Nascido no dia 3 de outubro de
1863, e desencarnado em S. Paulo, no dia 10 de dezembro de 1963, com 100 anos
de idade.
O professor Shalders fez seus
estudos preliminares na Inglaterra, estudando mais tarde na Escola Politécnica
do Rio de Janeiro. Formado, veio para S. Paulo, ingressando na Companhia
Mojiana de Estradas de Ferro, da qual foi um dos pioneiros, dirigindo a
construção do ramal de Moji-Mirim a Sapucaia.
Contribuiu para a fundação da
Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, da qual foi catedrático de
Complementos de Matemática e Álgebra Superior, lecionando nessa cadeira desde a
fundação da Escola, a 15 de fevereiro de 1894, até a sua aposentadoria, em
1934. Foi também diretor dessa mesma Escola, nos anos de 1931 e 1932, num
período bastante difícil.
Pelos seus eminentes serviços, o
prof. Shalders foi distinguido com o título de doutor "Honoris Causa"
e de "Professor Emérito", no dia 13 de maio de 1949, pela
Universidade de S. Paulo.
Durante muitos anos foi
vice-presidente e membro do Conselho Deliberativo da Federação Espírita do
Estado de S. Paulo, dirigindo concomitantemente o seu departamento de pesquisas
psíquicas. Foi o primeiro presidente da Associação Cristã de Moços, de S.
Paulo.
Foi um dos mais autênticos
espíritas dos nossos dias. Em matéria de fé racional e tranquilidade de
espírito, assemelhava-se a Cairbar Schutel e Militão Pacheco. Encarava o
Espiritismo como doutrina para ser vivida e não apenas difundida. Foi um
verdadeiro exemplificador dos deveres de cristão, encarando-os com absoluta
seriedade. No tocante ao cumprimento das obrigações do homem, afirmava sempre:
"Não há deveres pequenos, todos são iguais".
Apesar de plenamente convicto,
não se apaixonava pelos fenômenos e nem pelos Espíritos a ponto de lhes devotar
fé cega; colocava-os na ordem das coisas naturais e sérias.
Grande conhecedor dos assuntos
bíblicos, porém desde a sua militância no Protestantismo divergia de muitos
deles. Procurando estudar esses problemas à luz do Espiritismo, nele encontrou
soluções para velhas indagações.
Até aos 95 anos de idade, era
sistemática a presença do prof. Shalders, aos domingos, na Federação Espírita
do Estado de S. Paulo, onde ia ouvir as palestras evangélicas, tendo ele
próprio proferido diversas. Como era de uma pontualidade impecável,
preocupava-se muito com as pessoas que entravam após o início da conferência.
Algumas vezes, no instante de ser iniciada a palestra, subia à tribuna e fazia
observações severas ao público com referência à observância do horário.
Dedicava a máxima atenção às palestras e, quando o tema era controvertido, não
muito do seu agrado, por encontrar nelas divergências doutrinárias, no dia
seguinte estava ele na casa do conferencista com uma série de argumentos,
mostrando incoerências e protestando evangelicamente contra aquilo que não
aceitava.
Por mais respeitável que fosse o
expositor, por mais autoridade que desfrutasse na matéria, não escapava ao
interrogatório, às deduções e ao crivo da razão, sempre clara, apresentadas de
maneira evangélica e da mais apurada ética de educação.
Já ultrapassava a casa dos 90
anos de idade, quando ainda trabalhava na São Paulo Light. Nessa época publicou
um livro intitulado "Uma Análise Crítica da Bíblia", no qual expôs
com uma lucidez extraordinária, as suas ideias e o seu raciocínio tratando de
um assunto tão árido. Com 96 anos de idade, para não ficar sem fazer nada,
realizando o seu desejo de fazer o bem, empreendia, uma vez por semana, uma
peregrinação juntamente com um grupo de confrades, visitando doentes,
ministrando-lhes passes e proferindo palavras de conforto espiritual.
Era profundo respeitador de
Jesus Cristo e não permitia que sua personalidade fosse mal entendida ou que
alguém achasse nele motivos de piedade. Certa vez a Federação Espírita do
Estado de S. Paulo recebeu, de presente, um enorme e artístico quadro do
Mestre, com as chagas abertas nas mãos e nos pés. O quadro foi colocado no
salão de conferências daquela instituição. Porém, dentro de poucos dias foi
dali retirado devido aos insistentes protestos do Prof. Shalders, nessa época
vice- presidente da Casa. O fato causou estranheza a muitos frequentadores, os
quais não concordaram com a retirada do quadro. Mas prevaleceu o bom-senso.
O transcurso do seu centenário
de existência (estando ele ainda entre nós), foi comemorado pela Escola
Politécnica de S. Paulo, pela Associação dos Antigos Alunos da Escola
Politécnica e pelo Instituto de Engenharia de S.Paulo, tendo havido uma sessão
solene da congregação, com a instalação do retrato do prof. Shalders,
procedendo também a uma cerimônia de inauguração do medalhão de bronze, com
placa alusiva à data, no Departamento de Matemática da Escola Politécnica, na
cidade Universitária, em S. Paulo, placa essa ofertada pelos ex-alunos da
primeira escola superior criada pelo governo do Estado de S. Paulo, logo após a
proclamação da Republica.
A passagem do prof. Shalders,
pela Terra, foi um centenário de exemplos vivos num preparo eficiente para o
reencontro com os amigos do Plano Maior.
A demonstração da sua humildade
e submissão aos desígnios de Deus, eram fatores predominantes em sua
inconfundível personalidade.
No Departamento de Metapsíquica
da Federação Espírita do Estado de S.Paulo, exerceu atividades incomparáveis,
interessando-se profundamente pelos fenômenos, sem contudo ficar a eles
escravizado, porque sabia dar-lhes o valor e o apreço que mereciam, compreendendo
que o aspecto mais importante da Doutrina Espírita é o de evangelizar o homem,
conduzindo-o no roteiro da reforma interior.
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