Nascido no dia 7 de maio de
1878, na cidade de Piracicaba, Estado de S. Paulo, e desencarnado no dia 11 de
outubro de 1966, na cidade de São Paulo.
Não se pode fazer o esboço
histórico do Espiritismo no Estado de S. Paulo, na primeira metade do presente
século, sem levar em consideração a personalidade inconfundível de Pedro de
Camargo, mais conhecido pelo pseudônimo de Vinícius.
Os seus primeiros anos de
escolaridade foram feitos no Colégio Piracicabano, educandário de orientação
metodista, de fundação norte-americana. A diretora do estabelecimento era então
a missionária Martha H. Watts, de quem Pedro de Camargo guardou sempre as mais
caras recordações e grande admiração. São dele as seguintes palavras extraídas
de um artigo que escreveu por ocasião da desencarnação daquela missionária, ocorrida
nos Estados Unidos:
“Sempre que se
oferecia ensejo de inocular princípios de virtude e regras de moral, era quando
se mostrava admirável, comprovando a rara e excepcional competência de que fora
dotada para exercer tão sublime missão”.
Eu bem me lembro de
que perto de Miss Watts ninguém era capaz de mentir ou dissimular; as
traquinadas e travessuras, escondidas cautelosamente, eram-lhe fielmente
narradas quando nos interpelava, tal o império que sobre nós sabia exercer, sem
jamais usar para isso de outro meio que não a força do bem e o devotamento com
que praticava seu sagrado sacerdócio.
Muito lhe deve a
sociedade piracicabana; muito lhe devem seus ex-alunos; muito lhe devo eu.
Os princípios
salutares de moral que me ministrou, assim como os conselhos elevados que me
dispensou com tanto carinho e solicitude durante minha infância, repercutem-me
ainda na alma como uma voz amiga que me dirige os passos, e por isso, ao saber
que ela já não mais vive na Terra, rendo-lhe este preito de homenagem, simples
e singelo, porém sincero e verdadeiro, como que desfolhando sobre a campa da
querida mestra umas pétalas humildes que em seguida o vento arrebatará, mas
cujo tênue perfume chegará até ela, levando-lhe o penhor de minha gratidão pelo
muito que de suas benfazejas mãos recebi".
Durante muitos anos, Pedro de
Camargo presidiu a Sociedade de Cultura Artística, de Piracicaba, tendo a
oportunidade de levar para lá famosos artistas.
Jamais teve tendência para a
política. Chegou a assumir uma cadeira de Vereador, na Câmara Municipal de
Piracicaba, eleito por indicação do extinto Partido Republicano. Como não
quisesse "seguir outra disciplina que não fosse a do dever, e ouvir outra
voz que não a da razão e da consciência", dizia ele mais tarde ‒ esse
critério não serviu ao Partido, por isso não o quiseram mais.
Os estudos bíblicos eram
metódicos no Colégio Piracicabano, de maneira que Pedro de Camargo se tornou um
dos maiores entusiastas dessa matéria, tornando-se mais tarde uma das maiores
autoridades no trato da exegese evangélica.
No ano de 1904, foi fundada em
Piracicaba a primeira instituição espírita da cidade, com o nome de Igreja
Espírita Fora da Caridade não há Salvação.
Dentre os seus fundadores
salientava-se a figura veneranda de João Leão Pitta. O funcionamento dessa
tradicional instituição acarretou a esse pioneiro uma série de perseguições
movidas por inspiração de outras entidades religiosas, chegando ao ponto de não
conseguir nem mesmo um emprego, tão necessário para o amparo de sua família, a
qual ficou mais de um ano na eminência de completo desamparo.
Um ano mais tarde, em 1905,
Pedro de Camargo interessou-se pelo Espiritismo, uma vez que nele encontrou a
solução para tudo aquilo que constituía incógnitas em seu Espírito. Tomando
conhecimento do que sucedia com Leão Pitta, prontamente o empregou em sua loja
de ferragens e, como segundo passo, desfez a secção de armas de fogo que
representava apreciável fonte de renda em seu estabelecimento comercial.
Durante cerca de trinta anos,
Pedro de Camargo desenvolveu, em sua cidade natal, profícuo e intenso trabalho
de divulgação das verdades evangélicas à luz da Doutrina Espírita. Nessa época
passou a adotar o pseudônimo de Vinícius; suas preleções eram estenografadas e
logo em seguida largamente difundidas, fazendo com que sua fama se propagasse
por toda a circunvizinhança.
No ano de 1938, transferiu seu
domicílio para a cidade de S. Paulo. Ali substituiu o confrade Moreira Machado
na presidência da União Federativa Espírita Paulista e, juntamente com Thietre
Diniz Cintra, fundou uma escola para evangelização da infância e juventude,
tendo para tanto elaborado normas e diretrizes para esse gênero de educação.
Em 1939 tornou-se um dos
diretores do Programa Radiofônico Espírita Evangélico do Brasil, levado ao ar,
diariamente, através da Rádio Educadora de S. Paulo. Em 31 de março de 1940,
quando a União Federativa Espírita Paulista fundou a Rádio Piratininga,
emissora de cunho nitidamente espírita, Vinícius foi eleito seu
diretor-superintendente e, em companhia de outros valores do Espiritismo
paulista, orientou aquela emissora e seu programa espírita diário até o ano de
1942.
Nessa época Vinícius já havia se
integrado na Federação Espírita do Estado de S. Paulo, tornando-se um dos seus
conselheiros e ali introduzindo as suas "Tertúlias Evangélicas",
realizadas todos os domingos de manhã, com apreciável assistência que
invariavelmente superlotava o seu salão.
Durante muitos anos, foi
delegado da Federação Espírita Brasileira, em S.Paulo, representando-a em todas
as solenidades onde a sua presença se fazia necessária.
Quando a Federação Espírita do
Estado de S. Paulo, em março de 1944, lançou o seu órgão "O Semeador",
Vinícius foi designado seu diretor-gerente, cargo que desempenhou durante mais
de uma década, emprestando àquele jornal a sua costumada cooperação.
Em outubro de 1949, em companhia
de Carlos Jordão da Silva, integrou a representação do Estado de S. Paulo junto
ao 2º Congresso Espírita Panamericano, conclave de grande repercussão que se
realizou no Rio de Janeiro.
No ensejo desse acontecimento,
reuniram-se na antiga Capital Federal várias representações de entidades espíritas
de âmbito estadual, as quais, numa feliz gestão, conseguiram materializar o
sonho de muitos seareiros espíritas, criando o Conselho Federativo Nacional e
assinando o célebre Pacto Áureo de Unificação. Pedro de Camargo foi um dos
signatários desse importante instrumento de pacificação espírita nacional, no
dia 5 de outubro de 1949.
Vinícius foi assíduo colaborador
de numerosos órgãos espíritas. De sua bibliografia destacamos os livros:
"Em torno do Mestre", "Na Seara do Mestre", "Nas
Pegadas do Mestre", "Na Escola do Mestre, "O Mestre na
Educação", e "Em Busca do Mestre", obras de marcante relevância
no campo da divulgação evangélico-doutrinária.
A sua ação se fez sentir
vigorosamente quando se cogitou da fundação de uma instituição educacional
espírita. Lutou durante muitos anos por esse ideal.
Exultou-se com a fundação do
Educandário Pestalozzi, na cidade de Franca, entretanto, o seu sonho
concretizou-se quando da fundação do "Instituto Espírita de
Educação", do qual foi presidente. No âmbito desse instituto foi fundado o
"Externato Hilário Ribeiro", em cuja direção permaneceu até o ano de
1962.
A par de todas essas atividades,
Pedro de Camargo ocupava assiduamente as tribunas das instituições espíritas,
principalmente as da Capital do Estado, tornando-se um dos oradores mais
requisitados e o que sempre conseguia atrair maior assistência. Homem dotado de
ilibado caráter, comedido em suas atitudes e de moral inatacável, tornou-se, de
direito e de fato, verdadeira bandeira do movimento espírita. Quando seu nome
figurava à testa de qualquer realização, esta infundia confiança e respeito,
dada a indiscutível projeção do seu nome e a sua qualidade de paladino das
causas boas e nobres.
Vinícius também teve notória
atuação no campo da assistência social espírita, situando, entretanto, em
primeiro plano o trabalho em prol do esclarecimento evangélico-doutrinário,
imprescindível à iluminação interior dos homens.