Jorge Hessen
Ante os delitos morais
cometidos, há pessoas que introjetam a autorrejeição, implantando na
consciência a chaga da culpa. Por efeito disso, sentem-se rejeitadas por todos,
ao invés de trabalharem pela reparação do erro. Até porque se não o fizer de
imediato arremessará para a encarnação seguinte os conflitos conscienciais
incrustados.
Há os que arriscam camuflar os
delitos, porém ocultar conflitos culposos não libera a consequência do
desacerto, porquanto as desordens íntimas surgirão na forma de enfermidade
física, emocional ou psicológica. Por conseguinte, projetarão suspeitas
infundadas nos outros, receando serem identificados e desmascarados.
Na atual existência existem
diversos casos de autorrejeição dos transgressores das leis divinas da
consciência. São aqueles que na juventude, na “calada da noite”, fizeram
abortos criminosos e receiam serem descobertos. Há os que cometeram vis
adultérios e buscam esconder-se dos outros e sob a chibata da culpa temem ser
revelados a qualquer momento. Esses são casos infrequentes, os menos raros são
os culpados por crimes esquecidos de reencarnações anteriores. Daqueles que
trazem a mácula perante a consciência e como não se superaram nas vidas
anteriores, permanecem hoje alimentando culpas.
Mesmo que os demais não
descubram seus crimes e os desmascarem, o movimento de autorrejeição delonga a
expansão. Quando não se tem consciência desse processo e não há coragem (ação
pelo coração) para reparação do erro, o mecanismo de autorrejeição se aprofunda
e o culpado cria inimigos em todos os lugares. Guiados pelo imaginário,
permanecem em estado de paranoia culposa. Por consequência, conservam os níveis
egocêntricos, neuróticos e transformam uma situação imaginária em acontecimento
real.
Desse modo, encharcados pelo
psiquismo autodefensivo agridem os outros. Sentem-se sucessivamente invadidos
na intimidade e atacam o próximo. Sob o mecanismo psicológico de projeção creem
que os outros os julgam, condenam e punem, razão pelo qual vivem se precavendo contra
tudo e contra todos.
No estado paranoico da culpa,
decorrente dos crimes cometidos no passado, mesmo que esquecidos, o culpado se
sente criminoso e entende que a qualquer momento será desmascarado e sob nessa
alucinação acredita que os outros o estão perseguindo.
As leis divinas não são
punitivas, elas são amorosas, educativas (provacionais) e reeducativas
(expiatórias). Certamente violações às leis morais incidirão na economia
espiritual, precisando de reparação dos agravos. Não necessariamente numa
reencarnação imediata, até porque, atualmente, muitos poderão estar reparando
crimes de dez encarnações anteriores. Ademais, será necessária a dor para
reparação dos erros? Cremos que não. O caminho seguro será o desenvolvimento
das virtudes do coração, atuando com autoamor e amor ao próximo.
A autoconsciência e o autoperdão
são mecanismos que tornam dispostos os infratores para reparação do delito.
Sendo que a evolução espiritual ocorre tanto na horizontal como na vertical da
vida. A dor é o aguilhão que impele a evolução na horizontal. O transgressor
sofre até o limite do cansaço e no esfalfamento observa que não há outra
alternativa, senão fazer o BEM, decidindo daí galgar na vertical da vida.
Nos casos em que os conflitos
culposos são muito intensos, são necessários tratamentos psicoterápicos para
recuperação. Dificilmente o culpado se liberta sozinho das desordens conscienciais,
porque a culpa incrustada na mente pesa muito no psiquismo, daí a necessidade
terapêutica para que o culpado compreenda a realidade como ela é e não da forma
como crê que seja.
O estado de culpa acarreta a
obsessão. O processo obsessivo, de modo geral, não começa no obsessor, porém
nas matrizes conscienciais do culpado autorejeitado que se movimenta
psicologicamente no autojulgamento, autocondenação e autopunição, cunhando aí o
plugue mental, quando esbugalha a mente para o complexo obsessivo.
Metaforicamente expondo, a culpa é o plugue mental que favorece a obsessão.
Na verdade, muitos processos
obsessivos não são evidentes, porém sutis e intensos. A intensidade é a
alienação e a sutilidade é a intervenção sorrateira do obsessor sem que o
obsedado perceba. Deste modo é hipnotizado e condicionado a práticas malsãs,
passando uma existência espiritual e sutilmente perseguido. Muitas vezes só se
dá conta da obsessão após a desencarnação.
A melhor terapia para a culpa é
o exercício do Evangelho como convite para afastar-se do egocentrismo e
centrar-se na essência divina que É. Esse é o caminho para a libertação dos
movimentos egocêntricos e egoicos. A prática da leitura edificante, os afazeres
da caridade necessariamente para consigo, e em seguida a caridade real com o
próximo “sem assistencialismos inócuos”, a participação das atividades do
centro espírita , em geral podem promover o espírito imortal e auxiliar todos
os envolvidos.
Quando dissemos “sem
assistencialismos inócuos” afirmamos que a maior caridade não é a material, mas
a espiritual que precisa ser exercida sob o símbolo da benevolência para com
todos, indulgência para com as faltas alheias e perdão das ofensas. Que são
exercícios práticos para que as pessoas se desvencilhem da monoideia da culpa.
Nesse movimento de exercícios espíritas cristãos, a mente não mais permite a
introdução das ideias dos obsessores e a pessoa realiza as ações práticas, que
são bastante trabalhosas, mas impulsionam a evolução na vertical da vida. É
como ascender numa escada aprumada e muito íngreme , mas poucos são aqueles que
se dispõem a elevar-se , a maioria permanece rezingando dizendo que a vida é
“madrasta” sem fazer esforços reais para a ascensão.
Com as práticas cristãs as
pessoas realizam ações concretas consigo mesmas e com o próximo, trabalhando
não mais no movimento paranoico da culpa, porém no movimento harmonizador de si
mesmas e dos outros, porém isso não se consegue por promessas labiais, mas por
ações efetivas. À medida que vamos amadurando a consciência, priorizamos o que
é essencial e colocamos o ego a serviço do eu espírito imortal.
Nas condições humanas ainda
temos uma estrutura egoica, todavia somos essência divina. Contudo, acreditamos
que somos o ego, mas não somos. Quando expandimos a consciência percebemos que
temos um ego, mas somos essência divina. Ter o chamado ego não é problema.
Embora ele ainda traga a sua ignorância, porquanto moureja na dimensão do não
saber, do não sentir e do não vivenciar as leis divinas, o ego precisa ser
iluminado pela essência divina que somos.
A autorrejeição comumente não
surge de forma evidente, porém veladamente. Surge muitas vezes na condição de
complexos de inferioridade ou de superioridade. Aparece com a tendência de
solidão , de rejeição ou por inveja dos outros.
O culpado rejeita todos os que
trabalham pela autorrenovação. Porque estes estão dando exemplo para ele.
Identifica nos outros um “espelho” retratando o comportamento que deveria ter,
mas que não se dispõe a tal. Em face disso, rejeita e repudia o “espelho” ,
arremessa-lhe pedra para fragmentá-lo, para não ver a imagem da renovação que
deveria buscar. Deste modo, mantém-se preguiçoso e acovardado para a
autorrenovação moral. O “espelho” saindo da sua vista não ficará todo momento
recomendando e cobrando o que deve fazer.
Em síntese, é urgente que
afastemo-nos da chaga chamada culpa e utilizemos a razão para o equilíbrio
íntimo, a fim de que possamos reparar o mal que fizemos no passado. Trabalhemos
com penhor e segurança pelo progresso individual e coletivo, até porque a culpa
nos transforma em pesos mortos na economia ativa da sociedade e não
conseguiremos realizar nada de bem, belo e bom para ninguém sob o guante da
culpa.
Fonte: A Luz na Mente
[1] Fonte: Projeto Espiritizar / FEEMT – Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=_7HRHX1Z-MI&list=PL1r1wspRthZQrAp3ok5owfAPGldFn79nV&index=3
acesso 22/07/2019.
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