terça-feira, 31 de dezembro de 2019

CARTA DE ANO BOM[1]




CARTA DE ANO BOM[1]
Casimiro Cunha


Entre um ano que se vai
E outro que se inicia,
Há sempre nova esperança,
Promessas de Novo Dia...

Considera, meu amigo,
Nesse pequeno intervalo,
Todo o tempo que perdeste
Sem saber aproveitá-lo.

Se o ano que se passou
Foi de amargura sombria,
Nosso Pai Nunca está pobre
Do pão de luz da alegria.

Pensa que o céu não esquece
A mais ínfima criatura,
E espera resignado
O teu quinhão de ventura.

Considera, sobretudo
Que precisas, doravante,
Encher de luz todo o tempo
Da bênção de cada instante.

Sê na oficina do mundo
O mais perfeito aprendiz,
Pois somente no trabalho
Teu ano será feliz.

Não esperes recompensas
Dos bens da vida terrestre,
Mas, volve toda a esperança
A paz do Divino Mestre.

Nas lutas, nunca te esqueça
Deste conceito profundo:
“O reino da luz de Cristo
Não reside neste mundo”.

Não olhes faltas alheias,
Não julgues o teu irmão,
Vive apenas no trabalho
De tua renovação.

Quem se esforça de verdade
Sabe a prática do bem,
Conhece os próprios deveres
Sem censurar a ninguém.

Ano Novo!... Pede ao Céu
Que te proteja o trabalho,
Que te conceda na fé
O mais sublime agasalho.

Ano Bom!... Deus te abençoe
No esforço que te conduz
Das sombras tristes da Terra
Para as bênçãos de Jesus.


Um Feliz 2020 repleto de Amor, Saúde, Paz, Luz, Alegrias e Realizações.


segunda-feira, 30 de dezembro de 2019

PEDRO LAMEIRA DE ANDRADE[1]


Pedro Lameira de Andrade a direita


Nascido na cidade do Rio de janeiro, em 16 de setembro de 1880, e desencarnado em São Paulo, no dia 1º de março de 1938.
Numa época quando o Espiritismo era ainda muito mal compreendido, e quando reinava verdadeira desunião entre os seus adeptos e até no seio de suas instituições, um vulto notável e infatigável surgiu no cenário da divulgação doutrinária, constituindo-se num dos mais salientes espíritas da época.
Nos anais da História do Espiritismo, os registros biográficos do Dr. Pedro Lameira de Andrade são bastante escassos, em flagrante contraste com o vulto da obra que tão bem soube desempenhar, e que projetou o seu nome na posteridade. A exemplo do que sucedeu com outros grandes missionários, cujas obras foram legadas aos homens das futuras gerações, através dos informes de discípulos dedicados, a missão fulgurante de Lameira de Andrade somente é suficientemente conhecida por aqueles que com ele conviveram, os quais a ele se referem como um autêntico benfeitor da Humanidade, um homem que procurou impulsionar seus companheiros de jornada terrena, na senda do aprimoramento espiritual e do aculturamento, poderosas alavancas que atuam no laborioso processo de reforma íntima das criaturas humanas.
Seus pais foram Boaventura Plácido Lameira de Andrade e Carolina Levereuth de Andrade, tendo o seu nascimento corrido no bairro de Vila Isabel, no antigo Distrito Federal. Aos 17 anos de idade, perdeu seu pai e, atendendo a um convite de seu padrinho foi para São Paulo, ingressando no Colégio Mackenzie, onde se formou em Teologia. Não chegou a ordenar-se pastor protestante, em virtude de haverem surgido algumas divergências entre ele e o reitor do Seminário.
Lameira era exímio tenor e, em 1904, casou-se com D. Elvira Silveira, pianista e professora de Pedagogia e Psicologia da Escola Normal. Desse consórcio teve seis filhas. Nessa época ele era também professor de português, grego e latim, lecionando na escola da Força Pública, atual Polícia Militar de S. Paulo. Ingressando na Faculdade de Direito de S. Paulo, formou-se em 1912. Dessa data em diante deixou de lecionar para consagrar-se à profissão de advogado, tendo montado escritório em S. Paulo.
A desencarnação de sua filha mais idosa deixou-o desolado e revoltado, passando a descrer de tudo. Aconselhado por amigos procurou o Espiritismo, doutrina que lhe trouxe o consolo e a certeza da imortalidade da alma.
Na década de 1920, Lameira de Andrade já antevia a necessidade da instrução como fator decisivo para a libertação do Espírito, através do conhecimento da verdade, por isso sonhava com a fundação de escolas primárias e ginásios, que viessem a funcionar alicerçados nos postulados da Doutrina Espírita. Nos idos de 1928 e 1929, com vistas ao desenvolvimento de um programa nesse sentido, ao lado de outros companheiros que estavam inspirados do mesmo ideal, lutou arduamente para a implantação de um instituto de ensino que servisse de modelo para as futuras organizações do gênero. Seu sonho concretizou-se quando viu funcionar o Liceu Espírita Brasileiro, entidade que teve vida efêmera, durando pouco mais de um ano.
Entretanto, a semente ficou lançada.
Homem dotado de um dinamismo invulgar, arrojado em seus cometimentos e animado de um idealismo inquebrantável, Lameira tornou-se figura bastante conhecida em todo o Brasil e principalmente no Estado de S. Paulo e no Rio de Janeiro, em cujo cenário, teve a oportunidade de desempenhar a sua gigantesca tarefa.
A missão de Lameira de Andrade, no seio do Espiritismo, foi desenvolvida, em grande parte, ao lado do Dr. Augusto Militão Pacheco, renomado médico e um dos grandes baluartes espíritas da época. Através dos seus escritos, das suas conferências, esse infatigável seareiro não media esforços em suas peregrinações. Muitas cidades brasileiras foram por ele visitadas e seu nome conseguiu empolgar grandes auditórios, pois sabia abordar, com raro descortino, os ensinamentos evangélicos à luz da Doutrina Espírita.
Foi procurador do "Abrigo Batuíra", tendo sido um dos seus fundadores.
Durante 19 anos prestou inestimáveis serviços a "Instituição Verdade e Luz". Embora não conhecesse pessoalmente o grande missionário que foi Antônio Gonçalves da Silva Batuíra sucedeu-o na direção da revista "Verdade e Luz", fundada no ano de 1890. Foi membro da diretoria da Associação Espírita São Pedro e São Paulo, onde trabalhou intensamente e com raro devotamento, ao lado de grandes seareiros. Teve também marcante atuação no campo da assistência social, tendo nesse afã, chegado até o sacrifício.
Foi ainda sócio benemérito da Cruz Azul de S. Paulo, tendo prestado a esse organismo o fruto de seu esforço, dando viva demonstração do seu Espírito magnânimo, sempre pronto a servir e a cooperar na implantação e desenvolvimento de obras altruísticas.
Em 12 de julho de 1936, ao ser fundada a Federação Espírita do Estado de S. Paulo, Lameira de Andrade foi eleito seu orador oficial, em sua primeira diretoria, passando a representar aquela egrégia instituição em quase todas as solenidades promovidas pelas associações espíritas do Estado. Na própria Federação, ele era invariavelmente requisitado pelos frequentadores, para proferir palestras, as quais eram bastante concorridas.
Certa ocasião, chegada a hora designada para a realização de uma conferência sobre o tema "O Perdão", na Sede da Associação "Verdade e Luz" choveu torrencialmente. Apenas estavam na sede da instituição o orador, Elói Lacerda e outros dois companheiros. Lameira, vendo o salão vazio, aventou a ideia de fazer uma prece e encerrar a reunião, sugestão prontamente repelida pelos presentes. A palestra foi proferida, portanto, como se o salão estivesse repleto. A determinada hora entrou no recinto uma pobre mulher, toda molhada, esperando resguardar-se da chuva.
Assentando-se nas últimas cadeiras, passou a prestar inusitada atenção às palavras do conferencista.
Ao finalizar a palestra, ela aproximou-se do orador e lhe disse: "Graças a Deus entrei nesta casa e ouvi suas palavras. Eu estava decidida a cometer um crime nesta noite. Entretanto, agora compreendo as razões de minha desorientação e vou tomar rumo diferente, vou lutar contra as forças negativas que quase me desviaram do caminho do bem”. Lameira abraçou-a comovido, alegrando-se intimamente pelo fato de ter servido de ponte para que aquela criatura se reencontrasse e viesse a descortinar novos horizontes.
Lameira de Andrade viveu na Terra pouco menos de 58 anos, desencarnando vítima de fulminante derrame cerebral que o prostrou em poucas horas. Ele soube aproveitar bem esses curtos anos de trabalho, desenvolvendo tarefa de gigante, no sentido de distribuir, em profusão, tudo aquilo que era patrimônio de seu Espírito esclarecido e evangelizado. Ele soube assimilar, em sua plenitude, os ensinamentos de Jesus Cristo, no sentido de colocar a luz sobre o velador. Foi o bom obreiro que soube restituir ao Senhor, em dobro, os talentos recebidos.
Sua desencarnação representou irreparável perda para os espíritas de São Paulo e do Brasil, uma lacuna que dificilmente seria preenchida.




[1] Os Grandes Vultos do Espiritismo – Paulo Alves Godoy

sábado, 28 de dezembro de 2019

ÁVIDOS POR NOVIDADES[1]



Orson Peter Carrara

Com esse mesmo título, a conhecida revista “FidelidadEspírita”, edição 77, de fevereiro/09, publicou importante editorial que nos permitimos reproduzir, na íntegra e com autorização da publicação, face à oportunidade de abordagem, aos amigos do Movimento Espírita: Editorial Revista FidelidadEspírita, nº 77, fevereiro de 2009:
Os que no Espiritismo veem mais do que fatos, compreendem-lhe a parte filosófica; admiram a moral daí decorrente, mas não a praticam. Insignificante ou nula é a influência que lhes exerce nos caracteres. Em nada alteram seus hábitos e não se privariam de um só gozo que fosse. O avarento continua a sê-lo, o orgulhoso se conserva cheio de si, o invejoso e o cioso sempre hostis. Consideram a caridade cristã apenas uma bela máxima. São os espíritas imperfeitos[2].

            Periodicamente, surgem os mais diversos modismos no Movimento Espírita. A origem dessas modas é a dificuldade que alguns adeptos têm de aceitar a simplicidade da Doutrina dos Espíritos.
Egressos das religiões dogmáticas ou ritualísticas, eles pretendem introduzir no Espiritismo aquilo que não lhe pertence. Por isso, estão sempre à caça de terapias maravilhosas, médiuns curadores, profecias, métodos novos para a mediunidade, “detetives” que desvendam vidas passadas e, como é natural, acabam nas mãos dos charlatães.
De fato, o Espiritismo não é uma doutrina comum; embora simples, na prática e vivência dos seus postulados, é ciência, filosofia e religião, a exigir do seu adepto uma adequação ao método de pesquisa, que levará ao conhecimento doutrinário seguro, sedimentando, definitivamente, a fé do espírita, libertando-o da ânsia por novidades.
Não estamos dogmatizando o Espiritismo, mas apontando alguns problemas que podem prejudicar o seu entendimento.
Kardec chamou de espíritas imperfeitos os que se prendem à forma e não à essência. Os que admiram e não praticam.
Enquanto buscamos “novidades”, não estudamos a Doutrina, permanecendo na superficialidade. O Espiritismo continua um grande desconhecido!
Compete, portanto, às casas espíritas a tarefa de esclarecer seus adeptos, oferecendo ambiente adequado de estudo e prática da caridade (moral e material), para que o espírita tenha amplo campo para o desenvolvimento de suas potencialidades.
Quando entendermos com mais profundidade a Doutrina dos Espíritos, encontraremos nela a sublimidade da mensagem central: a transformação do homem.
Sempre que nos preocupamos mais com o exterior, introduzindo práticas antidoutrinárias no Espiritismo, desviamo-nos do compromisso moral de melhoramento, dando maior atenção ao efeito que à causa.
O Espiritismo não está ultrapassado, como querem alguns, permanece atual e pouco conhecido.
Esperamos que os centros comprometidos com a Doutrina formem, competentemente, os espíritas de agora e do futuro, como prenunciou Allan Kardec:
Os que não se contentam com admirar a moral espírita, que a praticam e lhe aceitam todas as consequências. Convencidos de que a existência terrena é uma prova passageira, tratam de aproveitar os seus breves instantes para avançar pela senda do progresso, única que os pode elevar na hierarquia do mundo dos Espíritos, esforçando-se por fazer o bem e coibir seus maus pendores. As relações com eles sempre oferecem segurança, porque a convicção que nutrem os preserva de pensarem em praticar o mal. A caridade é, em tudo, a regra de proceder a que obedecem. São os verdadeiros espíritas, ou melhor, os espíritas cristãos[3].

Notem os amigos que o que vem ocorrendo no Movimento Espírita está muito bem expresso no editorial em referência. Não pude evitar um brado de entusiasmo ao ler nas últimas linhas:
(...) O Espiritismo não está ultrapassado, como querem alguns, permanece atual e pouco conhecido. Esperamos que os centros espíritas comprometidos com o futuro da Doutrina formem, competentemente, os espíritas de agora e do futuro, como prenunciou Allan Kardec.
Eis, pois, nossa maior necessidade: estudar para conhecer e viver a abençoada, incomparável, inesgotável Doutrina dos Espíritos. Eis o compromisso que precisamos abraçar com fidelidade.

Novembro de 2009 - Edição número 423




[2] O Livro dos Médiuns, Cap. III, item 28 – 2º ‒ Allan Kardec
[3] O Livro dos Médiuns, Cap. III, item 28 – 3º ‒ Allan Kardec

sexta-feira, 27 de dezembro de 2019

GENTILEZA E PAZ[1]



Divaldo Pereira Franco

À medida que a criatura humana vem desenvolvendo as suas nobres funções intelecto-morais, libera-se dos instintos agressivos e adquire valores que engrandecem a vida, dando-lhe sentido e significado.
Periodicamente, porém, surgem momentos difíceis no crescimento histórico da sociedade, quando nuvens escuras geram situações lamentáveis de incompreensões e disputas, nas quais o ego predomina, facultando que as paixões inferiores apenas adormecidas assomem e agridem-se os indivíduos, uns aos outros.
Estamos vivendo um desses períodos sombrios, no qual prevalecem a insensatez e o ódio, com incidentes de conduta primitiva que deveria estar superada.
Questões sociopsicológicas necessitadas de orientação e equilíbrio, dividem as criaturas e atiram-nas, furibundas, em batalhas de anarquia, destruição e crimes de todo porte.
Conquistas grandiosas do pensamento que foram logradas em milênios de sacrifícios, quando idealistas fizeram-se mártires em benefício do mundo melhor, são desprezadas e vergonhosamente exaltadas as lutas de classes, de raças, de condutas, de desconsideração pelo ético e pelo bem, num vergonhoso retrocesso cultural e moral. Indivíduos que constituem o mesmo clã, os mesmos esforços de dignificação, separam-se e promovem combates contínuos de rancor e desforço numa lamentável demonstração de primarismo evolutivo.
Os primeiros sinais dessa postura adversária do progresso, manifestam-se nas carrancas do semblante e na arbitrariedade do comportamento.
Alucinados pelos desejos asselvajados desejam permitir-se tudo sem respeito aos outros e às leis estabelecidas que contestam e a sociedade como um todo retorna aos mecanismos da sobrevivência apoiados no velho refrão cada um por si, e nada para os demais.
Apesar da situação deplorável, surgem nos movimentos da violência e da soberba, as expressões insuperáveis da gentileza prenunciadora da paz.
Erguem-se pessoas simples ou enobrecidas que não se permitem perder a dignidade no caos que predomina, preservando os valores da civilização e do direito.
São esses apóstolos do bem que mantêm as tradições da honra e do dever, sempre dispostos a construir a felicidade onde se encontram assim como em favor de todos aqueles que a necessitam.
Nesse báratro assustador preserva a gentileza nos teus gestos e nos relacionamentos, porque o ser humano está destinado às estrelas, que alcançará quando superar o primarismo do qual se originou.
Todos, afinal de contas, anelamos pela paz e pelo progresso.
Comecemos nos pequenos gestos de cortesia e de afabilidade…
Não reajamos com grosseria ao mal, nem nos detenhamos no exame das imperfeições alheias, orientando sempre a conduta que dignifica.

Gentileza sempre!

Artigo publicado no jornal “A Tarde”, coluna Opinião, 14 de novembro 2019.

quinta-feira, 26 de dezembro de 2019

ESPÍRITO LIVRE[1]



Miramez

O que é a alma, nos intervalos das encarnações?
‒ Espírito errante, que aspira a um novo destino e o espera.
Qual poderá ser a duração desses intervalos?
‒ De algumas horas a alguns milhares de séculos. De resto, não existe, propriamente falando, limite extremo determinado para o estado errante, que pode prolongar-se por muito tempo, mas que nunca é perpétuo. O Espírito tem sempre a oportunidade, cedo ou tarde, de recomeçar uma existência que sirva à purificação das anteriores.
Essa duração está subordinada à vontade do Espírito, ou lhe pode ser imposta como expiação?
‒ É uma consequência do livre arbítrio. Os Espíritos sabem perfeitamente o que fazem, mas para alguns é também uma punição infligida por Deus. Outros pedem o seu prolongamento para prosseguir estudos que não poderia ser feitos com proveito a não ser no estado de Espírito.
Questão 224/O Livro dos Espíritos

Chamamos o Espírito, quando fora do corpo, de Espírito livre, no entanto, é bom que se saiba o que é liberdade, no sentido que falamos. A liberdade cresce com o crescimento da alma em todos os planos da existência. Todos os aspectos da liberdade, para as criaturas de Deus, têm limites; somente para o Criador, desaparecem as fronteiras.
Já dissemos antes que os intervalos da reencarnação são sem limites. Não podemos precisar uma quantidade de anos para que o Espírito volte a um novo corpo de carne, pois nesse processo atuam muitas leis, como a sua própria vontade, e Deus é tão bom que tolera e mesmo aceita, até certo ponto, as escolhas das almas.
Diz-nos O Livro dos Espíritos que o intervalo pode durar desde algumas horas até milhares de séculos. Que não cheguemos a tanto, porque a maioria dos Espíritos obedece a inspiração dos benfeitores espirituais, que os aconselham num certo preparo, para depois tomarem novos aparelhos fisiológicos, com etapas diferentes das que tiveram. Em muitos casos, encontram-se com pessoas diferentes, formando, assim, novos laços de amor e de fraternidade.
A formação das colônias espirituais é justamente para orientá-los neste sentido, de maneira a aproveitar o tempo na obediência às leis naturais. Quando lançamos uma semente ao solo, a razão nos pede para esperar um pouco para que ela desabroche e cresça, dando frutos. Assim também, nesse ritmo de ideias, é a alma. Ela é semente de Deus que deve ser lançada na carne, quantas vezes forem necessárias, objetivando o aprimoramento da consciência e a grandeza do coração.
A afluência dos dons espirituais nos aparecem com mais nitidez pelas trocas das vestes carnais. As experiências nesse sentido vicejam com mais intensidade. É a luz que se põe em cima da mesa, como sendo a nossa consciência. O Espírito, quando toma a carne, é como se carregasse uma cruz, que deve suportar por toda a existência, onde milhares de problemas o afligem e outro tanto de dores vêm esmagar o vaso da sua mente, para que desabroche do centro da vida o perfume do amor.
O Espírito somente se libertará pelo conhecimento da verdade, não só em estudos de inumeráveis teorias, mas quando passar a vivê-las no plantio de cada dia. A demora em reencarnar-se pode ser uma punição, pelo mau uso que se fez das qualidades espirituais recebidas do Criador. O sentido primordial da vida, em todos os campos da Criação, é despertar as qualidades nobres da consciência, para que o coração seja o canal da intuição, por onde possa falar o Cristo interno de cada criatura.
Existe em nós uma profusão de luzes que falam por si, falam da existência do Criador, bem como anunciam uma grande esperança para todas as almas da Terra, ao revelar que temos um guia que não nos deixa órfãos. O Espírito, quando na carne, fica tolhido nas suas faculdades mais íntimas, de modo que em todas as novas reencarnações começa o exercício do aprimoramento espiritual, e em cada uma delas é certo que as possibilidades de evoluir são melhores, desde quando se esforce progressivamente.
A Doutrina dos Espíritos é, pois, uma bênção de Deus, é a escola que deixamos de frequentar depois da desencarnação, por sairmos da carne já sabendo as primeiras lições das leis vigentes no mundo espiritual. Eis porque descem constantemente lições e mais lições pelos processos mediúnicos, facilitando, assim, a todos os de boa vontade para a realidade de que o Espírito continua vivendo mais depois do túmulo.
Apeguemo-nos a Jesus, que nunca erraremos o caminho para Deus.




[1] Filosofia Espírita – Volume 5 – João Nunes Maia

quarta-feira, 25 de dezembro de 2019

NATAL SIMBÓLICO[1]



Espírito: Irmão X

Harmonias cariciosas atravessava a paisagem, quando o lúcido mensageiro continuou: Cada Espírito é um mundo onde o Cristo deve nascer...
Fora loucura esperar a reforma do mundo, sem o homem reformado. Jamais conheceremos povos cristãos, sem edificarmos a alma cristã...
Eis porque o Natal do Senhor se reveste de profunda importância para cada um de nós em particular.
Temos conosco oceanos de bênçãos divinas; maravilhosos continentes de possibilidades, florestas de sentimentos por educar, desertos de ignorância por corrigir, inumeráveis tribos de pensamentos que nos povoam a infinita extensão do mundo interior. De quando em quando, tempestades renovadoras varrem-nos o íntimo, furações implacáveis atingem nossos ídolos mentirosos.
Quantas vezes, o interesse egoístico foi o nosso perverso inspirador?
Examinando a movimentação de nossas ideias próprias, verificamos que todo princípio nobre serviu de precursor ao conhecimento inicial do Cristo.
Verificou-se a vinda de Jesus numa época de recenseamento.
Alcançamos a transformação essencial justamente em fase de contas espirituais com a nossa própria consciência, seja pela dor ou pela madureza de raciocínio.
Não havia lugar para o Senhor.
Nunca possuímos espaço mental para a inspiração divina, absorvidos de ansiedades do coração ou limitados pela ignorância.
A única estalagem ao Hóspede Sublime foi a Manjedoura.
Não oferecemos ao pensamento evangélico senão algumas palhas misérrimas de nossa boa vontade, no lugar mais escuro de nossa mente.
Surge o Infante Celestial, dentro da noite.
Quase sempre, não sentimos a Bondade do Senhor senão no ápice das sombras de nossas inquietações e falências.
A estrela prodigiosa rompe as trevas no grande silêncio.
Quando o gérmen do Cristo desponta em nossas almas, a estrela da divina esperança desafia nossas trevas interiores, obscurecendo o passado, clareando o presente e indicando o porvir.
Animais em bando são as primeiras visitas ao Enviado Celeste.
Na soledade de nossa transformação moral, em face da alvorada nova, os sentimentos animalizados do nosso ser são os primeiros a desfrutar o ideal do Mestre.
Chegam pastores que se envolvem na intensa luz dos anjos que velam o berço divino.
Nossos pensamentos mais simples e mais puros aproximam-se da ideia nova, contagiando-se da claridade sublime, oriunda dos gênios superiores que nos presidem aos destinos e que se acercam de nós, afugentando a incompreensão e o temor.
Cantam milícias celestiais.
No instante de nossa renovação em Cristo, velhos companheiros nossos, já redimidos, exultam de contentamento na esfera superior, dando glória de contentamento na esfera superior, dando glória a Deus e bendizendo os espíritos de boa vontade.
Divulga os pastores a notícia maravilhosa.
Nossos pensamentos, felicitados pelo impulso criador de Jesus, comunicam-se entre si, organizando-se para a vida nova.
Surge a visita inesperada dos magos.
Sentindo-nos a modificação, o mundo observa-nos de modo especial.
Os servos fiéis, como Simeão, expressam grande júbilo, mas revelam apreensões justas, declarando que o Menino surgiria para a queda e elevação de muitos em Israel.
Acalentamos o pensamento renovador, no recesso d'alma, para a destruição de nossos ídolos de barro e desenvolvimento dos germens de espiritualidade superior.
Ferido na vaidade e na ambição. Herodes determina a morte do Pequenino Emissário.
A ignorância que nos governa, desde muitos milênios, trabalha contra a ideia redentora, movimentando todas as possibilidades ao seu alcance.
Conserva-se Jesus na casa simples de Nazaré.
Nunca poderemos fornecer testemunho à Humanidade, antes de fazê-lo junto aos nossos, elevando o espírito do grupo a que Deus nos conduziu.
Trabalha o Pequeno Embaixador numa carpintaria.
Em toda realização superior, não poderemos desdenhar o esforço próprio.
Mais tarde, o Celeste Menino surpreende os velhos doutores.
O pensamento cristão entra em choque, desde cedo, com todas as nossas antigas convenções relativas à riqueza e à pobreza, ao prazer e ao sofrimento, à obediência e à mordomia, à filosofia e à instrução, à fé e à ciência.
Trava-se, então, dentro de nosso mundo individual, a grande batalha.
A essa altura, o mensageiro fez longa pausa.
Flores de luz choviam de mais alto, como alegrias do Natal, banhando-nos a fonte. Os demais companheiros e eu aguardávamos, ansiosos, a continuação da mensagem sublime; entretanto, o missionário generoso sorriu paternalmente e rematou:

Aqui termino minhas humildes lembranças do Natal simbólico.
Segundo observais, o Evangelho de Nosso Senhor não é livro para os museus, mas roteiro palpitante da vida.




[1] Antologia Mediúnica do Natal – Francisco C. Xavier

terça-feira, 24 de dezembro de 2019

ANTE O DIVINO MESTRE[1]



Espírito: Irmão X

Senhor Jesus!
Grandes reformadores da vida religiosa passaram no mundo antes de Ti.
Sacerdotes chineses e hindus, persas e egípcios, gregos e judeus referiram-se à Lei, traçando diferentes caminhos às cogitações humanas.
Um dos maiores de todos, Moisés, viveu entre príncipes da ciência, fez-se condutor de multidões, plasmou sagrados princípios de justiça e, após sofrer as vicissitudes de sua época, expirou no monte Nebo, contemplando a gleba farta que prometera ao seu povo.
Outro Senhor, o grande Siddharta, converteu-se em arrimo dos penitentes da Terra, ensinando a compaixão, depois de renunciar, ele próprio, o Bem-aventurado, às alegrias do seu palácio, para morrer, em seguida a sublimes testemunhos de simplicidade e de amor, entre flores de Kucinagara...
Todos eles passaram, induzindo os homens à solidariedade e ao dever, exaltando o coração e purificando a inteligência.
Profetas hebreus numerosos antecederam-Te os passos, esboçando o roteiro da luz...
Alguns deles encontraram o escárnio e a flagelação em lutas enormes, confinadas, porém, ao âmbito particular do povo a que serviam.
Nenhum, no entanto, acendeu tantos conflitos com o mandato de que se faziam intérpretes, quando confrontados contigo, a quem se negou um lar para nascer.
Por onde passaste extremavam-se as paixões.
Contrapondo-se ao carinho que Te consagravam as almas simples de Cafarnaum, recebeste o ódio gratuito dos espíritos calculistas de Jerusalém.
Em Tua estrada, aglutinaram-se a fraqueza e a ingratidão, a crueldade e a secura, tecendo a rede de trevas na qual Te conduziram à cruz entre malfeitores.
Em oposição à tranquilidade silenciosa que se estendeu sobre a morte dos grandes enviados do Céu que Te precedera, de Teu túmulo aberto ergueu-se a mensagem da eternidade, gritante e magnífica, pela qual os Teus seguidores experimentaram a perseguição e o sacrifício, em trezentos anos de sangue e lágrimas nos cárceres de martírio ou na humilhação dos espetáculos públicos...
É que não apenas ensinaste a bondade, praticando-a impecavelmente, mas revelaste os segredos da morte.
Conversaste com as almas desencarnadas padecentes, através dos enfermos que Te procuravam, transfiguraste as próprias energias no cimo do Tabor, dando ensejo a que se materializassem, diante dos discípulos extáticos, Espíritos gloriosos de Tua equipe celeste.
Reabriste os olhos cadaverizados do filho da viúva de Naim e trouxeste de novo à existência o Espírito de Lázaro que se achava distanciado do corpo inerte, encarecendo e exaltando a responsabilidade da criatura, que receberá sempre de acordo com as próprias obras.
Agarrados à posse efêmera da estação terrestre, os homens não Te perdoaram a Revelação inesquecível e Te condenaram à morte, buscando sufocar-Te a palavra, olvidando que a Tua doutrina, marcada de amor e perdão, já se havida incorporado para sempre aos ouvidos da Humanidade. E, retomando-lhes os convícios, ressuscitando em Tua forma sublime, mais lhe aumentaram o espanto da consciência entenebrecida.
Desde então, Senhor, acirrou-se a antinomia entre a luz e a treva...
Os Teus apóstolos exibiam fenômenos mediúnicos maravilhosos, arrebatando a admiração e o respeito da turba que os cercava, mas bastou que no dia Pentecostes transmitissem os ensinamentos dos desencarnados, em diversas línguas, para que fossem categorizados por ébrios que o vinho fazia desvairar. Enquanto Paulo de Tarso, inspirado, se detinha na Acrópole sobre os grandes temas do destino, conquistavam a atenção dos atenienses ilustres, mas bastou que aludisse à ressurreição dos mortos, para que fosse abandonado por todos eles à zombaria e à solidão.
E ainda hoje, Mestre, anotamos por toda a parte o terror da responsabilidade de viver.
Quase todos os homens aceitam o apoio da religião, sempre que se lhes lisonjeie a inferioridade e se lhes endossem os caprichos no culto externo, prestigiando as autoridades de superfície que lhes desaconselhem pensar.
Acreditam comprar o Céu a preço de oferendas materiais ou de atitudes estudadas na convenção e imaginam que esse ou aquele inimigo está reservado aos tormentos do inferno. Entretanto, se alguém lhes recorda a realidade, mostrando a morte como prosseguimento da vida, com a exação da Lei que confere a cada criatura o salário correspondente aos próprios atos, azeda-se-lhes o fervor, passando a abominar quantos lhes sacodem a mente entorpecida. E agora, como antigamente, associam rebelião e vaidade para asfixiar o verbo revelador onde surja. Improvisam tentações e pavores ao redor daqueles que se dedicam à verdade, e, se esses lhes não caem nas armadilhas e se lhes não temem as ameaças, empreendem campanhas lamentáveis, em que a difamação e o ridículo funcionam por golilhas atrozes nas gargantas que desferem a palavra divina do Teu Evangelho Libertador.
Aos espíritas, Senhor, que Te exumam as lições do acervo de cinzas do tempo, cabe agora o privilégio de semelhantes assaltos. Porque se reportam à responsabilidade da criatura, no campo da vida eterna, e porque demonstram que a sepultura é portal da imortalidade, são conduzidos ao pelourinho da execração, caluniados e escarnecidos.
Como se lhes não possa interromper a existência, a fio de espada, emudecendo-se-lhes a mensagem de luz, pisa-se-lhes o coração na praça pública com as varas da mentira e do sarcasmo, para que o desânimo e o sofrimento lhes apressem o fim.
Mas sabemos que Tu, Senhor, és hoje, como ontem, o Herói do Túmulo Vazio...
Aqueles que Te colocaram suspenso na cruz, por Te negarem residência na Terra, não sabiam que Te alçavam mais alto a visão para que lhes observasses os movimentos na sombra.
Mestre Redivivo, que ainda agora enches de terrível assombro quantos estimariam que não tivesses vivido entre os homens, fixa Teu complacente olhar sobre nós e aparta-nos da treva de todos os que se acomodam com a saliva da injúria! E revigora-nos a consolação e a esperança, porque sabemos, Senhor, que, como outrora, ante os discípulos assustados, estarás com os Teus aprendizes fiéis, em todo instante de angústia, exclamando, imperturbável:
“Tende bom ânimo! Eu estou aqui!”.

Uma noite repleta de Amor, Paz e Luz são os meus sinceros votos à todos que me acompanham.
Feliz Natal!



[1] Antologia Mediúnica do Natal – Francisco C. Xavier

segunda-feira, 23 de dezembro de 2019

PEDRO DE CAMARGO VINÍCIUS[1]




Nascido no dia 7 de maio de 1878, na cidade de Piracicaba, Estado de S. Paulo, e desencarnado no dia 11 de outubro de 1966, na cidade de São Paulo.
Não se pode fazer o esboço histórico do Espiritismo no Estado de S. Paulo, na primeira metade do presente século, sem levar em consideração a personalidade inconfundível de Pedro de Camargo, mais conhecido pelo pseudônimo de Vinícius.
Os seus primeiros anos de escolaridade foram feitos no Colégio Piracicabano, educandário de orientação metodista, de fundação norte-americana. A diretora do estabelecimento era então a missionária Martha H. Watts, de quem Pedro de Camargo guardou sempre as mais caras recordações e grande admiração. São dele as seguintes palavras extraídas de um artigo que escreveu por ocasião da desencarnação daquela missionária, ocorrida nos Estados Unidos:

“Sempre que se oferecia ensejo de inocular princípios de virtude e regras de moral, era quando se mostrava admirável, comprovando a rara e excepcional competência de que fora dotada para exercer tão sublime missão”.
Eu bem me lembro de que perto de Miss Watts ninguém era capaz de mentir ou dissimular; as traquinadas e travessuras, escondidas cautelosamente, eram-lhe fielmente narradas quando nos interpelava, tal o império que sobre nós sabia exercer, sem jamais usar para isso de outro meio que não a força do bem e o devotamento com que praticava seu sagrado sacerdócio.
Muito lhe deve a sociedade piracicabana; muito lhe devem seus ex-alunos; muito lhe devo eu.
Os princípios salutares de moral que me ministrou, assim como os conselhos elevados que me dispensou com tanto carinho e solicitude durante minha infância, repercutem-me ainda na alma como uma voz amiga que me dirige os passos, e por isso, ao saber que ela já não mais vive na Terra, rendo-lhe este preito de homenagem, simples e singelo, porém sincero e verdadeiro, como que desfolhando sobre a campa da querida mestra umas pétalas humildes que em seguida o vento arrebatará, mas cujo tênue perfume chegará até ela, levando-lhe o penhor de minha gratidão pelo muito que de suas benfazejas mãos recebi".

Durante muitos anos, Pedro de Camargo presidiu a Sociedade de Cultura Artística, de Piracicaba, tendo a oportunidade de levar para lá famosos artistas.
Jamais teve tendência para a política. Chegou a assumir uma cadeira de Vereador, na Câmara Municipal de Piracicaba, eleito por indicação do extinto Partido Republicano. Como não quisesse "seguir outra disciplina que não fosse a do dever, e ouvir outra voz que não a da razão e da consciência", dizia ele mais tarde ‒ esse critério não serviu ao Partido, por isso não o quiseram mais.
Os estudos bíblicos eram metódicos no Colégio Piracicabano, de maneira que Pedro de Camargo se tornou um dos maiores entusiastas dessa matéria, tornando-se mais tarde uma das maiores autoridades no trato da exegese evangélica.
No ano de 1904, foi fundada em Piracicaba a primeira instituição espírita da cidade, com o nome de Igreja Espírita Fora da Caridade não há Salvação.
Dentre os seus fundadores salientava-se a figura veneranda de João Leão Pitta. O funcionamento dessa tradicional instituição acarretou a esse pioneiro uma série de perseguições movidas por inspiração de outras entidades religiosas, chegando ao ponto de não conseguir nem mesmo um emprego, tão necessário para o amparo de sua família, a qual ficou mais de um ano na eminência de completo desamparo.
Um ano mais tarde, em 1905, Pedro de Camargo interessou-se pelo Espiritismo, uma vez que nele encontrou a solução para tudo aquilo que constituía incógnitas em seu Espírito. Tomando conhecimento do que sucedia com Leão Pitta, prontamente o empregou em sua loja de ferragens e, como segundo passo, desfez a secção de armas de fogo que representava apreciável fonte de renda em seu estabelecimento comercial.
Durante cerca de trinta anos, Pedro de Camargo desenvolveu, em sua cidade natal, profícuo e intenso trabalho de divulgação das verdades evangélicas à luz da Doutrina Espírita. Nessa época passou a adotar o pseudônimo de Vinícius; suas preleções eram estenografadas e logo em seguida largamente difundidas, fazendo com que sua fama se propagasse por toda a circunvizinhança.
No ano de 1938, transferiu seu domicílio para a cidade de S. Paulo. Ali substituiu o confrade Moreira Machado na presidência da União Federativa Espírita Paulista e, juntamente com Thietre Diniz Cintra, fundou uma escola para evangelização da infância e juventude, tendo para tanto elaborado normas e diretrizes para esse gênero de educação.
Em 1939 tornou-se um dos diretores do Programa Radiofônico Espírita Evangélico do Brasil, levado ao ar, diariamente, através da Rádio Educadora de S. Paulo. Em 31 de março de 1940, quando a União Federativa Espírita Paulista fundou a Rádio Piratininga, emissora de cunho nitidamente espírita, Vinícius foi eleito seu diretor-superintendente e, em companhia de outros valores do Espiritismo paulista, orientou aquela emissora e seu programa espírita diário até o ano de 1942.
Nessa época Vinícius já havia se integrado na Federação Espírita do Estado de S. Paulo, tornando-se um dos seus conselheiros e ali introduzindo as suas "Tertúlias Evangélicas", realizadas todos os domingos de manhã, com apreciável assistência que invariavelmente superlotava o seu salão.
Durante muitos anos, foi delegado da Federação Espírita Brasileira, em S.Paulo, representando-a em todas as solenidades onde a sua presença se fazia necessária.
Quando a Federação Espírita do Estado de S. Paulo, em março de 1944, lançou o seu órgão "O Semeador", Vinícius foi designado seu diretor-gerente, cargo que desempenhou durante mais de uma década, emprestando àquele jornal a sua costumada cooperação.
Em outubro de 1949, em companhia de Carlos Jordão da Silva, integrou a representação do Estado de S. Paulo junto ao 2º Congresso Espírita Panamericano, conclave de grande repercussão que se realizou no Rio de Janeiro.
No ensejo desse acontecimento, reuniram-se na antiga Capital Federal várias representações de entidades espíritas de âmbito estadual, as quais, numa feliz gestão, conseguiram materializar o sonho de muitos seareiros espíritas, criando o Conselho Federativo Nacional e assinando o célebre Pacto Áureo de Unificação. Pedro de Camargo foi um dos signatários desse importante instrumento de pacificação espírita nacional, no dia 5 de outubro de 1949.
Vinícius foi assíduo colaborador de numerosos órgãos espíritas. De sua bibliografia destacamos os livros: "Em torno do Mestre", "Na Seara do Mestre", "Nas Pegadas do Mestre", "Na Escola do Mestre, "O Mestre na Educação", e "Em Busca do Mestre", obras de marcante relevância no campo da divulgação evangélico-doutrinária.
A sua ação se fez sentir vigorosamente quando se cogitou da fundação de uma instituição educacional espírita. Lutou durante muitos anos por esse ideal.
Exultou-se com a fundação do Educandário Pestalozzi, na cidade de Franca, entretanto, o seu sonho concretizou-se quando da fundação do "Instituto Espírita de Educação", do qual foi presidente. No âmbito desse instituto foi fundado o "Externato Hilário Ribeiro", em cuja direção permaneceu até o ano de 1962.
A par de todas essas atividades, Pedro de Camargo ocupava assiduamente as tribunas das instituições espíritas, principalmente as da Capital do Estado, tornando-se um dos oradores mais requisitados e o que sempre conseguia atrair maior assistência. Homem dotado de ilibado caráter, comedido em suas atitudes e de moral inatacável, tornou-se, de direito e de fato, verdadeira bandeira do movimento espírita. Quando seu nome figurava à testa de qualquer realização, esta infundia confiança e respeito, dada a indiscutível projeção do seu nome e a sua qualidade de paladino das causas boas e nobres.
Vinícius também teve notória atuação no campo da assistência social espírita, situando, entretanto, em primeiro plano o trabalho em prol do esclarecimento evangélico-doutrinário, imprescindível à iluminação interior dos homens.




[1] Os Grandes Vultos do Espiritismo – Paulo Alves Godoy

sábado, 21 de dezembro de 2019

OS ESPÍRITOS SENTEM DOR?[1]




Espírito não sente dor da forma como nós a compreendemos, pois a dor é uma característica do corpo físico, do seu organismo material.
No entanto, o espírito pode sentir uma dor interna, um sofrimento pelo que fez e pelo que não fez durante a encarnação. Pode sentir a carga do bem e do mal que ele praticou. Pode sentir a carga da culpa que ele nutriu dos seus erros, que é uma dor aguda. Pode sentir a dor da mágoa de pessoas que o fizeram mal, cujo ódio ele não conseguiu se libertar. Pode sentir também o peso de ter desperdiçado sua encarnação vivendo apenas em função de uma pessoa, por pura carência afetiva.
Tantas mães passam por isso quando desencarnam e percebem que desperdiçaram toda uma longa encarnação preocupadas com um filho que, independente de sua vontade, teria que viver seu karma e suas provações, pois nisso consiste o progresso do seu espírito.
Dizem que uma das maiores dores do espírito quando desencarna é a terrível sensação de tempo perdido, por sentir que desperdiçou sua encarnação com bobagens, futilidades, coisas do ego, orgulho, vaidade, aparência etc. Então ele sabe que terá que recomeçar tudo de novo, nascer, ser um bebê, fazer cocô, passar pela infância, viver todas as provas novamente, apenas para fazer o que ele não fez por orgulho, egoísmo e vaidade.
É certo que tudo é aprendizado, mesmo os piores erros são fontes de uma rica e fértil experiência. O que ele não aprendeu numa encarnação, pode aprender nas próximas, pois o espírito tem toda a eternidade para fazer o que precisa ser feito para sua libertação e felicidade.
No entanto, quanto mais tempo ele fica aqui na matéria preso às suas idiossincrasias, ao seu egoísmo, ao seu orgulho, à sua vaidade, maior será sua dor interna, seu sofrimento e seu tempo perdido.


Fonte: Espiritualidade para Todos

sexta-feira, 20 de dezembro de 2019

GLORIOSA VITÓRIA DA LUZ CONTRA A TREVA![1], [2]



Bezerra de Menezes

Filhas e filhos bem-amados! Que a paz de nosso Senhor Jesus Cristo permaneça em nossos corações!
Anoitece!…
Os dias gloriosos da ciência e da tecnologia de ponta estão sombreados pelas inquietações do sentimento humano que parece desvairar em toda parte. O inconformismo, o desespero e o sofrimento assinalam a geração presente como a consequência do mau uso do livre-arbítrio nos dias do passado.
Todos anelávamos que estas fossem as horas da paz, amparados pelo conhecimento libertador da ignorância que a muitos tem proporcionado conforto e bem-estar; raramente, equilíbrio e paz. A Barca Terrestre experimenta as ondas terríveis do mar agitado pelos conceitos da loucura e da desarmonia.
No entanto, Cristo vela e conduz, na condição de Nauta Divino, a embarcação ao porto de segurança. Provavelmente, algumas dores se farão volumosas e terrificantes. Sucede, porém, que as almas rebeldes somente aquiescem diante de sofrimentos que as submetem à diretriz da fraternidade e do amor.
O Espiritismo veio no momento próprio quando a filosofia desvairava em várias denominações no século das luzes. E hoje, novamente, a mensagem de redenção da Humanidade alcança as criaturas humanas com a filosofia do bem, como sendo a única que é capaz de proporcionar plenitude e esperanças quase não mais aguardadas.
Não desanimeis, não permitais que o mau humor e as injunções penosas que vos rodeiam os passos e tentam penetrar no vosso lar logrem o êxito que a invigilância, não raro, faculta. Tende tento e mantende-vos em equilíbrio interior quanto seja possível.
Este é o grande momento em que as Escrituras desde há muito prenunciam como da mudança que se vem operando e atingem a sua culminância.
Nas experiências vividas nestes dias, no encontro do Conselho Federativo Nacional, conseguimos pacificar os corações e apoiar as ideias iluminativas no clima do Cristianismo Primitivo.
Não podemos viver a Doutrina Espírita sem a ética moral do Evangelho de Jesus. A Humanidade tem sede de exemplos e está cansada de palavras.
Sois as cartas vivas do Evangelho e perseverai no objetivo sagrado de confortar os que choram, mas não apenas consolá-los, senão apontardes os caminhos pelos quais encontrarão a felicidade anelada.
São graves os testemunhos que todos nós, Espíritos desencarnados e encarnados em perfeita comunhão, deveremos oferecer, quais lograram os mártires das primeiras horas da fé cristã. Nesse passado que já vai distante, as perseguições vinham de fora para dentro. Agora, as angústias e as dores são do íntimo para fora, em razão das terríveis perturbações provocadas pelos inimigos da luz que se travestem de missionários de uma Nova Era. Sim, a Era Nova irá caracterizar a grandeza do amor na operosidade da caridade junto a Humanidade terrestre.
O Brasil prossegue convidado a desempenhar a missão que foi confiada a Ismael pelo Divino Mestre. E neste momento, turbado pelas paixões e pelos interesses vis, torna-se indispensável à serenidade da fé para que sejam enfrentados os terríveis vírus da crueldade, do materialismo e da indiferença pelo amor às forças vivas da Natureza culminando na criatura humana.
Vós perguntais por que estamos em um momento tão difícil de violência e deveremos agir como mansos e pacíficos se tudo nos chama a definições drásticas da violência que cada dia é mais perversa?!
O exemplo é Jesus, o Cordeiro de Deus imolado numa cruz de vergonha que Ele transformou em asas para a sublimação de todos os espíritos.
Não tergiverseis nem permiti-vos enfraquecer na luta. É o fogo que purifica os metais, que dá resistência à argila e que modifica as paisagens.
É a dor a mensageira que Deus oferece àqueles aos quais ama de tal forma que, assinalados pelo ferrete do sofrimento, não tem alternativa senão a marcha na direção do calvário sublimador.
Poderia parecer que se trata de uma proposta masoquista em que a dor é preferencial. Não se trata desta questão patológica. A Terra ainda é o planeta de provas e expiações e todos nela nos encontramos à busca do depuramento da inferioridade que teima em permanecer como herança perigosa das fases que já deveriam estar ultrapassadas, e não foi conseguida essa vitória. Mas, logo depois da noite tenebrosa suavemente a madrugada irisa com as estrelas da alegria em um amanhecer de bênçãos e confortos para a vida gloriosa da imortalidade!
Filhas e filhos do coração! Não fostes vós que vos candidatastes, foi o Senhor da Vida que fez um giro ao entardecer e convidou-vos à última hora para a Seara de Redenção. Alegrai-vos porque o vosso será o mesmo salário dos heróis da hora primeira e exultai porque já vos encontrais ao lado do Dono da Vinha que logo mais estará convocando-vos para a prestação de contas e ireis apresentar o glorioso resultado da vitória da luz contra a treva.
Estais sob cuidados especiais. Não só de Ismael, mas de toda a equipe que zela pelo planeta neste momento decisivo, um dos mais graves da história da Terra: o grande salto para a Era da Felicidade.
Em nome dos Espíritos-espíritas, que estão convosco inaugurando o período da compreensão das diferenças, da compaixão pelos adversários, do entendimento dos opositores, com a disposição de abraçá-los a todos para apresentar-lhes ao Mestre, condutor do rebanho no qual vos encontrais, rejubilamo-nos e exaltamos Aquele que permanece a caminho na busca da verdade e da vida que é Jesus.
Muita paz, filhas e filhos do coração! É o que vos deseja o amigo paternal e humílimo de sempre,

Bezerra,

Muita paz!

Fonte: FEBnet




[2] Mensagem psicofônica ditada pelo Espírito Bezerra de Menezes ao médium Divaldo Pereira Franco em 10 de novembro de 2019, no encerramento da reunião ordinária do Conselho Federativo Nacional da Federação Espírita Brasileira realizada em Brasília, DF. Mensagem revisada pelo autor espiritual.

quinta-feira, 19 de dezembro de 2019

CIRCUNSTÂNCIAS[1]



Miramez

Os Espíritos que desejam incitar-nos ao mal limitam-se a aproveitar as circunstâncias?
‒ Eles aproveitam a circunstância, mas frequentemente a provocam, empurrando- vos sem o perceberdes para o objeto da vossa ambição. Assim, por exemplo, um homem encontra no seu caminho uma certa quantia: não acrediteis que foram os Espíritos que puseram o dinheiro ali, mas eles podem dar ao homem o pensamento de se dirigir naquela direção, e então lhe sugerem apoderar- se dele, enquanto outros lhe sugerem devolver o dinheiro ao dono.
Acontece o mesmo em todas as outras tentações
Questão 472/O Livro dos Espíritos

Os Espíritos que cercam os homens, que são inúmeros, sempre os influenciam, em constante troca de ideias, mais do que se pensa. Os de má índole aproveitam as oportunidades de invigilância e de falta de oração, para influenciarem do mesmo modo como pensam e agem, e quando não acham momento oportuno, eles criam situações para que o homem possa cair nas armadilhas dos seus desequilíbrios.
Isso sucede com todos os seres, sem exceção. Basta observarmos os pensamentos que surgem em nossa mente todos os dias, para que constatemos a aproximação dessas entidades que ignoram a verdade. A Terra se encontra, de certa forma, em uma faixa de inferioridade, e é por causa deste ambiente propício às paixões inferiores que os que se encontram nela são influenciados pelas más tendências.
Não pensemos que somente os encarnados são influenciados pelas más ideias, mesmo nos planos espirituais, os pensamentos soltos se aproximam de nós e, por vezes, se apoderam da nossa vontade para que aquilo se materialize. É necessário muita vigilância na arte de filtrar o que chega a nós, para o proveito do nosso mundo interior.
Às vezes falamos somente coisas acertadas, mas vivemos algumas vezes nos desacertos.
Para ficarmos livres dessas insinuações de desarmonia, é necessário pureza de coração, que forma, assim, um campo de força capaz de queimar os pensamentos intrusos que se aproximam de nós.
Quando na carne, a abertura para os pensamentos indesejados é maior, notando-se em toda parte criaturas de grande nobreza de caráter, vez por outra sendo envolvidas com ideias completamente fora do seu ambiente de viver e, por vezes, apegando-se a elas de maneira inacreditável. Eis porque Jesus é dotado de grande tolerância no campo da educação humana, e o perdão é praticado sem constrangimento pelas grandes almas, por conhecerem o ambiente da Terra. A influência é poderosa em todas as circunstâncias observadas. Os encarnados são cheios de fraquezas, e é nessas horas que os Espíritos inimigos se aproximam deles para manifestar suas paixões inferiores.
Sendo a vida uma luta, Deus permite que lutemos mediante todas as controvérsias, para experimentar a nossa resistência diante das nossas próprias inferioridades. E por isso devemos dar graças a Deus pela presença da Doutrina Espírita na Terra, pois ela vem com a mesma presença de Jesus, nos ajudar a todos a nos livrarmos das influências do mal, nos preparando contra essas investidas, nos mostrando que não devemos fugir dos problemas, mas vencê-los com as armas que o Evangelho coloca em nossas mãos.
Os Espíritos que gastam seu tempo em fazer o mal estão, no fundo, procurando o bem, que hoje ou amanhã encontrarão, porque todos somos feitos para e pelo amor. As forças mais perigosas, assim como as mais iluminadas, se encontram no absconso da vida, dependendo da seleção que os nossos dons possam nos ajudar a escolher.
Quando os pensamentos inferiores se apossarem da tua cabeça, ora pelos que te insinuam essas ideias; ajuda-os a compreender e aceitar outros caminhos, que ser-te-ão dadas novas forças para que possas ensinar e instruir. É bom que sejas forte em todas as lutas que, salientem o bem, porque somente ele ficará para sempre nos corações.
Em todos os momentos em que a fraqueza aparecer em teu caminho, aparecerão com ela Espíritos de más condições espirituais para te levarem ao mal. Analisa teus pensamentos todas as horas e alinha tuas ideias a todo momento, para não perderes a direção que o amor procura te indicar.




[1] Filosofia Espírita – Volume 10 – João Nunes Maia