Allan Kardec
Se bem que as manifestações
espíritas tenham ocorrido em todas as épocas, é incontestável que hoje se
produzem de maneira excepcional. Interrogados sobre esse fato, os Espíritos
foram unânimes em sua resposta:
Os tempos – dizem eles – marcados pela Providência
para uma manifestação universal são chegados. Estão encarregados de dissipar as
trevas da ignorância e dos preconceitos; é uma era nova que começa e prepara a
regeneração da Humanidade.
Esse pensamento acha-se
desenvolvido de maneira notável numa carta que recebemos de um de nossos
assinantes, da qual extraímos a seguinte passagem:
Cada coisa tem seu tempo; o período que acaba de
escoar-se parece ter sido especialmente destinado pelo Todo-Poderoso ao
progresso das ciências matemáticas e físicas e, provavelmente, foi tendo em
vista dispor os homens aos conhecimentos exatos que ele se opôs, durante muito
tempo, à manifestação dos Espíritos, como se tal manifestação pudesse ser
prejudicial ao positivismo, que requer o estudo da Ciência; numa palavra, quis
habituar o homem a procurar, nas ciências de observação, a explicação de todos
os fenômenos que deviam produzir-se a seus olhos.
Hoje, o período científico parece ter chegado a seu
termo. Depois dos imensos progressos realizados, não seria impossível que o
novo período que deve suceder-lhe fosse consagrado pelo Criador às iniciações
de ordem psicológica. Na imutável lei de perfectibilidade que estabeleceu para
os seres humanos, o que poderá fazer depois de havê-los iniciado nas leis
físicas do movimento e ter-lhes revelado os motores com os quais muda a face do
globo? O homem sondou as profundezas mais longínquas do espaço; a marcha dos
astros e o movimento geral do Universo não têm mais segredos para ele; lê nas
camadas geológicas a história da formação do globo; à sua vontade, a luz se
transforma em imagens duráveis; domina o raio; com o vapor e a eletricidade
suprime as distâncias e o pensamento transpõe o espaço com a rapidez do
relâmpago. Chegado a esse ponto culminante, do qual a história da Humanidade
não oferece nenhum exemplo, qualquer que tenha sido o seu grau de avanço nos
séculos recuados, parece-me racional pensar que a ordem psicológica lhe abre um
novo caminho na via do progresso. É, pelo menos, o que se poderia deduzir dos
fatos que se produzem em nossos dias e se multiplicam por todos os lados.
Esperemos, pois, que se aproxime o momento, se é que ainda não chegou, em que o
Todo-Poderoso venha iniciar-nos em novas, grandes e sublimes verdades. Cabe a
nós compreendê-lo e secundá-lo na obra da regeneração.
Essa carta é do Sr. Georges, do
qual havíamos falado em nosso primeiro
número. Não podemos senão felicitá-lo pelos seus progressos na Doutrina; os
elevados pontos de vista que desenvolve demonstram que a compreende em seu
verdadeiro sentido; para ele a Doutrina não se resume na crença nos Espíritos e
em suas manifestações: é toda uma filosofia. Como ele, admitimos que entramos no
período psicológico e achamos perfeitamente racionais os motivos que nos
apresenta, sem crer, todavia, que o período científico tenha dito sua última
palavra; ao contrário, acreditamos que ainda nos reserva muitos outros
prodígios. Estamos numa época de transição, em que os caracteres dos dois
períodos se confundem.
Os conhecimentos que os Antigos
possuíam sobre a manifestação dos Espíritos não serviriam de argumento contra a
ideia do período psicológico que se prepara. Com efeito, notamos que na Antiguidade
esses conhecimentos estavam circunscritos ao estreito círculo dos homens de
elite; sobre eles o povo possuía somente ideias falseadas pelos preconceitos e
desfiguradas pelo charlatanismo dos sacerdotes, que delas se serviam como meio
de dominação. Como já o dissemos alhures, jamais esses conhecimentos se
perderam e as manifestações sempre se produziram; mas ficaram como fatos
isolados, certamente porque o tempo de os compreender não havia ainda chegado.
O que se passa hoje tem um caráter bem diverso; as manifestações são gerais;
impressionam a sociedade desde a base até o cume. Os Espíritos não mais ensinam
nos recintos fechados e misteriosos de um templo inacessível ao vulgo. Esses
fatos se passam à luz do dia; falam a todos uma linguagem inteligível por
todos. Tudo, pois, anuncia, do ponto de vista moral, uma nova fase para a
Humanidade.
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