Miramez
A crueldade não provém da ausência do senso moral?
‒ Dize que o senso
moral não está desenvolvido, mas não que está ausente, porque ele existe, em
princípio, em todos os homens. É esse senso moral que fará mais tarde seres
bons e humanos. Ele existe, pois, no selvagem, mas está como o princípio do
perfume está no germe da flor, antes de ela desabrochar.
Todas as faculdades existem
no homem em estado rudimentar ou latente. Elas se desenvolvem conforme as
circunstâncias lhes são mais ou menos favoráveis. O desenvolvimento excessivo
de uma detém ou neutraliza o das outras. A super excitação dos instintos
materiais sufoca, por assim dizer, o senso moral, como o desenvolvimento do
senso moral enfraquece, pouco a pouco, as faculdades puramente animais. (Allan Kardec)
Questão 754/Livro dos Espíritos
A crueldade não é praticada por
carência do senso moral, pois ele existe como germe divino na intimidade
d'alma. São os talentos descritos pelo Evangelho de Jesus, são os valores da
vida depositados por Deus no coração humano e espiritual, que obedecem ao
progresso. O tempo dotá-lo-á de força para o seu despertamento passo a passo.
Não há carência das coisas
divinas, pelo contrário, elas existem em abundância em tudo o que Deus fez. É
bom que compreendamos a necessidade de despertarmos cada vez mais para a luz do
entendimento, em todos os aspectos do viver. O senso moral nos homens
primitivos se encontra dormindo ou dominado pela ferocidade; quando ela
enfraquecer, o dom divino começará a se aflorar no coração como flor de luz,
exalando o perfume da paz e do amor.
Quem dorme, não participa do que
se processa em torno de si, no entanto, quem acorda passa a viver e interferir
no que observa. O tempo, como sendo as mãos de Deus, tem o poder de acordar as
forças divinas dentro das criaturas. Isto não é esquema dos homens, é programa
de Deus. Todos os povos têm o senso moral, mesmo os primitivos; no entanto,
nestes últimos, ele é dominado pelo ambiente agressivo dos instintos
inferiores, pelas paixões materiais, pelo interesse de coisas passageiras.
Não podemos entender que se deva
eliminar o perverso, porque também nós passamos por essa fase. Esse senso moral
que existe em todos, no amanhã fará deles homens bons e justos. Como querer
destruir as crianças por lhes faltar a educação que possui o adulto? É falta mais
grave, porque o adulto deve conhecer a lei da evolução gradativa, e já viveu
bastante, adquirindo o poder de respeitar aos que estão na mesma estrada, à
procura de crescimento.
A desumanidade de certas
criaturas é ignorância, por não saberem que elas não podem viver bem sem o seu
próximo. Tudo que um homem precisa para viver bem, tem a marca de mãos que
quase sempre ele mesmo não conhece. Nós precisamos dos outros, e os outros de
nós. A humanidade é como os elos de uma grande corrente universal, onde Deus
faz circular a energia de vida, que dá vida a todos. Viver egoísticamente é
isolar-se dos grandes benefícios doados pelo Senhor.
O senso moral existe até no
homem mais primitivo. Ele se encontra como princípio do perfume no germe da
flor. A qualquer momento, desabrocha como sendo a luz de quem se encontra nas
trevas. Todas as faculdades se encontram latentes no homem, e quando elas
começam a desabrochar, os instintos inferiores passam à decadência até
desaparecerem em favor da educação espiritual. Esses dons, desabrochando no
Espírito, tornam-no felizes pela multiplicação dos valores da vida maior.
Lucas, no capitulo nove,
versículo dezessete, assim se refere à multiplicação dos pães: Todos comeram e se fartaram, e dos pedaços
que ainda sobejaram foram recolhidos doze cestos.
O que faz multiplicar em
nós os valores eternos é a força dos talentos que acordaram em nossos corações,
e quando os acordamos, tudo de bom se multiplica para a nossa felicidade e o
bem-estar dos outros.
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