Francisco Ortolan
Está aí um tema difícil, em
lidar conosco e com o próximo. Como é difícil compreender o outro quando temos
dificuldade em lidar conosco. Isso acontece porque vivemos iludidos achando que
o outro faria o que eu acho que é certo, ou que agiria da forma que eu
gostaria. Ilusão é aquilo que pensamos, mas que não corresponde à realidade.
São percepções que nos distanciam da verdade. Existe em relação a muitas
questões da vida, como metas, comportamentos ou pessoas. E a pior das ilusões é
a que temos com relação a nós: a auto ilusão.
No capítulo 11 de O Evangelho Segundo o Espiritismo temos
o depoimento de uma Rainha da França:
Rainha entre os
homens, como rainha julguei que penetrasse no reino dos céus! Que desilusão!
Que humilhação, quando, em vez de ser recebida aqui qual soberana, vi acima de
mim, mas muito acima, homens que eu julgava insignificantes e aos quais
desprezava, por não terem sangue nobre!
A desilusão dela faz-nos pensar
em como estamos conduzindo nossa vida através de alguns questionamentos:
1.
Será que o fato de estarmos dentro de uma Casa
Espírita traz-nos a salvação?
2.
Será que não estamos reproduzindo o
comportamento de milênios, achando que por estarmos dentro de um templo
religioso, basta?
Porque só se desilude quem um
dia se iludiu. Não existe desilusão sem ilusão. Por isso precisamos parar de
nos iludir. E como fazer isso? Como lidar com essa coisa criada há milênios e
que faz parte de nossa personalidade?
Allan Kardec dá-nos a reposta quando
diz:
Reconhece-se o
verdadeiro espírita pela sua transformação moral, e o esforço que emprega para
vencer suas más inclinações.
Por isso, a base da Doutrina
Espírita é a reforma interior. Ninguém mata sentimento. Reformar-se
interiormente é ressignificar o que sentimos, ou seja, dar outro significado
àquele mesmo sentimento. É aprender a desconstruir para reconstruir.
As ilusões decorrem das nossas
limitações em perceber a natureza dos sentimentos. Na matriz das ilusões
encontramos: CARÊNCIA, DESEJOS, CULPAS, TRAUMAS, FRUSTRAÇÕES e todo um conjunto
de tendências que formam as emoções.
Toda opinião que formamos hoje
está ligada a fatos antecedentes, porque todos os pensamentos julgadores de
hoje estão sedimentados em nossa memória profunda. Como diz o espírito Hammed:
São subprodutos de
uma série de conhecimentos que adquirimos na idade infantil e também através
das vivências pregressas.
Por exemplo: Se vejo alguém
jogando lixo pela janela do carro, instantaneamente, digo “porco”. Mas quantas
vezes fizemos isso antes de ter esse entendimento? Ou: vejo uma pessoa casada e
outra solteira tomando um suco juntas, é comum emitirmos um julgamento dizendo
“ai tem coisa”, sem raciocinar que pode ser um irmão (ã), ou primo (a), ou uma
entrevista de emprego; enfim, pode ser que não seja aquilo que imaginei.
As ilusões impedem-nos que
realmente tenhamos olhos de ver, transferindo a responsabilidade a outrem. Adão
disse a Deus:
Eu não pequei, a
culpa foi da mulher que me tentou. Eva desculpando-se disse: Toda discórdia ocorrida cabe à maldita
serpente.
O objetivo da reencarnação
consiste em desiludir-nos sobre nós mesmos, através de uma relação libertadora
com o materialismo. Se não buscamos essa meta voltaremos pra casa da mesma
forma que aqui chegamos.
Façamos a nossa parte, buscando
a cada dia desconstruir as ideias formadas ao longo dos milênios, para
reconstruir de uma forma mais sólida. Como disse Chico Xavier:
Quer que aconteça algo diferente na sua vida? Faça algo diferente.
Fonte: Agenda Espírita
Brasil
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