comunicam com a vossa? Quando adquiris a certeza de que aquilo que vistes realmente aconteceu, não é isso uma prova de que a imaginação nada tem com o fato, sobretudo se o ocorrido absolutamente não estava no vosso pensamento durante a vigília?
0404/Livro dos Espíritos

Que se deve pensar sobre os sonhos? Muita coisa tem relação com os sonhos, que nada mais é que o Espírito se libertar um pouco da prisão corpórea e ver, ouvir, e sentir a vida espiritual.
As interpretações descabidas, dos sonhos e visões devem ficar no esquecimento, porque somente a verdade ficará de pé.
Os sonhos nada mais são, já o dissemos, que a vivência do Espírito em parcial liberdade, no descanso do fardo físico. Ele passeia e aprende na grande escola espiritual; recolhe aqui e ali lições valiosas, de modo que a sua vida vai mudando e seu conceito em relação ao bem e o mal passa a se modificar. Sendo que ninguém regride, avançamos, pois, em cada período que dormimos, tanto no plano espiritual quanto no plano físico.
Interpretar os sonhos tal como eles se apresentam, é incorrer em erro, pois as suas variações são diversas no cômputo das ocorrências. Está chegando a hora dos sonhos se aperfeiçoarem, e passarem a ser a realidade sem interpretações, porque a luz já se fará no seu próprio decorrer.
Por enquanto, a Doutrina dos Espíritos tem maior capacidade de revelar o desconhecido para a humanidade, porque não se baseia no interesse individual e material. Vejamos a vida dos verdadeiros santos e profetas, na sua lucidez cristã: os seus primeiros passos foram no desprendimento, renunciando aos bens terrenos. O resto fica mais fácil para ser dominado.
Compreende-se que a vida feliz é aquela onde o coração não fica preso às coisas passageiras, limitando-se o seu uso ao necessário nos caminhos da vida.
Mesmo o Espírito mais livre pelo sonho, no mundo espiritual, nem sempre se encontra frente a frente com o acontecido; a alma pode estar vendo e mesmo ouvindo coisas, tendo uma visão à distância. É por isso que o sonho é bastante engenhoso para ser desvendado. Mesmo quando se encontra uma imaginação fértil, ela pode ser intuição da realidade, lembranças no silêncio da consciência de sonhos que tivera... O nada não existe em parte alguma; existem sempre sinais da verdade em tudo o que se passa conosco. Compreende-se que a vida esplende dentro e fora de nós, mas nunca fora de Deus.
Pensemos nos sonhos e busquemos sua perfeição; há várias modalidades de elevação dos sonhos, que com o tempo se poderá descobrir. Sonhos e visões, na urdidura dos homens que desconhecem a verdade, servem para o comércio ilícito, e podem desorientar muitas criaturas, que extorquem o salário do pobre para iludi-lo, plantam ventos e colhem tempestades que os fazem sofrer, mais tarde, as mesmas carências do que fazem carecer.
Existe também a mediunidade em função nos sonhos; essa capacidade mediúnica pode muito fazer. Para o bem da humanidade: visitar e curar enfermos, consolar e amparar os tristes, levantar caídos, e mesmo trabalhar para retirar das trevas irmãos prontos para entender e começar a aprender as primeiras lições de servir.
Que Jesus abençoe todos nós, em todos os sentidos dos sonhos e visões, para que a luz se acenda em nossos corações, fonte de amor, para que a caridade seja um todo em nossos corações.




[1] Filosofia Espírita – Volume 8 – João Nunes Maia

quarta-feira, 28 de agosto de 2019

ANTENAS NATURAIS NA PELE HUMANA REVELAM ESTADO EMOCIONAL E FISIOLÓGICO[1]




Redação do Site Inovação Tecnológica - 08/05/2008

Quase 200 anos depois que o médico alemão Franz Anton Mesmer descobriu o magnetismo animal, cientistas israelenses conseguiram detectar exatamente como os poros da pele humana funcionam como verdadeiras antenas, parecidas com as utilizadas em redes de comunicação sem fios.
A descoberta deverá permitir o monitoramento remoto do estado fisiológico e emocional de pacientes, a avaliação do desempenho de atletas, o diagnóstico de doenças e até mesmo a detecção à distância do nível de ansiedade de uma pessoa.

Antenas naturais na pele
A chave da descoberta está no formato dos dutos que trazem o suor das glândulas sudoríparas para a superfície da pele. Elas têm o formato de minúsculas bobinas, transformando a pele em uma estrutura de minúsculas antenas que operam na frequência sub-terahertz.
Utilizando uma técnica chamada Tomografia Óptica Coerente, os médicos da Universidade Hebraica de Jerusalém descobriram que as "bobinas naturais" da pele humana são miniaturas das antenas utilizadas nos sistemas de comunicações sem fios.

Radiação refletida
Em uma série de experimentos, eles mediram a radiação eletromagnética refletida da palma da mão de voluntários quando a pele era submetida a ondas na faixa entre 75 GHz e 110 GHz. Eles descobriram que o nível de radiação refletida é fortemente dependente do nível de atividade do sistema de respiração da pele.
Em particular, os cientistas perceberam que o sinal refletido é muito diferente em situações quando a pessoa está relaxada e quando ela está praticando atividade física intensa.
Em uma segunda etapa, as medições revelaram que o sinal refletido varia no período de retorno ao estado de relaxamento, mostrando-se fortemente correlacionado com alterações na pressão sanguínea e na taxa de batimentos cardíacos.
Os cientistas alertam que estão dando os primeiros passos nesta nova área, e que ainda é muito cedo para que se possa perceber todo o impacto de sua descoberta, sobretudo suas possíveis utilizações tecnológicas.
Para outra recente descoberta envolvendo a radiação terahertz, veja Uso da radiação terahertz fica mais próxima com metamaterial sintonizável[2].

Bibliografia:
Artigo: Human Skin as Arrays of Helical Antennas in the Millimeter and Submillimeter Wave Range
Autores: Yuri Feldman, Alexander Puzenko, Paul Ben Ishai, Andreas Caduff, Aharon J. Agranat
Revista: Physical Review Letters
Vol.: 100, 128102 (2008)
DOI: 10.1103/PhysRevLett.100.128102

terça-feira, 27 de agosto de 2019

OBRAS-PRIMAS POR VIA MEDIÚNICA[1]




Por que os Espíritos dos grandes gênios que brilharam na Terra não produzem obras-primas por via mediúnica, como fizeram em vida, desde que nada perderam em inteligência?
Esta questão é, ao mesmo tempo, uma daquelas cuja solução interessa à ciência espírita, como tema de estudo, e uma objeção oposta por certos negadores à realidade das manifestações.
Dizem estes últimos:
Estas obras fora do comum seriam uma prova de identidade adequada para convencer os mais recalcitrantes, ao passo que os produtos mediúnicos assinados pelos mais ilustres nomes quase não se elevam acima da vulgaridade. Até agora não se cita nenhuma obra capital que possa mesmo aproximar-se das dos grandes literatos e dos grandes artistas.
E acrescentam alguns:
Quando eu vir o Espírito Homero dar uma nova Ilíada, o de Virgílio uma nova Eneida, o de Corneille um novo Cid, o de Beethovem uma nova sinfonia em lá; ou quando um sábio, como Laplace, resolver um desses problemas inutilmente procurados, como a quadratura do círculo, por exemplo, então poderei crer na realidade dos Espíritos. Mas como quereis que neles creia, quando vejo darem seriamente, sob o nome de Racine, poesias que um aluno do quarto ano corrigiria; atribuir a Béranger versos que não passam de finais mal rimados, insossos e sem espírito, ou imputar a Voltaire e Chateaubriand uma linguagem de cozinheira?
Há nesta objeção um lado sério: é o que contém a última parte, mas que não denota menos a ignorância dos primeiros princípios do Espiritismo. Se os que a fazem não julgassem antes de o haver estudado, poupar-se-iam a um trabalho inútil.
Como se sabe, a identidade dos Espíritos é uma das grandes dificuldades do Espiritismo prático. Só pode ser constatada de maneira positiva para os Espíritos contemporâneos, cujo caráter e hábitos são conhecidos. Então eles se revelam por uma multidão de particularidades, nos fatos e na linguagem, que não podem deixar qualquer dúvida. São esses cuja identidade nos interessa mais, por laços que a eles nos unem. Muitas vezes um sinal, uma palavra basta para atestar a sua presença, e essas particularidades são tanto mais significativas, quanto mais similitude há na série de conversas familiares que se tem com os Espíritos. Além disso, é preciso considerar que quanto mais próximos de nós pela época de sua morte terrestre, menos estão os Espíritos despojados do caráter, dos hábitos e das ideias pessoais que no-los fazem reconhecer.
Já não é assim com os Espíritos que, de certo modo, só são conhecidos através da História. Para esses não existe nenhuma prova material de identidade; pode haver presunção, mas não certeza absoluta da personalidade. Quanto mais afastados de nós os Espíritos pela época em que viveram, menor essa certeza, considerando-se que suas ideias e seu caráter podem ter-se modificado com o tempo. Em segundo lugar, os que chegaram a uma certa elevação formam famílias similares pelo pensamento e pelo grau de adiantamento, cujos membros todos estão longe de nos ser conhecidos. Se um deles se manifesta, fá-lo-á sob um nome nosso conhecido, como sinal de sua categoria. Se se evoca Platão, por exemplo, é possível que responda ao apelo; mas, se não o puder, um Espírito da mesma categoria responderá por ele; será o seu pensamento, mas não a sua individualidade. Eis o que importa estarmos bem compenetrados.
Aliás, os Espíritos superiores vêm para instruir-nos; sua identidade absoluta é questão secundária. O que eles dizem é bom ou mau, racional ou ilógico, digno ou indigno de sua assinatura? Eis toda a questão. No primeiro caso, aceita-se; no segundo, rejeita-se como apócrifa.
Aqui se apresenta o grande escolho da intromissão dos Espíritos levianos ou ignorantes, que se enfeitam de grandes nomes para fazerem aceitar suas tolices e utopias. Nesse caso, a distinção exige tato, observação e, quase sempre, conhecimentos especiais.
Para julgar uma coisa é preciso ter competência. Como aquele que não é versado em literatura e poesia podia apreciar as qualidades e os defeitos das comunicações deste gênero? A ignorância, neste caso, por vezes toma por verdades sublimes a ênfase, os floreios de linguagem, as palavras sonoras, que cobrem o vazio das ideias; não pode identificar-se com o gênio particular do escritor, para julgar o que pode ou não pode ser dele. Assim, muitas vezes veem-se médiuns, lisonjeados por receberem versos assinados por Racine, Voltaire ou Béranger, não sentirem nenhuma dificuldade em julgá-los autênticos, por mais detestáveis que sejam, sendo uma felicidade quando não se aborrecem contra os que se permitem pô-los em dúvida.
Temos, pois, como perfeitamente justa a crítica que se lança a semelhantes coisas, porque abunda em nossa razão. O erro não está no Espiritismo, mas nos que aceitam com muita facilidade o que vem dos Espíritos. Se os que disso fazem uma arma contra a doutrina a tivessem estudado, saberiam o que ela admite e não lhe imputariam o que repele, nem os exageros de uma credulidade cega e irrefletida. O erro é ainda maior quando se publicam, sob nomes conhecidos, coisas indignas da origem que lhes é atribuída; é dar razão à crítica fundada e prejudicar o Espiritismo. É necessário que se saiba que o Espiritismo racional absolutamente não patrocina essas produções, nem assume a responsabilidade das publicações feitas com mais entusiasmo do que prudência.
A incerteza a respeito da identidade dos Espíritos, em certos casos, e a frequência da intromissão dos Espíritos levianos provam alguma coisa contra a realidade das manifestações? De modo algum, pois o fato das manifestações é tão bem provado pelos Espíritos inferiores quanto pelos superiores. A abundância dos primeiros prova a inferioridade moral do nosso globo e a necessidade de trabalhar pela nossa melhora, para dele sairmos o mais rápido possível.
Resta, agora, a questão principal: Por que os Espíritos dos homens de gênio não produzem obras-primas pela via mediúnica?
Antes de tudo, é preciso ver a utilidade das coisas. Para que serviria isto? Para convencer os incrédulos, dizem. Mas, quando se os vê resistindo à mais palpável evidência, uma obra-prima não lhes provaria melhor a existência dos Espíritos, porque a atribuiriam, como todas as produções mediúnicas, à superexcitação cerebral. Um Espírito familiar, um pai, uma mãe, um filho, um amigo, que vêm revelar circunstâncias desconhecidas do médium, dizer essas palavras que vão ao coração prova muito mais que uma obra-prima, que poderia sair de seu próprio cérebro.
Um filho, cujo pai o pranteia, e que vem atestar a sua presença e a sua afeição, não convence melhor do que se Homero viesse fazer uma nova Ilíada, ou Racine uma nova Fedra? Por que, então, lhes pedir habilidades, que espantariam mais do que convenceriam, quando eles se revelam por milhares de fatos íntimos, ao alcance de todo o mundo? Os Espíritos buscam convencer as massas, e não tal ou qual indivíduo, porque a opinião das massas faz lei, enquanto os indivíduos são unidades perdidas na multidão. Eis por que pouco se preocupam com os obstinados que os querem importunar. Sabem perfeitamente que, mais cedo ou mais tarde, terão de curvar-se ante a força da opinião. Os Espíritos não se submetem ao capricho de ninguém; para convencer empregam os meios que querem, conforme os indivíduos e as circunstâncias.
Tanto pior para os que não se contentam com isto; sua vez chegará mais tarde. Daí por que dizemos também aos adeptos: Ligai-vos aos homens de boa vontade, porque não falhareis; mas não percais vosso tempo com os cegos que não querem ver, nem com os surdos que não querem ouvir. Agir assim é faltar com a caridade?
Não, pois para estes será apenas um adiamento. Enquanto perdeis o tempo com eles, negligenciais dar consolações a uma porção de gente necessitada e que aceitaria com alegria o pão da vida que lhes oferecêsseis. Além disso, pensai que os refratários, que resistem às vossas palavras e às provas que lhes dais, cederão um dia sob o ascendente da opinião que se formará em redor deles. Seu amor-próprio sofrerá menos com isto.
A questão das obras-primas também se liga ao mesmo princípio que rege as relações dos encarnados com os desencarnados. Sua solução depende do conhecimento deste princípio. Eis as respostas dadas a respeito na Sociedade Espírita de Paris.
(6 de janeiro de 1865 – Médium: Sr. d’Ambel)
Há médiuns que, por suas aquisições anteriores, por seus estudos particulares na existência que hoje percorrem, acham-se mais aptos, quando não mais úteis que outros. Aqui a questão moral não é levada em conta: é simplesmente uma questão de capacidade intelectual. Mas não se deve ignorar que a maior parte desses médiuns não são devotados e que muitos recebem dos Espíritos comunicações de ordem elevada, que só a eles aproveitam. Mais de uma obra-prima da literatura e das artes é produto de uma mediunidade inconsciente; sem isto, de onde viria a inspiração? Afirmai corajosamente que as comunicações recebidas por Delphine de Girardin, Auguste Vaquerie e outros estavam à altura do que se tinha o direito de esperar dos Espíritos que se comunicavam por eles. Nessas ocasiões, infelizmente muito raras no Espiritismo, as almas dos que queriam comunicar-se tinham à mão bons, excelentes instrumentos, ou, melhor, médiuns cuja capacidade cerebral forneciam todos os elementos de palavras e de pensamentos necessários à manifestação dos Espíritos inspiradores. Ora, na maior parte das circunstâncias em que os Espíritos se comunicam – os grandes Espíritos, bem entendido – estão longe de ter sob a mão elementos suficientes para a emissão de seus pensamentos na forma, com a fórmula que eles lhe teriam dado quando vivos. É isso um motivo para não receber suas instruções? Por certo, não! Porque se algumas vezes a forma deixa a desejar, o fundo é sempre digno do signatário das comunicações.
Quanto ao mais, são querelas de palavras. A comunicação existe ou não existe? Eis o essencial. Se existe, que importa o Espírito e o nome que este toma? Se não se acredita nisto, importa ainda menos com ela se preocupar. Os Espíritos tratam de convencer; quando não o conseguem, é um inconveniente sem importância; é simplesmente porque o encarnado ainda não está pronto para ser convencido. Todavia, estou bem à vontade para aqui afirmar que, em cem indivíduos de boa-fé, que experimentam por si ou por médiuns que lhes são estranhos, mais de dois terços tornam-se partidários sinceros da Doutrina Espírita, porquanto, nesses períodos excepcionais, a ação dos Espíritos não se circunscreve apenas ao ato do médium, mas se manifesta por mil aspectos materiais ou espirituais sobre o próprio evocador.
Em suma, nada é absoluto, e sempre chegará uma hora mais fecunda, mais produtiva que a hora precedente. Eis, em poucas palavras, minha resposta à pergunta feita pelo vosso presidente.
Erasto

(20 de janeiro de 1865 – Médium: Srta. M. C.)
Perguntais por que os Espíritos que na Terra brilharam por seu gênio, não dão aos médiuns comunicações à altura de suas produções terrenas, quando, de preferência, deveriam dá-las superiores, já que o tempo decorrido desde sua morte deve ter sido acrescentado às suas faculdades. Eis a razão.
Para se fazer ouvir, é preciso que os Espíritos atuem sobre instrumentos que estejam ao nível de sua ressonância fluídica. Que pode fazer um bom músico com um instrumento detestável? Nada. Ah! Muitos médiuns, se não a maior parte, são para nós instrumentos muito imperfeitos. Compreendei que em tudo é necessário similitude, tanto nos fluidos espirituais quanto nos fluidos materiais. Para que os Espíritos avançados possam se vos manifestar, necessitam de médiuns capazes de vibrar em uníssono; do mesmo modo, para as manifestações físicas, é preciso que os encarnados possuam fluidos materiais da mesma natureza que os dos Espíritos errantes, tendo ainda ação sobre a matéria.
Assim, Galileu só se manifestará realmente a um astrônomo capaz de o compreender e transmitir sem erro os seus dados astronômicos; Alfred de Musset e outros poetas terão necessidade de um médium que ame e compreenda a poesia; Beethoven, Mozart procurarão músicos dignos de poder transcrever seus pensamentos musicais; os Espíritos instrutores que vos desvendam os segredos da Natureza, segredos pouco conhecidos, ou ainda ignorados, precisam de médiuns que já compreendam certos efeitos magnéticos e que tenham estudado bem a mediunidade.
Compreendei isto, meus amigos; refleti que não encomendais uma roupa ao chapeleiro, nem vossas cabeleiras ao alfaiate. Deveis compreender que necessitamos de bons intérpretes, e que alguns de nós, por não encontrar esses intérpretes, se recusem à comunicação. Mas, então, o lugar é ocupado. Não vos esqueçais de que os Espíritos levianos são em grande número, e que aproveitam as vossas faculdades com tanto mais facilidade quanto muitos dentre vós, envaidecidos pelas assinaturas notáveis, pouco se inquietam em se informarem na fonte verdadeira e confrontarem o que obtêm com o que deveriam ter obtido. Regra geral: quando quiserdes um calculador, não vos dirijais a um dançarino.
Um Espírito protetor

Observação – Esta comunicação apoia-se num princípio verdadeiro, que resolve perfeitamente a questão do ponto de vista científico; contudo, não deve ser tomada num sentido muito absoluto. À primeira vista, esse princípio parece contradizer os fatos tão numerosos de médiuns que tratam de assuntos fora de seus conhecimentos, e pareceria implicar, para os Espíritos superiores, a possibilidade de não se comunicarem senão a médiuns que estivessem à sua altura. Ora, isto só se deve entender quando se trata de trabalhos especiais e de uma importância excepcional.
Concebe-se que se Galileu quiser tratar de uma questão científica, se um grande poeta quiser ditar uma obra poética, tenham necessidade de um instrumento que responda ao seu pensamento, o que não quer dizer que, para outras coisas, uma simples questão de moral, por exemplo, um bom conselho a dar, não poderão fazê-lo por um médium que não seja cientista, nem poeta. Quando um médium trata com facilidade e superioridade assuntos que lhe são estranhos, é um indício de que seu Espírito possui um desenvolvimento inato e faculdades latentes, fora da educação que recebeu.




[1] Revista Espírita – Fevereiro/1865 – Allan Kardec

segunda-feira, 26 de agosto de 2019

BENEDITO GODOY PAIVA[1]



Nascido em S. Paulo no dia 19 de abril de 1885, e desencarnado na mesma cidade, aos 17 de maio de 1962.
Durante mais de vinte e cinco anos, um orador era invariavelmente requisitado para a maior parte das festividades de cunho espírita realizadas em São Paulo.
Sua palavra tinha o mérito de atrair numerosa assistência, pois, além de abalizado conferencista, possuía um estilo todo peculiar de proferir suas locuções, iniciando-as com um conto, um apólogo ou uma anedota de cunho singelo, que preparava os espíritos dos presentes, predispondo-os à assimilação dos ensinamentos contidos no tema que iria ser abordado.
Por isso dizia ele:
Em nossa longa peregrinação pelas tribunas espíritas, pelas estações de rádio e pela imprensa espírita, a falar sobre o Evangelho de Jesus, sempre fizemos o possível para não enfastiar os ouvintes ou os leitores com longas e pesadas dissertações sobre a Doutrina Espírita, achando preferível prender-lhes a atenção por meio de outro processo, qual o de buscar na vida prática fatos ou exemplos elucidativos dos temas abordados, ainda que por vezes pecando contra a sisudez de alguns confrades pouco amantes de literatura desse gênero. Para se trazer uma assistência atenta, nada melhor do que entremear a palestra com a narração de fatos interessantes e por vezes cônscio da vida de sociedade, elucidativos do tema a ser abordado.
Nenhum mal há nisso, para a propaganda e compreensão da Doutrina Espírita.
O espírita deve ser alegre e nunca um indivíduo avesso ao riso, às alegrias sãs, aos divertimentos inofensivos, nunca devendo imitar aqueles frades da Ordem do Silêncio que, proibidos de falar, só podiam dizer ao se encontrarem: “Irmão! Lembra-te da morte!"
Esse emérito espírita chamava-se Benedito Godoy Paiva. Foi um homem de ilibado caráter, franco e leal, dotado de invejável operosidade.
Anteriormente ao ano de 1941, pertenceu ao quadro diretivo da União Federativa Espírita Paulista, ali desenvolvendo intenso trabalho de divulgação da Doutrina Espírita, fazendo-o através da imprensa e do rádio.
Nesse mesmo ano passou a prestar serviços no corpo de colaboradores da Federação Espírita do Estado de São Paulo, onde teve grande destaque e exerceu numerosas atividades, pois, além de orador oficial, foi diretor do Departamento Cultural e Social e membro do Conselho Deliberativo, ajudando Pedro de Camargo Vinícius, a instituir as Tertúlias Evangélicas substituindo-o em seus impedimentos todos os domingos de manhã. Colaborou decididamente na fundação da Escola de Aprendizes do Evangelho e de outros cursos ministrados por aquela instituição, assessorando os trabalhos de preparação de apostilas e livros para os aludidos cursos.
Em 1947 tomou parte saliente na fundação da União das Sociedades Espíritas do Estado de S. Paulo, formando a Comissão da Redação Final das deliberações do 1º Congresso Espírita do Estado de São Paulo e integrando o primeiro Conselho Deliberativo daquela entidade.
Os dados biográficos que se seguem foram obtidos da Professora Zilda de Paiva Barbosa, uma das filhas daquele grande seareiro.
Benedito Godoy Paiva enviuvou duas vezes, deixando sete filhos, netos e bisnetos. Aos 16 anos de idade, após ter feito o Curso Ginasial no Externato Molina, estudou e completou os cursos de geometria, matemática e de língua inglesa, ingressando então como funcionário da Estrada de Ferro Sorocabana, em 1901. Entretanto, fez ainda o curso de Contador na Academia de Comércio do Brasil, a qual frequentou à noite, passando depois a trabalhar em horas extras como guarda-livros, a fim de equilibrar a economia do lar.
Aposentou-se após 46 anos de serviço naquela ferrovia, deixando uma grande folha de inestimáveis serviços a ela prestados, com toda dedicação e eficiência.
Fez carreira brilhante de praticante a assessor administrativo, chegando a Chefe do Escritório do Tráfego e Chefe Geral do Expediente do Departamento dos Transportes, onde recebeu elogios em sua folha corrida.
Tomou parte em inquéritos administrativos e em outras comissões que lhe foram confiadas, por conhecer profundamente todos os regulamentos e ordens expedidas pelas administrações anteriores.
Foi jornalista, colaborando na imprensa religiosa e profana, sendo redator de uma das colunas do "Diário de São Paulo".
Como poeta e charadista colaborou em "Nossa Estrada", revista cujo nome foi sugerido por ele e aceito por votação por todo o pessoal da Sorocabana.
Era músico. Executava cerca de seis instrumentos, porém, a sua predileção era pela flauta. Compôs diversas músicas e foi seresteiro. Fazia serenatas sob as janelas, nos tempos da velha São Paulo.
Frequentou a Igreja Evangélica, onde era organista e regente do coro.
Na ata de fundação da 3ª Igreja Presbiteriana Independente de São Paulo o seu nome consta, em primeiro lugar, como fundador.
Conhecia profundamente as Escrituras e dos Evangelhos tirou ensinamentos sublimes que o nortearam em toda a sua vida, tão útil à família e à Humanidade.
Convertendo-se ao Espiritismo, tomou parte inicialmente na União Federativa e posteriormente na Federação Espírita do Estado de São Paulo, deixando a Igreja Presbiteriana de onde solicitou afastamento, escrevendo uma carta ao seu grande amigo, Rev. Dr. Seth Ferraz, pastor da 3ª Igreja, expondo os motivos que o levavam a se afastar do seio daquela comunidade, uma vez que os ensinamentos da Igreja condenam o Espiritismo, doutrina baseada na reencarnação e na evolução dos Espíritos.
Foi uma nova fase em sua vida. Dedicou-se inteiramente à Doutrina Espírita.
Fez inúmeras conferências, cujos auditórios eram repletos quando ele ocupava a tribuna.
Baseado nessas conferências editou o livro "Quando o Evangelho diz Não!"
Publicou diversos folhetos, entre eles "Quais os que entrarão no céu" e "A Verdade vos Libertará".
Escreveu poesias diversas: "A Reencarnação", "Saudades do Marido", "As Três Cruzes", "A Mulher Pecadora", "O Juízo Final", "O Bom Samaritano", "Salvação pela Fé", "O Sonho da Princesa" e, com Cid Franco, escreveu o poema "Avatar".
Revisou "A Grande Síntese", livro mediúnico de Pietro Ubaldi e, em parceria com Emílio Manso Vieira, escreveu o "Manual do Dirigente de Sessões Espíritas".
No dia de sua desencarnação, à sua cabeceira estiveram presentes três representantes de correntes religiosas: um pastor evangélico, um bispo da Igreja Católica Brasileira e um membro da Federação Espírita do Estado de São Paulo. Todos lhe tributaram adeus com o mesmo carinho.




[1] Os Grandes Vultos do Espiritismo – Paulo Alves Godoy

sábado, 24 de agosto de 2019

DESCULPAS FREQUENTES[1]




Quem já desenvolveu algum tipo de trabalho voluntário sabe o quanto é difícil conseguir que os companheiros persistam na tarefa e não a abandonem.
Existem as desculpas mais frequentes para desistir-se de qualquer empreitada.
Poderíamos relacionar as cinco mais comuns.
Primeira: "não tenho tempo".
Essa é uma das frases mais ouvidas nos dias atuais.
As pessoas correm de um lado para o outro, todos os dias.
Dividem seu tempo entre o trabalho, o estudo, o lazer, e mais uma infinidade de atividades.
Porém, há coisas que não valem a pena.
Muitas vezes desperdiçamos minutos valiosos em atividades ou em programas que se revelam, mais tarde, lamentáveis equívocos. Então, na verdade, o que sofremos não é a "falta de tempo", mas sim a dificuldade de priorizar tarefas e de utilizar de modo razoável e útil as horas de que dispomos.
Segunda: "não sei fazer".
Há pessoas que não sabem realizar determinadas tarefas e não têm o menor interesse em aprendê-las.
Há quem diga: "não sei e tenho raiva de quem sabe".
Em outras palavras, não querem a responsabilidade de saber para se esconder na ignorância e na incapacidade voluntária de realizar qualquer atividade diferente.
Trata-se de uma omissão deliberada, negando-se a buscar um objetivo nobre.
Na visão evangélica, são pessoas que "enterram seus talentos" e que nada produzem de bom.
Terceira: "não tenho saúde".
Pequenas indisposições costumam servir de desculpas para o afastamento das mais singelas atividades.
Porém, não são suficientemente graves para impedir que a mesma pessoa deixe de buscar prazeres e lazeres dos mais variados, na mesma ocasião.
Ou seja: só não se está bem o suficiente para trabalhar, porque não há motivos reais para recusar as ofertas fúteis e vazias do mundo.
Quarta: "tenho medo".
Nessa situação, a frase mais comum é: "quem sou eu para fazer isso?"
Mais do que falsa modéstia, a pessoa que costuma valer-se de tal argumento, na verdade, quer eximir-se de novas atribuições.
É muito cômodo alegar o receio de errar.
Ora, não podemos esquecer que só erra quem faz.
Aquele que nada realiza equivoca-se apenas por omitir-se, por deixar de realizar.
No entanto, é melhor correr o risco de errar, produzindo algo de bom, do que simplesmente lavar as mãos e não errar nunca, mas também nada fazer.
Quinta: "outra pessoa vai fazer isso".
Muitos cruzam os braços na certeza de que a tarefa será levada a cabo por outras pessoas.
Na verdade, boa parte das tarefas efetivamente poderá ser realizada sem o auxílio, sem a participação daqueles.
No entanto, sendo cada pessoa única, o resultado que se obtém em cada obra pode ser diferente.
Além disso, na maioria das vezes, a tarefa não precisa deles, mais sim são eles próprios que precisam dessa oportunidade para aprender e para se desenvolver.

* * *

O trabalho no bem é uma oportunidade abençoada que não deve jamais ser retardada ou abandonada, sob pena de prejudicar a evolução do próprio trabalhador envolvido.
Evite desculpas vãs.
Busque o trabalho, realize e cresça.


Equipe de Redação do Momento Espírita

sexta-feira, 23 de agosto de 2019

QUEM É O OBSESSOR? OS ESPÍRITOS OU NÓS MESMOS?[1]



Antonio Carlos Piesigilli

Muitas pessoas religiosas acreditam em Espíritos malignos, demônios e obsessores. Essas seriam Entidades Espirituais que podem nos prejudicar e sugar nossas energias. No entanto, muitas vezes "Nós Mesmos Somos os Obsessores" das outras pessoas.
Somos os Obsessores quando desejamos fazer prevalecer nossas ideias e impor nossas verdades a outrem.
Somos os Obsessores quando criticamos, julgamos o condenamos o outro sem pleno conhecimento de causa.
Somos os Obsessores quando temos ciúme e queremos obter a posse do outro.
Somos os Obsessores quando batemos o pé e forçamos o outro a seguir a nossa vontade.
Somos os Obsessores quando exigimos que o outro faça por nós algo que nos cabe fazer.
Somos os Obsessores quando desejamos vencer uma discussão, instituir nossas verdades e firmar nosso ponto de vista.
Somos os Obsessores quando burlamos o livre arbítrio alheio e o fazemos trilhar o caminho que nós julgamos correto.
Somos os Obsessores quando tentamos ajudar sem nos preocupar no que é melhor para o outro, mas sim seguindo apenas o que nós acreditamos ser o melhor.
Somos os Obsessores quando desejamos comprar o afeto das pessoas com presentes, regalias, benesses e mimos, esperando sempre algo em troca.
Somos os Obsessores quando não permitimos que o outro cresça, se desenvolva, para não se tornar melhor do que nós.
Somos os Obsessores quando fazemos tudo pelo outro e não permitimos que ele faça, erre e aprenda sozinho.
Somos os Obsessores quando vomitamos um longo falatório desordenado e fútil acreditando que o outro tem obrigação de nos ouvir.
Somos os Obsessores quando não damos espaço para o outro, o prendemos, o sufocamos, podamos seus movimentos, cobramos, oprimimos, sem permitir sua independência.
Somos os Obsessores quando acreditamos que o outro deve corresponder aos nossos padrões, nossos modelos, nossa religião, nossos costumes, nossas crenças e nosso ideal de ser.
Somos os Obsessores quando geramos milhares de conflitos, discórdias e desunião, quando criamos confusão, intrigas, fofocas e distorcemos a realidade para prejudicar o outro.
Somos os Obsessores quando dissemos uma coisa ao outro e fazemos outra, enganando, omitindo e dissimulando.
Somos os Obsessores quando vivemos reclamando e acreditamos que o outro tem obrigação de aguentar nossas lamúrias.
Somos os Obsessores quando elogiamos para manipular, louvamos para enganar, enchemos o ego do outro para confundi-lo a fazer o que queremos.
Somos os Obsessores quando fazemos do outro a nossa vida e depois ficamos magoados quando ele se afasta deixando um buraco em nosso peito, um vazio existencial e uma profunda infelicidade.
Procure a vida em ti mesmo. Não seja mais um Obsessor do outro.
Não dependa de ninguém para ser feliz. Não fique sugando as pessoas.
Não acredite que o Obsessor é sempre o outro…
Há sempre algo de Obsessor em nós mesmos.

Fonte: Vinhas de Luz

quinta-feira, 22 de agosto de 2019

SENSO MORAL[1]


     

Miramez

A crueldade não provém da ausência do senso moral?
‒ Dize que o senso moral não está desenvolvido, mas não que está ausente, porque ele existe, em princípio, em todos os homens. É esse senso moral que fará mais tarde seres bons e humanos. Ele existe, pois, no selvagem, mas está como o princípio do perfume está no germe da flor, antes de ela desabrochar.
Todas as faculdades existem no homem em estado rudimentar ou latente. Elas se desenvolvem conforme as circunstâncias lhes são mais ou menos favoráveis. O desenvolvimento excessivo de uma detém ou neutraliza o das outras. A super excitação dos instintos materiais sufoca, por assim dizer, o senso moral, como o desenvolvimento do senso moral enfraquece, pouco a pouco, as faculdades puramente animais. (Allan Kardec)
Questão 754/Livro dos Espíritos

A crueldade não é praticada por carência do senso moral, pois ele existe como germe divino na intimidade d'alma. São os talentos descritos pelo Evangelho de Jesus, são os valores da vida depositados por Deus no coração humano e espiritual, que obedecem ao progresso. O tempo dotá-lo-á de força para o seu despertamento passo a passo.
Não há carência das coisas divinas, pelo contrário, elas existem em abundância em tudo o que Deus fez. É bom que compreendamos a necessidade de despertarmos cada vez mais para a luz do entendimento, em todos os aspectos do viver. O senso moral nos homens primitivos se encontra dormindo ou dominado pela ferocidade; quando ela enfraquecer, o dom divino começará a se aflorar no coração como flor de luz, exalando o perfume da paz e do amor.
Quem dorme, não participa do que se processa em torno de si, no entanto, quem acorda passa a viver e interferir no que observa. O tempo, como sendo as mãos de Deus, tem o poder de acordar as forças divinas dentro das criaturas. Isto não é esquema dos homens, é programa de Deus. Todos os povos têm o senso moral, mesmo os primitivos; no entanto, nestes últimos, ele é dominado pelo ambiente agressivo dos instintos inferiores, pelas paixões materiais, pelo interesse de coisas passageiras.
Não podemos entender que se deva eliminar o perverso, porque também nós passamos por essa fase. Esse senso moral que existe em todos, no amanhã fará deles homens bons e justos. Como querer destruir as crianças por lhes faltar a educação que possui o adulto? É falta mais grave, porque o adulto deve conhecer a lei da evolução gradativa, e já viveu bastante, adquirindo o poder de respeitar aos que estão na mesma estrada, à procura de crescimento.
A desumanidade de certas criaturas é ignorância, por não saberem que elas não podem viver bem sem o seu próximo. Tudo que um homem precisa para viver bem, tem a marca de mãos que quase sempre ele mesmo não conhece. Nós precisamos dos outros, e os outros de nós. A humanidade é como os elos de uma grande corrente universal, onde Deus faz circular a energia de vida, que dá vida a todos. Viver egoísticamente é isolar-se dos grandes benefícios doados pelo Senhor.
O senso moral existe até no homem mais primitivo. Ele se encontra como princípio do perfume no germe da flor. A qualquer momento, desabrocha como sendo a luz de quem se encontra nas trevas. Todas as faculdades se encontram latentes no homem, e quando elas começam a desabrochar, os instintos inferiores passam à decadência até desaparecerem em favor da educação espiritual. Esses dons, desabrochando no Espírito, tornam-no felizes pela multiplicação dos valores da vida maior.
Lucas, no capitulo nove, versículo dezessete, assim se refere à multiplicação dos pães: Todos comeram e se fartaram, e dos pedaços que ainda sobejaram foram recolhidos doze cestos.

O que faz multiplicar em nós os valores eternos é a força dos talentos que acordaram em nossos corações, e quando os acordamos, tudo de bom se multiplica para a nossa felicidade e o bem-estar dos outros.





[1] Filosofia Espírita – Volume 15 – João Nunes Maia

quarta-feira, 21 de agosto de 2019

Como o livre arbítrio funciona no cérebro?[1]



Redação do Diário da Saúde

Livre arbítrio material
Será que os seres humanos têm mesmo um livre arbítrio "genuíno"?
Filósofos e teólogos têm debatido essa questão por séculos, e acabaram por estabelecer as características básicas do livre arbítrio.
Mas o professor Thomas Hills, da Universidade de Warwick (Reino Unido), queria saber como nossos cérebros preenchem essas características, estabelecendo uma ponte entre os argumentos filosóficos do livre-arbítrio e a "realidade material", ou neurocognitiva, estabelecida no cérebro.
Ele acredita agora ter fundamentado na realidade biológica as características fundamentais do livre-arbítrio estabelecidas pelos filósofos, criando uma nova estrutura para o que ele chama de "livre-arbítrio neurocognitivo", o livre arbítrio que pode ser monitorado no cérebro.

Características do livre arbítrio
Em filosofia, os elementos do livre arbítrio incluem a capacidade de fazer o contrário - o "princípio das possibilidades alternativas"; a capacidade de deliberar; um senso de si mesmo; e a capacidade de manter metas - "querer o que você quer".
Com base em exemplos que vão do que fazer no café da manhã a como um jogador bate um pênalti, e considerando organismos de seres humanos até bactérias e baratas, além de robôs, o professor Hills argumenta que nossas habilidades neurocognitivas satisfazem esses requisitos através de:
1.      Acesso adaptativo à imprevisibilidade.
2.      Ajuste desta imprevisibilidade para nos ajudar a alcançar objetivos de alto nível.
3.      Deliberação dirigida por objetivos através da pesquisa sobre representações cognitivas internas.
4.      Um papel para a construção consciente do self na geração e escolha de alternativas.

Livre-arbítrio neurocognitivo
“O livre-arbítrio neurocognitivo - o livre-arbítrio que temos como humano - é um processo de autoconstrução generativa. Eu demonstro que amostras de consciência frutos de esforço a partir de nossa experiência, de uma forma exploratoriamente adaptativa, nos permite explorar a nós mesmos na construção de futuros alternativos.
Há evidências de que as pessoas que acreditam no livre arbítrio são mais pró-sociais. Elas adotam comportamentos que beneficiam os outros e a sociedade como um todo e têm um maior senso de controle sobre seu futuro - acreditam que podem influenciar o futuro de maneiras positivas. Isso é importante: o livre-arbítrio neurocognitivo fornece uma base para entender por que elas estão corretas.
O livre-arbítrio neurocognitivo liga nossa compreensão do livre arbítrio a algo real. Também nos ajuda a entender o que ele significa. Eu suspeito que não é o que a maioria das pessoas pensa. Como Sartre uma vez disse: 'A liberdade não é um triunfo. ' Mas eu acredito que o livre arbítrio neurocognitivo nos dará algumas dicas de como ela poderia ser. Esse será um foco do nosso trabalho futuro”, explicou o professor Hills.

terça-feira, 20 de agosto de 2019

Mediunidade na Infância - 2[1]

(Sociedade de Paris, 6 de janeiro de 1865 – Médium: Sr. Delanne)



Depois de ter sido preparado pelo anjo-da-guarda, começam a se estabelecerem no Espírito que vem encarnar, isto é, que vem sofrer novas provações em vista do seu melhoramento, os laços misteriosos que o unem ao corpo, a fim de manifestar a sua ação terrestre. Aí está todo um estudo, sobre o qual não me estenderei; só falarei do papel e da disposição do Espírito, durante o período da infância no berço.
A ação do Espírito sobre a matéria, nesse tempo de vegetação corpórea, é pouco sensível. Assim, os guias espirituais desvelam-se em aproveitar esses instantes, em que a parte carnal não obriga a participação inteligente do Espírito, a fim de preparar este último e encorajá-lo em suas boas resoluções, das quais sua alma está impregnada.
É nesses momentos de desprendimento que o Espírito, saindo da perturbação que teve de passar para a encarnação presente, compreende e se lembra dos compromissos contraídos para o seu adiantamento moral. É então que os Espíritos protetores vos assistem e ajudam a vos reconhecerdes. Assim, estudai a fisionomia da criancinha que dorme; muitas vezes o vereis “sorrindo aos anjos”, como se diz vulgarmente, expressão mais justa do que se pensa. Com efeito, sorri aos Espíritos que o cercam e o devem guiar.
Vede esse pequeno acordado. Ora ele olha fixamente, parecendo reconhecer seres amigos; ora balbucia palavras, e seus gestos alegres parecem dirigir-se a rostos amados. E como Deus jamais abandona as suas criaturas, mais tarde esses mesmos Espíritos lhe darão boas e salutares instruções, seja durante o sono, seja por inspiração, em estado de vigília. Daí podeis ver que todos os homens possuem, ao menos em germe, o dom da mediunidade.
A infância propriamente dita é uma longa série de efeitos mediúnicos, e se crianças um pouco mais velhas, quando o Espírito adquiriu mais força, por vezes não temessem as imagens das primeiras horas, poderíeis constatar muito melhor esses efeitos.
Continuai a estudar e, diariamente, como crianças grandes, vossa instrução aumentará, se não vos obstinardes em fechar os olhos ao que vos cerca.

Um Espírito protetor




[1] Revista Espírita – Fevereiro/1865 – Allan Kardec