Edson G. Tristão
Genética é a parte da biologia
que estuda a hereditariedade ou os mecanismos pelos quais os caracteres são
transmitidos, de geração a geração, entre os seres vivos. Ela passou a ser
conhecida graças às pesquisas do monge austríaco Gregor Johan Mendel
(1822-1884), quando estudou as ervilhas lisas e rugosas, publicando as chamadas
Leis de Mendel, em 1866. Nesse trabalho, Mendel demonstrou as evidências
científicas que regulavam a transmissão dos caracteres entre diferentes
gerações.
Em 1953, o físico inglês Francis
H. C. Crick e o geneticista americano James D. Watson publicaram, na revista
Nature, a descoberta da estrutura tridimensional em dupla hélice da molécula de
DNA, contida no gene. Essa estrutura foi chamada pelos biólogos da época de
Molécula da Vida e foi vista como responsável pela transmissão de informações
biológicas aos descendentes. Acreditava-se que tudo era herança dos pais, desde
a obesidade, câncer, doenças mentais, até os comportamentos de tristeza,
alegria e felicidade. Quem herdasse uma boa carga genética seria saudável,
enquanto aqueles com carga genética ruim teriam problemas na saúde física ou
mental.
Essa teoria teve seu auge entre
1980-2003, quando era desenvolvido o Projeto Genoma, pois pensava-se que, a
partir do mapeamento genético realizado no nascimento das pessoas, seria
possível obter um protocolo completo das doenças e dificuldades que ela teria
durante sua vida, mostrando assim um destino a ser cumprido para cada ser, dependendo
da sorte ou azar com sua carga genética.
Ao ser concluído esse estudo, veio a decepção. O ser humano seria
portador de apenas 25.000 genes (próximo dos vermes com 24.000 e das moscas com
15.000). O orgulho humano ficou mais ferido ainda quando se registrou que,
entre nós e os chimpanzés, existiriam 99% dos mesmos genes, com a diferença de
apenas 1%.
Constatou-se também que somente
5 a 15% deles são ativos e participam do mecanismo liga-desliga (ligação dos
genes que permite a formação regular das proteínas que são os tijolos do nosso
organismo). Os restantes ficam aguardando o momento de serem acionados ou não.
Eles possuem a capacidade de fabricar as proteínas, mas apenas de forma
codificada, e esse código pode ser ativado por uma série de fatores, como
alimentar, meio ambiente, culturais etc. Através dos estímulos captados no meio
ambiente e dependendo das decisões tomadas pelo livre-arbítrio, os genes são
ativados e passam a fabricar novas proteínas (tijolos), ao invés de apenas uma
de cada vez como se acreditava.
A partir dessas constatações,
acabava a Ditadura dos Genes[2],
que não poderiam mais ser os responsáveis por todos os problemas, sucessos e
fracassos do ser humano.
Algumas conclusões científicas
passaram a ser conhecidas como:
a) O gene não produz a
informação, ele apenas a transmite.
b) Quais proteínas o gene deve
fabricar e sob quais condições e circunstâncias?
c) De onde vem a ordem para que
o RNA ‒ Mensageiro autorize a fabricação de novas proteínas?
Na última década, muitos
cientistas vêm estudando os mecanismos bioquímicos e moleculares, por meio dos
quais os genes são ativados e desativados, sob a influência do meio ambiente e
que ajudariam a controlar a atividade genética, nascendo assim uma nova
ciência, a Epigenética. Entre eles, o
biólogo norte americano Bruce H. Lipton, um dos pioneiros na pesquisa com
células tronco, (A Biologia da Crença)[3],
Kazuo Murakami, pesquisador japonês radicado nos Estados Unidos, (Código Divino
da Vida)[4]
e Kelle Evely Fox, (The Century of the Gene)[5].
Seus estudos, somados aos de
outros pesquisadores, chegaram a conclusões até então pouco valorizadas pela
ciência. A simples presença do gene em uma pessoa não implica em que o mesmo
possa desenvolver uma doença. Ele funcionaria, apenas, como um programa de
computador. É preciso que outros
fatores, como os ambientais e emocionais, participem para dar prosseguimento à
ação e, dependendo da reação de cada organismo vivo, ao lidar com esses
estímulos, poderia acionar a senha, que coloca o programa em execução. Os
cientistas explicam que o DNA é salpicado por milhares de proteínas e outras
moléculas, que catalisam ações do meio ambiente e que vão interferir nessa
atividade. Eva Jarlonska e Elamb Marion Jr., (Evolution in Four Dimention)[6]
enumeram os possíveis níveis dos fatores que participam e podem interferir
nessa atividade:
a) Genética (DNA), sexo,
mutações;
b) Epigenética (meio ambiente
interno e externo);
c) Comportamento (estilo de
vida) e
d) Simbólico (linguagem, crenças
e comunicação).
Para essas pesquisadoras, as
crises em nossas vidas são fatores fundamentais e necessários para estimular a
relação dos genes com o mecanismo liga-desliga e são efetivas nas mudanças
genéticas, como forma de fortalecimento do organismo de cada um. Para estimular
essa ativação dos genes, Bruce Lípton (A biologia da Crença) recomenda às
pessoas sair da rotina, mudar eventualmente de emprego, exporem-se a ambientes
diferentes, países, relacionamentos sociais etc.
Murakami (Código Divino da
Vida), p. 176, expressa bem o pensamento desses cientistas da Epigenética:
Nossos genes, unidades contidas no núcleo de minúsculas células, possuem três
bilhões de combinações de quatro letras químicas que se unem em pares… Eles são
matéria e não é possível que as “ordens” venham apenas deles, devendo ter uma
“Consciência Divina”, “Algo Maior” em outra dimensão que não a biológica que
transmite esta ordem… O destino das pessoas não está escrito no genoma. Os genes são apenas códigos, o projeto e não
a vida. Se a vida estivesse em nossos genes, onde ela estaria?
Parece que, finalmente, a
ciência começa a descobrir o Espírito.
Gregg Braden é outro pesquisador
que tem abordado esse tema. Na obra (Awakening to zero point)[7],
descreve várias experiências, uma delas com DNA e seu doador, distantes 80 km.
O DNA se contrai ou retifica conforme as emoções positivas ou negativas do
doador. Afirma que o mundo científico está sendo levado a acreditar que vivemos
em um campo de energia que interliga e se comunica com todas as partes e ao
mesmo tempo. Fato esse já defendido pela física quântica como relata Osny Ramos
(A Física Quântica em Nossa Vida)[8],
ao abordar a Teoria Quântica de Campo.
A Doutrina Espírita, por meio de
uma visão não apenas física, traz muitas contribuições para a genética, já que
seus conceitos não contradizem as descobertas atuais, mas ajudam a
corroborá-las. Em O Livro dos Espíritos[9],
8 publicado por Allan Kardec, em 18 de abril de 1857, registram-se as
descrições pormenorizadas a respeito da pluralidade das existências e o papel
do perispírito. A partir desse entendimento, explica-se a expansão da família
espiritual (pais e irmãos, que podem ser diferentes em cada renascimento),
criando-se uma concepção ampliada dos caracteres genéticos, assim como sua
transmissão. O conceito de erro, pelo comportamento equivocado do ser humano no
uso do livre-arbítrio, leva o perispírito a mudar suas matrizes (forma),
levando a alterações orgânicas no nascimento, demonstrando, dessa forma, a
força da genética espiritual. Em outros momentos, determinadas alterações do
genoma físico são causadas por interferência de mentores espirituais, como
forma de justiça e reequilíbrio do Espírito, por atos realizados em vidas
passadas, fruto da imaturidade que agora precisa valorizar a saúde do corpo
físico através da doença que se materializa pela genética do Espírito.
A Epigenética e a Física
Quântica são ramos atuais da ciência que chegam ao Fluido Cósmico Universal
(energia que permeia o Universo, interligando tudo e ao mesmo tempo) e ao
Espírito (autor da ordem que faz o RNA ‒ Mensageiro levar ao gene estímulo
certo para produzir determinada proteína), fortalecendo assim os ensinamentos
espíritas. Através da união entre religião e ciência, os horizontes de análise
se alargam e trazem ao ser humano em evolução o aprendizado necessário para seu
crescimento na Terra.
[2]
OLIVEIRA, Carlos Roberto de Souza. O Determinismo
Genético. Conectando – Ciência, Saúde e spiritualidade. Porto Alegre: Francisco
Spinelli, 2015.
[3] LIPTON, H. Bruce. A Biologia da Crença. São Paulo:
Butterfly, 2007.
[6] JABLONKA. Eva & LAMB, Marion J. Evolution in four
Dimensions. São Paulo: Companhia das
Letras, 2010.
[9] KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. São Paulo: LAKE,
2012.
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