Arthur Conan Doyle a ele se
referiu como a maior e mais alta inteligência humana. Em verdade, Emanuel von
Swedenborg, nascido em Estocolmo a 29 de janeiro de 1688, filho de um bispo da
Igreja luterana sueca, viveu na austera atmosfera evangélica alguns anos de sua
vida. Foi profundo estudioso da Bíblia.
Estudou em Uppsala e visitou a
Alemanha, a França, a Holanda e a Inglaterra, a fim de ampliar seus extensos
conhecimentos de matemática, mecânica, astronomia, geologia, mineralogia.
Swedenborg nasceu na Suécia e
foi educado pela nobreza de sua pátria, deslocando-se para Londres onde se
iniciou a sua "iluminação", porquanto desde o dia de sua primeira
visão até a sua morte, 27 anos após, esteve ele em contínuo contato com o mundo
espiritual de maneira ostensiva. Naquela noite, diz ele, o mundo dos espíritos,
do céu e do inferno abriu-se convincentemente para mim e aí encontrei, muitas
pessoas do meu conhecimento e de todas as condições. Desde então diariamente o
Senhor abria os olhos do meu espírito para ver, perfeitamente desperto, o que
se passava no outro mundo e para conversar, em plena consciência, com os anjos
e espíritos.
Swedenborg, considerado como
precursor do Espiritismo, foi antes de tudo um homem de gênio, cuja genialidade
empolgada o fez perder-se em algumas interpretações, naquilo que lhe era dito
ou mostrado. Aceitava a Bíblia como obra de Deus, com significação diferente de
seu óbvio sentido e que ele, só ele, ajudado pelos anjos seria capaz de
transmitir aquele verdadeiro sentido. Essa pretensão é intolerável e por causa
dela a sua obra tornou-se contraditória e nem sempre inteligível como simples e
compreensíveis são os ensinamentos dos missionários quando têm por missão
divulgar as leis divinas.
Swedenborg era certamente em sua
época, o homem que mais conhecimentos detinha em seu possante cérebro. Era um
grande engenheiro de minas e uma autoridade em metalurgia. Foi o engenheiro
militar que mudou a sorte de uma das muitas campanhas de Carlos XII, da Suécia.
Era uma grande autoridade em Física e em Astronomia, autor de importantes
trabalhos sobre as marés e sobre a determinação das latitudes. Era zoologista e
anatomista. Financista e político antecipou-se às conclusões de Adam Smith.
Finalmente, era um profundo estudioso da bíblia, procedimento este que lhe
marcou de maneira negativa a obra fenomenal que realizou no campo intelectual.
Aos 22 anos publicou um volume
de versos latinos e aos 28 foi nomeado assessor de minas do governo sueco.
Versátil, tanto quanto Leonardo da Vinci, criou engenhos mecânicos para
transportar barcos por terra, analisou a economia da moeda corrente, a produção
e o custo do álcool, a aplicação do sistema decimal, a relação entre
importações e exportações e a economia nacional.
Próximo aos 30 anos, voltou-se
para a paleontologia, a geologia, o estudo dos fósseis e chegou a desenvolver
uma avançada teoria sobre a expansão nebular, para explicar a origem do sistema
solar. Dedicou-se também aos estudos da Medicina e da Fisiologia. Era hábil em
latim, grego, inglês, além de sua língua pátria e chegou a estudar hebraico, a
fim de empreender uma reinterpretação do Velho e do Novo Testamento.
A primeira parte de sua vida foi
notadamente voltada para o intelecto. Contudo, embora ainda menino tivesse
visões, foi em abril de 1744 que se iniciou uma nova etapa, a da investigação
em busca de conhecimentos sobre a alma humana relacionada com Deus e o universo
numa estrutura da ideia cristã.
Conforme suas palavras,
"... o mundo
dos Espíritos, do céu e do inferno, abriu-se convincentemente para mim, e aí
encontrei muitas pessoas de meu conhecimento e de todas as condições. Desde
então diariamente o Senhor abria os olhos de meu Espírito para ver,
perfeitamente desperto, o que se passava no outro mundo e para conversar, em
plena consciência, com anjos e Espíritos".
Em suas visões o médium falava
de uma espécie de vapor que exalava dos poros do seu corpo, que sendo aquoso e
muito visível caía no solo sobre o tapete. É uma perfeita descrição do
ectoplasma utilizado nos efeitos físicos. Em uma dessas visões Swedenborg
descreveu um incêndio em Estocolmo, a 300 milhas de distância, com perfeita
exatidão. Estava ele em um jantar acompanhado de 16 pessoas que serviram como
testemunhas do evento, investigado pelo grande filósofo Kant. A partir de então
ele teve o privilégio de examinar várias esferas do outro mundo e, conquanto as
suas ideias sobre teologia tivessem marcado as suas descrições, por outro lado
a sua imensa cultura lhe permitiu excepcional poder de comparação e de
observação.
Considerado como um dos
precursores das ideias espíritas, em suas obras "Céu e Inferno",
"A nova Jerusalém" e "Arcana Caelestia", descreveu o
processo da morte e o mundo do além, detalhando sua estrutura. Falou de casas
onde viviam famílias, templos onde praticavam o culto, auditórios onde se
reuniam para fins sociais. Descreveu várias esferas, representando os graus de
luminosidade e de felicidade dos espíritos. Afirmou não existirem anjos e
demônios, mas simplesmente seres humanos, saídos da carne e em estado retardatário,
ou altamente desenvolvidos. Descartou a possibilidade da existência de penas
eternas.
A afirmação de contatos com os
espíritos e suas experiências psíquicas, inclusive de dupla vista, atraíram
amigos e lhe conquistaram adversários. Suas visões à distância foram
detalhadamente investigadas, como a ocorrida no dia 19 de julho de 1759, na
cidade de Göteborg, a 480 km. da capital sueca. Naquela tarde, Swedenborg
jantou com a família de William Castell, juntamente com mais umas 15 pessoas e
descreveu, pálido e alarmado, o incêndio que irrompera às 3 horas daquela tarde
e foi dominado às 8 horas da noite, a uma distância de três portas de sua
própria casa. Este dia era um sábado e somente na terça-feira, uma mensagem
real confirmou os fatos, inclusive o detalhe de ter sido dominado às 8 horas da
noite.
Eis alguns fatos por ele
observados em suas jornadas: verificou que o outro mundo, para onde vamos após
a morte, consiste de várias esferas, representando outros tantos graus de
luminosidade e de felicidade; cada um de nós irá para aquela a que se adapta à
nossa condição espiritual. Somos julgados automaticamente, por uma lei
espiritual das similitudes; o resultado é determinado pelo resultado global de
nossa vida, de modo que a absolvição ou o arrependimento no leito de morte têm
pouco proveito. Nessas esferas verificou que o cenário e as condições deste
mundo eram reproduzidas fielmente, do mesmo modo que a estrutura da sociedade.
Viu casas onde viviam famílias, templos onde praticavam culto, auditórios onde se
reuniam para fins sociais, palácios onde deviam morar os chefes.
A morte era suave, dada a
presença de seres celestiais que ajudavam os recém-chegados na sua nova
existência. Esses recém-vindos passavam imediatamente por um período de
absoluto repouso. Reconquistavam a consciência em poucos dias, segundo a nossa
contagem. Havia anjos e demônios, mas não eram de ordem diversa da nossa: eram
seres humanos, que tinham vivido na terra e que ou eram almas retardatárias,
como demônios, ou altamente desenvolvidas, como anjos.
De modo algum mudamos com a
morte. O homem nada perde pela morte: sob todos os pontos de vista é ainda um
homem, conquanto mais perfeito do que quando na matéria. Leva consigo não só as
suas forças, mas os seus hábitos mentais adquiridos, as suas preocupações, os
seus preconceitos. Todas as crianças eram recebidas igualmente, fossem ou não
batizadas. Cresciam no outro mundo; jovens lhes serviam de mães, até que
chegassem as mães verdadeiras.
Não havia penas eternas. Os que
se achavam nos infernos podiam trabalhar para a sua saída, desde que sentissem
vontade. Os que se achavam no céu não tinham lugar permanente: trabalhavam por
uma posição mais elevada.
Havia casamento sob a forma de
união espiritual no mundo próximo, onde um homem e uma mulher constituíam uma
unidade completa. É de notar-se que Swedenborg jamais se casou.
Não havia detalhes
insignificantes para a sua observação no mundo espiritual. Fala de arquitetura,
do artesanato, das flores, dos frutos, dos bordados, da arte, da música, da
literatura, da ciência, das escolas dos museus, das academias, das bibliotecas
e dos esportes. Nada lhe fugia a observação, embora que algumas vezes tenha
enxertado ao ensinamento recebido as suas convicções pessoais amortecendo o
brilho da revelação.
Todavia, Swedenborg foi o
primeiro e, sob vários aspectos, um grande médium, sujeitos aos erros e acertos
decorrentes da mediunidade quando não devidamente educada. Seu trabalho foi de
imenso valor, no que tange aos ensinos que seriam confirmados pelo Espiritismo,
e pode-se dizer que, pondo-se de lado a sua exegese bíblica, a sua obra foi um
marco, um porto seguro, no imenso oceano de superstições e fanatismo em que
viviam os homens de sua época.
Esse homem notável, enérgico
quando rapaz e amável na velhice era bondoso e sereno. Prático, trabalhador,
era de estatura alta, delgado, de olhos azuis, apresentando-se sempre impecável
com sua peruca até os ombros, roupas escuras, calções curtos, fivelas nos
sapatos e bengala.
Desencarnando em 22 de março de
1772, em Londres, cidade onde viveu muitos anos e onde se deu a eclosão da sua
mediunidade, apresentar-se-ia 72 anos mais tarde, numa tarde de março de 1844,
a um jovem de nome Andrew Jackson Davis, como um de seus mentores, junto ao
espírito Galeno, passando a assessorá-lo em sua jornada mediúnica.
Na Codificação, seu nome figura
em Prolegômenos, atestando a sua participação efetiva, como membro da equipe do
Espírito de Verdade, contribuindo para a instalação da Terceira Revelação junto
aos homens.
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