quarta-feira, 30 de outubro de 2019

Planeta Terra pode fabricar sua própria água[1]



Com informações da New Scientist - 09/02/2017

Origem da água da Terra
Sem conseguir imaginar uma reação química que possa dar origem às moléculas de água na Terra primordial, a teoria preferida dos cientistas é que toda a nossa água chegou aqui a bordo de cometas e asteroides.
Mas talvez nosso planeta possa ser azul de dentro para fora.
Uma equipe liderada por Zdenek Futera, da Universidade de Dublin, na Irlanda, constatou que reações químicas que produzem água podem de fato ocorrer no manto.
E esta água totalmente terrestre surge sob tamanha pressão que ela poderia explicar alguns terremotos centenas de quilômetros abaixo da superfície da Terra ‒ tremores cujas origens até agora permaneceram inexplicáveis.

Síntese de água no manto
A equipe realizou uma simulação computadorizada de reações no manto superior da Terra e descobriu que a água pode ser produzida pela reação entre hidrogênio líquido e quartzo, a forma mais comum e estável de sílica nessa parte do planeta.
"Nós mostramos que é possível ter água se formando no ambiente natural da Terra, em vez de ser de origem extraterrestre," comemorou o professor John Tse, membro da equipe.
A reação bastante simples ocorre a cerca de 1.400° C e pressões 20.000 vezes superiores à pressão atmosférica. A sílica, ou dióxido de silício, reage com o hidrogênio líquido para formar água líquida e hidreto de silício.
Esta reação havia sido descoberta por pesquisadores japoneses em 2014, e agora as simulações mostraram que ela pode ocorrer naturalmente entre 40 e 400 km de profundidade.

Água sob pressão
O detalhe um tanto surpreendente é que as simulações mostram que a água se forma dentro do quartzo, mas depois não tem como escapar, o que gera uma acumulação de pressão no interior dos cristais.
"O hidrogênio líquido difunde através da camada de quartzo, mas acaba por formar água não na superfície, mas no interior do mineral," disse Tse. "Analisamos a densidade e a estrutura da água aprisionada e descobrimos que ela está altamente pressurizada".
De acordo com a simulação, a pressão poderia atingir até 200.000 atmosferas. "Observamos que a água está sob alta pressão, o que pode levar à possibilidade de terremotos induzidos. Entretanto, são necessárias mais pesquisas para quantificar a quantidade de água liberada necessária para desencadear terremotos profundos."
Da mesma forma, será necessário quantificar a água produzida ao longo de eras geológicas, para verificar se esse processo poderia responder por uma parcela significativa da água do planeta. Enquanto isso, os defensores da teoria atual continuam procurando por asteroides e cometas feitos inteiramente de gelo.
 
Bibliografia:
Formation and properties of water from quartz and hydrogen at high pressure and temperature
Zdenek Futera, Xue Yong, Yuanming Pan, John S. Tse, Niall J. English
Earth and Planetary Science Letters
Vol.: 461, 1 March 2017, Pages 54-60
DOI: 10.1016/j.epsl.2016.12.031

Formation of SiH4 and H2O by the dissolution of quartz in H2 fluid under high pressure and temperature
Ayako Shinozaki, Hiroyuki Kagi, Naoki Noguchi, Hisako Hirai, Hiroaki Ohfuji, Taku Okada, Satoshi Nakano, Takehiko Yagi
American Mineralogist
Vol.: 99 (7)
DOI: 10.2138/am. 2014.4798

terça-feira, 29 de outubro de 2019

PROGRESSO INTELECTUAL[1]


Blaise Pascal

(Sociedade de Paris, 31 de março de 1865 – Médium: Sr. Desliens)
Nada se perde neste mundo, não só na matéria, onde tudo se renova incessantemente, aperfeiçoando-se segundo leis imutáveis aplicadas a todas as coisas pelo Criador, como, também, no domínio da inteligência. A Humanidade é semelhante a um homem que vivesse eternamente e adquirisse continuamente novos conhecimentos.
Isto não é uma imagem, mas uma realidade, porque o Espírito é imortal; somente o corpo, envoltório ou vestimenta do Espírito, cai quando gasto e é substituído por outro. A própria matéria sofre modificações. À medida que o Espírito se depura, adquire novas riquezas e merece, se assim me posso exprimir, uma roupagem mais luxuosa, mais agradável, mais cômoda, para empregar vossa linguagem terrena.
A matéria se sublima e se torna cada vez mais leve, sem jamais desaparecer completamente, pelo menos nas regiões médias; quer como corpo, quer como perispírito, ela acompanha sempre a inteligência e lhe permite, por este ponto de contato, comunicar-se com seus inferiores, seus iguais e seus superiores, para instruir, meditar e aprender.
Dissemos que nada se perde em a Natureza.
Acrescentamos: nada é inútil. Tudo, das criaturas mais perigosas até os venenos mais sutis, têm a sua razão de ser. Quantas coisas haviam sido julgadas inúteis ou prejudiciais e cujas vantagens foram reconhecidas mais tarde! Outro tanto se dá com as que não compreendeis. Sem tratar a fundo a questão, apenas direi que as coisas nocivas vos obrigam a atenção e a vigilância que exercitam a inteligência, ao passo que se o homem nada tivesse a temer, abandonar-se-ia à preguiça, em prejuízo de seu desenvolvimento.
Se a dor ensina a gemer, gemer é um ato de inteligência.
Deus, sem dúvida, como objetam alguns, poderia vos ter poupado das provações e dificuldades, que vos parecem supérfluas; mas se os obstáculos vos são opostos, é para despertar em vós os recursos adormecidos; é para impulsionar os tesouros da inteligência, que ficariam enterrados no vosso cérebro, se uma necessidade, um perigo a evitar não vos viesse forçar a velar por vossa conservação.
O instinto nasce; a inteligência o segue, as ideias se encadeiam e está inventado o raciocínio. Se raciocino, julgo, bem ou mal, é verdade, mas é raciocinando errado que se aprende a reconhecer a verdade; quando se é enganado várias vezes, acaba-se acertando; e esta verdade, esta inteligência, obtidas por tanto trabalho, adquirem um preço infinito e vos faz considerar a sua posse como um bem inestimável. Temeis ver se perderem descobertas que fizestes; que fazeis, então? Instruís vossos filhos, vossos amigos; desenvolveis sua inteligência, a fim de nela semear e fazer frutificar o que adquiristes a preço de esforços intelectuais.
É assim que tudo se encadeia, que o progresso é uma lei natural e que os conhecimentos humanos, acrescidos paulatinamente, se transmitem de geração em geração. Que, depois disto, vos venham dizer que tudo é matéria! Em sua maioria, os materialistas não repelem a espiritualidade senão porque, sem isto, precisariam mudar o gênero de vida, atacar os seus erros, renunciar aos seus hábitos. Seria muito custoso, razão por que acham mais cômodo tudo negar.
Pascal




[1] Revista Espírita – Maio/1865 – Allan Kardec

segunda-feira, 28 de outubro de 2019

EDGARD PEREIRA ARMOND[1]




Edgard Pereira Armond, que nasceu em Guaratinguetá (SP) em 14 de junho de 1894 e desencarnou na Capital paulista em 29 de novembro de 1982, aos 88 anos de idade, foi militar, maçom, professor e um dos grandes estudiosos do Espiritismo, especialmente os assuntos relacionados com a mediunidade.
Responsável pela implantação da Federação Espírita do Estado de São Paulo (FEESP), a que serviu por mais de três décadas, sistematizou o estudo da Doutrina em termos evangélicos e estabeleceu cursos para auxiliar o desenvolvimento de médiuns. Em 1973, a Aliança Espírita Evangélica nasceu sob sua inspiração. Foi, também, pioneiro do movimento de unificação, tendo lançado a ideia de criação da União das Sociedades Espíritas (USE).

Antecedentes familiares e juventude
Filho de Henrique Ferreira Armond e de Leonor Pereira de Souza Armond, ambos de Minas Gerais, os antepassados da família remontam a fidalgos franceses huguenotes, expatriados durante as perseguições religiosas motivadas por Catarina de Médicis a partir da Noite de São Bartolomeu (Paris, 1519), e que se estenderam por todo país até 1582.
Nesse período, os Armonds refugiaram-se em Amsterdã, Holanda, dedicando-se ao comércio, transferindo-se depois para a ilha da Madeira e dali para o Brasil, em meados do século XVIII, quando se fixaram em uma sesmaria recebida da Coroa Portuguesa, entre Juiz de Fora e Barbacena, onde estabeleceram a primitiva Fazenda dos Moinhos.
Em Guaratinguetá (SP) fez os cursos primário e secundário, transferindo-se para São Paulo em 1912, aos 18 anos de idade, e no mesmo ano para o Rio de Janeiro, onde, além de ingressar no comércio, prosseguiu seus estudos.

A carreira militar
Em 1914, ao eclodir a Primeira Guerra Mundial, retornou para São Paulo, alistando-se em 10 de maio de 1915 na Força Pública do Estado de São Paulo, como Praça de Pré.
Em 1916, ingressou na Escola de Oficiais, como 1° Sargento, saindo aspirante em 1918. No ano seguinte casou-se com Nancy de Menezes, filha do Marechal de Exército Manoel Félix de Menezes.
Armond comandou destacamentos em Santos, São João da Boa Vista e Amparo, vindo depois a fixar-se na Capital paulista. Como 2º Tenente, organizou e foi nomeado diretor da Biblioteca da Força Pública, sendo no mesmo período nomeado professor de História, Geografia e Geometria na Escola de Oficiais da antiga Força Pública.
Participou então de vários movimentos militares, atuando nos movimentos tenentistas de 1922 e 1924, quando integrou a tropa de ocupação nas fronteiras com a Argentina e o Paraguai até 1925.
Na Revolução de 1930, como capitão, serviu no Estado Maior, voltando a exercer o magistério militar na Escola de Oficiais e no Curso de Aperfeiçoamento de Oficiais, quando lecionou Administração e Legislação Militar.
Com a eclosão da Revolução Constitucionalista de 1932, Armond assumiu o comando da defesa do litoral entre a divisa com o Estado do Rio de Janeiro até Santos, com a missão adicional de monitorar os movimentos da Armada, que mantinha diversos navios de guerra nas águas da ilha de São Sebastião.
Organizou e comandou tropas inicialmente em Paraibuna e Caraguatatuba e, logo depois, no Sul do Estado, nas cidades de Itaí, Taquari e Avaré. Com o fim do conflito, foi nomeado Chefe de Polícia do Estado de São Paulo, vindo a compor a Casa Militar do Governador Militar do Estado, General Waldomiro Lima. Sessenta dias após sua nomeação, pediu demissão dessa função e foi, então, nomeado comandante de um Batalhão de Sapadores, até agosto de 1934.
De volta à cidade de São Paulo, assumiu o subcomando da Escola de Oficiais em 1934. Organizou em seguida a Inspetoria Administrativa da Força e, por conveniência da organização, fez o concurso para o quadro de Administração da Força Pública, vindo a ser classificado como Tenente Coronel, na chefia do Serviço de Intendência e Transporte, cargo que exerceu até 1938, quando sofreu um acidente grave. Tendo solicitado a sua reforma, foi julgado inválido para o serviço militar, dando baixa no início de 1940, época em que redigiu o "Tratado de Topografia Ligeira (2 v.)" e "Guerra Cisplatina" (Discursos).

Da vivência espiritualista à militância espírita
Edgard Armond conhecia bem o espiritualismo em geral. Desde 1910, em sua cidade natal, iniciara estudos sobre religiões e filosofias, demorando-se nos conhecimentos orientais.
Em 1921, enquanto comandante na cidade de Amparo, aceitou um convite para ingressar na Maçonaria, tendo deixando de frequentá-la alguns anos mais tarde, no grau de Mestre.
De regresso à cidade de São Paulo, manteve contato com líderes esoteristas, ocultistas e espiritualistas, entre os quais Krishnamurti, Krum Heler, Jenerajadasa, Raul Silva (sobrinho de Batuíra) e o famoso médium de efeitos físicos, Carmine Mirabelli. Em 1932, trabalhou ao lado do famoso médium Dr. Luiz Parigot de Souza, do Paraná.
Em 1936, a convite de Silvino Canuto de Abreu, integrou o grupo de estudos e práticas espiritistas que funcionou na residência deste. Entre os seus participantes, encontravam-se o Dr. Carlos Gomes de Souza Shalders e Antônio Carlos Cardoso, ambos diretores da Escola Politécnica, tendo o grupo trabalhado com o Sr. Ramalho, médium de incorporação e uma única vez com Linda Gazear, conhecida médium de efeitos físicos que atuara na Europa, com Charles Richet e outros investigadores. O grupo também promovia visitas a outros grupos particulares que se dedicavam à prática de trabalhos mediúnicos de efeitos físicos, nos arredores da capital, todos incentivados pelos resultados obtidos pela família Prado em Belém do Pará.
A conversão de Armond ao Espiritismo deu-se após sofrer um grave acidente automobilístico, em 28 de junho de 1938, quando quebrou ambos os joelhos. Após diversas cirurgias, ficou quase sem poder andar durante seis meses, passando, em seguida, a usar muletas, com grande redução de movimentos.
Nessa fase de convalescença, já estava desenvolvendo trabalhos de cooperação espírita, auxiliando amigos a preparar palestras e conferências. Já lera, a essa altura, grande parte da literatura espírita então disponível e, num domingo à tarde, em 1939, passando pela Rua do Carmo, notou uma aglomeração à porta da Associação das Classes Laboriosas. Curioso, foi informado que ali estava se realizando uma comemoração de Allan Kardec. Entrou e presenciou parte do evento, reconhecendo então, dentre os presentes, alguns líderes espíritas amigos, como, por exemplo, João Batista Pereira, Lameira de Andrade, Américo Montagnini, bem como o médium Chico Xavier, que apenas iniciava sua tarefa mediúnica.
Nessa reunião recebeu um livreto intitulado "Palavras do Infinito", de autoria do Espírito de Humberto de Campos, contendo mensagens avulsas de entidades desencarnadas, distribuído pela recém-formada Federação Espírita do Estado de São Paulo. A leitura desse opúsculo aumentou fortemente seu interesse pela Doutrina.

O serviço na Federação Espírita do Estado de São Paulo
Nesse mesmo ano, passando pela Rua Maria Paula, para onde a Federação havia se mudado dias antes, percebendo à entrada uma placa com a inscrição "Casa dos Espíritas do Brasil", entrou, sendo recebido por João dos Santos e por este apresentado aos outros ali presentes, com os quais conversou alguns momentos, sendo convidado a colaborar com as atividades, o que aceitou. Dias depois, recebeu um memorando assinado por Américo Montagnini, presidente recém-eleito, comunicando-lhe haver sido eleito para o cargo de secretário geral da Federação.
Como a Federação apenas se instalara naquele prédio, adaptado para sede própria, nada encontrou organizado ou em funcionamento regular, estando tudo por fazer, em todos os setores. João Batista Pereira, na eleição então realizada, deixara a presidência para Américo Montagnini e, sob a denominação de Casa dos Espíritas do Brasil, se fundiram a Sociedade Espírita São Pedro e São Paulo, até então dirigida pelo Dr. Augusto Militão Pacheco, a Sociedade de Metapsíquica de São Paulo, dirigida pelo Dr. Shalders, e a própria Federação Espírita do Estado de São Paulo.
Em 1944, atendendo a projeto da Secretaria Geral da Casa dos Espíritas do Brasil, Armond fundou, com Pedro de Camargo (Vinícius) e Marta Cajado de Oliveira, o periódico "O Semeador", para difusão das ideias doutrinárias e o movimento geral da Casa. Nele, sob diversos pseudônimos, Armond colaborou ininterruptamente até fevereiro de 1972, alcançando um total de quatrocentos e vinte e cinco artigos. Além do periódico, para incrementar a difusão da Doutrina e prestigiar a Casa, propôs ainda a criação de um programa intitulado "Hora Espírita", que passou a ser veiculado na Rádio Tupi, semanalmente, aos domingos, sob a direção de João Rodrigues Montemor.
Em 1947, Armond fundou a União Social Espírita (USE), posteriormente denominada de União das Sociedades Espíritas, com a finalidade de fortalecer o movimento Espírita do Estado de São Paulo e unificar as suas práticas religiosas.
Em 1950, Armond criou as Escolas de Aprendizes do Evangelho, cursos de Espiritismo previstos por Allan Kardec, em "Obras Póstumas", tarefa já tentada anteriormente pelo Dr. Bezerra de Menezes, no Rio de Janeiro, no início do século. Complementarmente instituiu também as Escolas de Médiuns, visando à melhoria do intercâmbio com o plano espiritual.
Suas principais obras espíritas são: "Contribuições ao Estudo da Mediunidade" (1942), "Mediunidade de Prova" (1943), "Desenvolvimento Mediúnico" (1944), "Missão Social dos Médiuns" (1944), "Os Exilados da Capela" (1949), "Passes e Radiações" (1950), "Na Cortina do Tempo" (1962) e "O Redentor".
Em 1967, por motivos de doença, Armond solicitou o próprio afastamento da administração da Federação, embora tenha continuado a colaborar à distância no setor da publicidade, da organização de centros e organizações espíritas, inclusive em países estrangeiros.
Em 1973, em uma reunião em sua residência, Armond, com alguns companheiros, fundou a Aliança Espírita Evangélica. A partir de 1980 assessorou a formação do Setor III da Fraternidade dos Discípulos de Jesus, que reúne diversos Grupos Espíritas.
Seu falecimento ocorreu no Hospital Oswaldo Cruz, em São Paulo, tendo sido sepultado no Cemitério de Vila Mariana, na mesma cidade.

sábado, 26 de outubro de 2019

RELACIONAMENTOS E EMOÇÕES[1]



Francisco Ortolan

Está aí um tema difícil, em lidar conosco e com o próximo. Como é difícil compreender o outro quando temos dificuldade em lidar conosco. Isso acontece porque vivemos iludidos achando que o outro faria o que eu acho que é certo, ou que agiria da forma que eu gostaria. Ilusão é aquilo que pensamos, mas que não corresponde à realidade. São percepções que nos distanciam da verdade. Existe em relação a muitas questões da vida, como metas, comportamentos ou pessoas. E a pior das ilusões é a que temos com relação a nós: a auto ilusão.
No capítulo 11 de O Evangelho Segundo o Espiritismo temos o depoimento de uma Rainha da França:
Rainha entre os homens, como rainha julguei que penetrasse no reino dos céus! Que desilusão! Que humilhação, quando, em vez de ser recebida aqui qual soberana, vi acima de mim, mas muito acima, homens que eu julgava insignificantes e aos quais desprezava, por não terem sangue nobre!

A desilusão dela faz-nos pensar em como estamos conduzindo nossa vida através de alguns questionamentos:
1.      Será que o fato de estarmos dentro de uma Casa Espírita traz-nos a salvação?
2.      Será que não estamos reproduzindo o comportamento de milênios, achando que por estarmos dentro de um templo religioso, basta?

Porque só se desilude quem um dia se iludiu. Não existe desilusão sem ilusão. Por isso precisamos parar de nos iludir. E como fazer isso? Como lidar com essa coisa criada há milênios e que faz parte de nossa personalidade?
Allan Kardec dá-nos a reposta quando diz:
Reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação moral, e o esforço que emprega para vencer suas más inclinações.

Por isso, a base da Doutrina Espírita é a reforma interior. Ninguém mata sentimento. Reformar-se interiormente é ressignificar o que sentimos, ou seja, dar outro significado àquele mesmo sentimento. É aprender a desconstruir para reconstruir.
As ilusões decorrem das nossas limitações em perceber a natureza dos sentimentos. Na matriz das ilusões encontramos: CARÊNCIA, DESEJOS, CULPAS, TRAUMAS, FRUSTRAÇÕES e todo um conjunto de tendências que formam as emoções.
Toda opinião que formamos hoje está ligada a fatos antecedentes, porque todos os pensamentos julgadores de hoje estão sedimentados em nossa memória profunda. Como diz o espírito Hammed:
São subprodutos de uma série de conhecimentos que adquirimos na idade infantil e também através das vivências pregressas.
Por exemplo: Se vejo alguém jogando lixo pela janela do carro, instantaneamente, digo “porco”. Mas quantas vezes fizemos isso antes de ter esse entendimento? Ou: vejo uma pessoa casada e outra solteira tomando um suco juntas, é comum emitirmos um julgamento dizendo “ai tem coisa”, sem raciocinar que pode ser um irmão (ã), ou primo (a), ou uma entrevista de emprego; enfim, pode ser que não seja aquilo que imaginei.
As ilusões impedem-nos que realmente tenhamos olhos de ver, transferindo a responsabilidade a outrem. Adão disse a Deus:
Eu não pequei, a culpa foi da mulher que me tentou. Eva desculpando-se disse: Toda discórdia ocorrida cabe à maldita serpente.

O objetivo da reencarnação consiste em desiludir-nos sobre nós mesmos, através de uma relação libertadora com o materialismo. Se não buscamos essa meta voltaremos pra casa da mesma forma que aqui chegamos.
Façamos a nossa parte, buscando a cada dia desconstruir as ideias formadas ao longo dos milênios, para reconstruir de uma forma mais sólida. Como disse Chico Xavier:
Quer que aconteça algo diferente na sua vida? Faça algo diferente.


Fonte: Agenda Espírita Brasil


sexta-feira, 25 de outubro de 2019

CURAS, TRATAMENTOS ESPIRITUAIS, PASSES[1]




As condições fundamentais para obter a cura são somente o merecimento e a fé do paciente?
A cura, na visão espírita, deve ser entendida a partir da tríplice realidade do ser humano: Espírito-Perispírito-Corpo. O primeiro é a essência inteligente, imortal e indestrutível. É criado simples e ignorante e está sempre em processo evolutivo adquirindo experiências através das provas que se apresentam nas sucessivas reencarnações (O Livro dos Espíritos, de Allan Kardec, questão 115). Além dessa "carência evolutiva" por provas, o ser imortal corre o risco de exceder-se, afrontando as Leis Divinas gravadas na Consciência (op. cit., questão 621), adquirindo expiações para reparar o engano cometido.
Ainda, existem as missões em que Espíritos nobres se valem da existência física para demonstrar como é possível renunciar às paixões materiais frente a uma dificuldade de percurso. Naturalmente, as tribulações da vida durante a encarnação também são causadas pela imprudência, constituindo um grande conjunto de causas atuais das aflições, como Allan Kardec explicou no capítulo V de O Evangelho Segundo o Espiritismo.
O perispírito é a "condensação do fluido cósmico universal em torno de um foco de inteligência" (A Gênese, de Allan Kardec, cap. XIV, item 7). É o reflexo, por assim dizer, do campo mental do Espírito sobre os fluidos, que vibram e se agrupam em torno daquilo que o Espírito emite. Ademais, o perispírito possibilita a ligação entre o Espírito, um ser incorpóreo, ao corpo físico, ligando-se a este molécula a molécula. O corpo físico é um agregado perecível de tecidos celulares que se sustentam pelo fluido vital, um conjunto de energias presentes nas reações bioquímicas dentro e fora das células. O fluido vital ao mesmo tempo dá um automatismo incrível para as funções dos órgãos, porém é sustentado pela retroalimentação do perispírito.
A saúde, conforme define a Organização Mundial da Saúde, é o bem-estar físico, psíquico e social. Na visão espírita, devemos acrescentar o bem-estar espiritual, já que, segundo o que expomos, o Espírito é cerne das necessidades, que se refletem energeticamente nos tecidos perispirituais, os quais, por sua vez, vibram causando a harmonia ou desarmonia do conjunto celular do corpo físico. Uma doença instala-se, pois, apenas dentro do contexto espiritual de provas, expiações, missões ou imprudência que o Espírito gera para si próprio, nesta ou numa encarnação anterior.
É também interessante refletir que quando uma pessoa está doente no corpo físico, é difícil saber se é o fim ou o começo desses processos, o que significa que, nesses casos, não se sabe se o problema ainda também está espiritual e perispiritual ou se é apenas a última exaustão física de uma dificuldade evolutiva resolvida. A cura , da mesma forma, deve ocorrer nos três níveis e apenas será profunda, verdadeira e permanente se o processo espiritual principal for sanado, isto é, se a prova for cumprida com resignação, se a expiação foi bem utilizada para reparar um engano, se a missão foi bem sucedida e/ou se a imprudência foi interrompida. As terapias mais ortodoxas ‒ as cirurgias materiais e os remédios que interferem diretamente nas moléculas celulares ‒ limitam-se ao corpo físico, na tentativa sempre paliativa de conter o processo. São, sem dúvida, indispensáveis em muitos casos, e trarão grandes resultados se a doença apenas limitar-se ao corpo físico, ou seja, estiver na fase final do processo espiritual. As terapias ditas "energéticas" procuram atuar no perispírito, que, em absorvendo energias salutares, refletem para as células que seguirão o compasso do novo "concerto" renovador "consertando" e reestabelecendo a saúde de "dentro para fora".
Entendendo esse contexto, o movimento espírita adotou a fluidoterapia que consiste no passe e na água fluidificada.

Quais os atributos necessários para o médium de cura?
O médium curador é utilizado pelos Espíritos superiores responsáveis por essa atividade. Os nobres desencarnados captam a problemática perispiritual do paciente, e lançam pensamentos para o perispírito do médium direcionando as funções endócrinas e metabólicas de seu corpo físico. O médium deve ter uma predisposição orgânica para ser capaz de, sob essa influência, secretar seus fluidos vitais para o paciente absorvê-los.
Além disso, o médium, naturalmente, deve: ter fé absoluta e racional em todo esse processo, estar em sintonia com os amigos espirituais, estar com o desejo máximo de ajudar seu semelhante, estar sempre alegre para transmitir fluidos renovadores, viver uma vida cristã esforçando-se para ser melhor a cada dia e abster-se ao máximo dos vícios e excessos materiais.
O paciente, por outro lado, precisa estar com a mente receptiva, isto é, em sintonia com ambiente espiritual através de pensamentos cristãos e com o desejo real da cura. Será curado ou será apenas paliativo? Tudo vai depender do tipo da doença e de seu estágio no processo espiritual. Estar com a mente receptiva é sempre indispensável em qualquer caso, para, pelo menos causar o alívio. Contudo, a "Evangelhoterapia" é a grande chave para a cura real, já que convida o Espírito a renovar-se interiormente, abandonar seus antigos hábitos, esforçar-se para domar suas más inclinações, lidar com as dificuldades da vida, compreender, tolerar, perdoar e autoperdoar-se, canalizar, enfim, seus potenciais para o Bem.
Dessa forma, o Espírito educa-se superando suas dificuldades nas provas, adquirindo paciência nas expiações, mais força nas missões e vigilância contra a imprudência. De qualquer forma, a fé racional levará, com certeza, a uma grande resignação ativa diante da vida, trazendo esperanças e consolações. O Espiritismo tem, pois, como principal objetivo não o de curar os corpos, mas sim as almas, conduzindo à reforma das massas e trazendo o bem-estar físico, psíquico, social e, acima de todos, o espiritual.

quinta-feira, 24 de outubro de 2019

NOSSOS PENSAMENTOS[1]



Miramez

Os Espíritos podem conhecer os nossos pensamentos mais secretos?
‒ Conhecem, muitas vezes, aquilo que desejaríeis ocultar a vós mesmos; nem atos, nem pensamentos podem ser dissimulados para eles.
Assim sendo, pareceria mais fácil ocultar-se uma coisa a uma pessoa viva, pois não o podemos fazer a essa mesma pessoa depois de morta?
‒ Certamente, pois quando vos julgais bem escondidos, tendes muitas vezes ao vosso lado uma multidão de Espíritos que vos veem.
Questão 457/Livro dos Espíritos

A telepatia é fato comum entre os Espíritos, de modo que as vibrações mentais têm voz na dimensão que lhes é própria. Os Espíritos elevados podem observar nossos mais secretos pensamentos, no entanto, existem Espíritos que não conseguem conhecê-los, por se encontrarem nas baixas vibrações espirituais. Tudo se prende à evolução de cada um: os Espíritos conseguem manter seus pensamentos ocultos aos seus inferiores, mas não podem fazê-lo com relação àqueles que lhe são superiores.
A vida é uma sucessão de valores na pauta da sabedoria, indo até Deus. Nada é oculto que Deus não venha, a saber, por ser Ele o Senhor de todas as ciências do universo. No porvir, não tão longe como se pensa, o homem vai dominar a telepatia e poderá conversar à distância, na mais perfeita concordância com os outros. Os exemplos são os médiuns, que já recebem livros e mais livros por esse processo telepático. O Espírito pode estar em grandes distâncias e transmitir para os médiuns, que estes recebem como se estivessem ouvindo-o frente a frente, até com mais nitidez.
O treinamento mais comum para tal mediunidade é a leitura a sós. Deste modo, está se conversando consigo mesmo. Com os recursos da telepatia, esse exercício vai se estendendo até chegar a ouvir sem embaraço os Espíritos, ou mesmo as conversações dos homens, à distância. É uma faculdade inerente a todos os seres. Compete desenvolvê-la com os recursos ao alcance de cada um. O trabalho que os homens fazem, de ondas e micro-ondas, e outros processos mais sofisticados, é uma prova de que se pode transmitir os pensamentos aonde quer que seja, sem as barreiras dos obstáculos da natureza, porque os pensamentos pertencem à outra fonte mais purificada, em se tratando de dimensões das coisas sutis.
A ciência de telepatia entre os homens está esperando que eles reconheçam seus valores e passem a amar seus irmãos, limpando o ódio do coração, o orgulho e o egoísmo da sua vida.
Tudo melhora por fora, à medida que se melhora por dentro d’alma. Nossos pensamentos são forças divinas, que podem nos trazer a paz na consciência. Eles podem nos fartar de coisas materiais, podem nos vestir e assegurar nosso equilíbrio em todos os corpos que nos servem pelos caminhos da vida.
É bom que nos lembremos de que temos testemunhas espirituais que registram todos os nossos atos. Negar o que fazemos é complicar nossos destinos. Jesus veio nos ensinar também a pensar. Pelos seus luminosos ensinamentos, mostrou-nos à luz do sol os Seus mais puros sentimentos e as Suas mais belas atitudes, na Sua passagem pela Terra.
Quando a criatura se julga muito só, pensando o que não deveria pensar, pode ter em seu redor multidão de Espíritos ouvindo- a como se falasse pelos processos do verbo. Nossos pensamentos nos mostram o que somos na realidade, porque, quando estamos pensando, escrevemos no livro de Deus, que fica aberto para os que sabem ler.




[1] Filosofia Espírita – Volume 9 – João Nunes Maia

quarta-feira, 23 de outubro de 2019

A genética descobre o Espírito[1]



Edson G. Tristão

Genética é a parte da biologia que estuda a hereditariedade ou os mecanismos pelos quais os caracteres são transmitidos, de geração a geração, entre os seres vivos. Ela passou a ser conhecida graças às pesquisas do monge austríaco Gregor Johan Mendel (1822-1884), quando estudou as ervilhas lisas e rugosas, publicando as chamadas Leis de Mendel, em 1866. Nesse trabalho, Mendel demonstrou as evidências científicas que regulavam a transmissão dos caracteres entre diferentes gerações.
Em 1953, o físico inglês Francis H. C. Crick e o geneticista americano James D. Watson publicaram, na revista Nature, a descoberta da estrutura tridimensional em dupla hélice da molécula de DNA, contida no gene. Essa estrutura foi chamada pelos biólogos da época de Molécula da Vida e foi vista como responsável pela transmissão de informações biológicas aos descendentes. Acreditava-se que tudo era herança dos pais, desde a obesidade, câncer, doenças mentais, até os comportamentos de tristeza, alegria e felicidade. Quem herdasse uma boa carga genética seria saudável, enquanto aqueles com carga genética ruim teriam problemas na saúde física ou mental.
Essa teoria teve seu auge entre 1980-2003, quando era desenvolvido o Projeto Genoma, pois pensava-se que, a partir do mapeamento genético realizado no nascimento das pessoas, seria possível obter um protocolo completo das doenças e dificuldades que ela teria durante sua vida, mostrando assim um destino a ser cumprido para cada ser, dependendo da sorte ou azar com sua carga genética.  Ao ser concluído esse estudo, veio a decepção. O ser humano seria portador de apenas 25.000 genes (próximo dos vermes com 24.000 e das moscas com 15.000). O orgulho humano ficou mais ferido ainda quando se registrou que, entre nós e os chimpanzés, existiriam 99% dos mesmos genes, com a diferença de apenas 1%.
Constatou-se também que somente 5 a 15% deles são ativos e participam do mecanismo liga-desliga (ligação dos genes que permite a formação regular das proteínas que são os tijolos do nosso organismo). Os restantes ficam aguardando o momento de serem acionados ou não. Eles possuem a capacidade de fabricar as proteínas, mas apenas de forma codificada, e esse código pode ser ativado por uma série de fatores, como alimentar, meio ambiente, culturais etc. Através dos estímulos captados no meio ambiente e dependendo das decisões tomadas pelo livre-arbítrio, os genes são ativados e passam a fabricar novas proteínas (tijolos), ao invés de apenas uma de cada vez como se acreditava.
A partir dessas constatações, acabava a Ditadura dos Genes[2], que não poderiam mais ser os responsáveis por todos os problemas, sucessos e fracassos do ser humano.
Algumas conclusões científicas passaram a ser conhecidas como:
a) O gene não produz a informação, ele apenas a transmite.
b) Quais proteínas o gene deve fabricar e sob quais condições e circunstâncias?
c) De onde vem a ordem para que o RNA ‒ Mensageiro autorize a fabricação de novas proteínas?
Na última década, muitos cientistas vêm estudando os mecanismos bioquímicos e moleculares, por meio dos quais os genes são ativados e desativados, sob a influência do meio ambiente e que ajudariam a controlar a atividade genética, nascendo assim uma nova ciência, a Epigenética. Entre eles, o biólogo norte americano Bruce H. Lipton, um dos pioneiros na pesquisa com células tronco, (A Biologia da Crença)[3], Kazuo Murakami, pesquisador japonês radicado nos Estados Unidos, (Código Divino da Vida)[4] e Kelle Evely Fox, (The Century of the Gene)[5].
Seus estudos, somados aos de outros pesquisadores, chegaram a conclusões até então pouco valorizadas pela ciência. A simples presença do gene em uma pessoa não implica em que o mesmo possa desenvolver uma doença. Ele funcionaria, apenas, como um programa de computador.  É preciso que outros fatores, como os ambientais e emocionais, participem para dar prosseguimento à ação e, dependendo da reação de cada organismo vivo, ao lidar com esses estímulos, poderia acionar a senha, que coloca o programa em execução. Os cientistas explicam que o DNA é salpicado por milhares de proteínas e outras moléculas, que catalisam ações do meio ambiente e que vão interferir nessa atividade. Eva Jarlonska e Elamb Marion Jr., (Evolution in Four Dimention)[6] enumeram os possíveis níveis dos fatores que participam e podem interferir nessa atividade:
a) Genética (DNA), sexo, mutações;
b) Epigenética (meio ambiente interno e externo);
c) Comportamento (estilo de vida) e
d) Simbólico (linguagem, crenças e comunicação).
Para essas pesquisadoras, as crises em nossas vidas são fatores fundamentais e necessários para estimular a relação dos genes com o mecanismo liga-desliga e são efetivas nas mudanças genéticas, como forma de fortalecimento do organismo de cada um. Para estimular essa ativação dos genes, Bruce Lípton (A biologia da Crença) recomenda às pessoas sair da rotina, mudar eventualmente de emprego, exporem-se a ambientes diferentes, países, relacionamentos sociais etc.
Murakami (Código Divino da Vida), p. 176, expressa bem o pensamento desses cientistas da Epigenética: Nossos genes, unidades contidas no núcleo de minúsculas células, possuem três bilhões de combinações de quatro letras químicas que se unem em pares… Eles são matéria e não é possível que as “ordens” venham apenas deles, devendo ter uma “Consciência Divina”, “Algo Maior” em outra dimensão que não a biológica que transmite esta ordem… O destino das pessoas não está escrito no genoma.  Os genes são apenas códigos, o projeto e não a vida. Se a vida estivesse em nossos genes, onde ela estaria?
Parece que, finalmente, a ciência começa a descobrir o Espírito.
Gregg Braden é outro pesquisador que tem abordado esse tema. Na obra (Awakening to zero point)[7], descreve várias experiências, uma delas com DNA e seu doador, distantes 80 km. O DNA se contrai ou retifica conforme as emoções positivas ou negativas do doador. Afirma que o mundo científico está sendo levado a acreditar que vivemos em um campo de energia que interliga e se comunica com todas as partes e ao mesmo tempo. Fato esse já defendido pela física quântica como relata Osny Ramos (A Física Quântica em Nossa Vida)[8], ao abordar a Teoria Quântica de Campo.
A Doutrina Espírita, por meio de uma visão não apenas física, traz muitas contribuições para a genética, já que seus conceitos não contradizem as descobertas atuais, mas ajudam a corroborá-las.  Em O Livro dos Espíritos[9], 8 publicado por Allan Kardec, em 18 de abril de 1857, registram-se as descrições pormenorizadas a respeito da pluralidade das existências e o papel do perispírito. A partir desse entendimento, explica-se a expansão da família espiritual (pais e irmãos, que podem ser diferentes em cada renascimento), criando-se uma concepção ampliada dos caracteres genéticos, assim como sua transmissão. O conceito de erro, pelo comportamento equivocado do ser humano no uso do livre-arbítrio, leva o perispírito a mudar suas matrizes (forma), levando a alterações orgânicas no nascimento, demonstrando, dessa forma, a força da genética espiritual. Em outros momentos, determinadas alterações do genoma físico são causadas por interferência de mentores espirituais, como forma de justiça e reequilíbrio do Espírito, por atos realizados em vidas passadas, fruto da imaturidade que agora precisa valorizar a saúde do corpo físico através da doença que se materializa pela genética do Espírito.
A Epigenética e a Física Quântica são ramos atuais da ciência que chegam ao Fluido Cósmico Universal (energia que permeia o Universo, interligando tudo e ao mesmo tempo) e ao Espírito (autor da ordem que faz o RNA ‒ Mensageiro levar ao gene estímulo certo para produzir determinada proteína), fortalecendo assim os ensinamentos espíritas. Através da união entre religião e ciência, os horizontes de análise se alargam e trazem ao ser humano em evolução o aprendizado necessário para seu crescimento na Terra.




[2] OLIVEIRA, Carlos Roberto de Souza. O Determinismo Genético. Conectando – Ciência, Saúde e spiritualidade. Porto Alegre: Francisco Spinelli, 2015.
[3] LIPTON, H. Bruce. A Biologia da Crença. São Paulo: Butterfly, 2007.
[4] MURAKAMI, Kazuo. Código Divino da Vida. São Paulo: Pro Libera, 2008.
[5] KELLER, Evelyn Fox. The Century of the Gene. Harvard University Press, 2002.
[6] JABLONKA. Eva & LAMB, Marion J. Evolution in four Dimensions. São Paulo: Companhia das Letras, 2010.
[7] BRADDEN, Greg. Awakening to Zero Point. 2010.
[8] RAMOS, Osny. A Física Quântica em Nossa Vida. Blumenau: Odorizza, 2008.
[9] KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. São Paulo: LAKE, 2012.

terça-feira, 22 de outubro de 2019

ESTUDO SOBRE A MEDIUNIDADE[1]


(Sociedade de Paris, 7 de abril de 1865 – Médium: Sr. Costel)

Não se devem erigir em sistemas os ditados mal concebidos e mal expressos, que desnaturam totalmente a inspiração mediúnica, se é que esta tenha existido. Deixo a outros o cuidado de explicar a teoria do progresso, porque é inútil que todos os médiuns tratem do mesmo assunto. Vou ocupar-me da mediunidade, esse tema inesgotável de pesquisas e estudos.
A mediunidade é uma faculdade inerente à natureza do homem; nem é uma exceção, nem um favor, e faz parte do grande conjunto humano. Como tal está sujeita às variações físicas e às desigualdades morais; sofre o temível dualismo do instinto e da inteligência. Possui seus gênios, sua multidão e suas anomalias.
Jamais se devem atribuir aos Espíritos – e por estes eu me refiro aos que são elevados – esses ditados sem fundo e sem forma, que aliam à sua nulidade o ridículo de serem assinados por nomes ilustres. A mediunidade séria só investe em cérebros providos de uma instrução suficiente ou, pelo menos, provados pelas lutas passionais. Os melhores médiuns são os únicos a receber o afluxo espiritual; os outros sofrem tão-somente o impulso fluídico material, que lhes movimenta as mãos, sem fazer que sua inteligência produza algo que já não disponha em estado latente. É preciso encorajá-los a trabalhar, mas não iniciar o público em suas elucubrações.
As manifestações espíritas devem ser feitas com a maior reserva; se for indispensável acumular, para a dignidade pessoal, todas as provas de uma perfeita boa-fé em torno das experiências físicas, pelo menos importa preservar as comunicações espirituais do ridículo, que muito facilmente se prendem às ideias e aos sistemas assinados irrisoriamente por nomes célebres, que são e continuarão sempre estranhos a essas produções. Não ponho em dúvida a lealdade das pessoas que, recebendo o choque elétrico, o confundem com a inspiração mediúnica. A Ciência tem seus pseudosábios, a mediunidade os seus falsos médiuns, na ordem espiritual, bem entendido.
Tento estabelecer aqui a diferença que existe entre os médiuns inspirados pelos fluidos espirituais e os que não agem senão pelo impulso fluídico corporal, isto é, os que vibram intelectualmente e aqueles cuja ressonância física só leva à produção confusa e inconsciente de suas próprias ideias, ou de ideias vulgares e sem alcance.
Existe, pois, uma linha de demarcação muito nítida entre os médiuns escreventes: uns obedecendo à influência espiritual, que só os leva a escrever coisas úteis e elevadas; outros, sofrendo a influência fluídica material que age sobre seus órgãos cerebrais, como os fluidos físicos agem sobre a matéria inerte. Esta primeira classificação é absoluta, mas admite uma porção de variedades intermediárias. Aqui indico os principais traços de um estudo importante, que outros Espíritos completarão. Somos os pioneiros do progresso terrestre, e solidários uns com os outros.
Na falange espírita formamos o núcleo do futuro.
Georges

Observação – A frase na qual o Espírito diz que deixa a outros o cuidado de explicar a teoria do progresso, é motivada por diversas perguntas que tinham sido propostas sobre o assunto na sessão. Quando diz que a mediunidade é um tema inesgotável de pesquisas e estudos, está perfeitamente certo.
Embora o estudo desta parte integrante do Espiritismo esteja longe de ser completa, já estamos longe do tempo em que se acreditava que bastasse receber um impulso mecânico para se dizer médium e se julgar apto a receber comunicações de todos os Espíritos. Isto equivaleria a pensar que o primeiro que tocasse uma pequena ária ao piano devesse ser necessariamente um excelente músico. O progresso da ciência espírita, que diariamente se enriquece com novas observações, mostra-nos a quantas causas diferentes e influências delicadas, que não se suspeitava, são submetidas as relações inteligentes com o mundo espiritual. Os Espíritos não podiam ensinar tudo ao mesmo tempo; mas, como hábeis professores, à medida que as ideias se desenvolvem, entram em maiores detalhes e desdobram os princípios que, dados prematuramente, não teriam sido compreendidos e teriam confundido o nosso pensamento.
A mediunidade exige, pois, um estudo sério da parte de quem quer que veja no Espiritismo uma coisa séria. À medida que os verdadeiros mecanismos desta faculdade forem mais bem conhecidos, estaremos menos expostos às decepções, porque saberemos o que ela pode dar e em que condições poderá fazê-lo.
Quanto mais houver pessoas esclarecidas sobre este ponto, menos vítimas haverá do charlatanismo.




[1] Revista Espírita – Maio/1865 – Allan Kardec

segunda-feira, 21 de outubro de 2019

INÁCIO BITTENCOURT[1]


   


Nascido a 19 de abril de 1862, na Ilha Terceira, Arquipélago dos Açores, Freguesia da Sé de Angra do Heroísmo (Portugal), e desencarnado no Rio de Janeiro a 18 de fevereiro de 1943.
Em plena juventude, emigrou para o Brasil, sem alimentar ideia de enriquecimento, mas buscando um ideal que sua intuição afirmava poder encontrar em sua segunda pátria.
Sem qualquer proteção ou amparo, desembarcou no Rio de Janeiro, sozinho e com irrisória quantia no bolso. Entretanto, já era um jovem de caráter sério e de grandes dotes morais.
Inácio Bittencourt foi um desses abnegados, que só se alegravam com a alegria do seu semelhante. Por isso foi aquinhoado com a mediunidade natural, que geralmente depende da evolução espiritual do indivíduo. Ela surgiu espontaneamente, sem qualquer esforço de planejamento, como um imperativo da essência de sua alma boa e sempre disposta à prática do bem.
Aos vinte anos de idade inteirou-se da verdade espírita. Bastante enfermo e desesperançado, foi levado à presença de um médium chamado Cordeiro, residente na Rua da Misericórdia, no Rio de Janeiro, e, graças ao auxílio espiritual recebido, teve a sua saúde completamente restabelecida.
Inconformado com a rapidez da cura, voltou e indagou do médium: "Não sendo o senhor médico, não indagando quais eram os meus padecimentos e não me tendo auscultado ou apalpado qualquer um dos órgãos, como pôde curar-me?"
E a resposta veio incontinenti: "Leia O Evangelho Segundo o Espiritismo e O Livro dos Espíritos. Medite bastante e neles encontrará a resposta para a sua indagação".
Bittencourt seguiu o conselho e, desde logo, com grande surpresa e naturalidade, se apresentaram nele algumas faculdades mediúnicas.
Descortinando novos horizontes, rompido o véu que impedia que conhecesse novas verdades, integrou-se resolutamente na tarefa de divulgação evangélica e de assistência espiritual aos mais necessitados.
Bem cedo, com trinta anos de idade, sua personalidade alcançou grande destaque nos meios espíritas e mesmo fora deles. Poderia ter alcançado culminância na política, desde que aceitasse a indicação de seu nome para uma chapa de deputado, uma vez que era apoiado por vários senadores da República. Sua vitória na eleição não sofreria dúvida. Porém, sempre humilde, fugindo aos movimentos alheios à caridade, preferiu viver no seu mundo, no qual reinava a figura exponencial e amorosa de Jesus Cristo.
Fundou a 1º de maio de 1912, e dirigiu-o durante mais de trinta anos, o semanário "Aurora", que se tornou conhecido e apreciado veículo de divulgação doutrinária. Sob sua presidência foi fundado em 1919 o "Abrigo Tereza de Jesus", tradicional obra assistencial até hoje em pleno funcionamento, com larga soma de benefícios a crianças desamparadas, de ambos os sexos.
Fundou o Centro Cáritas, juntamente com Samuel Caldas e Viana de Carvalho, presidindo-o até a data da sua desencarnação. Tomou parte ativa na fundação da "União Espírita Suburbana" e do "Asilo Legião do Bem", que acolhe vovozinhas desamparadas. Durante alguns anos exerceu também a Vice-Presidência da Federação Espírita Brasileira, presidiu o "Centro Humildade e Fé", onde nasceu a "Tribuna Espírita", por ele dirigida durante alguns anos.
A mediunidade receitista e curadora de Inácio Bittencourt mereceu diversas opiniões. Algumas vezes chegou a ser processado "por exercício ilegal da medicina", mas sempre foi absolvido. Em 1923 houve um acordão importante do Supremo Tribunal Federal, a respeito.
Certa vez, no Centro Cáritas, ao ensejo de uma prece, ouviram-se na sala, de forma bastante nítida, acordes de um violino. O artista invisível executava estranha e belíssima melodia, envolvendo a todos em profunda emoção.
Bittencourt, então, salientou que aquela audição representava magnânima manifestação da graça de Jesus Cristo, permitindo que chegasse ao grupo o de que mais ele necessitava, para compreender a ressonância de uma prece sincera no plano divino.
Manifestações dessa natureza não eram raras no Centro Cáritas, possibilitando sempre vibrações amorosas dos encarnados, protegidas pelos Mentores Espirituais, de maneira que essas forças ali chegavam para as sensibilizantes demonstrações de afeto e carinho.
Não foi somente como médium receitista e curador que Inácio Bittencourt grangeou a notoriedade, a estima e a admiração de todos, mas igualmente como médium apto a receber do Alto maravilhosa inspiração que, durante larga fase do seu mediunato, se manifestou notória e admirável, sempre que ele assomava às tribunas doutrinárias, principalmente à da Federação Espírita Brasileira, a cujas sessões de estudos comparecia com bastante assiduidade.
Embora não fosse dotado de cultura acadêmica, escrevia artigos doutrinários de forma surpreendente, e fazia uso da palavra em auditórios espíritas de forma bastante eloquente. O simples fato de dirigir um jornal de grande penetração como o foi "Aurora", demonstra a fibra e o valor desse seareiro incomparável e incansável.
Com 80 anos de idade, retornou à pátria espiritual, após lenta agonia.
Dias antes da sua desencarnação, com a coragem e a serenidade de um justo, ditara para os seus familiares os termos do convite para os seus funerais: "A família Inácio Bittencourt comunica o seu falecimento. A pedido do morto, dispensam-se flores". Dona Rosa, sua bondosa companheira, ponderou: "Você amontoou flores na vida terrena, e essas flores virão agora engalanar a sua vida espiritual". O velho seareiro, dando, mais uma vez, prova admirável da capacidade de transigência do seu Espírito altamente evoluído, aquiesceu: "Está bem. Concordo com você e aceito as flores. Elas significarão a simpatia e o afeto de bondosos amigos para com o meu Espírito. Mas desejo que se transformem na derradeira homenagem que presto a você, nesta encarnação, ofertando-lhas logo após recebê-las. Nosso filho Israel se encarregará de proceder à oferenda".
Inácio Bittencourt foi um exemplo vivo de virtudes santificantes. A todos os golpes de malquerença e a todos os gestos de ofensa, sempre replicava com sorriso e perdão. Soube sempre ser tolerante e compreensivo para com aqueles que o criticavam. Levou sempre a assistência material e espiritual a todos aqueles que dela necessitavam, fazendo com que sua ação fecunda e benfazeja se baseasse sempre nos lídimos preceitos evangélicos, pois, como poucos, ele soube viver e praticar os ensinamentos do Meigo Rabi da Galileia.
Falando com clareza e simplicidade, esforçou-se sempre em desvendar, para os seus semelhantes, o véu que oculta as verdades eternas que os homens chamam de mistérios divinos. Caminhou sempre sem protestos ou lamentações.
Que a vida bem vivida desse grande propagador do Espiritismo possa nos servir de bússola a fim de nos orientar nos momentos de vacilações e de tribulações.
As curas operadas através da mediunidade de Inácio Bittencourt foram das mais marcantes. Inúmeros casos, que eram considerados perdidos pela medicina oficial, foram resolvidos pela sua interferência, tornando-se assim um ponto de convergência para os sofredores de todos os matizes.
(Subsídios fornecidos por Artur Silva Araújo)




[1] Os Grandes Vultos do Espiritismo – Paulo Alves Godoy

sábado, 19 de outubro de 2019

DEPRESSÃO ENCONTRO COM A VERDADE SOBRE SI MESMO[1]



Francisco Ortolan

Temos vivido momentos difíceis, momentos de aflição, desistência, desilusão, insatisfação com tudo e com todos. O que fazer para aceitar a si mesmo, aprendendo a gostar do que é, do que tem e do que faz? Perguntas que, geralmente, ficam sem respostas por não nos conhecermos. Lembrando Sócrates (450 anos a.C.), quando disse: “Conhece-te a ti mesmo”, e em seguida Jesus: “Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”. De que verdade ele estava falando senão sobre nós mesmos?
Inicialmente, teremos que compreender o que realmente está acontecendo conosco, para então, a partir daí começar a fazer o caminho de volta. Ermance Dufaux define a depressão assim: “Condição mental da alma que começa a resgatar o encontro com a verdade sobre si mesma depois de milênios nos labirintos da ilusão”.
Considerada a doença da alma, a depressão é a “doença-prisão”, que caça a liberdade da criatura rebelde, viciada em ter seus caprichos atendidos. Parece um pouco cruel essas palavras, mas se olharmos para trás veremos quão rebelde somos diante daqueles que são ou pensam diferente de nós.
Somos espíritos milenares, e assim sendo, acumulamos o vício do prazer sem limites e hoje temos dificuldades em aceitar as frustrações do ato de viver. Enfim, depressão é a reação da alma que não aceitou sua realidade pessoal como ela é, por não se aceitar como é, o que tem e o que faz. Se observarem com mais afinco, veremos que o depressivo tem baixa autoestima, ausência de prazer e redução na alegria de viver.
Relacionarei alguns itens consequentes da depressão, e convido a fazer uma introspecção questionando-se:
1 – A insegurança obsessiva;
2 – A ansiedade inexplicável;
3 – A solidão em grupo;
4 – A aterrorizante sensação de abandono;
5 – Sentir-se inútil;
6 – O desencanto com os amigos;
7 – A indisposição de conviver com os diferentes;
8 – A insatisfação com o corpo;
9 – O apego aos fatos passados;
10 – A inveja do sucesso alheio;
11 – A desistência de ser feliz;
12 – Fixação dos pontos de vista;
13 – O medo do futuro.

Enfim, são intermináveis os estados emocionais que a depressão causa. E o medo de ser rejeitado e a necessidade de controlar a vida confirmam nosso desajuste diante dessa existência. Ora somos escravos das lembranças do passado, ora temos medo do futuro.
Aí você me pergunta: Como se libertar de tudo isso? A solução está dentro de nós. Nossa libertação está em deixar de desejar para fazer o que se deve. A maioria de nós procura preencher o “vazio”, mas isso vem acompanhado de arrependimento e culpa. Jung chamou isso de processo de individuação.
A terapia de Gestalt criada pelo Dr. Frederick Perls, aparentemente, parece um pouco cruel e individualista, mas extremamente necessária para nossa “cura”. Ele diz assim:
Eu faço as minhas vontades e você faz as suas. Eu não estou neste mundo para viver de acordo com as suas expectativas, e você não está neste mundo para viver de acordo com as minhas. Eu sou eu e você é você. Se um dia nos encontrarmos, vai ser lindo! Se não, nada há de se fazer.
Devido nossa carência e a necessidade de aprovação, queremos agradar o outro sem se preocupar conosco, e aí que causa o conflito. Bastaria lembrar do Cristo quando nos chama de hipócritas: “Primeiro tira a trave do seu olho, para depois tirar o argueiro do olho de vosso irmão”. Querendo dizer que primeiro precisamos olhar para nós. Se eu me perdoar, aprendo a perdoar o outro; se eu me aceitar, aceito o outro e se eu admitir que erro, fica mais fácil de aceitar o erro do outro. Isso chama-se alteridade.
Quando aprendermos a manter uma relação de amor e perdão para conosco, aumentaremos nossa autoestima e superaremos essa dor que tanto assola a humanidade.


Fonte: Agenda Espírita Brasil