segunda-feira, 28 de outubro de 2019

EDGARD PEREIRA ARMOND[1]




Edgard Pereira Armond, que nasceu em Guaratinguetá (SP) em 14 de junho de 1894 e desencarnou na Capital paulista em 29 de novembro de 1982, aos 88 anos de idade, foi militar, maçom, professor e um dos grandes estudiosos do Espiritismo, especialmente os assuntos relacionados com a mediunidade.
Responsável pela implantação da Federação Espírita do Estado de São Paulo (FEESP), a que serviu por mais de três décadas, sistematizou o estudo da Doutrina em termos evangélicos e estabeleceu cursos para auxiliar o desenvolvimento de médiuns. Em 1973, a Aliança Espírita Evangélica nasceu sob sua inspiração. Foi, também, pioneiro do movimento de unificação, tendo lançado a ideia de criação da União das Sociedades Espíritas (USE).

Antecedentes familiares e juventude
Filho de Henrique Ferreira Armond e de Leonor Pereira de Souza Armond, ambos de Minas Gerais, os antepassados da família remontam a fidalgos franceses huguenotes, expatriados durante as perseguições religiosas motivadas por Catarina de Médicis a partir da Noite de São Bartolomeu (Paris, 1519), e que se estenderam por todo país até 1582.
Nesse período, os Armonds refugiaram-se em Amsterdã, Holanda, dedicando-se ao comércio, transferindo-se depois para a ilha da Madeira e dali para o Brasil, em meados do século XVIII, quando se fixaram em uma sesmaria recebida da Coroa Portuguesa, entre Juiz de Fora e Barbacena, onde estabeleceram a primitiva Fazenda dos Moinhos.
Em Guaratinguetá (SP) fez os cursos primário e secundário, transferindo-se para São Paulo em 1912, aos 18 anos de idade, e no mesmo ano para o Rio de Janeiro, onde, além de ingressar no comércio, prosseguiu seus estudos.

A carreira militar
Em 1914, ao eclodir a Primeira Guerra Mundial, retornou para São Paulo, alistando-se em 10 de maio de 1915 na Força Pública do Estado de São Paulo, como Praça de Pré.
Em 1916, ingressou na Escola de Oficiais, como 1° Sargento, saindo aspirante em 1918. No ano seguinte casou-se com Nancy de Menezes, filha do Marechal de Exército Manoel Félix de Menezes.
Armond comandou destacamentos em Santos, São João da Boa Vista e Amparo, vindo depois a fixar-se na Capital paulista. Como 2º Tenente, organizou e foi nomeado diretor da Biblioteca da Força Pública, sendo no mesmo período nomeado professor de História, Geografia e Geometria na Escola de Oficiais da antiga Força Pública.
Participou então de vários movimentos militares, atuando nos movimentos tenentistas de 1922 e 1924, quando integrou a tropa de ocupação nas fronteiras com a Argentina e o Paraguai até 1925.
Na Revolução de 1930, como capitão, serviu no Estado Maior, voltando a exercer o magistério militar na Escola de Oficiais e no Curso de Aperfeiçoamento de Oficiais, quando lecionou Administração e Legislação Militar.
Com a eclosão da Revolução Constitucionalista de 1932, Armond assumiu o comando da defesa do litoral entre a divisa com o Estado do Rio de Janeiro até Santos, com a missão adicional de monitorar os movimentos da Armada, que mantinha diversos navios de guerra nas águas da ilha de São Sebastião.
Organizou e comandou tropas inicialmente em Paraibuna e Caraguatatuba e, logo depois, no Sul do Estado, nas cidades de Itaí, Taquari e Avaré. Com o fim do conflito, foi nomeado Chefe de Polícia do Estado de São Paulo, vindo a compor a Casa Militar do Governador Militar do Estado, General Waldomiro Lima. Sessenta dias após sua nomeação, pediu demissão dessa função e foi, então, nomeado comandante de um Batalhão de Sapadores, até agosto de 1934.
De volta à cidade de São Paulo, assumiu o subcomando da Escola de Oficiais em 1934. Organizou em seguida a Inspetoria Administrativa da Força e, por conveniência da organização, fez o concurso para o quadro de Administração da Força Pública, vindo a ser classificado como Tenente Coronel, na chefia do Serviço de Intendência e Transporte, cargo que exerceu até 1938, quando sofreu um acidente grave. Tendo solicitado a sua reforma, foi julgado inválido para o serviço militar, dando baixa no início de 1940, época em que redigiu o "Tratado de Topografia Ligeira (2 v.)" e "Guerra Cisplatina" (Discursos).

Da vivência espiritualista à militância espírita
Edgard Armond conhecia bem o espiritualismo em geral. Desde 1910, em sua cidade natal, iniciara estudos sobre religiões e filosofias, demorando-se nos conhecimentos orientais.
Em 1921, enquanto comandante na cidade de Amparo, aceitou um convite para ingressar na Maçonaria, tendo deixando de frequentá-la alguns anos mais tarde, no grau de Mestre.
De regresso à cidade de São Paulo, manteve contato com líderes esoteristas, ocultistas e espiritualistas, entre os quais Krishnamurti, Krum Heler, Jenerajadasa, Raul Silva (sobrinho de Batuíra) e o famoso médium de efeitos físicos, Carmine Mirabelli. Em 1932, trabalhou ao lado do famoso médium Dr. Luiz Parigot de Souza, do Paraná.
Em 1936, a convite de Silvino Canuto de Abreu, integrou o grupo de estudos e práticas espiritistas que funcionou na residência deste. Entre os seus participantes, encontravam-se o Dr. Carlos Gomes de Souza Shalders e Antônio Carlos Cardoso, ambos diretores da Escola Politécnica, tendo o grupo trabalhado com o Sr. Ramalho, médium de incorporação e uma única vez com Linda Gazear, conhecida médium de efeitos físicos que atuara na Europa, com Charles Richet e outros investigadores. O grupo também promovia visitas a outros grupos particulares que se dedicavam à prática de trabalhos mediúnicos de efeitos físicos, nos arredores da capital, todos incentivados pelos resultados obtidos pela família Prado em Belém do Pará.
A conversão de Armond ao Espiritismo deu-se após sofrer um grave acidente automobilístico, em 28 de junho de 1938, quando quebrou ambos os joelhos. Após diversas cirurgias, ficou quase sem poder andar durante seis meses, passando, em seguida, a usar muletas, com grande redução de movimentos.
Nessa fase de convalescença, já estava desenvolvendo trabalhos de cooperação espírita, auxiliando amigos a preparar palestras e conferências. Já lera, a essa altura, grande parte da literatura espírita então disponível e, num domingo à tarde, em 1939, passando pela Rua do Carmo, notou uma aglomeração à porta da Associação das Classes Laboriosas. Curioso, foi informado que ali estava se realizando uma comemoração de Allan Kardec. Entrou e presenciou parte do evento, reconhecendo então, dentre os presentes, alguns líderes espíritas amigos, como, por exemplo, João Batista Pereira, Lameira de Andrade, Américo Montagnini, bem como o médium Chico Xavier, que apenas iniciava sua tarefa mediúnica.
Nessa reunião recebeu um livreto intitulado "Palavras do Infinito", de autoria do Espírito de Humberto de Campos, contendo mensagens avulsas de entidades desencarnadas, distribuído pela recém-formada Federação Espírita do Estado de São Paulo. A leitura desse opúsculo aumentou fortemente seu interesse pela Doutrina.

O serviço na Federação Espírita do Estado de São Paulo
Nesse mesmo ano, passando pela Rua Maria Paula, para onde a Federação havia se mudado dias antes, percebendo à entrada uma placa com a inscrição "Casa dos Espíritas do Brasil", entrou, sendo recebido por João dos Santos e por este apresentado aos outros ali presentes, com os quais conversou alguns momentos, sendo convidado a colaborar com as atividades, o que aceitou. Dias depois, recebeu um memorando assinado por Américo Montagnini, presidente recém-eleito, comunicando-lhe haver sido eleito para o cargo de secretário geral da Federação.
Como a Federação apenas se instalara naquele prédio, adaptado para sede própria, nada encontrou organizado ou em funcionamento regular, estando tudo por fazer, em todos os setores. João Batista Pereira, na eleição então realizada, deixara a presidência para Américo Montagnini e, sob a denominação de Casa dos Espíritas do Brasil, se fundiram a Sociedade Espírita São Pedro e São Paulo, até então dirigida pelo Dr. Augusto Militão Pacheco, a Sociedade de Metapsíquica de São Paulo, dirigida pelo Dr. Shalders, e a própria Federação Espírita do Estado de São Paulo.
Em 1944, atendendo a projeto da Secretaria Geral da Casa dos Espíritas do Brasil, Armond fundou, com Pedro de Camargo (Vinícius) e Marta Cajado de Oliveira, o periódico "O Semeador", para difusão das ideias doutrinárias e o movimento geral da Casa. Nele, sob diversos pseudônimos, Armond colaborou ininterruptamente até fevereiro de 1972, alcançando um total de quatrocentos e vinte e cinco artigos. Além do periódico, para incrementar a difusão da Doutrina e prestigiar a Casa, propôs ainda a criação de um programa intitulado "Hora Espírita", que passou a ser veiculado na Rádio Tupi, semanalmente, aos domingos, sob a direção de João Rodrigues Montemor.
Em 1947, Armond fundou a União Social Espírita (USE), posteriormente denominada de União das Sociedades Espíritas, com a finalidade de fortalecer o movimento Espírita do Estado de São Paulo e unificar as suas práticas religiosas.
Em 1950, Armond criou as Escolas de Aprendizes do Evangelho, cursos de Espiritismo previstos por Allan Kardec, em "Obras Póstumas", tarefa já tentada anteriormente pelo Dr. Bezerra de Menezes, no Rio de Janeiro, no início do século. Complementarmente instituiu também as Escolas de Médiuns, visando à melhoria do intercâmbio com o plano espiritual.
Suas principais obras espíritas são: "Contribuições ao Estudo da Mediunidade" (1942), "Mediunidade de Prova" (1943), "Desenvolvimento Mediúnico" (1944), "Missão Social dos Médiuns" (1944), "Os Exilados da Capela" (1949), "Passes e Radiações" (1950), "Na Cortina do Tempo" (1962) e "O Redentor".
Em 1967, por motivos de doença, Armond solicitou o próprio afastamento da administração da Federação, embora tenha continuado a colaborar à distância no setor da publicidade, da organização de centros e organizações espíritas, inclusive em países estrangeiros.
Em 1973, em uma reunião em sua residência, Armond, com alguns companheiros, fundou a Aliança Espírita Evangélica. A partir de 1980 assessorou a formação do Setor III da Fraternidade dos Discípulos de Jesus, que reúne diversos Grupos Espíritas.
Seu falecimento ocorreu no Hospital Oswaldo Cruz, em São Paulo, tendo sido sepultado no Cemitério de Vila Mariana, na mesma cidade.

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