Juan Carlos Orozco
Muito comum ouvir expressões
como: aquela pessoa não tem consciência do que fez; ele perdeu a consciência;
estou com peso na consciência; ouvi a minha consciência; você será julgado por
sua consciência; a decisão foi consciente; ele recuperou a consciência;
precisamos de uma campanha de conscientização; dentre outras tantas variantes.
Do dicionário, consciência pode
significar:
estar ciente; sentimento ou
conhecimento que permite ao ser humano vivenciar, experimentar ou compreender
aspectos ou a totalidade de seu mundo interior; sentido ou percepção que o ser
humano possui do que é moralmente certo ou errado em atos e motivos individuais;
capacidade para discernir; conjunto de valores morais que definem certos
julgamentos, ações ou intenções relacionadas com alguém ou com si próprio,
assim como outros significados.
A Ciência estuda a consciência,
como a Filosofia, a Psicologia, a Neurologia e a Ciência cognitiva. Alguns
filósofos relacionam consciência às experiências propriamente ditas, pelo
processamento das coisas que vivenciamos para estar ciente de algo ou alguma
coisa. Como qualidade psíquica, a consciência pertence à esfera da psique
humana.
Essa reflexão focará a
consciência edificante, renovadora e impulsionadora de evolução, tendo o
Espírito como sede da inteligência, do pensamento, da vontade, da consciência,
das lembranças, da memória de suas existências, ou seja, de tudo o que é necessário
para o nosso progresso intelectual, moral e espiritual.
Consciência de si mesmo, livre-arbítrio e liberdade de
escolha
Em O Livro dos Espíritos,
de Allan Kardec, somos esclarecidos que o Espírito, quando criado por Deus,
nasce simples e ignorante, começando a sua jornada evolutiva. Em pluralidade de
existências, o Espírito progride intelectual e moralmente na busca da
perfeição, tendo nas provas e expiações as lições educativas. O Espírito se
instrui nas lutas e tribulações da vida corporal, desenvolvendo o intelecto, o
livre-arbítrio, o amor, a moral, a responsabilidade, a consciência e a
capacidade de escolhas.
Na questão 121, sabemos que
alguns Espíritos seguiram o caminho do bem e outros o do mal, conforme o uso do
seu livre-arbítrio, pois que
Deus não os criou maus; criou-os simples e ignorantes,
isto é, tendo tanta aptidão para o bem quanta para o mal. Os que são maus,
assim se tornaram por vontade própria.
Na questão 122, Kardec pergunta:
- Como podem os Espíritos, em sua
origem, quando ainda não têm consciência de si mesmos, gozar da liberdade de
escolha entre o bem e o mal? Há neles algum princípio, qualquer tendência que
os encaminhe para uma senda de preferência a outra?
- O livre-arbítrio se
desenvolve à medida que o Espírito adquire a consciência de si mesmo. Já não
haveria liberdade, desde que a escolha fosse determinada por uma causa
independente da vontade do Espírito. A causa não está nele, está fora dele, nas
influências a que cede em virtude da sua livre vontade. É o que se contém na
grande figura emblemática da queda do homem e do pecado original: uns cederam à
tentação, outros resistiram.
A consciência como centro da personalidade
León
Denis, no livro “O Problema da Ser, do Destino e da Dor”, esclarece:
A consciência é, pois, como diria W.
James, o centro da personalidade, centro permanente, indestrutível,
que persiste e se mantém através de todas as transformações do indivíduo. A
consciência é não somente a faculdade de perceber, mas também o sentimento que
temos de viver, agir, pensar. É una e indivisível.
Assim, a consciência é o centro
uno, indivisível, permanente e indestrutível da personalidade do ser humano,
que tem relação direta com o processo evolutivo decorrente das transformações
vivenciadas pelo Espírito, conforme ele adquire a liberdade de escolhas entre o
bem e o mal, mediante a vontade para seguir determinado caminho, e o correto
uso do livre-arbítrio que conduz a todos para o sentimento de viver, agir e
pensar.
Sentidos físicos e espirituais
É com os sentidos internos que o ser humano percebe os
fatos e as verdades de ordem transcendental. Os sentidos físicos enganam,
apenas distinguem a aparência das coisas e nada seriam sem o sensorium, que
agrupa, centraliza suas percepções e as transmite à alma; esta registra tudo e
tira o efeito útil. (…) Assim como existe um organismo e um sensorium físicos,
que nos põem em relação com os seres e as coisas do plano material, assim
também há um sentido espiritual por meio do qual certos homens penetram desde
já no domínio da vida invisível. (…)
É na extensão e desenvolvimento crescente desse sentido
espiritual que está a lei de nossa evolução psíquica, a renovação do ser, o
segredo de sua iluminação interior e progressiva. Por ele nos desapegamos do
relativo e do ilusório, de todas as contingências materiais, para nos
vincularmos cada vez mais ao imutável e absoluto.
Verificamos nesses trechos que a
consciência recebe as percepções coletadas pelos sentidos internos dos seres
humanos, tantos os físicos como espirituais. Os sentidos físicos estão ligados
às percepções dos seres e das coisas do plano material, enquanto o sentido
espiritual recebe as percepções dos fatos e das verdades de ordem
transcendental.
O subconsciente, o consciente e o superconsciente
O Espírito
André Luiz, em “No Mundo Maior”, Capítulo 3, em “A Casa Mental”, na psicografia
de Francisco
Cândido Xavier, esclarece:
– No sistema nervoso, temos o cérebro inicial,
repositório dos movimentos instintivos e sede das atividades subconscientes;
figuremo-lo como sendo o porão da individualidade, onde arquivamos todas as
experiências e registramos os menores fatos da vida. Na região do córtex motor,
zona intermediária entre os lobos frontais e os nervos, temos o cérebro
desenvolvido, consubstanciando as energias motoras de que se serve a nossa
mente para as manifestações imprescindíveis no atual momento evolutivo do nosso
modo de ser. Nos planos dos lobos frontais, silenciosos ainda para a
investigação científica do mundo, jazem materiais de ordem sublime, que
conquistaremos gradualmente, no esforço de ascensão, representando a parte mais
nobre de nosso organismo divino em evolução. (…)
– Não podemos dizer que possuímos três cérebros
simultaneamente. Temos apenas um que, porém, se divide em três regiões
distintas. Tomemo-lo como se fora um castelo de três andares: no primeiro
situamos a residência de nossos impulsos automáticos, simbolizando o sumário
vivo dos serviços realizados; no segundo localizamos o domicílio das conquistas
atuais, onde se erguem e se consolidam as qualidades nobres que estamos
edificando; no terceiro, temos a casa das noções superiores, indicando as
eminências que nos cumpre atingir. Num deles moram o hábito e o automatismo; no
outro residem o esforço e a vontade; e no último demoram o ideal e a meta
superior a ser alcançada. Distribuímos, deste modo, nos três andares, o
subconsciente, o consciente e o superconsciente. Como vemos, possuímos, em nós
mesmos, o passado, o presente e o futuro.
O inconsciente
O Espírito Joanna de Ângelis, no
livro “Autodescobrimento: uma busca interior”, na psicografia de Divaldo
Pereira Franco, ensina:
Do ponto de vista psicológico, o inconsciente é o
conjunto dos processos que agem sobre a conduta, mas escapam à consciência. (…)
Com as notáveis contribuições de Freud e, mais tarde,
de Jung, entre outros, o inconsciente passou a ser a parte da atividade mental
que inclui os desejos e aspirações primitivas ou reprimidas, segundo o mestre
de Viena, em razão de não alcançarem a consciência espontaneamente, graças à
censura psíquica que bloqueia o conhecimento do ser, mas somente através dos
métodos psicoterápicos – revelação dos sonhos, redescobrimento dos fatores
conflitivos, dos atos perturbadores e outros – ou dos traumas profundos que
afetam o sistema emocional.
Podemos distinguir duas formas de inconsciente: o
psíquico ou subcortical e o orgânico ou cortical.
Além dessa visão ou mesmo através dela, Jung concebeu o
inconsciente coletivo, que seria uma presença no indivíduo com todas as
experiências e elementos mitológicos do grupo social, decorrentes da estrutura
hereditária do cérebro humano.
O subconsciente psicológico ou subcortical –
fisiológico, instintivo – é automático, inicial, natural, corresponde ao id
de Freud e aos arquétipos de Jung, enquanto o orgânico ou cortical responde
pelos condicionamentos de Pavlov, pelo polígono de Grasset e os traumas e
recalques estudados pela Psicanálise.
Acreditava-se, anteriormente, que o ser subcortical era
um amontoado de automatismos sob o direcionamento dos instintos, das
necessidades fisiológicas. A moderna visão da Psicologia Transpessoal, no
entanto, demonstra que a consciência cortical não possui espontaneidade,
manifestando-se sob as ocorrências do mundo onde se encontra localizada. Por
isso mesmo, esse inconsciente é o Espírito, que se encarrega do controle da
inteligência fisiológica e suas memórias – campo perispiritual −, as áreas dos
instintos e das emoções, as faculdades e funções paranormais, abrangendo as
mediúnicas.
Nesse subcórtex, Jung situou o seu inconsciente
coletivo, concedendo-lhe atributos quase divinos.
Modernamente, a Genética descartou a transmissão
cromossômica, encarregada dos caracteres adquiridos. Esse inconsciente coletivo
seria, então, o registro mnemônico das reencarnações anteriores de cada ser,
que se perde na sua própria historiografia.
Felizmente o ser não tem consciência de todas as
ocorrências do córtex, que as registra automaticamente – inconsciente cortical
– pois se o conhecera, tenderia sua vida psíquica a um total desequilíbrio.
Necessário, portanto, ao ser humano, saber e recordar,
mas, também, desconhecer e olvidar…
Todos os funcionamentos automáticos do organismo dão-se
sem a participação da consciência, o que lhe constitui verdadeira bênção.
Não raro, nessa área, patologicamente podem ocorrer
dissociações mórbidas do psiquismo, dando origem às personalidades duplas
(secundárias) que, em se tornando conscientes, prevalecem por algum tempo.
Janet pretendia, em equivalente conceito, resumir todas
as comunicações mediúnicas, fenômenos dissociativos do psiquismo,
considerando-as, por efeito, de natureza patológica.
É, no entanto, nessa área, que se registram as
manifestações mediúnicas, igualmente ocorrendo estratificações anímicas, que
afloram nos momentos dos transes, às vezes, interferindo e superando os
fenômenos de natureza espiritual.
O subconsciente
Ainda Joanna de Ângelis:
Consideremos o subconsciente como parte do
inconsciente, que pode aflorar à consciência, com os seus conteúdos, alterando
o comportamento do indivíduo. Ele é o arquivo próximo das experiências,
portanto, automático, destituído de raciocínio, estático, mantendo fortes
vinculações com a personalidade do ser. É ele que se manifesta nos sonhos, nos
distúrbios neuróticos, nos lapsos orais e de escrita – atos falhos –
tornando-se, depois de Freud e seus discípulos, mais tarde dissidentes, Jung e
Adler, responsável também pela conduta moral e social.
Os pensamentos e atos – logo depois de arquivados no
subconsciente – programam as atitudes das pessoas. Assim, quando se toma
conhecimento de tal possibilidade, elegem-se quais aqueles que devem ser
acionados – no campo moral e social – para organizar ou reprogramar a
existência.
O inconsciente sagrado
Continua Joanna de Ângelis:
À medida que o ser se conscientiza da sua realidade,
transfere-se de níveis e patamares da percepção psicológica, para aprofundar
buscas e sentir o apelo das possíveis realizações.
Fase a fase, identificando-se com os seus conteúdos
psíquicos, a visão dos objetivos íntimos se lhe agiganta e cada conquista
faculta-lhe um elenco de entendimentos que fascinam, motivando-o ao avanço e à
autopenetração profunda.
Crê-se, com certa lógica, que a aquisição da
consciência plena faculte sabedoria imediata, harmonia e certa insensibilidade
em relação às emoções. Fosse assim e condenaríamos o sábio à marginalidade, por
não participar, solidário, dos problemas que afligem os demais indivíduos em si
mesmos e na sociedade em geral.
A sabedoria resulta da união do conhecimento com o
amor, cujos valores tornam o ser tranquilo, não insensível; afetuoso, não
apaixonado.
A perfeita compreensão da finalidade do sofrimento, na
lapidação, desenvolvimento e evolução, proporciona-lhe solidarizar-se com
equilíbrio, sem compaixão nem exaltação, qual ocorre com um educador
acompanhando o esforço e sacrifício do aluno até sua exaustão, se necessário,
para a aprendizagem. Havendo transitado pelo mesmo caminho, ele o bendiz,
agradecendo a sua permanência, que propicia a outros candidatos experiências
equivalentes.
A visão de humanidade alarga-se e o sentimento de amor
desindividualiza-se, para sentir uma imensa gratidão pelos que passaram antes,
aqueles que prepararam a senda que ele percorreu; desponta-lhe uma grandiosa
complacência pelos que ainda não despertaram no presente, compreendendo-lhes a
infância espiritual em que se demoram; amplia-se a capacidade de auxílio em
favor dos que estão empenhados na autoiluminação e, por fim, agiganta-se,
afetuoso, em relação ao futuro em que se adentra, mediante as incessantes
realizações em que se fixa.
Atingindo os níveis superiores de consciência, nos
quais vivência estados alterados, lentamente abre comportas psíquicas que se
assinalam por traços dessas percepções até imergir no inconsciente profundo.
Esse inconsciente profundo, porém, que alguns
psicólogos transpessoais e mentalistas denominam como sagrado, é depósito das
experiências do Espírito eterno, do Eu superior, da realidade única da vida
física, da causalidade existencial…
A identificação da consciência com esse Ser profundo
proporciona conquistar a lucidez sobre as realizações das reencarnações
passadas, num painel de valiosa compreensão de causas e efeitos próximos como
remotos.
Diante das possibilidades agigantadas, o indivíduo,
lentamente, deixa todos os apegos
remanescentes do ego −, todos os desejos – reflexos perturbadores do ego
−, todas as reações – persistência dominadora do ego…
O Mal e os males não o atingem, porque a sua
compreensão do Bem o leva a identificar Deus em tudo, em todos, amando as mais
variadas, ou agressivas, ou persuasivas formas de alcançá-lo.
Essa libertação, essa desidentificação com o ego,
inunda-o de equilíbrio e de confiança, sem pressa nos acontecimentos, sem
ressentimento nos insucessos.
A dimensão de tempo-espaço cede lugar ao estado de
plenitude, no qual a ação contínua, iluminativa, desempenha o papel principal
no prosseguimento da evolução.
Abstraindo-se das objetivações e do mundo sensorial
pelo desapego, a vida psíquica se lhe irradia generosa, comandando todos os
movimentos e ações sob o direcionamento da realidade imortal, que alguns
preferem continuar denominando como inconsciente sagrado.
Tornando-se plenamente realizado, sente-se purificado
das mazelas, sem ambições, nem tormentos. Aproxima-se do estado luminoso.
Liberta-se.
A consciência vigilante
Em A Gênese, de Allan
Kardec, no Capítulo III, “O bem e o mal”, o Codificador esclarece:
Deus estabeleceu leis plenas de sabedoria, tendo por
único objetivo o bem. O homem encontra em si mesmo tudo o que lhe é necessário
para cumpri-las. Sua rota está traçada na consciência, e a Lei divina está
gravada no coração. Além disso, Deus lhe lembra disso constantemente por
intermédio de seus messias e profetas, de todos os Espíritos encarnados que
trazem a missão de o esclarecer, moralizar e melhorar e, nestes últimos tempos,
por uma infinidade de Espíritos desencarnados que se manifestam em toda parte.
Se o homem se conformasse rigorosamente com as Leis divinas, certamente
evitaria os males mais agudos e viveria feliz na Terra. Se não o faz, é em
virtude do seu livre-arbítrio, sofrendo assim as consequências do seu proceder.
Em O Evangelho Segundo o
Espiritismo, de Allan Kardec, no Capítulo XIII, um Espírito protetor (Lyon,
1860) expressou:
Apenas, Deus, em sua misericórdia infinita, vos pôs no
fundo do coração uma sentinela vigilante, que se chama consciência. Escutai-a,
que somente bons conselhos ela vos dará. Às vezes, conseguis entorpecê-la,
opondo-lhe o espírito do mal. Ela, então, se cala. Ficai certos, porém, de que
a pobre escorraçada se fará ouvir, logo que lhe deixardes aperceber-se da
sombra do remorso. Ouvi-a, interrogai-a e com frequência vos achareis
consolados com o conselho que dela houverdes recebido.
No Capítulo XV, o Espírito
Paulo, o apóstolo (Paris, 1860), orienta:
Submetei todas as vossas ações ao governo da caridade e
a consciência vos responderá. Não só ela evitará que pratiqueis o mal, como
também fará que pratiqueis o bem, porquanto uma virtude negativa não basta: é
necessária uma virtude ativa. Para fazer-se o bem, mister sempre se torna a
ação da vontade; para se não praticar o mal, basta as mais das vezes a inércia
e a despreocupação.
Mais adiante, no Capítulo XVII,
Kardec ensina:
O verdadeiro homem de bem é o que cumpre a lei de
justiça, de amor e de caridade, na sua maior pureza. Se ele interroga a
consciência sobre seus próprios atos, a si mesmo perguntará se violou essa lei,
se não praticou o mal, se fez todo o bem que podia, se desprezou
voluntariamente alguma ocasião de ser útil, se ninguém tem qualquer queixa
dele; enfim, se fez a outrem tudo o que desejara lhe fizessem.
Deposita fé em Deus, na sua bondade, na sua justiça e
na sua sabedoria. Sabe que sem a sua permissão nada acontece e se lhe submete à
vontade em todas as coisas.
Tem fé no futuro, razão por que coloca os bens
espirituais acima dos bens temporais.
Sabe que todas as vicissitudes da vida, todas as dores,
todas as decepções são provas ou expiações e as aceita sem murmurar.
Possuído do sentimento de caridade e de amor ao
próximo, faz o bem pelo bem, sem esperar paga alguma; retribui o mal com o bem,
toma a defesa do fraco contra o forte e sacrifica sempre seus interesses à
justiça.
No Capítulo XVII, o Espírito
Lázaro (Paris, 1863) instrui:
O dever é a obrigação moral da criatura para consigo
mesma, primeiro, e, em seguida, para com os outros. O dever é a lei da vida.
Com ele deparamos nas mais ínfimas particularidades, como nos atos mais
elevados. Quero aqui falar apenas do dever moral, e não do dever que as
profissões impõem.
Na ordem dos sentimentos, o dever é muito difícil de
cumprir-se, por se achar em antagonismo com as atrações do interesse e do
coração. Não têm testemunhas as suas vitórias e não estão sujeitas à repressão
suas derrotas. O dever íntimo do homem fica entregue ao seu livre-arbítrio. O
aguilhão da consciência, guardião da probidade interior, o adverte e sustenta;
mas, muitas vezes, mostra-se impotente diante dos sofismas da paixão. Fielmente
observado, o dever do coração eleva o homem; como determiná-lo, porém, com
exatidão? Onde começa ele? Onde termina? O dever principia, para cada um de
vós, exatamente no ponto em que ameaçais a felicidade ou a tranquilidade do
vosso próximo; acaba no limite que não desejais ninguém transponha com relação
a vós.
Deus criou todos os homens iguais para a dor. Pequenos
ou grandes, ignorantes ou instruídos, sofrem todos pelas mesmas causas, a fim
de que cada um julgue em sã consciência o mal que pode fazer. Com relação ao
bem, infinitamente vário nas suas expressões, não é o mesmo o critério. A
igualdade em face da dor é uma sublime providência de Deus, que quer que todos
os seus filhos, instruídos pela experiência comum, não pratiquem o mal,
alegando ignorância de seus efeitos.
Consciência e resgate
León Denis, no livro “O Problema
do Ser, do Destino e da Dor”, escreveu:
É principalmente na consciência que está a sanção do
bem o do mal. Ela registra minuciosamente todos os nossos atos e, mais cedo ou
mais tarde, erige-se em juiz severo para o culpado que, em consequência de sua
evolução, acaba sempre por lhe ouvir a voz e sofrer as sentenças. Para o
Espírito, as lembranças do passado unem-se no espaço ao presente e formam um
todo inseparável; vive ele fora da duração, além dos limites do tempo, e sofre
tão vivamente pelas faltas há muito cometidas como pelas mais recentes; por
isso pede muitas vezes uma reencarnação rápida e dolorosa, que resgatará o
passado, conquanto dê tréguas às recordações importunas. (…)
Não é, pois, por vingança que a lei nos pune, mas
porque é bom e proveitoso sofrer, pois que o sofrimento nos liberta, dando
satisfação à consciência, cujo veredicto ela executa.
Tudo se resgata e repara pela dor. Há, vimos, uma arte
profunda nos processos que ela emprega para modelar a alma humana e, quando
esta se transvia, reconduzi-la à ordem sublime das coisas. (…)
Por muito tempo ainda a humanidade terrestre, ignorante
das leis superiores, inconsciente do futuro e do dever, precisará da dor para
estimulá-la na sua via, para transformar o que nela predomina, os instintos
primitivos e grosseiros, em sentimentos puros e generosos. Por muito tempo terá
o homem de passar pela iniciação amarga para chegar ao conhecimento de si mesmo
e do alvo a que deve mirar.
Interrogando a consciência
Do ponto de vista moral, é fora de dúvida que Deus
outorgou ao homem um guia, que é a sua consciência, a dizer-lhe: ‘Não façais
aos outros o que não gostaríeis que eles vos fizessem’.
(Allan Kardec. A Gênese. Capítulo I)
Interroguem friamente suas consciências todos os que
são feridos no coração pelas vicissitudes e decepções da vida; remontem passo a
passo à origem dos males que os torturam e verifiquem se, as mais das vezes,
não poderão dizer: Se eu houvesse feito, ou deixado de fazer tal coisa, não
estaria em semelhante condição. (…)
Para nos melhorarmos, outorgou-nos Deus, precisamente,
o de que necessitamos e nos basta: a voz da consciência e as tendências
instintivas. Priva-nos do que nos seria prejudicial.
Ao nascer, traz o homem consigo o que adquiriu, nasce
qual se fez; em cada existência, tem um novo ponto de partida. Pouco lhe
importa saber o que foi antes: se se vê punido, é que praticou o mal. Suas
atuais tendências más indicam o que lhe resta a corrigir em si próprio e é
nisso que deve concentrar-se toda a sua atenção, porquanto, daquilo de que se
haja corrigido completamente, nenhum traço mais conservará. As boas resoluções
que tomou são a voz da consciência, advertindo-o do que é bem e do que é mal e
dando-lhe forças para resistir às tentações.
Aliás, o esquecimento ocorre apenas durante a vida
corpórea. Volvendo à vida espiritual, readquire o Espírito a lembrança do
passado; nada mais há, portanto, do que uma interrupção temporária, semelhante
à que se dá na vida terrestre durante o sono, a qual não obsta a que, no dia
seguinte, nos recordemos do que tenhamos feito na véspera e nos dias
precedentes.
E não é somente após a morte que o Espírito recobra a
lembrança do passado. Pode dizer-se que jamais a perde, pois que, como a
experiência o demonstra, mesmo encarnado, adormecido o corpo, ocasião em que
goza de certa liberdade, o Espírito tem consciência de seus atos anteriores;
sabe por que sofre e que sofre com justiça. A lembrança unicamente se apaga no
curso da vida exterior, da vida de relação, mas na falta de uma recordação
exata, que lhe poderia ser penosa e prejudicá-lo nas suas relações sociais, forças
novas haure ele nesses instantes de emancipação da alma, se os sabe aproveitar.
Allan Kardec. O Evangelho Segundo o Espiritismo.
Capítulo V
Conselhos do Espírito Joanna de Ângelis, em “Vida Feliz”,
na psicografia de Divaldo Pereira Franco:
Vive sempre em paz. Uma consciência tranquila, que não
traz remorsos de atos passados, nem teme ações futuras, gera harmonia. Nada de
fora perturba um coração tranquilo, que pulsa ao compasso do dever retamente
cumprido. A paz merece todo o teu esforço para consegui-la.
Joanna de Ângelis, Vida feliz. Cap. VIII
Depois que cometas um erro e tenhas consciência dele,
começa a reabilitação. Nada de entregar-te ao desalento ou ao remorso. Da mesma
forma como não deves insistir no propósito inferior, não te podes deixar
consumir pelo arrependimento. Este tem somente a função de conscientizar-te do
mal feito. Perdoa-te, encoraja-te e dá início à tarefa de reequilíbrio pessoal,
diminuindo e reparando os prejuízos causados.
Joanna de Ângelis, Vida feliz. Cap. XLI
Não troques a paz da tua consciência de amanhã pelo
prazer corruptor de hoje. O que não é moral, jamais proporciona harmonia.
Fugidio e devorador, passa rápido, deixando ácido de insatisfação a queimar o
corpo e sombra de remorso na consciência magoada. Permanece sedento, mas não
arrependido. O que não experimentaste não te atormenta, e o que te falta agora,
mais tarde chegará bem para a tua satisfação.
Joanna de Ângelis, Vida feliz. Cap. LV
Sê ordeiro nas tuas atividades. Não te apoquentes ante
o muito a fazer, nem te descuides em relação às tuas tarefas. À medida que o
tempo te permita, vai realizando cada uma delas até que as conclua todas. Um
homem disciplinado é um tesouro. Quem sabe desincumbir-se dos serviços
monótonos e constantes pode empreender grandes realizações com a certeza do
êxito. Agir com ordem e ter consciência de que a vida é uma ação que não cessa,
significa um avançado passo no caminho da evolução.
Joanna de Ângelis, Vida feliz. Cap. LXXXV
Faze um exame de consciência, quando possas e quantas
vezes te seja viável. Muitas queixas e reclamações desapareceriam se o
descontente analisasse melhor o próprio comportamento. Sempre se vê o problema
na outra pessoa e o erro estampado no semblante do outro. Normalmente, quando
alguém te cria dificuldades e embaraços, está reagindo contra a tua conduta, à
forma como te expressaste e à maneira como agiste. Tem a coragem de examinar-te
com mais severidade, rememorando atitudes e palavras. Ao descobrires erros,
apressa-te em corrigi-los; busca aquele a quem magoaste e recompõe a situação.
Não persevere em erro, seja qual for a justificação.
Joanna de Ângelis, Vida feliz. Cap. CXI
Sê amigo da verdade, sem a transformares numa arma de
destruição ou de ofensa. Não é tanto o que se diz, que oferece resultados
positivos ou desagradáveis, mas, a forma como se diz. Ademais, a tua pode não
ser a verdade real, senão, um reflexo dela. E, mesmo que o fosse, não estás
autorizado a esgrimi-la com finalidades perturbadoras. Antes de assumires a
postura de quem corrige e ensina com a verdade, coloca-te no lugar do outro,
aquele a quem te irás dirigir, e a consciência te apontará o rumo a seguir e a
melhor maneira de te expressares.
(Joanna de Ângelis, Vida feliz. Cap. CXLIII)
Acostuma-te à verdade. O hábito da mentira branca
também chamada inocente ou social, levar-te-á às graves, empurrando-te para o
lodaçal da calúnia e da maledicência frequente. A fagulha produz incêndios
semelhantes aos gerados pela labareda crepitante. Os grandes crimes se originam
em pequenos delitos, não alcançados pela Justiça, que ensejam o agravamento do
mal. Usa de severidade moral para contigo, não embarcando nas canoas das
conveniências gerais. Cada pessoa responde por si mesma, e os seus atos ficam
gravados na consciência individual. Sê tu mesmo, em constante progresso moral.
Joanna de Ângelis, Vida feliz. Cap. CLVI
A tua vida não termina no túmulo. Com esta consciência,
aprende para a eternidade, reunindo valores que jamais se consumam. Toda lição
que liberta do mal se incorpora à alma, como força de vida indestrutível. Fosse
a morte o fim da vida, e sem sentido seria o Universo. A criação se esmaeceria
e o ser pensante estaria destituído de finalidade. Tudo, porém, conclama o ser
à glória eterna, à continuidade do existir, ao progresso incessante. Estuda e
trabalha sem cessar, com os olhos postos no teu futuro espiritual, vivendo
alegre, hoje, e pleno sempre.
Joanna de Ângelis, Vida feliz. Cap. CLXXXIX
Bibliografia:
§ ÂNGELIS, Joanna de (Espírito); na psicografia de
Divaldo Pereira Franco. Autodescobrimento: uma busca interior. (?)
Edição. Salvador/BA: Editora Leal, (?).
§ ÂNGELIS, Joanna de (Espírito); na psicografia de
Divaldo Pereira Franco. Vida feliz. 18ª Edição. Salvador/BA: Editora
Leal, 2020.
§ DENIS, León. O problema do ser, do destino e da dor.
32ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2017.
§ KARDEC, Allan; tradução de Evandro Noleto Bezerra. A
Gênese. 2ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2013.
§ KARDEC, Allan; tradução de Guillon Ribeiro. O
Evangelho Segundo o Espiritismo. 1ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita
Brasileira, 2019.
§ KARDEC, Allan; tradução de Guillon Ribeiro. O Livro
dos Espíritos. 1ª Edição. Brasília/DF: Federação Espírita Brasileira, 2019.