quarta-feira, 25 de dezembro de 2019

NATAL SIMBÓLICO[1]



Espírito: Irmão X

Harmonias cariciosas atravessava a paisagem, quando o lúcido mensageiro continuou: Cada Espírito é um mundo onde o Cristo deve nascer...
Fora loucura esperar a reforma do mundo, sem o homem reformado. Jamais conheceremos povos cristãos, sem edificarmos a alma cristã...
Eis porque o Natal do Senhor se reveste de profunda importância para cada um de nós em particular.
Temos conosco oceanos de bênçãos divinas; maravilhosos continentes de possibilidades, florestas de sentimentos por educar, desertos de ignorância por corrigir, inumeráveis tribos de pensamentos que nos povoam a infinita extensão do mundo interior. De quando em quando, tempestades renovadoras varrem-nos o íntimo, furações implacáveis atingem nossos ídolos mentirosos.
Quantas vezes, o interesse egoístico foi o nosso perverso inspirador?
Examinando a movimentação de nossas ideias próprias, verificamos que todo princípio nobre serviu de precursor ao conhecimento inicial do Cristo.
Verificou-se a vinda de Jesus numa época de recenseamento.
Alcançamos a transformação essencial justamente em fase de contas espirituais com a nossa própria consciência, seja pela dor ou pela madureza de raciocínio.
Não havia lugar para o Senhor.
Nunca possuímos espaço mental para a inspiração divina, absorvidos de ansiedades do coração ou limitados pela ignorância.
A única estalagem ao Hóspede Sublime foi a Manjedoura.
Não oferecemos ao pensamento evangélico senão algumas palhas misérrimas de nossa boa vontade, no lugar mais escuro de nossa mente.
Surge o Infante Celestial, dentro da noite.
Quase sempre, não sentimos a Bondade do Senhor senão no ápice das sombras de nossas inquietações e falências.
A estrela prodigiosa rompe as trevas no grande silêncio.
Quando o gérmen do Cristo desponta em nossas almas, a estrela da divina esperança desafia nossas trevas interiores, obscurecendo o passado, clareando o presente e indicando o porvir.
Animais em bando são as primeiras visitas ao Enviado Celeste.
Na soledade de nossa transformação moral, em face da alvorada nova, os sentimentos animalizados do nosso ser são os primeiros a desfrutar o ideal do Mestre.
Chegam pastores que se envolvem na intensa luz dos anjos que velam o berço divino.
Nossos pensamentos mais simples e mais puros aproximam-se da ideia nova, contagiando-se da claridade sublime, oriunda dos gênios superiores que nos presidem aos destinos e que se acercam de nós, afugentando a incompreensão e o temor.
Cantam milícias celestiais.
No instante de nossa renovação em Cristo, velhos companheiros nossos, já redimidos, exultam de contentamento na esfera superior, dando glória de contentamento na esfera superior, dando glória a Deus e bendizendo os espíritos de boa vontade.
Divulga os pastores a notícia maravilhosa.
Nossos pensamentos, felicitados pelo impulso criador de Jesus, comunicam-se entre si, organizando-se para a vida nova.
Surge a visita inesperada dos magos.
Sentindo-nos a modificação, o mundo observa-nos de modo especial.
Os servos fiéis, como Simeão, expressam grande júbilo, mas revelam apreensões justas, declarando que o Menino surgiria para a queda e elevação de muitos em Israel.
Acalentamos o pensamento renovador, no recesso d'alma, para a destruição de nossos ídolos de barro e desenvolvimento dos germens de espiritualidade superior.
Ferido na vaidade e na ambição. Herodes determina a morte do Pequenino Emissário.
A ignorância que nos governa, desde muitos milênios, trabalha contra a ideia redentora, movimentando todas as possibilidades ao seu alcance.
Conserva-se Jesus na casa simples de Nazaré.
Nunca poderemos fornecer testemunho à Humanidade, antes de fazê-lo junto aos nossos, elevando o espírito do grupo a que Deus nos conduziu.
Trabalha o Pequeno Embaixador numa carpintaria.
Em toda realização superior, não poderemos desdenhar o esforço próprio.
Mais tarde, o Celeste Menino surpreende os velhos doutores.
O pensamento cristão entra em choque, desde cedo, com todas as nossas antigas convenções relativas à riqueza e à pobreza, ao prazer e ao sofrimento, à obediência e à mordomia, à filosofia e à instrução, à fé e à ciência.
Trava-se, então, dentro de nosso mundo individual, a grande batalha.
A essa altura, o mensageiro fez longa pausa.
Flores de luz choviam de mais alto, como alegrias do Natal, banhando-nos a fonte. Os demais companheiros e eu aguardávamos, ansiosos, a continuação da mensagem sublime; entretanto, o missionário generoso sorriu paternalmente e rematou:

Aqui termino minhas humildes lembranças do Natal simbólico.
Segundo observais, o Evangelho de Nosso Senhor não é livro para os museus, mas roteiro palpitante da vida.




[1] Antologia Mediúnica do Natal – Francisco C. Xavier

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