quinta-feira, 22 de agosto de 2019

SENSO MORAL[1]


     

Miramez

A crueldade não provém da ausência do senso moral?
‒ Dize que o senso moral não está desenvolvido, mas não que está ausente, porque ele existe, em princípio, em todos os homens. É esse senso moral que fará mais tarde seres bons e humanos. Ele existe, pois, no selvagem, mas está como o princípio do perfume está no germe da flor, antes de ela desabrochar.
Todas as faculdades existem no homem em estado rudimentar ou latente. Elas se desenvolvem conforme as circunstâncias lhes são mais ou menos favoráveis. O desenvolvimento excessivo de uma detém ou neutraliza o das outras. A super excitação dos instintos materiais sufoca, por assim dizer, o senso moral, como o desenvolvimento do senso moral enfraquece, pouco a pouco, as faculdades puramente animais. (Allan Kardec)
Questão 754/Livro dos Espíritos

A crueldade não é praticada por carência do senso moral, pois ele existe como germe divino na intimidade d'alma. São os talentos descritos pelo Evangelho de Jesus, são os valores da vida depositados por Deus no coração humano e espiritual, que obedecem ao progresso. O tempo dotá-lo-á de força para o seu despertamento passo a passo.
Não há carência das coisas divinas, pelo contrário, elas existem em abundância em tudo o que Deus fez. É bom que compreendamos a necessidade de despertarmos cada vez mais para a luz do entendimento, em todos os aspectos do viver. O senso moral nos homens primitivos se encontra dormindo ou dominado pela ferocidade; quando ela enfraquecer, o dom divino começará a se aflorar no coração como flor de luz, exalando o perfume da paz e do amor.
Quem dorme, não participa do que se processa em torno de si, no entanto, quem acorda passa a viver e interferir no que observa. O tempo, como sendo as mãos de Deus, tem o poder de acordar as forças divinas dentro das criaturas. Isto não é esquema dos homens, é programa de Deus. Todos os povos têm o senso moral, mesmo os primitivos; no entanto, nestes últimos, ele é dominado pelo ambiente agressivo dos instintos inferiores, pelas paixões materiais, pelo interesse de coisas passageiras.
Não podemos entender que se deva eliminar o perverso, porque também nós passamos por essa fase. Esse senso moral que existe em todos, no amanhã fará deles homens bons e justos. Como querer destruir as crianças por lhes faltar a educação que possui o adulto? É falta mais grave, porque o adulto deve conhecer a lei da evolução gradativa, e já viveu bastante, adquirindo o poder de respeitar aos que estão na mesma estrada, à procura de crescimento.
A desumanidade de certas criaturas é ignorância, por não saberem que elas não podem viver bem sem o seu próximo. Tudo que um homem precisa para viver bem, tem a marca de mãos que quase sempre ele mesmo não conhece. Nós precisamos dos outros, e os outros de nós. A humanidade é como os elos de uma grande corrente universal, onde Deus faz circular a energia de vida, que dá vida a todos. Viver egoísticamente é isolar-se dos grandes benefícios doados pelo Senhor.
O senso moral existe até no homem mais primitivo. Ele se encontra como princípio do perfume no germe da flor. A qualquer momento, desabrocha como sendo a luz de quem se encontra nas trevas. Todas as faculdades se encontram latentes no homem, e quando elas começam a desabrochar, os instintos inferiores passam à decadência até desaparecerem em favor da educação espiritual. Esses dons, desabrochando no Espírito, tornam-no felizes pela multiplicação dos valores da vida maior.
Lucas, no capitulo nove, versículo dezessete, assim se refere à multiplicação dos pães: Todos comeram e se fartaram, e dos pedaços que ainda sobejaram foram recolhidos doze cestos.

O que faz multiplicar em nós os valores eternos é a força dos talentos que acordaram em nossos corações, e quando os acordamos, tudo de bom se multiplica para a nossa felicidade e o bem-estar dos outros.





[1] Filosofia Espírita – Volume 15 – João Nunes Maia

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