(Sociedade de Paris,
7 de abril de 1865 – Médium: Sr. Costel)
Não se devem erigir em
sistemas os ditados mal concebidos e mal expressos, que desnaturam totalmente a
inspiração mediúnica, se é que esta tenha existido. Deixo a outros o cuidado de
explicar a teoria do progresso, porque é inútil que todos os médiuns tratem do
mesmo assunto. Vou ocupar-me da mediunidade, esse tema inesgotável de pesquisas
e estudos.
A mediunidade é uma
faculdade inerente à natureza do homem; nem é uma exceção, nem um favor, e faz
parte do grande conjunto humano. Como tal está sujeita às variações físicas e
às desigualdades morais; sofre o temível dualismo do instinto e da inteligência.
Possui seus gênios, sua multidão e suas anomalias.
Jamais se devem
atribuir aos Espíritos – e por estes eu me refiro aos que são elevados – esses
ditados sem fundo e sem forma, que aliam à sua nulidade o ridículo de serem
assinados por nomes ilustres. A mediunidade séria só investe em cérebros providos
de uma instrução suficiente ou, pelo menos, provados pelas lutas passionais. Os
melhores médiuns são os únicos a receber o afluxo espiritual; os outros sofrem
tão-somente o impulso fluídico material, que lhes movimenta as mãos, sem fazer
que sua inteligência produza algo que já não disponha em estado latente. É preciso
encorajá-los a trabalhar, mas não iniciar o público em suas elucubrações.
As manifestações
espíritas devem ser feitas com a maior reserva; se for indispensável acumular,
para a dignidade pessoal, todas as provas de uma perfeita boa-fé em torno das experiências
físicas, pelo menos importa preservar as comunicações espirituais do ridículo,
que muito facilmente se prendem às ideias e aos sistemas assinados
irrisoriamente por nomes célebres, que são e continuarão sempre estranhos a
essas produções. Não ponho em dúvida a lealdade das pessoas que, recebendo o
choque elétrico, o confundem com a inspiração mediúnica. A Ciência tem seus
pseudosábios, a mediunidade os seus falsos médiuns, na ordem espiritual, bem
entendido.
Tento estabelecer aqui
a diferença que existe entre os médiuns inspirados pelos fluidos espirituais e
os que não agem senão pelo impulso fluídico corporal, isto é, os que vibram intelectualmente
e aqueles cuja ressonância física só leva à produção confusa e inconsciente de
suas próprias ideias, ou de ideias vulgares e sem alcance.
Existe, pois, uma
linha de demarcação muito nítida entre os médiuns escreventes: uns obedecendo à
influência espiritual, que só os leva a escrever coisas úteis e elevadas;
outros, sofrendo a influência fluídica material que age sobre seus órgãos cerebrais,
como os fluidos físicos agem sobre a matéria inerte. Esta primeira
classificação é absoluta, mas admite uma porção de variedades intermediárias.
Aqui indico os principais traços de um estudo importante, que outros Espíritos
completarão. Somos os pioneiros do progresso terrestre, e solidários uns com os
outros.
Na falange espírita
formamos o núcleo do futuro.
Georges
Observação – A
frase na qual o Espírito diz que deixa a outros o cuidado de explicar a teoria
do progresso, é motivada por diversas perguntas que tinham sido propostas sobre
o assunto na sessão. Quando diz que a mediunidade é um tema inesgotável de pesquisas
e estudos, está perfeitamente certo.
Embora o estudo desta parte integrante do Espiritismo esteja
longe de ser completa, já estamos longe do tempo em que se acreditava que
bastasse receber um impulso mecânico para se dizer médium e se julgar apto a
receber comunicações de todos os Espíritos. Isto equivaleria a pensar que o
primeiro que tocasse uma pequena ária ao piano devesse ser necessariamente um
excelente músico. O progresso da ciência espírita, que diariamente se enriquece
com novas observações, mostra-nos a quantas causas diferentes e influências
delicadas, que não se suspeitava, são submetidas as relações inteligentes com o
mundo espiritual. Os Espíritos não podiam ensinar tudo ao mesmo tempo; mas,
como hábeis professores, à medida que as ideias se desenvolvem, entram em
maiores detalhes e desdobram os princípios que, dados prematuramente, não
teriam sido compreendidos e teriam confundido o nosso pensamento.
A mediunidade exige, pois, um estudo sério da parte de quem
quer que veja no Espiritismo uma coisa séria. À medida que os verdadeiros
mecanismos desta faculdade forem mais bem conhecidos, estaremos menos expostos
às decepções, porque saberemos o que ela pode dar e em que condições poderá
fazê-lo.
Quanto mais houver pessoas esclarecidas sobre este ponto,
menos vítimas haverá do charlatanismo.
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