Blaise Pascal
(Sociedade de Paris,
31 de março de 1865 – Médium: Sr. Desliens)
Nada se perde neste mundo, não
só na matéria, onde tudo se renova incessantemente, aperfeiçoando-se segundo
leis imutáveis aplicadas a todas as coisas pelo Criador, como, também, no
domínio da inteligência. A Humanidade é semelhante a um homem que vivesse
eternamente e adquirisse continuamente novos conhecimentos.
Isto não é uma imagem, mas uma
realidade, porque o Espírito é imortal; somente o corpo, envoltório ou vestimenta
do Espírito, cai quando gasto e é substituído por outro. A própria matéria
sofre modificações. À medida que o Espírito se depura, adquire novas riquezas e
merece, se assim me posso exprimir, uma roupagem mais luxuosa, mais agradável,
mais cômoda, para empregar vossa linguagem terrena.
A matéria se sublima e se torna
cada vez mais leve, sem jamais desaparecer completamente, pelo menos nas
regiões médias; quer como corpo, quer como perispírito, ela acompanha sempre a
inteligência e lhe permite, por este ponto de contato, comunicar-se com seus
inferiores, seus iguais e seus superiores, para instruir, meditar e aprender.
Dissemos que nada se perde em a
Natureza.
Acrescentamos: nada é inútil.
Tudo, das criaturas mais perigosas até os venenos mais sutis, têm a sua razão
de ser. Quantas coisas haviam sido julgadas inúteis ou prejudiciais e cujas
vantagens foram reconhecidas mais tarde! Outro tanto se dá com as que não
compreendeis. Sem tratar a fundo a questão, apenas direi que as coisas nocivas
vos obrigam a atenção e a vigilância que exercitam a inteligência, ao passo que
se o homem nada tivesse a temer, abandonar-se-ia à preguiça, em prejuízo de seu
desenvolvimento.
Se a dor ensina a gemer, gemer é
um ato de inteligência.
Deus, sem dúvida, como objetam
alguns, poderia vos ter poupado das provações e dificuldades, que vos parecem
supérfluas; mas se os obstáculos vos são opostos, é para despertar em vós os
recursos adormecidos; é para impulsionar os tesouros da inteligência, que
ficariam enterrados no vosso cérebro, se uma necessidade, um perigo a evitar
não vos viesse forçar a velar por vossa conservação.
O instinto nasce; a inteligência
o segue, as ideias se encadeiam e está inventado o raciocínio. Se raciocino,
julgo, bem ou mal, é verdade, mas é raciocinando errado que se aprende a
reconhecer a verdade; quando se é enganado várias vezes, acaba-se acertando; e
esta verdade, esta inteligência, obtidas por tanto trabalho, adquirem um preço
infinito e vos faz considerar a sua posse como um bem inestimável. Temeis ver
se perderem descobertas que fizestes; que fazeis, então? Instruís vossos
filhos, vossos amigos; desenvolveis sua inteligência, a fim de nela semear e
fazer frutificar o que adquiristes a preço de esforços intelectuais.
É assim que tudo se encadeia, que
o progresso é uma lei natural e que os conhecimentos humanos, acrescidos
paulatinamente, se transmitem de geração em geração. Que, depois disto, vos
venham dizer que tudo é matéria! Em sua maioria, os materialistas não repelem a
espiritualidade senão porque, sem isto, precisariam mudar o gênero de vida,
atacar os seus erros, renunciar aos seus hábitos. Seria muito custoso, razão
por que acham mais cômodo tudo negar.
Pascal
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