José Bento Renato Monteiro
Lobato, nasceu em 18 de abril de 1882, na cidade de Taubaté -SP. Foi um dos mais influentes
escritores brasileiros do século XX. Foi um importante editor de livros
inéditos e autor de importantes traduções. Seguindo a seu precursor Figueiredo
Pimentel ("Contos da Carochinha") da literatura infantil brasileira,
ficou popularmente conhecido pelo conjunto educativo de sua obra de livros
infantis, que constitui aproximadamente a metade da sua produção literária. A
outra metade, consistindo de contos (geralmente sobre temas brasileiros),
artigos, críticas, crônicas, prefácios, cartas, um livro sobre a importância do
petróleo e do ferro, e um único romance, “O Presidente Negro”, o qual não
alcançou a mesma popularidade que suas obras para crianças.
A exaltação do sentimento
nacionalista já foi uma característica mais marcante em todos os países antes
da globalização. Nos dias atuais a ideia do que é ou não é nacional quase se
perdeu em meio à quebra de barreiras comerciais e culturais, e no aprimoramento
dos sistemas de comunicação, particularmente da internet.
No Brasil, após o advento da
República, o nacionalismo começou a tomar uma forma mais definida e atingiu o
seu auge entre o início dos anos de 1930 até o final de 1970.
Em parte deste período, um
personagem exerceu seu nacionalismo de forma contundente e corajosa. Estamos nos
referindo ao advogado, crítico de artes, cronista e escritor paulista José
Bento Monteiro Lobato.
Em 1907, Monteiro Lobato
tornou-se promotor público em Areais - SP e lá se casou com Maria Pureza
Lobato, entre os amigos conhecida como Dona Purezinha. Aproveitando a vida do
interior, eles se mudaram para a fazenda Buquira que Lobato herdou de seu avô.
Neste período, ele publicou no
jornal O Estado de São Paulo, o artigo “Velha Praga”, onde criticava o uso de
queimadas − recurso utilizado para a limpeza do campo no preparo do solo para o
plantio − classificando aquele procedimento como arcaico, e prejudicial ao
solo, por empobrecê-lo.
Essa sua aventura interiorana,
rendeu o surgimento do personagem Jeca Tatu e estudos acerca do Saci, figura do
folclore brasileiro; mas, também sedimentou uma base para sua principal obra
literária que realizaria mais à frente.
Em 1918, vendeu a propriedade e
mudou-se para a capital paulista; foi nesta época que publicou seu primeiro
trabalho, o livro de contos “Urupês”.
Adquiriu a “Revista do Brasil” e
fundou a “Editora Monteiro Lobato & Cia.”. Por meio desta empresa ele
conseguiu melhorar a qualidade gráfica de então, e a editora tornou-se
posteriormente a “Companhia Editora Nacional”.
Acreditamos que seu momento de
maior genialidade literária foi a obra publicada em 1921, “A Menina do
Narizinho Arrebitado”, onde ele criou o fantástico mundo do “Sitio do Pica-Pau
Amarelo”, onde Lucia − a menina do narizinho arrebitado − dividia suas
aventuras com D. Benta, Tia Anastácia, o Visconde de Sabugosa − um sabugo de
milho que adquirira vida − e a imprevisível Emília − uma boneca de pano que
falava, agia e pensava como uma pessoa adulta.
Seguiram-se vários outros
livros, narrando as aventuras desta turma, e, em quase todos, Lobato dividia as
histórias com personagens reais, mitológicos, folclóricos e alguns criados por
outros escritores.
O senso crítico artístico do
escritor aflorou em 1922. Lobato teceu ferrenhas críticas sobre as pinturas que
a artista plástica paulistana Anita Catarina Malfatti (1889-1964) expôs durante
a Semana de Arte Moderna, entre 11 e 18 de fevereiro de 1922, ocorrida no
Teatro Municipal de São Paulo.
Entre 1927 e 1931, ele
representou o Brasil como adido comercial em Nova York. De lá ele voltou
admirado com os métodos de exploração dos recursos minerais e com o progresso
realizado pelos norte-americanos, embora tenha perdido grande soma na quebra da
Bolsa de Valores de Nova York, ocorrida em 29 de outubro de 1929.
Ao retornar ao Brasil, Lobato
estava entusiasmado com o progresso que presenciara na nação norte-americana.
Sentindo-se compelido a provocar idêntico desenvolvimento em nossa pátria, ele
fundou o Sindicato do Ferro e a Companhia de Petróleo do Brasil. Apesar de
todos os entraves que encontrou ele conseguiu um significativo êxito como a
primeira companhia nacional a fazer jorrar jato de gás e petróleo em terras
brasileiras.
Porém, seu envolvimento na
questão da nacionalização do petróleo trouxe-lhe dissabores e granjeou-lhe
adversários.
Em 24 de maio de 1940, durante o
Estado Novo, num ato de inaudita coragem, ele escreveu uma carta para o
presidente Getúlio Vargas, alertando-o de que havia displicência por parte do
Conselho Nacional do Petróleo, ao retardar a criação de uma indústria
petrolífera nacional apenas para satisfazer interesses estrangeiros.
Depois de muitas idas e vindas
acerca desta sua correspondência e de outras declarações sobre o assunto,
Lobato foi detido em prisão celular no dia 20 de maio de 1941, sendo indultado
por Getúlio e liberado da prisão em 20 de junho daquele mesmo ano.
Os movimentos iniciais do
escritor paulista, em defesa da exploração do petróleo não ficaram em vão. Em
1948, ano em que ele desencarnou, a União Nacional dos Estudantes − UNE − criou
a Comissão Estudantil de Defesa do Petróleo e o lema: O Petróleo É Nosso.
Por fim, em 03 de outubro de 1953, o próprio Getúlio criou a Petrobrás.
Passados mais de dois anos após
a saída da prisão, Lobato descobriu o mundo espiritual, os Espíritos e sua
capacidade de nos contatar.
No livro “Monteiro Lobato e o
Espiritismo”, de Maria José Sette Ribas, foram publicadas as Atas das reuniões
onde ocorreram suas experimentações com a mediunidade.
É interessante anotar que sua
primeira sessão mediúnica não ocorreu em 21 de dezembro de 1943, como registram
os historiadores espíritas, mas antes desta data, quando seus amigos
desencarnados se dirigiram a Lobato repassando-lhe informações acerca da
imortalidade das almas; contudo, a ata desta reunião foi extraviada.
Por meio daquele livro pudemos
observar o método utilizado pelo escritor e seu grupo para entrar em contato
com os Espíritos. Eles utilizavam um copo, que sob a ação dos Espíritos e sendo
tocado pelo médium e assistentes, desliza por sobre um alfabeto disposto de
maneira circular, lembrando alguns aspectos das tábuas de ouija.
Vale observar que este método já era considerado primitivo e ultrapassado naquela
época, além do que já existiam diversos médiuns psicógrafos e psicófonos no
Brasil; mas não deixava de ser um sistema de contato e, neste caso, se mostrou
bastante eficiente.
No grupamento, cabia a Lobato
anotar as letras do alfabeto que tinham sido escolhidas pelos Espíritos, em
resposta às perguntas formuladas; bem como a tarefa de escrever as atas.
A médium do grupo familiar era
sua esposa Dona Purezinha. Os encontros se deram entre 1943 − o dia e o mês são
imprecisos pelos fatos já mencionados − e 23 de março de 1947, como consta da obra citada.
Durante estes encontros,
esclareceu José
Herculano Pires no prefacio do livro, Monteiro Lobato aprendeu a “dialogar”
com os Espíritos comunicantes e chegou até mesmo a obter a transformação moral
de um que se identificou pelo nome K, que inicialmente atormentava os
encontros.
Entre as atas elaboradas
encontramos uma que vem endossar a informação de que os Espíritos não estão à
nossa inteira disposição. De fato, em 03 de junho de 1944, o grupo de Lobato
aguardou durante meia hora, mas não ocorreu qualquer movimento do copo.
Outra ata demonstra o seu grande
interesse pelos fenômenos mediúnicos; referimo-nos a uma sessão ocorrida em
Buenos Aires, durante o ano de 1946, quando ele se autoexilou na Argentina,
apesar de continuar a escrever artigos para alguns jornais brasileiros. Mesmo
distante de sua pátria ele continuou realizando suas experiências.
Destas reuniões chega-se a
algumas conclusões interessantes. Lobato desconhecia que existem algumas
condições para que um Espírito se comunique; não é qualquer um, em qualquer
momento, que pode fazer uso da mediunidade para manter contato com os desencarnados.
Existem pré-condições estabelecidas pelos Espíritos que conhecem todos os
aspectos e interessados envolvidos, e que, por sua ascendência moral, pode
permitir ou não uma manifestação, sempre levando em consideração a utilidade e
a conveniência desta.
Seu interesse pelos contatos com
os habitantes do mundo espiritual levou-o a traduzir para a língua portuguesa o
livro “Raymond”, escrito por Oliver
Lodge.
Monteiro Lobato desencarnou
repentinamente em 4 de julho de 1948, na cidade de São Paulo, deixando vasta
herança ao povo brasileiro, primeiro por sua defesa, não somente da indústria
do petróleo, mas de todo patrimônio nacional; depois, pelos relatos das
aventuras ocorridas no “Sítio do Pica-Pau Amarelo”, que até hoje encantam o
imaginário popular; e, por fim, pelas atas de suas reuniões mediúnicas, que
hoje podem ser utilizadas como mais uma comprovação da realidade dos Espíritos
desencarnados e de suas capacidades.
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