segunda-feira, 2 de setembro de 2019

CARLOS GOMES DE SOUZA SHALDERS[1]




Nascido no dia 3 de outubro de 1863, e desencarnado em S. Paulo, no dia 10 de dezembro de 1963, com 100 anos de idade.
O professor Shalders fez seus estudos preliminares na Inglaterra, estudando mais tarde na Escola Politécnica do Rio de Janeiro. Formado, veio para S. Paulo, ingressando na Companhia Mojiana de Estradas de Ferro, da qual foi um dos pioneiros, dirigindo a construção do ramal de Moji-Mirim a Sapucaia.
Contribuiu para a fundação da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, da qual foi catedrático de Complementos de Matemática e Álgebra Superior, lecionando nessa cadeira desde a fundação da Escola, a 15 de fevereiro de 1894, até a sua aposentadoria, em 1934. Foi também diretor dessa mesma Escola, nos anos de 1931 e 1932, num período bastante difícil.
Pelos seus eminentes serviços, o prof. Shalders foi distinguido com o título de doutor "Honoris Causa" e de "Professor Emérito", no dia 13 de maio de 1949, pela Universidade de S. Paulo.
Durante muitos anos foi vice-presidente e membro do Conselho Deliberativo da Federação Espírita do Estado de S. Paulo, dirigindo concomitantemente o seu departamento de pesquisas psíquicas. Foi o primeiro presidente da Associação Cristã de Moços, de S. Paulo.
Foi um dos mais autênticos espíritas dos nossos dias. Em matéria de fé racional e tranquilidade de espírito, assemelhava-se a Cairbar Schutel e Militão Pacheco. Encarava o Espiritismo como doutrina para ser vivida e não apenas difundida. Foi um verdadeiro exemplificador dos deveres de cristão, encarando-os com absoluta seriedade. No tocante ao cumprimento das obrigações do homem, afirmava sempre: "Não há deveres pequenos, todos são iguais".
Apesar de plenamente convicto, não se apaixonava pelos fenômenos e nem pelos Espíritos a ponto de lhes devotar fé cega; colocava-os na ordem das coisas naturais e sérias.
Grande conhecedor dos assuntos bíblicos, porém desde a sua militância no Protestantismo divergia de muitos deles. Procurando estudar esses problemas à luz do Espiritismo, nele encontrou soluções para velhas indagações.
Até aos 95 anos de idade, era sistemática a presença do prof. Shalders, aos domingos, na Federação Espírita do Estado de S. Paulo, onde ia ouvir as palestras evangélicas, tendo ele próprio proferido diversas. Como era de uma pontualidade impecável, preocupava-se muito com as pessoas que entravam após o início da conferência. Algumas vezes, no instante de ser iniciada a palestra, subia à tribuna e fazia observações severas ao público com referência à observância do horário. Dedicava a máxima atenção às palestras e, quando o tema era controvertido, não muito do seu agrado, por encontrar nelas divergências doutrinárias, no dia seguinte estava ele na casa do conferencista com uma série de argumentos, mostrando incoerências e protestando evangelicamente contra aquilo que não aceitava.
Por mais respeitável que fosse o expositor, por mais autoridade que desfrutasse na matéria, não escapava ao interrogatório, às deduções e ao crivo da razão, sempre clara, apresentadas de maneira evangélica e da mais apurada ética de educação.
Já ultrapassava a casa dos 90 anos de idade, quando ainda trabalhava na São Paulo Light. Nessa época publicou um livro intitulado "Uma Análise Crítica da Bíblia", no qual expôs com uma lucidez extraordinária, as suas ideias e o seu raciocínio tratando de um assunto tão árido. Com 96 anos de idade, para não ficar sem fazer nada, realizando o seu desejo de fazer o bem, empreendia, uma vez por semana, uma peregrinação juntamente com um grupo de confrades, visitando doentes, ministrando-lhes passes e proferindo palavras de conforto espiritual.
Era profundo respeitador de Jesus Cristo e não permitia que sua personalidade fosse mal entendida ou que alguém achasse nele motivos de piedade. Certa vez a Federação Espírita do Estado de S. Paulo recebeu, de presente, um enorme e artístico quadro do Mestre, com as chagas abertas nas mãos e nos pés. O quadro foi colocado no salão de conferências daquela instituição. Porém, dentro de poucos dias foi dali retirado devido aos insistentes protestos do Prof. Shalders, nessa época vice- presidente da Casa. O fato causou estranheza a muitos frequentadores, os quais não concordaram com a retirada do quadro. Mas prevaleceu o bom-senso.
O transcurso do seu centenário de existência (estando ele ainda entre nós), foi comemorado pela Escola Politécnica de S. Paulo, pela Associação dos Antigos Alunos da Escola Politécnica e pelo Instituto de Engenharia de S.Paulo, tendo havido uma sessão solene da congregação, com a instalação do retrato do prof. Shalders, procedendo também a uma cerimônia de inauguração do medalhão de bronze, com placa alusiva à data, no Departamento de Matemática da Escola Politécnica, na cidade Universitária, em S. Paulo, placa essa ofertada pelos ex-alunos da primeira escola superior criada pelo governo do Estado de S. Paulo, logo após a proclamação da Republica.
A passagem do prof. Shalders, pela Terra, foi um centenário de exemplos vivos num preparo eficiente para o reencontro com os amigos do Plano Maior.
A demonstração da sua humildade e submissão aos desígnios de Deus, eram fatores predominantes em sua inconfundível personalidade.
No Departamento de Metapsíquica da Federação Espírita do Estado de S.Paulo, exerceu atividades incomparáveis, interessando-se profundamente pelos fenômenos, sem contudo ficar a eles escravizado, porque sabia dar-lhes o valor e o apreço que mereciam, compreendendo que o aspecto mais importante da Doutrina Espírita é o de evangelizar o homem, conduzindo-o no roteiro da reforma interior.




[1] Os Grandes Vultos do Espiritismo – Paulo Alves Godoy

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