segunda-feira, 26 de agosto de 2019

BENEDITO GODOY PAIVA[1]



Nascido em S. Paulo no dia 19 de abril de 1885, e desencarnado na mesma cidade, aos 17 de maio de 1962.
Durante mais de vinte e cinco anos, um orador era invariavelmente requisitado para a maior parte das festividades de cunho espírita realizadas em São Paulo.
Sua palavra tinha o mérito de atrair numerosa assistência, pois, além de abalizado conferencista, possuía um estilo todo peculiar de proferir suas locuções, iniciando-as com um conto, um apólogo ou uma anedota de cunho singelo, que preparava os espíritos dos presentes, predispondo-os à assimilação dos ensinamentos contidos no tema que iria ser abordado.
Por isso dizia ele:
Em nossa longa peregrinação pelas tribunas espíritas, pelas estações de rádio e pela imprensa espírita, a falar sobre o Evangelho de Jesus, sempre fizemos o possível para não enfastiar os ouvintes ou os leitores com longas e pesadas dissertações sobre a Doutrina Espírita, achando preferível prender-lhes a atenção por meio de outro processo, qual o de buscar na vida prática fatos ou exemplos elucidativos dos temas abordados, ainda que por vezes pecando contra a sisudez de alguns confrades pouco amantes de literatura desse gênero. Para se trazer uma assistência atenta, nada melhor do que entremear a palestra com a narração de fatos interessantes e por vezes cônscio da vida de sociedade, elucidativos do tema a ser abordado.
Nenhum mal há nisso, para a propaganda e compreensão da Doutrina Espírita.
O espírita deve ser alegre e nunca um indivíduo avesso ao riso, às alegrias sãs, aos divertimentos inofensivos, nunca devendo imitar aqueles frades da Ordem do Silêncio que, proibidos de falar, só podiam dizer ao se encontrarem: “Irmão! Lembra-te da morte!"
Esse emérito espírita chamava-se Benedito Godoy Paiva. Foi um homem de ilibado caráter, franco e leal, dotado de invejável operosidade.
Anteriormente ao ano de 1941, pertenceu ao quadro diretivo da União Federativa Espírita Paulista, ali desenvolvendo intenso trabalho de divulgação da Doutrina Espírita, fazendo-o através da imprensa e do rádio.
Nesse mesmo ano passou a prestar serviços no corpo de colaboradores da Federação Espírita do Estado de São Paulo, onde teve grande destaque e exerceu numerosas atividades, pois, além de orador oficial, foi diretor do Departamento Cultural e Social e membro do Conselho Deliberativo, ajudando Pedro de Camargo Vinícius, a instituir as Tertúlias Evangélicas substituindo-o em seus impedimentos todos os domingos de manhã. Colaborou decididamente na fundação da Escola de Aprendizes do Evangelho e de outros cursos ministrados por aquela instituição, assessorando os trabalhos de preparação de apostilas e livros para os aludidos cursos.
Em 1947 tomou parte saliente na fundação da União das Sociedades Espíritas do Estado de S. Paulo, formando a Comissão da Redação Final das deliberações do 1º Congresso Espírita do Estado de São Paulo e integrando o primeiro Conselho Deliberativo daquela entidade.
Os dados biográficos que se seguem foram obtidos da Professora Zilda de Paiva Barbosa, uma das filhas daquele grande seareiro.
Benedito Godoy Paiva enviuvou duas vezes, deixando sete filhos, netos e bisnetos. Aos 16 anos de idade, após ter feito o Curso Ginasial no Externato Molina, estudou e completou os cursos de geometria, matemática e de língua inglesa, ingressando então como funcionário da Estrada de Ferro Sorocabana, em 1901. Entretanto, fez ainda o curso de Contador na Academia de Comércio do Brasil, a qual frequentou à noite, passando depois a trabalhar em horas extras como guarda-livros, a fim de equilibrar a economia do lar.
Aposentou-se após 46 anos de serviço naquela ferrovia, deixando uma grande folha de inestimáveis serviços a ela prestados, com toda dedicação e eficiência.
Fez carreira brilhante de praticante a assessor administrativo, chegando a Chefe do Escritório do Tráfego e Chefe Geral do Expediente do Departamento dos Transportes, onde recebeu elogios em sua folha corrida.
Tomou parte em inquéritos administrativos e em outras comissões que lhe foram confiadas, por conhecer profundamente todos os regulamentos e ordens expedidas pelas administrações anteriores.
Foi jornalista, colaborando na imprensa religiosa e profana, sendo redator de uma das colunas do "Diário de São Paulo".
Como poeta e charadista colaborou em "Nossa Estrada", revista cujo nome foi sugerido por ele e aceito por votação por todo o pessoal da Sorocabana.
Era músico. Executava cerca de seis instrumentos, porém, a sua predileção era pela flauta. Compôs diversas músicas e foi seresteiro. Fazia serenatas sob as janelas, nos tempos da velha São Paulo.
Frequentou a Igreja Evangélica, onde era organista e regente do coro.
Na ata de fundação da 3ª Igreja Presbiteriana Independente de São Paulo o seu nome consta, em primeiro lugar, como fundador.
Conhecia profundamente as Escrituras e dos Evangelhos tirou ensinamentos sublimes que o nortearam em toda a sua vida, tão útil à família e à Humanidade.
Convertendo-se ao Espiritismo, tomou parte inicialmente na União Federativa e posteriormente na Federação Espírita do Estado de São Paulo, deixando a Igreja Presbiteriana de onde solicitou afastamento, escrevendo uma carta ao seu grande amigo, Rev. Dr. Seth Ferraz, pastor da 3ª Igreja, expondo os motivos que o levavam a se afastar do seio daquela comunidade, uma vez que os ensinamentos da Igreja condenam o Espiritismo, doutrina baseada na reencarnação e na evolução dos Espíritos.
Foi uma nova fase em sua vida. Dedicou-se inteiramente à Doutrina Espírita.
Fez inúmeras conferências, cujos auditórios eram repletos quando ele ocupava a tribuna.
Baseado nessas conferências editou o livro "Quando o Evangelho diz Não!"
Publicou diversos folhetos, entre eles "Quais os que entrarão no céu" e "A Verdade vos Libertará".
Escreveu poesias diversas: "A Reencarnação", "Saudades do Marido", "As Três Cruzes", "A Mulher Pecadora", "O Juízo Final", "O Bom Samaritano", "Salvação pela Fé", "O Sonho da Princesa" e, com Cid Franco, escreveu o poema "Avatar".
Revisou "A Grande Síntese", livro mediúnico de Pietro Ubaldi e, em parceria com Emílio Manso Vieira, escreveu o "Manual do Dirigente de Sessões Espíritas".
No dia de sua desencarnação, à sua cabeceira estiveram presentes três representantes de correntes religiosas: um pastor evangélico, um bispo da Igreja Católica Brasileira e um membro da Federação Espírita do Estado de São Paulo. Todos lhe tributaram adeus com o mesmo carinho.




[1] Os Grandes Vultos do Espiritismo – Paulo Alves Godoy

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