Allan Kardec
Em nosso artigo sobre os escolhos
dos médiuns colocamos a cupidez no rol dos defeitos que podem dar guarida
aos Espíritos imperfeitos. Alguns desenvolvimentos sobre esse assunto não serão
inúteis. É preciso colocar na linha de frente dos médiuns interesseiros aqueles
que poderiam fazer de sua faculdade uma profissão, dando o que se denomina de
consultas ou sessões remuneradas. Não os conhecemos, pelo menos na França, mas
como tudo pode tornar-se objeto de exploração, nada haveria de surpreendente em
que um dia quisessem explorar os Espíritos.
Resta saber
como eles enfrentariam o fato, caso se tentasse introduzir uma tal especulação.
Mesmo parcialmente iniciado no Espiritismo, compreende-se quanto seria
aviltante semelhante especulação; entretanto, quem quer que conheça um pouco as
difíceis situações enfrentadas pelos Espíritos para se comunicarem conosco,
sabe quão pouco é necessário para os afastar, assim como conhece sua repulsa
por tudo quanto represente interesse egoísta; por isso, jamais poderão admitir
que os Espíritos superiores se submetam ao capricho do primeiro que os venha
evocar, em tal ou qual hora; o simples bom-senso repele essa suposição. Não
seria também uma profanação evocar o pai, a mãe, o filho ou um amigo por
semelhante meio? Sem dúvida pode-se obter comunicações deste modo, mas só Deus
sabe de que procedência! Os Espíritos levianos, mentirosos, travessos,
zombadores e toda a corja de Espíritos inferiores vêm sempre; estão sempre
dispostos a responder a tudo. Outro dia São Luís nos dizia, na Sociedade:
Evocai um rochedo
e ele vos responderá.
Aquele que deseja comunicações
sérias deve, antes de tudo, instruir-se sobre a natureza das simpatias do
médium com os seres de além-túmulo.
Ora, aquelas que são dadas
mediante pagamento não podem inspirar senão uma confiança bem medíocre.
Médiuns interesseiros não são
unicamente os que poderiam exigir uma retribuição material; o interesse nem
sempre se traduz na esperança de um ganho material mas, também, nas ambições de
qualquer natureza, sobre as quais pode fundar-se a esperança pessoal; é ainda
uma anomalia de que os Espíritos zombeteiros sabem muito bem aproveitar, e com
uma destreza e uma desfaçatez verdadeiramente notáveis, embalando enganadoras
ilusões aqueles que assim se colocam sob sua dependência. Em resumo, a
mediunidade é uma faculdade dada para o bem e os Espíritos bons se afastam de
quem quer que pretenda transformá-la em trampolim para alcançar seja o que for
que não corresponda aos desígnios da Providência. O egoísmo é a chaga da
sociedade; os Espíritos bons o combatem e, portanto, não se deve imaginar que
se sirvam dele. Isto é tão racional que seria inútil insistir mais sobre esse
ponto.
Os médiuns de efeitos físicos
não estão na mesma categoria. Sendo tais efeitos produzidos por Espíritos
inferiores, pouco escrupulosos quanto aos sentimentos morais, um médium dessa
natureza que quisesse explorar a sua faculdade poderia encontrar quem o assistisse
sem muita repugnância. Mas também aí se apresenta um outro inconveniente. O
médium de efeitos físicos, assim como o de comunicações inteligentes, não
recebeu essa faculdade para seu bel-prazer; ela lhe foi dada com a condição de
usá-la adequadamente: se abusar, poderá ser retirada ou trazer-lhe prejuízos
porque, definitivamente, os Espíritos inferiores estão às ordens dos Espíritos
superiores. Os inferiores adoram mistificar, mas não gostam de ser
mistificados. Se de boa vontade se prestam às brincadeiras e às questões
curiosas, assim como os demais não gostam de ser explorados, provando a todo
instante que têm vontade própria e agindo como e quando melhor lhes pareça;
isto faz com que o médium de efeitos físicos esteja ainda menos seguro da realidade
das manifestações que o médium escrevente.
Pretender produzi-los a dia e
hora marcados seria dar provas da mais profunda ignorância. Que fazer, então,
para ganhar o seu dinheiro? Simular os fenômenos; é o que poderá acontecer não
apenas aos que disso fizerem uma profissão declarada, como também às pessoas
aparentemente simples, que se limitam a receber uma retribuição qualquer dos
visitantes. Se o Espírito nada produz, o próprio médium supre a sua
deficiência: a imaginação é tão fecunda quando se trata de ganhar dinheiro...!
É uma tese que desenvolvemos em artigo especial, visando a prevenir a fraude.
De tudo quando precede,
concluímos que a maior garantia contra o charlatanismo é o mais absoluto
desinteresse, por isso que não há charlatães desinteressados; se isso nem
sempre assegura a excelência das comunicações inteligentes, retira aos
Espíritos maus um poderoso meio de ação e fecha a boca de certos detratores.
Vale apenas assistir: https://www.amigosdaluz.com/videos/m%C3%A9dium-famoso
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