quarta-feira, 23 de outubro de 2019

A genética descobre o Espírito[1]



Edson G. Tristão

Genética é a parte da biologia que estuda a hereditariedade ou os mecanismos pelos quais os caracteres são transmitidos, de geração a geração, entre os seres vivos. Ela passou a ser conhecida graças às pesquisas do monge austríaco Gregor Johan Mendel (1822-1884), quando estudou as ervilhas lisas e rugosas, publicando as chamadas Leis de Mendel, em 1866. Nesse trabalho, Mendel demonstrou as evidências científicas que regulavam a transmissão dos caracteres entre diferentes gerações.
Em 1953, o físico inglês Francis H. C. Crick e o geneticista americano James D. Watson publicaram, na revista Nature, a descoberta da estrutura tridimensional em dupla hélice da molécula de DNA, contida no gene. Essa estrutura foi chamada pelos biólogos da época de Molécula da Vida e foi vista como responsável pela transmissão de informações biológicas aos descendentes. Acreditava-se que tudo era herança dos pais, desde a obesidade, câncer, doenças mentais, até os comportamentos de tristeza, alegria e felicidade. Quem herdasse uma boa carga genética seria saudável, enquanto aqueles com carga genética ruim teriam problemas na saúde física ou mental.
Essa teoria teve seu auge entre 1980-2003, quando era desenvolvido o Projeto Genoma, pois pensava-se que, a partir do mapeamento genético realizado no nascimento das pessoas, seria possível obter um protocolo completo das doenças e dificuldades que ela teria durante sua vida, mostrando assim um destino a ser cumprido para cada ser, dependendo da sorte ou azar com sua carga genética.  Ao ser concluído esse estudo, veio a decepção. O ser humano seria portador de apenas 25.000 genes (próximo dos vermes com 24.000 e das moscas com 15.000). O orgulho humano ficou mais ferido ainda quando se registrou que, entre nós e os chimpanzés, existiriam 99% dos mesmos genes, com a diferença de apenas 1%.
Constatou-se também que somente 5 a 15% deles são ativos e participam do mecanismo liga-desliga (ligação dos genes que permite a formação regular das proteínas que são os tijolos do nosso organismo). Os restantes ficam aguardando o momento de serem acionados ou não. Eles possuem a capacidade de fabricar as proteínas, mas apenas de forma codificada, e esse código pode ser ativado por uma série de fatores, como alimentar, meio ambiente, culturais etc. Através dos estímulos captados no meio ambiente e dependendo das decisões tomadas pelo livre-arbítrio, os genes são ativados e passam a fabricar novas proteínas (tijolos), ao invés de apenas uma de cada vez como se acreditava.
A partir dessas constatações, acabava a Ditadura dos Genes[2], que não poderiam mais ser os responsáveis por todos os problemas, sucessos e fracassos do ser humano.
Algumas conclusões científicas passaram a ser conhecidas como:
a) O gene não produz a informação, ele apenas a transmite.
b) Quais proteínas o gene deve fabricar e sob quais condições e circunstâncias?
c) De onde vem a ordem para que o RNA ‒ Mensageiro autorize a fabricação de novas proteínas?
Na última década, muitos cientistas vêm estudando os mecanismos bioquímicos e moleculares, por meio dos quais os genes são ativados e desativados, sob a influência do meio ambiente e que ajudariam a controlar a atividade genética, nascendo assim uma nova ciência, a Epigenética. Entre eles, o biólogo norte americano Bruce H. Lipton, um dos pioneiros na pesquisa com células tronco, (A Biologia da Crença)[3], Kazuo Murakami, pesquisador japonês radicado nos Estados Unidos, (Código Divino da Vida)[4] e Kelle Evely Fox, (The Century of the Gene)[5].
Seus estudos, somados aos de outros pesquisadores, chegaram a conclusões até então pouco valorizadas pela ciência. A simples presença do gene em uma pessoa não implica em que o mesmo possa desenvolver uma doença. Ele funcionaria, apenas, como um programa de computador.  É preciso que outros fatores, como os ambientais e emocionais, participem para dar prosseguimento à ação e, dependendo da reação de cada organismo vivo, ao lidar com esses estímulos, poderia acionar a senha, que coloca o programa em execução. Os cientistas explicam que o DNA é salpicado por milhares de proteínas e outras moléculas, que catalisam ações do meio ambiente e que vão interferir nessa atividade. Eva Jarlonska e Elamb Marion Jr., (Evolution in Four Dimention)[6] enumeram os possíveis níveis dos fatores que participam e podem interferir nessa atividade:
a) Genética (DNA), sexo, mutações;
b) Epigenética (meio ambiente interno e externo);
c) Comportamento (estilo de vida) e
d) Simbólico (linguagem, crenças e comunicação).
Para essas pesquisadoras, as crises em nossas vidas são fatores fundamentais e necessários para estimular a relação dos genes com o mecanismo liga-desliga e são efetivas nas mudanças genéticas, como forma de fortalecimento do organismo de cada um. Para estimular essa ativação dos genes, Bruce Lípton (A biologia da Crença) recomenda às pessoas sair da rotina, mudar eventualmente de emprego, exporem-se a ambientes diferentes, países, relacionamentos sociais etc.
Murakami (Código Divino da Vida), p. 176, expressa bem o pensamento desses cientistas da Epigenética: Nossos genes, unidades contidas no núcleo de minúsculas células, possuem três bilhões de combinações de quatro letras químicas que se unem em pares… Eles são matéria e não é possível que as “ordens” venham apenas deles, devendo ter uma “Consciência Divina”, “Algo Maior” em outra dimensão que não a biológica que transmite esta ordem… O destino das pessoas não está escrito no genoma.  Os genes são apenas códigos, o projeto e não a vida. Se a vida estivesse em nossos genes, onde ela estaria?
Parece que, finalmente, a ciência começa a descobrir o Espírito.
Gregg Braden é outro pesquisador que tem abordado esse tema. Na obra (Awakening to zero point)[7], descreve várias experiências, uma delas com DNA e seu doador, distantes 80 km. O DNA se contrai ou retifica conforme as emoções positivas ou negativas do doador. Afirma que o mundo científico está sendo levado a acreditar que vivemos em um campo de energia que interliga e se comunica com todas as partes e ao mesmo tempo. Fato esse já defendido pela física quântica como relata Osny Ramos (A Física Quântica em Nossa Vida)[8], ao abordar a Teoria Quântica de Campo.
A Doutrina Espírita, por meio de uma visão não apenas física, traz muitas contribuições para a genética, já que seus conceitos não contradizem as descobertas atuais, mas ajudam a corroborá-las.  Em O Livro dos Espíritos[9], 8 publicado por Allan Kardec, em 18 de abril de 1857, registram-se as descrições pormenorizadas a respeito da pluralidade das existências e o papel do perispírito. A partir desse entendimento, explica-se a expansão da família espiritual (pais e irmãos, que podem ser diferentes em cada renascimento), criando-se uma concepção ampliada dos caracteres genéticos, assim como sua transmissão. O conceito de erro, pelo comportamento equivocado do ser humano no uso do livre-arbítrio, leva o perispírito a mudar suas matrizes (forma), levando a alterações orgânicas no nascimento, demonstrando, dessa forma, a força da genética espiritual. Em outros momentos, determinadas alterações do genoma físico são causadas por interferência de mentores espirituais, como forma de justiça e reequilíbrio do Espírito, por atos realizados em vidas passadas, fruto da imaturidade que agora precisa valorizar a saúde do corpo físico através da doença que se materializa pela genética do Espírito.
A Epigenética e a Física Quântica são ramos atuais da ciência que chegam ao Fluido Cósmico Universal (energia que permeia o Universo, interligando tudo e ao mesmo tempo) e ao Espírito (autor da ordem que faz o RNA ‒ Mensageiro levar ao gene estímulo certo para produzir determinada proteína), fortalecendo assim os ensinamentos espíritas. Através da união entre religião e ciência, os horizontes de análise se alargam e trazem ao ser humano em evolução o aprendizado necessário para seu crescimento na Terra.




[2] OLIVEIRA, Carlos Roberto de Souza. O Determinismo Genético. Conectando – Ciência, Saúde e spiritualidade. Porto Alegre: Francisco Spinelli, 2015.
[3] LIPTON, H. Bruce. A Biologia da Crença. São Paulo: Butterfly, 2007.
[4] MURAKAMI, Kazuo. Código Divino da Vida. São Paulo: Pro Libera, 2008.
[5] KELLER, Evelyn Fox. The Century of the Gene. Harvard University Press, 2002.
[6] JABLONKA. Eva & LAMB, Marion J. Evolution in four Dimensions. São Paulo: Companhia das Letras, 2010.
[7] BRADDEN, Greg. Awakening to Zero Point. 2010.
[8] RAMOS, Osny. A Física Quântica em Nossa Vida. Blumenau: Odorizza, 2008.
[9] KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. São Paulo: LAKE, 2012.

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